No dia seguinte, Amennekht acordou, ainda deprimido. Não chorava mais, mas sua postura corporal e seu estado de espírito emanavam desistência, como se ele não quisesse mais lutar. A maior prova disso é que Amennekht sequer se sentava mais no trono, só queria saber de estar no seu quarto. Nem se alimentando direito ele estava.

— Vamos, por favor Amennekht, coma um pouco, você precisa. Você não comeu nada desde a última batalha.

Rainbow Quartz estava ali com ele. Era uma das poucas gems que tinha permissão para entrar no quarto. Ela estava sentada em frente a ele, lhe oferecendo um pedaço de bolo de mel, que o faraó não aceitava de jeito nenhum. A fusão então parou de tentar oferecer e teve uma ideia.

(Rainbow Quartz): Ei, Ameni. Se você não comer o bolinho, eu vou comer! Depois não adianta chorar que eu não vou deixar nada para você.

Rainbow Quartz aproximou o quitute de seu rosto, pretendendo abocanhá-lo, porém ela tinha uma expressão facial bizarra: seu par superior de olhos encarava o inferior como se dissesse “por favor, isso não!”, ao passo que os dois olhos inferiores pareciam responder “Por ele! Vamos fazer isso por ele!” . Antes que Rainbow Quartz desse uma mordida no doce, Amennekht segurou o enorme braço dela e o puxou para si.

Aquela cena despertou gatilhos emocionais em Amennekht. Ele lembrou de quando ele dava trabalho para comer e Rubelita gostava de fazer aquelas brincadeiras. Naquele momento, mesmo sem querer, Rainbow Quartz fez Amennekht pensar na Rubelita, mas de uma forma agradável. Amennekht então deu uma mordida no bolo, depois outra e mais outra. Rainbow Quartz sorriu ao ver Amennekht reagindo de forma positiva aos seus estímulos carinhosos. Depois de terminar, Amennekht limpou as migalhar da mão de Rainbow Quartz e a passou no próprio rosto. Ela tinha as mãos tão macias quanto seda, exatamente como ele imaginou.

Rainbow Quartz pegou um cacho de uvas e foi tirando uma uva de cada vez e pondo na boca de Amennekht, com toda a gentileza. Amennekht gesticulou com o dedo para que a fusão aproximasse o rosto a fim de que ele retribuísse o favor. Algumas vezes, Rainbow agia como se não quisesse Amennekht colocando as frutas em sua boca, mas ainda assim ela aceitava. A cada uva que ela abocanhava, Amennekht aproveitava para acariciar seu rosto: seus lábios carnudos, seu rosto delicado, seus cabelos brilhantes e volumosos. Contemplar tamanha beleza e bondade fez com que Amennekht voltasse a sorrir depois de tudo o que aconteceu.

Rainbow Quartz também sorriu. Era bom ver que seu plano havia dado certo e que Amennekht estava contente. Afinal, não há remédio melhor para um coração partido do que amor e carinho.

(Amennekht, sorrindo): Obrigado pela sua companhia, Rainbow.

(Rainbow Quartz, sorrindo): O que mais eu posso fazer por você?

(Amennekht): Você gosta de água?

Amennekht levou Rainbow Quartz para o lado de fora de seu palácio, onde havia uma espécie de piscina. Ele tirou os enfeites reais e a túnica, ficando apenas com uma faixa de pano enrolada como uma espécie de cueca, então entrou na piscina.

(Amennekht): Venha Rainbow, você vai gostar da água!

A fusão gem entrou na piscina, mas sua altura avantajada fazia com que o nível da água mal chegasse à sua cintura, obrigando-a a ficar de joelhos para poder desfrutar da piscina igual ao humano com quem estava. Felizmente, a piscina era larga o bastante para que Rainbow Quartz pudesse nadar livremente, batendo os braços e as pernas livremente. Depois de um mergulho rápido, Rainbow emergiu e balançou a cabeça, fazendo os cabelos esvoaçarem e espirrarem gotículas de água para todo lado, criando um fantástico espetáculo de luz e cores que deixou Amennekht extasiado.

Rainbow Quartz soltou uma daquelas risadinhas agradáveis que só ela sabia dar. Amennekht nadou ao redor dela, até ficar em suas costas, ficando submerso. Quando a gem se sentou sem vê-lo, Amennekht emergiu bruscamente e prendeu os braços ao redor do pescoço da gem. Uma coisa que Amennekht adorava fazer quando era criança era brincar de lutinha com as gems quando brincava na água.

