“Tudo que temos que decidir, é o que fazer com o tempo que nos é dado.”

Gandalf

(...)

Rhaenerys sabia o quanto aquilo era errado e o quanto estaria encrencada se alguém a encontrasse, mas tinha que fazer isso. Depois de encontrar um lugar perfeito, onde estaria escondida, porém perto o suficiente para escutar a conversa. Ela parou.

― Aegon, sabe que isso é algo muito importante e que não deve ser compartilhado com ninguém mais ― disse Rhaegar, seu tom de voz era sério ― nossa família corre perigo, devemos ir o quanto antes.

― Sim pai, mas e depois? Depois que o exército esteja pronto? Vamos atacar? ― perguntou Aegon.

― Daremos um jeito. Por ora, avisarei a todos no jantar que partiremos amanhã.

Rhaenerys havia ficado tão concentrada na conversa do Senhor seu pai e de seu irmão que não notou quando Septã Diana aproximou-se. A velha mulher roliça pegou Rhaenerys pelo braço e a puxou para a luz.

Rhay sentiu um arrepio percorrer pelo seu corpo, agora ela estava oficialmente encrencada. A Septã levou a Princesa até o seu quarto, dizendo que isso não era correto, que princesas não devem ouvir conversas das quais não foram convidadas a participar. Rhaenerys tentava acompanhar os passos largos da Septã, porém vez ou outra tropeçava em seu próprio pé. Finalmente chegaram ao quarto da Princesa, lá uma mulher alta e morena as esperavam, era a Rainha Elia, ela estava aparentemente zangada e suas delicadas mãos se fecharam em forma de punho quando ela começou a berrar:

― Rhaenerys! O que eu tenho que fazer com você, minha filha? Tudo que eu e Septã Diane lhe ensinamos não serviu para nada? Você é uma princesa! Uma princesa com sangue Targaryen e Martell e já passou da hora de começar a se portar como uma!

Rhaenerys não sabia o que falar, na verdade, ela sabia que ficar calada seria muito mais sensato. A princesa se limitou a olhar para o chão e aguentar o sermão da senhora sua mãe.

Elia suspirou ao olhar para sua filha, os cabelos prateados, os olhos inocentes, tão parecida com seu marido e ao mesmo tempo tão parecida com ela... Elia tentava acalmar os nervos enquanto olhava o quarto de sua filha.

Ela se aproximou da cama e levantou o travesseiro e lá encontrou um pequeno livro azul, com as letras finas e delicadas no título que era “O Norte”. Elia estreitou os olhos tentando entender o porquê de sua filha manter aquele livro, a Rainha o abriu em uma página que estava marcada, lá falava sobre o Forte do Pavor e havia duas figuras estampadas: uma de Lorde Roose Boton e a outra do Bastardo Ramsay Snow. Elia ainda não entendia ao certo o interesse de sua filha no Bastardo do Norte, Rhaenerys deveria saber que nunca seria permitido uma união entre uma Princesa e um Bastardo.

― Chame Rebecca e Trisha e algumas aias ― disse Elia para Septã Diane ― , mande-as vir para cá o mais rápido possível.

Depois que a Septã se retirou, Rhaenerys tomou coragem para perguntar:

― O que terá de tão especial no jantar?

― A família Greyjoy está chegando, Lorde Balon está vindo de muito longe com seus dois filhos e quando chegar, ele encontrará uma Princesa digna e bem portada, ouviu bem? ― disse Elia séria.

― Sim, mamãe ― respondeu Rhaenerys cabisbaixa.

Elia se retirou do quarto fazendo a porta bater com força. Rhaenerys correu até o seu livro e o abraçou, deixando uma lágrima escorrer por sua pele pálida. Ela simplesmente não queria ser como sua irmã, não queria ser mimada e educada, não queria sorrir como uma boneca de porcelana, não queria agir como se o mundo girasse a sua volta. Se tivesse que ser uma princesa, ela seria do jeito dela. Por que ninguém era capaz de entender isso? Ela voltou a abraçar seu livro.

― Às vezes... queria que estivesse aqui... ― ela sussurrou.

(...)

Embora fizesse um calor forte durante a manhã, as noites em Porto Real eram bastante frias. O vento soprava por todos os cantos do castelo, enquanto criados apressados realizavam suas tarefas. Mestre Chubb, o cozinheiro real, garantia que tudo ocorresse como planejado, que tudo esteja impecável, Jeny sua fiel ajudante carregava em uma das mãos uma travessa com vários bolinhos de limão, os favoritos da princesa caçula.

Não tão distante da cozinha Mayara, a mulher responsável por organizar o grande salão para a chegada da família Greyjoy, gritava ordens aos seus ajudantes. Sempre mudava algo de lugar, nunca estava completamente satisfeita, há horas estavam preparando o salão, mas de acordo com ela “a pressa é inimiga da perfeição”.

