Eu olhava para meu primo e estava irreconhecível. Durante o tempo em que fiquei naquela velha cabana na floresta amazônica, Bruce me contou tudo o que sofreu nas mãos de Kal e me sinto culpada pelo meu primo. Ele me lembra tanto a forma em que general Zod regia Krypton, eu estando frente a Kal é como se eu estivesse revivendo tudo o que passei na ditadura de Zod.

Quando ele deu a ordem para que Diana fosse até Atlantis para convencer Aquaman de repensar na decisão, senti uma coragem tamanha de ir até meu primo para que eu fosse no lugar de Diana. Seria um pouco estranho, pois eu não queria me casar com o rei de Atlantis, mas era o meu instinto clamando mais alto para eu poder salvar o reino de Atlantis da fúria do meu primo. Dei um passo à frente e abri a boca para falar algo, mas me contive. Iam me chamar de louca e coisas até piores se fosse possível. Resolvi me conter e me calar.

Diana saiu da sala nervosa e fiquei frente ao meu primo junto com Cyborg. Kal se virou para nós e disse:

— Cyborg, leve Kara para o hotel onde ela ficará hospedada — e olhou diretamente nos olhos de Stone — e siga as demais instruções.

Stone engoliu seco e disse sem olhar para Kal:

— Como quiser.

Em seguida Cyborg pegou em meu braço e me levou para a fora da sala. Seguimos num corredor, enquanto isso a frase “...e siga as demais instruções.” ecoava na minha cabeça e eu tentava decifrar esse código. Chegamos à sala que Cyborg costumava ficar e ele deixou a porta fechada sem trancá-la. Encostou suas costas em uma pilastra e disse:

— Não sabe como dói ter que fazer isso com você.

— O que você irá fazer? – perguntei atônita e ao mesmo tempo curiosa.

Stone olhou para mim com pesar e respondeu:

— Vou ter que injetar uma dose de kryptonita em você para diminuir seus poderes – ele baixou a cabeça – ele acha que você tentará fugir.

Comecei a andar pela pequena sala e pensei em voz alta.

— Será que valeu a pena eu ter me entregado? Será que Kal vai deixar Batman e os demais em paz?

— Vou perguntar isso a ele. Kal ficou até mais calmo depois que você voltou, mas essa decisão de Arthur de não querer mais se casar com você fez voltar toda sua raiva.

De repente senti algo vibrar em meu cinto e lembrei do medalhão que Bruce fez para nos comunicar. Logo o peguei e um holograma do Barry apareceu.

— Como você está, Kara? – perguntou Barry num tom preocupado.

— Estou bem – tentei mentir, mas não consegui enganá-lo.

— Acha mesmo que pode enganar?

— Está bem – respondi — Arthur não quer mais se casar e meu primo está furioso.

— Arthur não sabe o que quer – disse Barry — Tenta ficar numa posição neutra, mas não consegue. E o que você pensa em fazer?

— Não tem o que eu fazer – respondi – alugaram um quarto de hotel e me colocarão lá com kryptonita injetada nas veias para eu não tentar fugir. Vocês tem algum plano?

— Ainda não – respondeu Barry– mas já descobri que fez aquela transmissão misteriosa antes de você partir daqui.

— Quem?

— Arraia Negra. Consegui falar com Hal e ele está com ele junto com Canário Negro e dois meta—humanos de outro universo que vieram para nos ajudar. Conversamos por um bom tempo e posso dizer que fiquei feliz que Arraia esteja do nosso lado.

Eu sabia que Arraia Negra era arqui—inimigo de Aquaman, mas saber que ele está contra o regime já é bom sinal e ver que se deve sim ter esperança nas pessoas.

— Você vai ter que terminar essa transmissão – disse Cyborg se aproximando de mim.

— Depois nos falamos, Flash – disse para meu amigo que se despediu de mim e terminou a conexão.

Guardei o medalhão no meu cinto e acompanhei Stone. Ele e eu nos tele transportamos para o meu quarto no hotel e já estava ali uma enfermeira com uma seringa que continha um líquido esverdeado. Já sabia o que era, pois sentia uma fraqueza considerável. A enfermeira se aproximou de mim e disse:

— Não se preocupe, a maior parte desse líquido é soro e calmante. Colocamos bem pouca kryptonita para não te deixar com sequelas.

Eu não respondi nada, apenas sentei numa cadeira que estava ali disposta, fechei os olhos e comecei a sentir o líquido entrar nas minhas veias. Minha visão ficou turva e eu apaguei.

(...)

Acordei com Diana próxima a minha cama, era a pessoa que eu menos queria ver naquele momento. Haviam me colocado na cama com camisola um pouco maior do que o meu número, olhei de lado e vi que Diana não parava de me observar.

— Dormiu bem, querida? – ela perguntou

Desde que descobri tudo no que eu havia me metido, como tinham me enganado, sentia repugnância por todos que estava de acordo com o regime, principalmente pela Mulher Maravilha, que para mim de maravilha não tinha nada. Quando ela me chamou de querida naquele instante senti um asco que quase vomitei. Virei meu rosto e disse:

— Me deixe em paz!

— Hmmm parece que está de ressaca. – disse Diana sentando na cama. – se quiser peço que lhe tragam um chá.

— Não quero nada que venha de você! – disse deixando claro a minha repulsa por ela.

— Calma logo você vai se livrar de mim. Hoje mesmo você será enviada para Atlantis.

Mas Arthur não tinha batido o pé que não casaria comigo? Como será que conseguiram convencê—lo? Pensei e logo me virei em direção a Diana perguntando::

— O que vocês fizeram para convencê-lo?