E uma coisa que as gems adoravam fazer era fingir serem fracas e estarem totalmente indefesas para depois contra-atacarem com tudo, e foi isso o que Rainbow Quartz fez: fingindo estar sufocada, Rainbow começou a fechar os olhos e relaxar os braços. Amennekht então desfez a imobilização para ver como Rainbow Quartz estava. Mesmo repetindo aquela brincadeira com várias outras gems, Amennekht continuava caindo sempre no mesmo truque da “gem frágil e indefesa”, e o resultado foi similar às outras vezes: Rainbow Quartz aproveitou a distração para aplicar uma “tesoura”, prendendo as pernas ao redor do pescoço de Amennekht e o jogando de cara na água. Infelizmente a brincadeira acabou perdendo a graça quando ela ouviu um baque surdo no chão da piscina...

... que nada mais era do que o jovem faraó pregando uma peça na bela fusão gem. Foi só Rainbow Quartz acabar se preocupando com o faraó que ele reapareceu do nada e jogou um jato de água fria no rosto dela. Os dois ficaram brincando feito duas crianças na água por um tempão.

De longe, Bismuto observava a cena, e aquilo a incomodava. Por um lado, ela gostava de ver Amennekht saindo daquele estado depressivo e voltando a sorrir e a brincar como uma criança. Por outro lado... ele não era mais uma criança. As gems não entendem muito sobre psicologia humana, e para Bismuto era como se toda aquela situação traumática estivesse mexendo com o psicológico de Amennekht, e Bismuto não gostava daquilo. Era como se o guerreiro humano que ela ajudou a criar fosse uma gem rachada, com uma forma física disforme, tentando se manter inteira a todo custo. Ele ora pendia para um lado depressivo, ora marinava vingança, ora agia como uma criança brincando com uma garota mais velha, como era o caso dele agora com Rainbow Quartz.

A ferreira das Crystal Gems pensou num plano para trazer o Amennekht que ela conhecia de volta, e estava pronta para executá-lo.

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Mais ou menos uma hora depois de Amennekht terminar de brincar com Rainbow Quartz, ele voltou ao quarto para se arrumar. Ele se sentia bem melhor do que antes, e achou que talvez fosse uma boa ideia voltar a se sentar ao trono e tentar, pelo menos tentar ser um rei naquele dia. Quando terminou de se vestir, ele saiu do quarto e acabou acidentalmente dando uma topada em Bismuto.

(Amennekht): Opa, desculpe Bismuto, eu não vi você aí. Aconteceu alguma coisa?

(Bismuto): Nada Amennekht, eu só queria falar com você.

(Amennekht): Falar comigo? Sobre o quê?

(Bismuto): Tem algo na forja para você ver, é importante.

Bismuto levou Amennekht para a forja, que estava toda arrumada. O faraó já tinha ido lá outras vezes, então o calor não o incomodou tanto como quando ele era criança. Bismuto se apoiou sobre uma mesa, e em cima dela estava um pano, de cor metálica, dobrado cuidadosamente. Amennekht já havia visto aquilo outras vezes e se perguntava o que poderia ser. Bismuto começou a falar, com uma feição séria.

(Bismuto): Sabe Amennekht, eu entendo o que você está se sentindo, sobre a Rubelita e tudo mais. Sei porque eu também já passei por isso.

(Amennekht): Eu sei, foi algo muito difícil de enfrentar. Eu acho até que tive sorte, porque tive você, a Garnet, as Crystal Gems para me ajudar a passar por isso... e também a Rainbow Quartz...

(Bismuto, sorrindo): Você gosta dela, não gosta?

(Amennekht): É a fusão mais linda que já vi.

Bismuto começou a rir, deixando Amennekht corado de vergonha.

(Amennekht): Ei, pare de rir!

(Bismuto): Desculpe, é que eu lembrei de algumas vezes quando você era criança e dizia a mesma coisa sobre a Garnet.

(Amennekht, corado): E-Era diferente!

(Bismuto, meio triste): Eu sei... e eu te entendo. Você está com um buraco no seu coração, e quer preenche-lo a qualquer custo. Embora Rainbow Quartz seja uma fusão encantadora, eu tenho alguns motivos para achar que ela não é a gem correta para isso...

