Sangue Divino

Capítulo 1: Saindo do nada!


No início, não havia um início, não havia o tempo para existir quando, não existia espaço para se situar o “onde”, não havia água, fogo, terra ou ar, não havia a Terra, o planeta, nem nenhum dos planetas que se conhecem hoje ou qualquer um dos que ainda não foram descobertos, não havia o Sol nem as demais estrelas do cosmos, não havia a noite nem o dia, simplesmente não existiam as coisas, mas havia sim algo: havia o nada, o vácuo, o devir, a inexistência, como queira chamar isto.

Muitos chamam isso de caos, mas o nada é uma das coisas mais simples e organizadas, senão tal, já que não há nada para organizar-se, girando em torno de um conceito de entropia desordenada: tudo caminha para a desordem. Um pouco ambíguo, aparentemente, mas não é. Muitos partem da premissa que isto é caótico, já que não se diferencia nada, mas esquecem-se que não há nada para diferenciar, fosse o caso, existiriam múltiplas coisas, independente da quantidade, se há variedade há desordem.

Passando-se muito tempo e ao mesmo tempo nenhum, pois não havia tempo, algo começou a existir além da inexistência, mas que apesar disto, era similar em muitos aspectos, algo incompreensível até para as divindades mais competentes para isso, que também pairavam a beira do devir, esperando o seu início. Caos. A primeira divindade, que veio a existir da inexistência, um ser sem forma, sem diferenciação do que é e do que a própria inexistência é. Por todos estes aspectos sou desconhecido por muitos até os tempos atuais e muitos insistem em classificar-me como o caos, o substantivo.

Questões filosóficas e metafísicas permeiam minha existência e o início dela, mas, como muitos dos humanos sabem, a vontade pode tornar possível até o impensável, e foi justamente minha vontade que me trouxe à existência, apenas pelo simples fato de eu querer existir, pude surgir do nada, contrariando muitas leis da física, química e biologia, como mais adiante Pasteur vira a descobrir.

Sendo uma divindade sem forma, a única coisa que partia de mim era a minha vontade, pois eu era tão neutro que pouca coisa podia influenciar, e mesmo que pudesse, além de mim, existia apenas o vácuo que ocupava o todo e pairava sobre si mesmo. Isso era enfadonho demais, passei tempos e tempos naquele mesma chatice mortal...

Será que havia algo que eu poderia fazer?

...

Com a minha existência, tudo o que estaria por vir mudaria totalmente, não pelas minhas mãos, mas mudariam muito...

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