Toquei a campainha enquanto Eric dava partida no carro e sai pela rua em alta velocidade. Ninguém atendeu, só pode ser praga. Chamei pela Belle e nada. Estava tudo escuro, eu comecei a ficar com medo então decidi ir para a casa do Eric, que era um pouco longe dali, mas dava para chegar a pé. Caminhei, caminhei e caminhei. Tudo que eu fiz foi caminhar ate lá, nunca pensei que fosse tão longe. Sempre vim de carro, exceto na vez em que eu vim do colégio para cá, mas o colégio é bem mais perto que a casa da Belle. Toquei a campainha ofegante. Estava exausta. Alguém atendeu.

-Oi. Pensei que tinha ficado na casa da Belle. – era ele, o único que sabia que eu iria para lá.

-Você só deve estar brincado! É macumba garoto? Aprendeu a fazer magia negra? – eu falei me recompondo.

-Ta maluca é? Opa, esqueci que você é maluca!

-Escuta aqui, eu to cansada de fingir ser sua namorada! To cansada de tudo isso. E se vai me chamar de maluca pode parar, porque eu aguentei isso tudo ate agora mais eu já estou cheia, CHEIA!

-Calminha aí. Se for gritar grite com outra pessoa.

-CHEGA! Eu passei a noite toda fingindo ser sua namorada, te beijando e dizendo coisas idiotas. Estou cansada, não tenho onde dormir essa noite, pois meus pais me trancaram fora de casa ate não sei que horas. Minha ultima esperança era minha amiga Belle que por sinal não estava em casa, ai eu venho aqui pra ver se resta um pinguinho de educação e me deixa passar a noite na sua casa e é assim que você me recebe? VALEU, mais não vim aqui para ser tratada desse jeito. Prefiro ir a casa da amiga sem noção da Larissa e pegar a chave com minha irmã.

-Hei, fala mais baixo ou meus pais vão ouvir. – ele falou fechando a porta e nos deixando do lado de fora.

-QUE SE DANEM SEUS PAIS, QUE SE DANE SEU IRMÃO IDIOTA. QUE SE DANE TUDO!

-O que ta acontecendo com você?

-EU ESTOU CANSADA E ESTRESSADA, É ISSO QUE ESTÁ ACONTECENDO COMIGO. E VOCÊ VEM DIZER QUE NÃO QUER QUE EU FIQUE AÍ?

-Eu não falei isso. Você nem sequer me deixou falar direito.

-AAAH CHEGA PRA MIM! – eu falei saindo.

-Onde vai? – ele perguntou caminhando ao meu lado.

-Eu vou pra qualquer lugar, onde eu seja bem vinda. Já que aqui eu não sou. – eu falei acelerando o passo e o deixando para trás. Mas ele acelerou também e me alcançou.

-Quem disse que você não era bem vinda aqui?

-Você!

-Eu nunca disse isso.

-Vai negar agora?

-Eu não disse nada disso, eu nem sequer falei que você não podia ficar lá em casa. – eu parei imediatamente.

-O que? Você está dizendo que eu posso ficar na sua casa? É isso? Está voltando atrás?

-Em primeiro lugar, eu estou SIM dizendo que você pode ficar lá em casa. E em segundo lugar eu nunca disse que você não podia e que não era bem vinda. Mesmo você me xingando e me maltratando eu sempre vou deixar você entrar. – ele falou.

-E PORQUE NÃO FALOU LOGO? ESTOU CONGELANDO COM ESSE VESTIDO!

-Bem sua cara dizer isso. – ele falou rindo.

-Bem sua cara dizer que é minha cara. – eu falei o olhando.

-Não estava congelando? Então vamos. Peço para minha mãe fazer um chocolate bem quente para você. Pode tomar banho e usar as roupas da minha irmã que estão no quarto dela.

-Você tem irmã?

-É uma longa historia. Te conto outra hora. Agora vamos, temos que arrumar a cama do quarto de hospedes para você. – ele falou pegando minha mão e me puxando ate a casa dele. Entramos e ele avisou a mãe que eu dormiria ali, já que estava trancada fora de casa.

-Claro que pode filho. Querida, você pode tomar banho no quarto do Eric e pode pegar uma roupa da minha filha que está fora do pais, ela não vai usar por enquanto. – eu sempre achei a mãe do Eric muito legal, simpática... eu adorava ela.

-Vem, vamos pegar uma roupa quente para você. Acho que servem – ele me falou puxando-me ate o quarto dela no segundo andar, eu nunca tinha percebido essa porta. Ele a abriu e entramos em um quarto com paredes pintadas de roxo, era lindo. Havia moveis brancos, a cama estava feita e o guarda roupas arrumado. Ele puxou por uma calça jeans apertadinha, uma regata e um cardigã.

-Era a roupa favorita dela. Acho que vai ficar bom. – ele falou.

-Está ótimo. Obrigada.

-Vem vou te levar ate o banheiro. Pode tomar banho no do meu quarto.

-Está bem. Vamos. – eu falei o seguindo ate o quarto. Entramos no banheiro e ele me disse que haviam toalhas limpas no armário e saiu. Tomei um banho demorado, estava com muito frio. Vesti a roupa que serviu perfeitamente em mim e sai do banheiro. Eric estava deitado na cama olhando para o teto.

-Ficou bom? – eu perguntei fazendo-o acordar dos pensamentos e me olhar.

-Ficou perfeito. Não podia ficar melhor.

-Que bom. – eu sorri.

-Sente aqui. Vou lá embaixo pegar seu chocolate quente.

-Obrigada, mas eu mesma posso pegar. Eu tenho pernas que funcionam ainda.

-Não, deixa que eu pego. Senta ai, deita, sei lá!

-Ta legal. – eu falei sentando enquanto ele saia do quarto. Aproveitei para explorar o quarto. Era um quarto de garoto normal, uma cama, guarda roupa bagunçado, uma escrivaninha cheia de papeis e roupas jogadas pelos cantos. A cama era a única que estava fora da bagunça. Eu só não pude ver o notebook, o maldito notebook que continha meus segredos.

-Aqui está o chocolate quente, minha mãe mandou mais algumas coisas para você. – ele falou abrindo a porta, estava com uma bandeja cheia de coisas, chocolate quente, algumas bolachas e outras coisinhas gostosas.

-Obrigada, mais vou ficar só no chocolate quente. – eu falei assim que ele apoiou a bandeja na cama. Ele sentou junto comigo e comemos, na verdade ele comeu e eu bebi o chocolate quente. Estava delicioso.

-Por que está sendo tão gentil? – eu perguntei assim que ele voltou, tinha ido levar a bandeja.

-Porque... sei lá porque. Acho que fiquei com peninha da criança.

-Idiota. – estava tão a vontade ali que tinha ate deitado na cama dele, não sei como tinha chegado a tanto mais estava deitada ali.

-Criancinha. – ele falou deitando ao meu lado. Estávamos os dois olhando para o teto, não sei por que mais estávamos conversando. Sobre coisas bobas, como eu fazia com o Miguel.

-É... eu adorava meu tempo de 4° série. Lembra de mim na 4° série? É claro que lembra, era apaixonada por mim. – ele falou rindo.

-Eu era sim. Não sei porque eu fui tão cega. – eu falei rindo também – você era bem feinho na época! – falei rindo e o olhando.

-Ah era? E agora eu sou? – ele falou também me olhando.

-Agora? Agora você ta pior! – eu falei rindo, ele riu também.