Amennekht teve vontade de perguntar que motivos eram esses, mas ao ver a normalmente alegre e brincalhona Bismuto com uma feição tão abatida, ele quis saber o porquê.

(Amennekht): Bismuto, o que aconteceu?

(Bismuto, segurando as lágrimas): D-Desculpe, é que ver você daquele jeito, se atravessando com a p-própria arma...

(Amennekht, triste): Desculpe, eu não quis... eu não estava pensando direito...

(Bismuto): Você me fez lembrar de mim... quando eu perdi meus amigos da rebelião.

(Amennekht): Rose também me contou sobre as diversas Crystal Gems que já foram estilhaçadas nessa guerra.

(Bismuto): Não, não eram Crystal Gems.

Bismuto pegou o pano que Amennekht vira várias vezes e o desdobrou diante dele. Era uma bandeira de guerra, desenhada para lembrar uma chapa escura de metal, sobre a qual estava o desenho de uma Cruz de Santo André formada por duas correntes de zinco brilhantes.

(Amennekht): Parece a bandeira das Crystal Gems, só que... sem a rosa, e sem as cores...

(Bismuto): Eu desenhei a bandeira das Crystal Gems em homenagem à Alloy Guild. Foi o primeiro grupo rebelde ao qual me juntei para enfrentar Homeworld.

(Amennekht): O primeiro?

(Bismuto): A Terra não é o único planeta que está sendo invadido pelas gems. Pelo espaço afora, Homeworld tomou diversos mundos para si e os transformou em colônias, colônias que morrem uma vez que um determinado número de gems são feitas.

(Amennekht): Mundos... assim como o meu?

(Bismuto): Sim, muitos como o seu. Mas o seu teve a sorte de ter alguém como Rose Quartz para lutar por ele. Se não fosse por ela, por nós, eu não sei como vocês estariam agora.

(Amennekht): Bismuto, pelo quê a Alloy Guild lutava?

(Bismuto): Quando Homeworld começou a ficar com escassez de recursos, e a produção das colônias passou por uma baixa, as Diamantes resolveram modificar a forma de produção de gems. Em algumas colônias, elas substituíram os espaçosos jardins de infância pelas minas, que eram mais econômicos. Embora produzissem um número inferior de gems, as minas faziam gems levemente mais fortes e mais resistentes que as gems normais de jardins de infância, uma coisa que agradou bastante as Diamantes. Só que aconteceu algo que elas não previram

(Amennekht): O quê?

(Bismuto): Os metais não tinham a mesma submissão das gems às suas superiores. Eles eram proativos, gostavam de assumir a liderança dos trabalhos, e também eram imprevisíveis: quartzos são todos guerreiros, ágatas são todas comandantes de tropas, safiras são todas videntes, mas os metais não seguiam padrão. Um bronze poderia tanto ser um guarda-costas como um capitão, um zinco poderia ser tanto um cientista quanto um servo. Um Bismuto poderia ser tanto um artesão quanto um fabricante de armas... como eu.

(Amennekht): Então você também era um metal.

Bismuto acenou que sim com a cabeça, e continuou contando a história.

(Bismuto): No início, as Diamantes relevaram isso, já que os metais eram úteis a elas. Porém, com o passar do tempo, eles começaram a se afeiçoar demais às gems a quem serviam. Alguns até mesmo chegaram a se fundir com suas superiores, e uma fusão entre gems diferentes era e ainda é contra as leis de Homeworld. Mas as gems não tinham coragem para assumir o risco de uma fusão, não tinham coragem para arcar com as consequências, então começaram a acusar os metais de usarem sua força e resistência superior para forçar fusões, a fim de ficarem mais fortes.

(Amennekht): Mas uma coisa dessas é possível?

(Bismuto): Em teoria sim, mas na prática, não se sabe. Enfim, os metais começaram a ser estilhaçados, bastava uma acusação de uma superior e eles eram estilhaçados ou jogados em fornalhas. As gems começaram a olhar com desconfiança para nós, e a nos destratar, mesmo quando cumpríamos bem nosso trabalho. Com o tempo, percebemos que aquilo era só o começo. Elas não iam parar até tirar nossa individualidade, ou nos fazer ser estilhaçados por ela. Então nos rebelamos. Bronzes, zincos, cobres, alumínios em toda parte deixaram de servir suas gems.

