-Alô?

Eu conhecia essa voz de algum lugar. Mas de onde?

-Quem fala?

Eu estava quase me lembrando de quem era a voz. Quase.

-Sou eu filha, seu pai.

Não, eu não conhecia o dono dessa voz.

-Olá senhor Nikols.

-Como vai a sua operação festiva?

Como se fosse da sua conta, pensei responder assim então me lembrei que quem estava bancando a festa era ele, daí engoli em seco e respondi de maneira educada.

-Vai muito bem. Sarah está me ajudando.

E estava mesmo. Sarah era a melhor amiga do mundo.

-Parabéns, então, Annie. Está ficando velinha, hein?

Ele iria ver o velho na cara dele, minha vontade era de dizer que se eu era velho ele era uma relíquia de museu!

-Velha não!

Ele que me chamasse de valha outra vez...

-Tudo bem.

Tudo bem? Não! Nada estava bem e ele sabia disso mais do que ninguém.

-Com essa idade já posso fugir de casa!

Falei toda cheia de empolgação, só para irritá-lo. Eu jamais fugiria de casa, não sem antes roubar o cartão de credito da minha mãe...

-Nem brinque, Annie!

Como o esperado ele ficou irritado. Meu pai era mesmo muito previsível.

-E quem disse que eu estou brincando?

Incomodá-lo mais um pouco com isso não faria mal, ou faria, mas deixa quieto.

-Tudo bem, espertinha.

Isso estava me enchendo o saco, como ele podia ficar repetindo que estava tudo bem? Não estava nada bem. Nada!

-Recebi.

Ele pensou que eu me esqueceria? Novidade, não esqueci!

-Mas recebeu o que?

Como se ele não soubesse. Vai se fazendo de desentendido, vai...

-Não vou.

E não iria mesmo! Quem ele estava achando que eu era? Só faltava agora me convidar para ser Dama de Honra...

-Mas não vai a onde, querida?

Comecei a imaginar se ele não tinha se ligado ainda. Como se não fosse obvio do que eu estava falando!

-No seu maldito casamento, com a sua maldita noiva!

Mas eu não iria nem sob ameaça de morte!

-Não fale assim de Liza!

E chamá-la como então?

-Ok papai, a bruxa!

Ele fingiu não escutar minha última declaração e depois ainda fez a proposta mais absurda do século.

-Annie quer vir morar comigo?

Como se um dia eu fosse morar com ele na mesma casa que a Madrawitch!

-Pai, nunca!

Imagine eu, Annie Nickols morando com a Madrawitch e o Papa Nickols. Melhor não imaginar, né?

-Mas por que Annie?

Ele me perguntou todo com voz melosa. Será que ele ainda não notou que chantagem emocional não rola comigo?

-Você está louco se imaginou que eu aceitaria!

-Mas Liza quer que você more conosco!

Como se eu ligasse para o que “Lisa” queria. Aquela Madrawitch maldita.

Nem depois de morta eu iria morar com o meu pai.

Desliguei o telefone.