Em um dos quartos do enorme e belo castelo, uma jovem alta e bela admirava a si mesma em seu espelho. Sua pele era morena e possuía longos cabelos escuros, seus olhos eram de um castanho claro, como um mel, a morena trajava um vestido escuro e longo. O vestido era trabalhado com minúsculas pedras vermelhas formando um dragão de três cabeças, o dragão era enorme e se estendia por toda a cintura delicada da garota.

Ela sentia-se bem, sentia poder.

― Está linda como sempre, princesa Rhaenys ― disse uma de suas aias, enquanto a mesma colocava uma coroa em sua cabeça.

― Diga-me algo que não sei, Lucinda ― disse a Princesa e riu de si mesma.

― Princesa, a família Greyjoy acaba de chegar ― avisou a aia de longos e lustrosos cabelos negros.

Rhaenys logo levantou-se da cadeira de sua penteadeira, Lucinda e Michaela, suas aias, logo foram ajudá-la. Lucinda era uma jovem bonita e bem desenvolvida, possuía seios fartos e um largo quadril, seus longos cabelos loiros estavam amarrados em uma fina trança que caia por suas costas, os seus olhos eram de um verde profundo, porém o que encantava a qualquer um que a conhecesse era seu belo sorriso sedutor. Michaela, por sua vez, era uma jovem com pouco mais de dezesseis anos, porém era conhecedora do mundo dos adultos, uma garota experiente e sensual, possuía longas madeixas negras e olhos de mesma cor, seu corpo era desejável, alta e esguia, sua pele era morena devido as horas exposta ao sol. Mas nenhuma das duas jovens poderia ser comparada a beleza da Princesa Rhaenys.

Logo as três andavam pelo corredor, a princesa dava passos longos e graciosos em direção ao Salão Principal, quando se aproximaram das duas grandes portas de madeira escura, os guardas abriram para que elas pudessem passar. Rhaenys ficou encantada com a beleza do lugar, os lustres pendiam no teto iluminando o lugar, as colunas de mármore haviam sido enfeitadas vários ramos com delicadas rosas, dando harmonia ao lugar. No centro, uma enorme mesa de madeira se estendia e vários pratos de porcelana já haviam sido colocados para receber os convidados.

Rhaenys se aproximou da senhora sua mãe, sorrindo e esperando ser apresentada ao tão belo rapaz que avistara. Ele possuía cabelos castanhos, porém mais claros que o dela, olhos esverdeados, ombros largos e um sorriso zombeteiro, como se tudo em sua vida fosse fácil. O rapaz a encarou de um jeito malicioso que Rhaenys conhecia nem, a Princesa devolveu-lhe um sorriso de mesmo porte.

― Princesa Rhaenys Targaryen, é com todo respeito que me apresento, sou Theon Greyjoy, filho de Balon Greyjoy e herdeiro das Ilhas de Ferro ― disse o rapaz, depois de segurar a mão da jovem Princesa e em seguida beijar sua mão.

Logo as portas do salão se abriram novamente e por ela entraram duas lindas garotas. As mais belas garotas que já avistara, na opinião de Theon. A mais alta e sorridente, trajava um belo vestido de seda violeta, podia notar-se um pequeno dragão de três cabeças bordados com fio de ouro, o vestido destacava a cor de seus olhos, que também eram violetas, suas longas madeixas lisas e prateadas estavam soltas e caiam por suas costas. A mais baixa e aparentemente tímida, trajava um vestido longo, azul e bem detalhado, possuía um decote avantajado na cintura, sendo unidos por um pequeno sol que representava a Casa Martell de Dorne, o vestido permitia que as costas da garota ficassem nuas, em alguns lugares poderia ser chamado de vulgar mas na opinião de Rhaenerys eram lindos, no pescoço da princesa pendia um colar com o brasão da casa Targaryen, o dragão de três cabeças, seus longos cabelos prateados estavam soltos como os de sua tia Daenerys, porém os da menor eram mais ondulados, como cascatas de cachos que caiam por suas costas, os olhos da Princesa eram de um azul vivo e inocente, como duas safiras. Theon quase que por extinto sorriu, encantado com a exótica beleza das princesas Targaryen.

Daenerys e Rhaenerys se aproximaram da Rainha Elia, que recebia todos com um sorriso no rosto, a comitiva não era tão grande, apenas alguns guardas para proteger a família durante a viajem, algumas aias, o Lorde Balon Greyjoy e seus dois filhos: Asha e Theon.

― Ainda me pergunto o porquê de eles estarem aqui ― sussurrou Daenerys no ouvido de Rhaenerys.

Algo me diz que vamos descobrir logo, logo... ― cochichou Rhaenerys em resposta.