Nós começamos a tomar conta das colônias onde éramos feitos, criamos nossa própria bandeira, nossa própria forma de governo, e nos emancipamos. Como forma maior de rebelião, mudamos nossa aparência: apagamos de nossos trajes as marcas das cortes a que servíamos, e começamos a assumir um porte físico mais parecido... mais parecido com o seu e o de seus guerreiros, sabe? Mais alto, braços grossos, aqueles pelos na cara que alguns de vocês têm...

(Amennekht): Mas vocês venceram?

(Bismuto): Não. Em questão de tempo, fomos subjugados e derrotados. As Diamantes nos deram apenas 2 opções: voltarmos a servi-las ou nos autoexilarmos. Eu acabei ficando, enquanto meus outros amigos de esquadrão se foram. Nunca mais os vi... Bronze, Carbono, Prata... nenhum deles...

(Amennekht): Como era o nome do seu esquadrão, Bismuto?

(Bismuto): Esquadrão Platina.

Um silêncio se formou entre os dois. Amennekht já tinha ouvido aquele nome antes, era o mesmo nome do esquadrão comandado por Thanos. Será que havia alguma relação? Enquanto ele pensava, seus pensamentos foram interrompidos por Bismuto.

(Bismuto): Sabe Amennekht, também houve outro motivo para eu te chamar aqui. Quando eu olho para você, e também para alguns humanos que são grandes amigos meus, eu lembro dos meus amigos da Alloy Guild, e isso me motiva ainda mais a lutar por vocês. No passado, nós desenvolvemos uma técnica de treinamento intenso para tornar nossas formas físicas mais resistentes e também aprendermos a golpear mais com mais força, mais rapidez e mais eficiência. Chamávamos esse método de “Martelo & Bigorna”, e eu vou te ensiná-lo agora. Venha comigo.

Bismuto levou Amennekht até uma sala mais interna da forja. Lá havia uma espécie de estátua, com um desenho protuso de uma pedra, aparentemente simulando uma gem. A “pedra” da estátua estava localizada na altura do joelho esquerdo.

(Bismuto): Amennekht, retire suas manoplas e suas sandálias.

Amennekht retirou ambos. Seus braços estavam cheios de marcas de furos permanentes, por onde entravam as agulhas das manoplas que se conectavam às suas fibras musculares e as faziam trabalhar com maior intensidade. Embora ele tivesse um porte físico musculoso, sua pele era mais macia do que seria esperado para um guerreiro.

(Bismuto): Isso está errado. Você ficou muito dependente das minhas invenções. Olhe isso, sem calos, sem enrijecimento. Todos os humanos que eu vi tem calos, tem a pele dura em certos pontos. Você é todo macio e mole, não é à toa que quando foi atingido de jeito caiu tão facilmente. É hora de consertar isso.

(Amennekht): Sim, senhora.

(Bismuto): Muito bem. Nos anos que passei enfrentando gems, eu aprendi um fato curioso sobre elas: as pedras são o centro vital de cada gem. Elas precisam de suas pedras para criar sua forma física e suas armas. Ao redor das joias de cada gem, há uma região de alta sensibilidade, que eu chamo de “círculo da dor”. Golpear uma gem na região adjacente à sua pedra, ou mesmo em cima dela, causa uma dor excruciante. Um golpe bem dado e a gem inimiga pode até rachar e ficar instável. E uma gem instável não pode lutar. Repita isso.

(Amennekht): Uma gem instável não pode lutar.

(Bismuto): Com convicção, faraó!

(Amennekht): Uma gem instável não pode lutar!

(Bismuto): Muito bem. Agora, imagine que a estátua à sua frente é um quartzo de Homeworld. Está vendo a pedra dela ali? Chute.

Amennekht deu uma bicuda na estátua, no ponto indicado, mas meio que indeciso. Afinal, tem que ser meio biruta para chutar pedra magmática, né?

(Bismuto): Fraco demais, e não chute com os dedos ou vai quebra-los. Use a lâmina do seu pé. Os lados dele. Vamos, tente de novo, com o lado medial.

Amennekht chutou de novo, dessa vez um pouco mais forte, mas também mais incomodado.

(Bismuto): Mais forte.

Amennekht deu outro chute na pedra.

(Bismuto): Gire o quadril Amennekht, assim você consegue mais força!

Amennekht continuou chutando a estátua na região indicada, só que, por não estar acostumado com aquele treinamento, começou a sentir dor.