— Isso não lhe importa agora. – respondeu Diana com um sorriso sarcástico nos lábios. – Se arrume logo, as nove horas eu volto para te levar até lá.

Aquilo tudo parecia um pesadelo, queria acordar, mas não podia. Não me restava nada a fazer, lembrei-me do que Victor me disse que Adão e Damian conseguiram achar os cristãos na periferia de Metropolis. Desejava muito ver Jéssica, que tanto me ajudou. Comecei a rezar em meu íntimo para que ela ficasse bem. Pensei em ir visita-la antes de ir, pois eram sete e meia da manhã ainda, mas suspeitariam que eles tivessem algum envolvimento conosco e o que eu menos queria era prejudica-los.

Me levantei da cama, calcei meus chinelos, olhei para trás e Diana ainda estava lá.

— Ficarei grata se sair do meu quarto para eu me arrumar. – disse para Diana virando os meus olhos em direção ao banheiro.

— Ah sim – disse Diana – até daqui a pouco.

Quando eu ouvi o bater da porta se fechando e vi que ela não estava mais lá senti um alívio em minha alma. Fui até o banheiro e cheguei ao espelho, fiz um teste para ver se meus poderes ainda estavam comigo, fiz um esforço para sair raios quentes dos meus olhos e só pude vê—los com as íris rubras, mas nada de sair os raios. Tentei voar e nada, realmente aquela porcaria de injeção me deixou sem poderes, decidi que iria falar com Stone e perguntar como faria para eliminar aquilo do meu corpo o mais rápido possível.

(...)

A nossa chegada a Atlantis foi rápida. Fiquei encantada com aquele lugar, enquanto caminhava pelos corredores que davam para a sala do trono, olhava para os lados e ficava admirada com a arquitetura daquele lugar. Como os oceanos da Terra escondem tanta beleza, queria ter explorado os oceanos de Krypton, pena que não tive oportunidade para isso.

Chegamos à sala, estava na direita o comandante do exército, à esquerda o chefe dos servos e no meio estava Arthur Curry, o rei de Atlantis. A última vez que o tinha visto foi na batalha contra Brainiac e não havia reparado, mas ele tinha uma bela aparência que chamava a atenção de qualquer mulher da superfície. Ele estava sem a coroa, com roupa que parecia uma armadura tanto na parte de cima como a de baixo, os braços nus e na mão direita o seu tridente.

Cyborg e Diana estavam cada um do meu lado, se apresentaram e Diana disse:

— Trouxe Kara conforme o combinado. Ficamos felizes por ter voltado atrás em sua decisão.

Fiz questão de não esboçar nenhuma reação e percebi que Stone fez o mesmo. Arthur se aproximou de mim e senti seu perfume e posso dizer que nunca senti algo tão hipnótico como esse perfume, um odor amadeirado que me fazia desejar aquele homem, mas eu estava determinada que não me deitaria com ele, nem por uma noite. Sabia que a mulher dele estava viva e seria um ultraje me aproveitar da situação.

— Bem vinda a Atlantis. – disse o rei com sua voz imponente.

— Obrigada majestade. – agradeci fazendo vênia a ele.

Em seguida ele pediu para que o chefe dos servos me levasse para os meus aposentos. Fui conduzida ao meu novo quarto, pude ouvir que Arthur e Diana continuaram conversando, queria ouvir, mas não pude. Fui conduzida com muita pressa ao meu quarto.

(...)

O quarto era bem espaçoso, tinha uma vista incrível que se podia ver quase toda Atlantis. Conseguia ver algumas baleias que passavam por ali e ouvir seu canto. Queria que alguém estivesse ao meu lado para admirar aquela paisagem, pensei em Jordan, mas logo lembrei que ele ainda poderia estar de luto por causa da Carol Ferris, acho que ele não estava mais pensando em mim. Tentava afasta-lo de minha mente, mas ele voltava.

Mas duas batidas na porta me fizeram despertar dos meus pensamentos. Abri a porta e vi uma enfermeira loira, usava óculos, com um uniforme próprio de sua profissão, saltos médios e usava um coque no alto da cabeça.

— Você deve ser Kara Zor-El – disse a enfermeira com um sorriso.

— Sim, você é...

— Sou a enfermeira de Sua Majestade Mera, Laura Oliver.

Congelei ao lembrar que a rainha estava presa num calabouço. Continuou a enfermeira:

— Sua Majestade deseja conhece-la.

— Ah sim — respondi com um nervosismo evidente.

Fechei a porta atrás de mim e acompanhei a enfermeira até o calabouço. Enquanto caminhávamos perguntei a ela.

— O rei não vai achar ruim de eu ter saído do quarto, não é?

A enfermeira riu e respondeu:

— Você não é prisioneira do seu quarto, Kara, pode sair para conhecer o palácio.

— Na verdade estou bem perdida.

— Você não queria estar aqui. Sei que não é culpa sua.

— Ainda bem que você sabe, espero que Mera também saiba disso.

Adentramos no corredor que dava para a cela de Mera e logo chegamos onde queríamos. Laura disse a Mera:

— Majestade, aqui está Kara Zor-El.

Aproximei-me da cela até segurar uma das grades e pude ver que Mera estava aparentemente bem. Ela estava sentada na sua cama improvisada e lançou para mim um olhar enigmático me intimidando. Eu não estava com meus poderes e me passou pela cabeça que eu poderia ter caído em uma emboscada. Só esperava que aquilo fosse coisa da minha imaginação.