Scarlet Love Song

Capítulo 10: Sombras


Eu estava exaltado, mal tinha saído de sua cirurgia e o filho da puta do médico veio encher minha cabeça com “chances”?! Dá um tempo.

- Vou explicar mais uma vez, ainda é cedo para tal, mas como não fizemos um tratamento antes as chances de rejeição aumentam. Isso não quer dizer que já está tudo perdido.

- ... _fiquei ofegante, mas logo voltei ao normal _desculpe-me, estou preocupado ainda com isso tudo.

- Eu entendo... _me ofereceu um pirulito – ah? De onde ele tirou isso? _doce para ajudá-lo a pensar.

- Obrigado, ei ele ficará bem? _pareceu mais uma suplica do que uma pergunta.

- A medicina está ao lado dele garoto.

Sai da sala com meia esperança, eu não queria contar ao Mello sobre essa conversa, mas provavelmente ele já estava a par sobre o assunto.

Respirei fundo, era apenas o segundo dia e depois de me despedir do loiro fui trabalhar.

Japão, 2º dia.

Por causa do custeamento do hospital, tive que aceitar trabalhos mais perigosos, dessa vez estava entregando armas. Parei na porta de um luxuoso hotel e subi para o quarto 167, ia entregá-las para um(a) tal de Namu.

Toquei a campainha uma vez e logo a porta se abriu, porra se todo comprador de armas for assim eu vou abrir meu próprio negócio! Alta, bonita, gostosa, cabelos longos que iam abaixo da cintura e tão ruivos quanto o meu; usava um vestido azul escuro e saltos com brilhante – é mais alta do que eu, que vergonha.

- Olá Jeevas, entre _ela me deu passagem, quando passei colocou a mão no meu ombro _tão jovem e apostando a vida assim?

- Ah... pois é _coloquei a caixa no chão _tão bonita e vivendo a vida assim?

Ela riu, pareceu se divertir com cada palavra minha.

- Interessante, então você é do tipo ganancioso? _foi até o frigobar que estava ao lado do sofá e tirou uma cerveja importada para ela e outra para mim.

- Mais ou menos _aceitei a latinha, eu não queria estender a conversa, mas meu trabalho era tratar bem as clientes.

- Hum? O que um jovenzinho como você faria com todo esse dinheiro se não por ambição para comprar alguma coisa?

- ...algo como... por amor _fiquei meio perdido em pensamentos, ultimamente eu estava assim.

- Tem quantos anos?

- 20

- Olha só... _seu olhar fincou longe _tem apenas 20 anos e já carrega o peso de uma vida nas costas?

- Como? _olhei para ela surpresa.

- B (chefe de Matt e Mello para quem não se lembra) me contou sobre você, queria ver o quão triste são seus olhos.

- Entendo, tenho que ir _amassei a latinha.

- ...não posso deixá-lo ir agora que viu meu rosto _tirou uma segunda arma que estava escondida sob o sofá _eu sinto muito rapazinho.

- Espere! Eu não vou denunciar você... está louca?! Pare com isso! _só era o que me faltava! Velha louca.

- Não fuja _abriu um sorriso maldoso _vou libertar você de sua cruz. Assim seu amigo também poderá desistir logo e parar de sofrer.

- Cale a boca! O que sabe sobre nós?! _merda, estou numa roubada.

- Deus não irá puni-los se morrerem assim, prometo que vai doer menos do que ficar preso a uma cama de hospital _encostou a arma na minha cabeça.

...espera ai, no fundo ela tem razão. E se ele estivesse lutando apenas para não me fazer chorar? Eu nem mesmo sei o quão desesperador deve ser ficar preso a uma cama com a incerteza da cura. E se ele não quisesse viver? E se ele fosse daquele tipo de pessoa que se entrega, mas só não o fez por minha causa?... mas mesmo assim... mesmo assim...!

- NÃO! _abaixei e tentei uma rasteira, a vadia conseguiu desviar.

- Você é meu!

Atirou, eu estava de frente para a maldita arma e ela atirou.

...

...

...

- ... _ueh? To vivo ou já fui pro céu? _abri os olhos e vi que nada tinha me acertado.

- Brincadeirinha _ela ria da minha cara – han! Espertinha _só estou brincando com você rapazinho, estou sem balas.

- Mas... que merda...? _levantei cauteloso.

- Perdi uma pessoa para um bandido, depois de vingá-lo comecei a colecionar armas... _olhou para a semi automática em sua mão _ bem ou mal, eu pude vingá-lo e senti mais aliviada, mas se o seu amigo morrer pela doença, ficará o resto da vida se lamentando sem poder fazer nada.

- ... _vi que seus olhos tomaram uma tristeza profunda.

- Isso me soa muito triste.

- ... _fiquei sem argumentos, apenas mordi o lábio inferior.

- Pode ir agora, boa sorte garotinho _me deu um beijo na bochecha e abriu a porta para mim.

Sai atônico.

Japão, uma semana depois.

Pov Mello

Quando fecho os olhos, você está atrás de minhas pálpebras, sabe o quanto isso me faz forte? Eu também quero ficar assim pra você. Tem coisas que não vão como eu planejei, mas quando olho o céu, até isso parece pequeno.

- Matt... _sussurrei, queria tanto seu abraço.

Está confirmado, meu corpo rejeita dia após dia as células que recebi; fadado a morrer?

Coincidência ou não, nunca agradeci tantos aos céus por vê-lo passar por aquela porta nesse exato momento.

- Mello! Trouxe um chocolate pra você escondido _sorriu travesso _como está se sentindo hoje?

- Bem! Me da um abraço? _estendi minhas mãos, vamos rápido!

- Claro né! _pude senti-lo colado a mim, o abracei com todas as minhas forças – que não era muito _está com saudades de casa?

- Muitas... _abri um sorriso.

- Acho que mais uma semana e poderá voltar _acariciou meus cabelos e depois meu rosto.

- Espero que sim! _sim, ele não sabia de nada ainda. Eu sei que estou cometendo o mesmo erro da outra vez... mas...

- E ai poderemos fazer várias coisas, estou com uma vontade tremenda de comer sua lasanha! O Patinhas também sente sua falta, não para de miar, aquele desgraçadozinho _fez um bico.

- E o trabalho?

- Está bem! Fui entregar coisas para uma tia muito estranha...

Sua voz foi ficando longe, pouco a pouco minha vista escureceu, acho que Matt não percebeu... hum, melhor assim.

Pov Matt

Mello fechou os olhos, sua expressão estava serena como a de um anjo. Os médicos entraram correndo no quarto, fiquei tão assustado que a enfermeira que me tirou do quarto não teve dificuldade alguma.

Fiquei parado do lado de fora olhando para o nada, não consegui voltar a mim por um tempo. Apenas escorreguei pela parede e escondi o rosto entre meus braços.

Não lembro muito bem o que aconteceu, acordei no banco ao lado do quarto onde Mello está... ou estava não sei. Ainda meio tonto abri a porta com violência, que merda tinha acontecido afinal?!

Meu coração falhou quando não o vi na cama, ai caralho... Mihael cadê você?! Sai correndo pelo corredor a procura de alguém.

- Merda, merda! O que aconteceu afinal?! _mesmo sem saber para onde ir, continuei a correr.

...

...

Não pode ter acontecido.

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