(Bismuto): Mais força, Amennekht. Mais força! MAIS FORÇA!!!

(Amennekht, chutando com toda a força): Ai!

Bismuto socorreu o humano quando ele perdeu o equilíbrio e caiu no chão, mas também o censurou.

(Bismuto): “Ai”? “Ai” é um grito que deve sair da boca das gems com quem você luta, Amennekht, não da sua.

(Amennekht): Desculpe Bismuto, é que eu nunca fiz um treinamento desses antes! Você tem que admitir que é muito extremo!

(Bismuto): Ele é, porque criamos ele num período de guerra, e guerras são horas para medidas extremas.

Bismuto então fez uma demonstração e, com um único chute, quebrou as duas pernas da estátua, fazendo-a cair no chão.

(Bismuto, carregando Amennekht): Vem cá, eu vou te levar para uma das fontes da Rose para tratar desse seu pé aí e amanhã continuamos.

(Amennekht): Obrigado Bismuto...

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Como prometido, Bismuto levou Amennekht a uma das fontes de Rose, e usou as águas curativas de lá para dar um jeito na equimose que Amennekht criou por conta de ficar chutando a estátua. Uma vez que ele banhou os pés lá e se curou, ele simplesmente saiu andando por conta própria, se separando de Bismuto. Mais tarde, no início da noite, ele estava na sua sala de treino particular, treinando a técnica que Bismuto lhe ensinara num boneco. Para se adaptar melhor, sem se ferir tão facilmente dessa vez, ele revestiu um pouco a madeira do poste do boneco, a fim de não acabar sendo perfurado por farpas.

Enquanto treinava, Amennekht foi surpreendido quando a porta rangeu, revelando Rainbow Quartz entrando no lugar.

(Rainbow Quartz): Amennekht, o que você está fazendo?

(Amennekht): Hã? Ah nada, só treinando uns golpes.

(Rainbow Quartz): Não acho que é uma boa fazer isso, você pode acabar machucando seu pé de novo.

(Amennekht): Como assim, “de novo”?

(Rainbow Quartz): Não foi você que deixou aquelas pegadas de água saindo de uma das minhas fontes?

(Amennekht): O q-quê? Ah não, deve ter sido uma das rubis, você sabe como elas são... eheheh... hehehehe...

(Rainbow Quartz, sério): Tudo bem... Escuta, por que hoje você não dorme mais cedo? Parece cansado. Amanhã talvez você possa me ajudar a achar as rubis levadas que estão brincando na minha fonte.

(Amennekht, nervoso): Amanhã? Ah, não Rainbow, desculpe. É que estou ocupado amanhã... teve um comerciante que me pediu ajuda porque ele teve um problema com... com... uma caravana de camelos... ela não chegou... então ele...

Rainbow Quartz simplesmente saiu da sala, sem dizer uma única palavra. Agiu de uma forma que fez Amennekht se sentir culpado. Estava na cara que ela se preocupava com ele, mas esse era justamente o problema: ele não queria mais gems se preocupando com ele, achando que ele era o elo fraco da cadeia. Por anos ele contou com a proteção delas, agora estava na hora dele protege-las, e isso era algo que ele faria a qualquer custo.

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No dia seguinte, Bismuto chegou na forja e viu que Amennekht estava treinando luta com sua kopesh. Os movimentos que ele fazia eram impressionantes: ataque, corte, defesa, contra-ataque...

(Bismuto): Foi a Pérola e a Rose que lhe ensinaram isso?

(Amennekht): Sim, foram elas mesmas.

(Bismuto): Ótimo, elas ensinaram muito bem. Mas é claro, para essa técnica funcionar você tem que ter uma espada na mão, e você pode acabar ficando de mãos nuas num combate real. A Garnet ensinou algo de combate físico?

(Amennekht): Bom, ela ensinou técnicas de defesa e contra-ataque.

(Bismuto): Ótimo, são muito boas para proteger a si mesmo e aos que você ama, mas agora estamos passando para o próximo nível, que é levar a luta ao inimigo. Venha cá.

Bismuto mostrou outra estátua para Amennekht, idêntica ao do dia anterior, com a diferença de que a “joia” estava localizada na altura das costelas.

(Bismuto): Muito bem, agora a sua inimiga tem a pedra no nível das costelas. Você usou o pé ontem, agora quero ver você usar o braço, o cotovelo principalmente. Pode golpear.

