Exterior da loja - 11:30 hrs

Com as mãos sujas de sangue, Vênus tentou utilizar sua mão como uma serra circular para cortar a parede e fugir, visto que não haviam saídas alternativas à vista. Aprendeu no momento que uma serra circular não é adequada para aquele tipo de material, pois forçar o feito acabou cortando os seus dedos.

— Porra…

— Anda logo, caralho!

Ele tentou pensar no que mais havia visto lá atrás, nas prateleiras. Facões, as armas dos guardas, serras circulares… Nada desses objetos terrestres daria um resultado imediato. Suspirou, sua única solução era tentar copiar alguma arma do seu planeta, o que lhe exigiria muito esforço. Tentou transformar sua mão em uma Adonitum SS6, com disparo certeiro e efeito imediato, e, dessa vez, conseguiu concluir a tarefa. Uma vez livres, eles precisavam fugir das sirenes ensurdecedoras da polícia. Mercúrio estava furiosa com a hostilidade daquelas pessoas, mas não queria uma guerra interplanetária e, por isso, precisava manter o irmão longe daqueles ruídos.

— Adonitum, é? Daqui a pouco vai começar a se transformar na nossa artilharia toda!

Ele negou com a cabeça, sorrindo ao ver que sua irmã parecia melhor.

— Como você tá?

— Juro que vou te responder, mas vamos focar em sair daqui! Tem como se transformar nessas naves terrenas? Isso vai nos camuflar bem…

Ele suspirou forte, extremamente cansado.

— Okay…

Vênus copiou o conceito de um dos carros que viu pela estrada, porém baseou o seu modelo nos transportes do seu planeta. Era similar a um Lancia Stratos Zero, cor prata, não havia nada mais extravagante. Mercúrio adentrou e eles seguiram viagem. Vênus reapareceu em um dos monitores internos.

— Discreto demais, não acha?

Ironizou a garota. Ele revirou os olhos.

— Se transformar em objeto é um saco! Eu preciso inventar algumas coisas, fora que cansa pra cacete, não dá pra pedir pra me transformar em um ser vivo, não?

— Quando isso for útil, eu vou pedir, pode deixar!

Percorreram às cegas, sequer tinham um lugar em mente, desconheciam qualquer direção que fosse. Mercúrio sabia que estaria os sentenciando à morte se saíssem da cidade, pois a nave deles estava por lá e era perigoso se afastar da única máquina que sabiam manusear, então apenas pilotou para longe da confusão.

Não demorou muito para estacionar, pois Vênus já estava cedendo ao cansaço. Ele retornou à sua real forma em uma área de mata, em seguida precisaram seguir o resto da viagem a pé.

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Mercearia - 13:45 hrs

“Blood is on the dance floor, blood is on the knife”

“Susie's got your number and Susie says it's right”

Blood on The Dance Floor estava tocando em um simplório radinho de pilha, enquanto o vendedor, um homem de mais ou menos 32 anos de idade e barba por fazer, lia o jornal daquela manhã. A mercearia estava silenciosa, o único cliente havia olhado algumas coisas e saído sem comprar nada.

— Humpf… É sempre assim…

Murmurou o homem rabugento. Não demorou muito para o sininho da porta tilintar, Vênus e Mercúrio adentraram em busca de suprimentos. O vendedor os encarou de longe, sem entender nada. Eles eram visualmente indiscretos, aquilo parecia piada, mas ele não quis questionar, contanto que levassem alguma coisa.

Porém, bastou o casal de irmãos se aproximar que ele acabou por notar aquelas feições semelhantes. Vênus reparou em um montinho de revistas sobre armamentos ao lado dos cigarros e pegou um para folhear, enquanto Mercúrio avançou em qualquer coisa que fosse comestível. Eles demoraram para perceber o vendedor os encarando, ali, diante deles.

Silêncio.

— Vocês vieram aqui comprar ou me encarar?

Eles se entreolharam.

— Do que você tá falando...?

Indagou Vênus, num tom debochado, levando a mão à cabeça do vendedor e atingindo a sua fronte com força na mesa. Ele deu o mesmo golpe umas duas vezes, para se certificar de que aquele homem não acordaria tão cedo. Com a força do impacto, a mesa rachou em duas partes iguais e o corpo adormecido daquele homem permaneceu inerte sobre ela.

— Você o matou?

— Hum… Eu acho que não.

Mercúrio deixou uma risada escapar e puxou o irmão pelo braço. Recolheram mantimentos e curativos para o ferimento dela. Enquanto estavam fazendo a limpa, Vênus se aproximou do radinho de pilha e acabou se deparando com alguns CDs próximos, expostos para venda. Ele arqueou a sobrancelha.

— Ei! Dá uma olhada nisso…

Ele pegou um daqueles CDs e a entregou.

— De novo esse cara.

Mercúrio calibrou o que parecia ser um relógio de pulso e escaneou aquele objeto, recebendo as informações sobre ele no pequeno visor.

— Caramba, ele é rico. Olha a mansão dele…

O rapaz foi para o seu lado.

— E ele parece mesmo contigo, não tem nem o que questionar.

Mercúrio desligou o aparelho e encarou o irmão. Seu sorriso de canto a canto brilhava de ansiedade.

— Plano novo! A gente vai morar aqui!