Saudades
Capítulo 1
Dona Florinda recolhe suas peças de roupas do varal. Coloca os pregadores nos bolsos do velho avental. Tem a estranha sensação de estar sendo observada, mas o pátio está vazio. O portão da vila está vazio. Espia o barril, ele também está vazio...
Ela entra em casa, coloca a cesta de roupas sobre a cadeira. Antes de guardá-las, vai à cozinha e coloca a chaleira no fogo para preparar o café. Uma xícara de café. Velhos hábitos que não morrem.
Volta para a sala, junto a porta, uma jarra antiga com um ramalhete de flores que já não tinham a beleza e o perfume de quando as recebera. Ela trocaria a água novamente. Não as jogaria fora. Ainda não. Não receberia outro para colocar no lugar, não dele. Queria eternizar esse humilde presente.
A chaleira apita.
Em um minuto o café está pronto. Sobre a mesa, duas xícaras de café...
Ela serve as duas. Ainda que desta vez, ela tomasse seu café sozinha. Uma das xícaras com pouco açúcar. Velhos hábitos nunca morrem.
Ela senta à mesa. Nota alguns papeais sobre a mesa, dentre eles uma carta:
A presente epístola,
Escrevi porque quero tanto,
Lhe falar das minhas tristezas!
Pra princípio de conversa,
Eu tenho que pagar tributo a sua beleza!
Seus belos olhos,
Em sua boca, sorrisos ardentes!
Quero lhe dizer!
Que a senhora tenha Certeza!
De que me agrada muito...
P.G
Ela dobra a carta, enxuga algumas lágrimas. Caminha até a porta. Ela que achava que a vila não lhe inspirava a falar sobre as coisas bonitas da vida, se vira contemplando o pátio que muitas vezes fora palco de um sentimento que muitos consideravam cafona.
Se nós, românticos
Somos ridículos
Talvez lunáticos
Só por amar
Queria mais uma vez desfilar com o buque de flores em um braço, ele do outro... Velhos hábitos nunca morrem...
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