Amennekht ficou em posição para atacar, mas algo dentro dele dizia que aquilo não era uma boa ideia. Ele ficou com o pé bem machucado no dia anterior por conta do treinamento. Tudo bem que Bismuto o levou para uma das fontes de Rose e ele se curou lá, mas ainda assim aquilo era uma experiência bem desagradável.

(Amennekht): Pera, peraí, por que que eu tenho que bater numa estátua de pedra?

(Bismuto, séria): Porque é parte do seu treinamento, porque você precisa enrijecer sua pele, seus músculos e seus membros o máximo possível para poder enfrentar uma gem de igual para igual. Acha que vai vencer essa guerra apenas se defendendo e contra-atacando?

(Amennekht): Bom, eu fiz um ótimo trabalho até agora com essa técnica.

(Bismuto): Só que até agora você não tinha enfrentado Hessonita! Ela é a melhor comandante e estrategista da Diamante Amarelo. Bastou um combate para que ela te deixasse de joelhos!

Bismuto então pegou uma imagem da Comandante Hessonita, a mesma que liderara o ataque à Kenusa, e colou na cabeça da estátua.

(Bismuto): Você não entende, né? Se quer perder outra cidade porque não aguenta um pouquinho de dor física, tudo bem! Meus amigos de Esquadrão criaram esse método de treinamento e eu não vou macular a memória deles ensinando-o para alguém que não quer ir até o fim! Estou fora!

Bismuto se dirigiu para a porta de saída da sala interna extremamente aborrecida. Porém, antes que ela fechasse a porta, ainda conseguiu ouvir o som dos gritos de batalha de Amennekht, enquanto ele golpeava a estátua com o cotovelo. Aquilo a fez sorrir de uma forma sinistra.

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Quando Amennekht cessou o treinamento com Bismuto, já era uma hora avançada da noite. Ainda não era madrugada, mas devia ser pelo menos umas, sei lá, 23:30. Andando por algumas ruas estreitas de Mênfis, Amennekht foi cambaleando até uma das fontes de Rose, para curar o braço que ele lesionara treinando os golpes de cotovelo na estátua. Uma silhueta grande o seguia discretamente. Sentindo que estava sendo seguido, Amennekht tratou de colocar rapidamente o braço na água curativa e ir jogando-a por cima do ferimento, a fim de acelerar o processo de cura. Depois foi o mais rápido possível para dentro do seu palácio, e entrou no quarto. Uma batida de porta foi ouvida, poucos segundos depois.

(Amennekht): Quem está aí?

(Rainbow Quartz): Sou eu, Amennekht.

(Amennekht): Desculpe Rainbow, pode voltar outra hora? Eu estou me trocando.

(Rainbow Quartz, suspirando): Amennekht, por que você fica machucando seu corpo desse jeito? O que você está fazendo? Eu quero lhe ajudar.

(Amennekht): Eu não preciso de ajuda!

(Rainbow Quartz): Não é o que sua mãe acha.

(Amennekht): Minha mãe não sabe de nada, Rainbow!

(Rainbow Quartz): O que houve com você, Amennekht? Nem parece você falando.

(Amennekht): Mas sou eu sim, e vou te dizer o que houve!

Amennekht abriu a porta de forma bruta e confrontou a fusão gem olhando-a nos olhos.

(Amennekht): Eu perdi minha esposa, e uma das minhas cidades agora está ocupada por tropas de Homeworld. Eu achei que estava ganhando essa guerra, aí veio a Hessonita e provou que eu estava errado!

(Rainbow Quartz): Amennekht, se você me deixar entrar e falar isso com voc...

(Amennekht): Não temos nada para falar! Eu sei que provavelmente minha mãe mandou você aqui para tentar me compreender ou ouvir um desabafo meu, mas é inútil. Eu não sou como ela e ela não é como eu. Eu não sou um gigante de 2 m de altura com força suficiente para carregar uma montanha nas costas, eu sou só um humano, essa criatura fraca, débil e indefesa, e se ela quiser que eu me torne algo mais do que isso, então ela deve me compreender. Do contrário, que pelo menos aceite!

Amennekht bateu a porta do quarto com toda a brutalidade, partindo o coração da pobre fusão gem, que não conteve as lágrimas.

