Eu entrei ainda muito confuso com tudo aquilo. Então ele queria conversar?? Iria dizer que eu a havia perdido pra ele e que era tarde? Que eu não tinha mais nada a ver com ela e...
- sente-se. – ele cortou meus pensamentos. – você ama muito a Lauren, não ama?
Fiquei mudo. Eu ainda não sabia como decifrar a confusão dos meus sentimentos...
- eu preciso saber se você a ama de verdade, é sério. Eu preciso te contar algo muito importante, mas antes preciso saber o quão grande é o seu amor por ela.
- eu a amo sim, a amo mais que tudo no mundo. E o que você tem a ver com isso??
- Gerard... – ele deixou escapar um sorriso torto e antes mesmo que ele dissesse, eu já tinha percebido tudo. – Lauren é minha irmã.

Depois do choque e de ficar estático por um tempo indeterminado, voltei a Terra e Jason olhava sério pra mim.
- então... o que você pensou que eu...
- me desculpe, eu imaginei tantas coisas, eu... – eu estava era visivelmente constrangido. E feliz, muito feliz por descobrir a verdade.
- tudo bem, isso não importa agora.
- onde está Lauren? Eu preciso vê-la. – me levantei do sofá e ele pôs a mão em meu ombro, me fazendo sentar novamente.
- sente-se, Gerard. Eu disse que precisamos conversar. – de repente ele ficou sério de novo.
- então diga. Ela está bem??
O silêncio que durou um minuto por pouco não me deixou roxo de preocupação.
- ela... não está nada bem.
- o que houve??? Onde ela está??
- se acalme, ela não está aqui.
- onde...
- ela está no hospital. Ela teve uma crise.
- crise??
- Gerard, minha irmã tem leucemia.
- mas, o que...
- pelo jeito, ela escondeu isso de você também, não foi? Ela sempre detestou fazer quem ela ama sofrer. Ela me contou há pouco tempo e quase nunca me contava quando piorava. Quando nossos pais morreram, ela teve outra crise e...
- ela me disse que eles moravam em Los Angeles...
Ele abaixou a cabeça, constrangido.
- até hoje nós não conseguimos encontrar um doador, pois o tipo da doença que ela tem é muito raro. Ela estava bem, estava feliz com você. Ela me ligou mês passado e disse que tinha encontrado o homem perfeito, que a completava. Eu fiquei muito feliz por ela, depois dela ter sofrido tanto quando perdeu... – ele ficou em silêncio, perdido em lembranças.
- o quê...
- ela perdeu um bebê há alguns anos. – ele fez uma pausa e meu queixo caiu. - Ela estava grávida de um ex-namorado que a largou. Quando ele soube que ela estava grávida, ele fugiu sem deixar pistas. Mas por causa da doença, ela passava mal muitas vezes e... – ele se calou, abalado.
- eu sinto muito, eu... não sabia. Não sabia. – eu estava chocado. Chocado, essa era a palavra certa.
- ela não tocava nesse assunto com ninguém, nem comigo. Mas desde que ela se mudou pra New Jersey, ela resolveu seguir sua vida e construir um novo futuro. Ela virou professora e conheceu você.
- meu Deus... eu a amo tanto. – apoiei minha cabeça entre minhas mãos, tentando fugir do pesadelo real.
- você quer vê-la? Eu te levo ao hospital. Ela ficará feliz em ver você. Ela tentou falar com você e como não conseguiu, me pediu que ficasse aqui até você aparecer.
- claro... claro que quero. – me levantei do sofá, nervoso e ansioso. Jason levantou também e caminhou até a porta.
- vamos. O hospital não fica muito longe.

Entramos no carro de Jason e passamos a metade do caminho em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos.
Quando consegui me concentrar, resolvi fazer uma pergunta que me preocupava.
- Jason... – ele sinalizou com a cabeça para que eu continuasse. – você, como irmão dela, não pode ser doador?
- na verdade, Gerard, nós somos irmãos apenas por parte de pai. Minha mãe morreu quando eu ainda era bem pequeno e logo depois meu pai conheceu a mãe da Lauren e se casou. A Lauren nasceu pouco tempo depois, por isso nós somos tão unidos, já que fomos criados juntos e eu sempre considerei a mãe dela como minha mãe também. Infelizmente nós dois não temos nem o mesmo tipo sanguíneo, o que poderia ser uma chance, além de que o tipo sanguíneo dela é muito raro.
- então não pode ser de mais nenhum outro tipo?
- segundo os médicos, até pode. – eu senti minha pouca esperança escapar pelos meus dedos quando ouvi o porém. Sempre havia um porém... - mas é arriscado demais e se por acaso o outro tipo sanguíneo causar alguma rejeição...
Ele não precisou terminar a frase para que eu entendesse o que ele queria dizer com aquilo.

Chegamos no hospital e Jason me levou até o quarto onde Lauren estava adormecida. Ele nos deixou a sós e eu deixei uma lágrima cair ao me deparar com a mulher que amo, pálida e doente deitada naquela cama de hospital. Ela não parecia nada com aquela Lauren de alguns dias atrás, forte, sadia...
Segurei sua mão com delicadeza, fazendo o máximo para que ela não acordasse, mas foi em vão. Era como se ela tivesse sentido minha presença antes mesmo de tocá-la.
- Gerard... – ela pronunciou ao abrir os olhos com lentidão.
- oi meu amor. – eu sorri, com uma dor enorme no peito. – eu estou aqui.
- eu sabia que você viria.
- eu nunca irei te deixar sozinha. Nunca. – dizer aquilo era como uma promessa pessoal. Eu nunca mais duvidaria dela, disso eu tinha certeza.
- que bom que veio. – ela beijou minha mão com os lábios frios.
- por que você não me contou tudo? Por que me escondeu algo tão importante, Lauren? – eu tentava dizer sem engasgar.
- eu não queria te ver assim, como está agora. Eu não queria vê-lo sofrer por minha causa.
- e você achou que eu nunca iria descobrir? Estando ao seu lado para sempre? – meus olhos se encheram de lágrimas mais uma vez. A dor era muito forte...
- eu... me desculpe. Por favor, me desculpe.
Eu a abracei o mais forte que pude. Senti-la em meus braços novamente era a melhor sensação do mundo depois de tanto tempo sofrendo com a solidão e a amargura. Suas lágrimas quentes escorriam em seu rosto frio e secavam em minha camisa, misturando-se às minhas. Perdi a conta de quantas vezes beijei seu rosto, sua boca, tentando guardar comigo aquele gosto, aquele perfume, mais uma vez.
Conversamos mais um pouco até que eu resolvi deixá-la descansar. Ela estava fraca demais e acabou dormindo em meus braços, de um jeito bem diferente das últimas vezes...