Sad Song

Capítulo 1 - Sad Song


Thomas chegou em casa praticamente arrombando sua porta. Jogou as chaves em qualquer lugar, bem como seus tênis e jaqueta.

Ele estava puto. Completamente corroído por raiva. Com raiva do namorado, dele mesmo. Da porra do mundo todo.

Foi até a cozinha e pegou a cerveja que estava a sua espera na geladeira. Antes mesmo que pudesse abrir a garrafa, seu celular tocou. Arrancou o celular do bolso e desbloqueou a tela.

Newt chamando.

Bloqueou a chamada, a tela e arremeçou o celular longe — que caiu intacto sobre sua cama. Thomas tinha sorte de morar em um apartamento de dois cômodos.

Abriu a garrafa e deixou com que o líquido amargo descesse queimando por sua garganta. Suspirou, um pouco mais aliviado, e foi se jogar em cima de sua cama.

Passou as mãos no rosto, lembrando-se dos últimos acontecimentos.

—=—

Thomas tocou a campainha de Newt, sentindo sua ansiedade aumentar a cada passo que ouvia o namorado dar em direção à porta.

Quando o loiro abriu a mesma, Thomas se esqueceu de como era respirar. Ver o namorado, depois de mais de três meses separados, era como voltar para casa, para seu lar.

Newt ofegou, completamente surpreso. Thomas estava ali, bem na sua frente, sorrindo daquele jeitinho torto que Newt achava ser fodidamente atraente.

— T-Thommy? — soprou ainda confuso com a reaparição do namorado.

O moreno em sua frente sorriu mais ainda ao ouvir a voz do amado, se aproximando até que sua testa se apoiasse contra a do loiro.

— Oi, meu amor. — murmurou, envolvendo o pescoço de Newt com seus braços e sentindo o loiro agarrar sua camisa com força. Sorriu, sentindo-se, como a muito tempo não se sentia, completo. — senti tanto sua falta — completou em um tom de voz tão angustiante que Newt pode sentir seu coração rachar, pois ele nutria da mesma angústia.

— Thommy... — Newt disse, como se fosse a palavra mais bonita do universo. Talvez fosse. Era como chamar o sol após uma terrível tempestade. — Thomas... — reafirmou o nome para ter certeza de que era real. Sorriu. — Oh, Thommy. — pressionou os lábios finos contra os vermelhos do amado, que não pode deixar de sorrir de felicidade com o contato mais íntimo.

Newt agarrou a camisa do amado com mais firmeza ao passo que o mesmo o empurrava para dentro do apartamento novamente, fechando a porta com um chute.

Pararam no meio da sala, muito concentrados um no outro para fazer movimentos mais precisos.

Thomas passou a língua sobre o lábio inferior de Newt, colocou o polegar sobre o queixo do loiro e o forçou para baixo, fazendo com que a boca do amado se abrisse e que Thomas pudesse aprofundar o beijo.

Porra, como estavam com saudades daquilo! Fazia três fucking meses que não se viam, se tocavam.

Newt soltou a camisa do moreno. Passou a arranhar com as unhas curtas a cintura do rapaz, dessa vez sob o tecido de algodão. A outra mão agarrou com firmeza os cabelos negros macios de Thomas, fazendo com que o mesmo gemesse baixinho entre o beijo.

Thomas não sabia se decidir entre agarrar a bunda do loiro ou acariciar-lhe a face.

De tanta saudade, o beijo estava em um ritmo frenético. Um queria mostrar ao outro o quanto de saudade sentiam, dar ao outro o máximo de prazer e amor que fosse possível em um único beijo.

E então Newt pareceu recobrar-se da razão. Lembrou-se dos motivos da saudade, das noites lamuriosas que passava, pois seu namorado estava a um oceano de distância.

O loiro, com a maior delicadeza possível, tocou a face de Thomas e o fez se afastar um pouquinho. Thomas franziu o cenho confuso com a separação repentina, olhando para o namorado questionando-o silenciosamente o porque daquilo.

Newt não o respondeu. Estava muito ocupado analisando cada traço do rosto do moreno, observando todo e qualquer detalhe do qual parecia diferente desde a última vez que o vira. Thomas estava mais magro, pois Newt podia ver os ossos se sobressaltando sobre as bochechas. Olheiras roxas estavam profundas sob os olhos cor de ébano, denunciando suas longas noites mal dormidas de seu serviço. Thomas também tinha um pequeno corte no supercilho esquerdo, uma linha fina esbranquiçada que, Newt notou, já fazia um tempo que estava ali. Mas o que mais chamou a atenção do loiro foram os olhos. Não tinham o mesmo brilho de três meses atrás. Estavam mais opacos, mais desconfiados — como se a qualquer momento alguém fosse brotar do chão e enfiar-lhe uma faca nas costas.

É, a guerra faz isso com as pessoas. Transformam-nas de um jeito irreversível e marcante como a ferro quente.

— Newt, o que foi? — Thomas perguntou ao acariciar-lhe a mandíbula com o polegar, tirando o loiro de seu torpor.

— Quando... Quando você chegou? — questionou em um fio de voz, ainda confuso com os últimos cinco minutos.

Newt desmanchou-se do abraço do mais alto, voltando a se sentar sobre o sofá onde estava antes do rapaz aparecer.