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(Bismuto): Então você voltou, mesmo depois do que aconteceu ontem. Devo desculpas então a você, provou que, mesmo diante de fraqueza momentânea, tem bastante fibra. É por isso que é o faraó, não é mesmo?

(Amennekht): Tudo bem Bismuto, eu entendo. Pensei no que você disse sobre seus amigos de Esquadrão e sei como isso é importante para você.

(Bismuto): Então é hora do último nível. Veja, eu fiz essa nova estátua, a pedra dela está no nariz. Com um bom soco, você acerta direto na pedra e racha. E mesmo que não acerte direito, ainda tem os olhos e a boca, que são igualmente frágeis.

(Amennekht): Mas se um quartzo tem a pedra localizada no rosto, é óbvio que ele vai usar um elmo para protege-la

(Bismuto, sorrindo): Mas você tem as suas manoplas! Com um soco bem dado, você pode estilhaçar a viseira e cegar sua oponente com os cacos, ou então deformar o capacete, e aí ela vai ficar ocupada demais tentando tirá-lo, então você dá o golpe de misericórdia!

(Amennekht, sorrindo): Verdade! Vamos começar!

Amennekht começou a socar a estátua no rosto, no lugar onde a pedra estava desenhada. Enquanto Amennekht golpeava, Bismuto começou a falar

(Bismuto): Visualize Amennekht. Isso não é mais só uma estátua feita com rocha magmática, é uma máquina de guerra vestindo a insígnia das Diamantes! Está viva, ensandecida, ela quer te matar e depois de enterrar sob uma pilha feita com os estilhaços de Rose, Garnet, Pérola e os meus!

Num dos socos, Amennekht acabou manchando a estátua com sangue. De tão forte que bateu, ele acabou machucando a mão.

(Bismuto, segurando a mão de Amennekht): É sangue, e daí? Me faça acreditar que é do quartzo.

(Amennekht, contorcendo a mão em dor): Mas quartzos não sangram, isso é impossível!

(Bismuto): Impossível? Sabe o que é impossível? É um punhado de gems defeituosas e imprestáveis fazer frente contra o maior império da galáxia! Isso é impossível! É impossível que uma criatura fraca e molenga como você consiga derrubar uma guerreira de Homeworld! É impossível que um bando de animais orgânicos desmiolados consigam se apoderar de tecnologia gem e usá-la para enfrentar o inimigo! ISSO É IMPOSSÍVEL!!! Mas é exatamente isso o que fazemos todos os dias! Nós tornamos o impossível possível! Você deu o seu suor, suas lágrimas e agora está dando o seu sangue! Pelo quê, Amennekht? Pelo que você luta?

(Amennekht): Pelas Crystal Gems!

(Bismuto): Por quem você derrama seu suor?

(Amennekht): Pelo meu povo!

(Bismuto): Por quem você derrama lágrimas?

(Amennekht): Pela minha família!

(Bismuto): E por que você derrama seu sangue?

(Amennekht): Para proteger quem eu amo!

(Bismuto): E o que você vai fazer para proteger quem você ama?

(Amennekht): EU VOU ESTILHAÇAR AS DIAMANTES!!!

(Bismuto): ME MOSTRE COMO, HUMANO!!!

Tomado de um frenesi, Amennekht deu um chute nas pernas da estátua, arrancando uma lasca de pedra, depois deu uma cotovelada na barriga, fazendo uma fossa se abrir no lugar. Por fim, deu um soco tão forte no rosto da estátua que deformou quase a metade dele.

(Bismuto): Isso, isso! Você conseguiu! Você conseguiu!

(Amennekht): Eu consegui!

(Bismuto): Você é capaz, Amennekht! Você pode vencer!

(Amennekht): Eu vou levar essa guerra até elas!

Com aquela fúria ardendo em seu coração, Amennekht não sentia mais nada ao seu redor: não ouvia mais as congratulações e os tapinhas nas costas que Bismuto lhe dava, não sentia mais a dor no seu punho que sangrava. Não, toda a sua atenção estava na imagem de Sekhmet, que estava à sua frente, dando um sorriso sinistro de dentes pontiagudos.

(Sekhmet): Você agora está pronto, Amennekht! Está pronto para enfrentar novamente as gems de Homeworld.

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Kenusa – Início da manhã

Os primeiros raios de sol já iluminavam a cidade ocupada pelas gems de Homeworld quando o Esquadrão Platina, comandado por Thanos, um dos capitães do rei Sebek, subiu uma duna de areia, permitindo que vissem a cidade de longe. Não havia naves sobrevoando o lugar, mas dava para enxergar baterias de artilharia protegendo a cidade, bem como algumas máquinas de cerco em patrulha. Thanos chegou com o Samurai e falou:

(Thanos): Samurai, análise.

(Samurai): Estamos a cerca de 3km de distância. Podemos nos aproximar mais 500 metros antes de sermos vistos.

(Thanos): Correção: estamos a 4km. Mas também concordo que a distância-limite que podemos nos aproximar sem confronto é 2500 metros em relação à base. Você está melhorando sua análise de distância, Samurai.

Dito isso, Thanos se desfez de sua espada e de seu escudo, entregando para Merit.

(Merit): O que você vai fazer?

(Thanos): Já faz quase um mês que não tenho um fim de semana decente.

Thanos simplesmente deitou na areia e saiu rolando feito uma salsicha.

(Erik): Peraí capitão, espera a gente!

Erik, Olaf e Baleog também jogaram suas armas para a Merit segurar e começaram a rolar duna abaixo feito três salsichas barbudas.

(Tyris): Não acredito no que estou vendo!

(Samurai): Realmente, é inacreditável... O quanto esse esquadrão é o melhor de todos!

O Samurai fincou a espada no chão e também acompanhou o capitão e os colegas nórdicos na brincadeira.

(Merit, revirando os olhos): Mais um dia normal nesse esquadrão de anormais.

A aparência dos soldados do Esquadrão Platina estava muuuuito diferente da normal: o Samurai estava com uma katana totalmente nova, um pouco maior que uma katana normal com a lâmina totalmente prateada, num tom mais claro que o normal. Tyris Flare, uma das guerreiras de Yuria, usava uma espada nova de duas mãos, com o cabo de um tom vermelho bastante intenso. Gilius Thunderhead, o anão, usava um machado do tamanho dele, com a lâmina de uma coloração escura. Axel Battler usava a mesma espada de antes, mas vestia um peitoral azulado.

No lado dos vikings, Erik, o Veloz, usava duas espadas e um par de botas novinhas em folha. Olaf, o Robusto, usava, além do escudo, uma couraça, enquanto Baleog, o Violento, agora tinha, além da espada, um arco e flecha novo. Merit agora vestia uma capa preta que podia cobrir o corpo todo e Menob estava com um novo machado.

Mas de longe o mais diferente de todos era Thanos: o grego estava com duas manoplas douradas, cada uma com 5 anéis, contendo uma esfera metálica que se encaixava perfeitamente dentro da manopla. Ele também tinha uma couraça também dourada, caneleiras e cocheiras de uma cor amarela viva, além de botas metálicas, num tom azul-prateado. Ele também usava um elmo grego, com uma cor platinada. A capa, o escudo e a espada que ele usava ainda eram os mesmos de antes. O capitão do Esquadrão Platina se divertia sentado na areia, montando um castelinho, até que apareceu Menob, o gigante anaquim.

(Menob, pisando no castelo de areia): Acabou a graça, capitão?

Thanos levantou o olhar para o gigante, bastante sério e ameaçador. Porém, ele simplesmente se jogou de costas na areia e começou a se debater.

(Thanos): nngnghghrhraaaah, meu castéio!

(Os três vikings, imitando o Thanos): nngnghghrhraaaah, o castéio dele!

(Menob): Tá vendo leitor, o que eu tenho que aguentar?

(Samurai): Calma Menob, você não sabe que ele tem coração frágil?

O Samurai pegou um odre de vinho, botou uma espécie de bico de mamadeira e deu pro Thanos, que ficou tomando como se fosse um bebê.

(Thanos, irritado): Suco de uva não fermentado? Blergh!

(Merit, carregando as armas): Thanos, se esqueceu que você não bebe antes de uma batalha?

(Thanos): Ah, foi mal. A ideia da brincadeira era não ser antes de uma batalha.

Agora já sério, Thanos se levantou, limpou a roupa e tocou o clarim de batalha. Ao soar do clarim, todo o grosso do exército de Ahkvata começou a avançar na direção dele.

(Thanos, se dirigindo ao esquadrão): Pessoal, do que o nosso esquadrão é feito?

(Todo o Esquadrão): DE PLATINA!!!

https://www.youtube.com/watch?v=403tAdvkSTA