Thomas tentou não se sentir magoado enquanto via o loiro se distanciar. Aproximou-se novamente, dessa vez se sentando na frente de Newt, sobre a mesinha de centro que ficava ali.

— Hoje. O avião pousou não faz nem duas horas, na verdade. Apenas deixei as minhas coisas em casa e vim para cá. Eu quis, hm, fazer uma surpresa. Está chateado por eu não ter te avisado?

Newt riu desacreditado.

— Chateado? Você ficou sem dar notícias por três meses, Thommy. Acho que eu já deveria estar acostumado, não é?

O moreno sentiu o coração bater dolorido contra o peito, culpado. Thomas sabia que Newt havia ficado aborrecido quando ele decidiu se alistar novamente no exército como médico cirurgião. Mas o moreno simplesmente não conseguiu evitar. Sempre amara ajudar as pessoas — oras! Foi por esse motivo que Thomas decidira praticar medicina. A ideia de oferecer assistência, que ele sabia que tinha para dar, a quem precisava parecia tentadora demais para recusar. Principalmente na guerra, onde a todo segundo alguém precisa de amparo médico.

E Newt entendia isso, afinal o loiro também era médico. Aliás, fora no hospital de residência médica que se conheceram. O amor pela medicina, por ajudar o próximo, fora o principal aliado para que se apaixonassem. Newt se tornara residente em cirurgia de trauma, enquanto Thomas, sempre mais ambicioso, havia conquistado a cirurgia cardíaca.

E Thomas por ser, bem, Thomas, sempre estava a procura de mais alguma coisa para conquistar. Newt amava isso no namorado, que, ao contrário do mesmo, gostava mais de se manter na sua. Ter uma maravilhoso trabalho, um teto sob a cabeça e um incrível namorado parecia-lhe mais do que o suficiente. Mas não para seu Thommy. O moreno tinha aquele adorável complexo de herói na cabeça que ninguém conseguia tirar.

E Newt achava que tudo bem o rapaz se alistar no exército. Seriam apenas seis meses, depois Thomas com certeza iria procurar alguma outra coisa para alcançar. Bom, não foi isso o que aconteceu. Dois meses depois de voltar do Afeganistão, Thomas se alistou novamente. Estava completamente apaixonado pela adrenalina que sentira lá, por tudo que havia feito para salvar pessoas. Sentia em seu âmago de que precisava voltar, que precisava ajudar. Newt achou que estava tudo bem. Quando o namorado voltou e não deu quatro meses para que quisesse voltar a se alistar, o loiro ficou com o pé atrás.

Dessa vez Newt não conseguiu entender completamente o namorado. Estava divido entre seu egoísmo particular e sua compaixão pelo próximo. Pessoalmente, Newt apenas queria que o moreno ficasse com ele. Que não desaparecesse por meses, deixando-o dormir todas as noites angustiado por não saber se o amor da sua vida duraria vivo mais uma noite, por não saber se o veria outra vez. Por outro lado, entretanto, ele queria que Thomas ajudasse, que fosse e salvasse o máximo de pessoas possíveis. Então, quando Thomas realmente se foi, dessa vez para Síria, Newt o deixou ir — mesmo que uma parte de si estivesse totalmente contra essa ideia.

E durante esses três meses, essa parte pareceu crescer com enorme intensidade dentro de Newt. Pois, ao contrario das últimas vezes, Thomas não manteve nenhum contato com ele. Nem por mensagens — o que quase matou Newt de preocupação. Então quando do nada e de repente Thomas reaparece das cinzas, Newt não sabe mais o que sentir.

Deveria apenas guardar dentro de si aquele rancor e prender e amar o namorado na cama até dizer chega? Ou talvez fosse melhor esclarecer o que pensava e sentia? Bom, Newt estava um poço sem fundo de emoções voláteis então, a última opção pareceu mais atrativa. Queria liberar toda sua raiva, fazer Thomas entender que não fora certo o que fizera.

— O que você fez não está certo, Thommy. Você se foi, por meses.

— Amor, achei que você entendia. E-Eu... Tem muita vida lá fora, eles precisam de ajuda. N-

— Eu não estou bravo com isso. — cortou. — Por mim, Thommy, quero que você salve quantas pessoas precisarem ser salvas. — sorriu gentil para o moreno, que retribuiu com um sorriso brilhante.

— Então eu não consigo entender, Newt. Qual o problema?

Newt balançou a cabeça, perplexo em ver que o namorado não conseguia o entender. Levantou-se se distanciando do mesmo e passando as mãos nervosamente pela cabeça.

— Você não me ligou, Thommy! Nem uma única vez! Eu fiquei três meses sem saber se você estava vivo! Tem noção de quão morto eu me senti por dentro sem saber se você pelo menos estava respirando?!

— As coisas lá foram mais movimentadas do que na última vez. — Thomas começou a se explicar, levantando-se para encarar o namorado. — quando eu tinha alguma folga, eu não conseguia fazer nada além de dormir. Acha que não foi difícil para mim ficar sem falar com você? Sem saber como estava? Foi horrível, mas eu tinha prioridades maiores ali.

Newt riu desgostosamente.

— Está vendo? Você sempre tratou o trabalho como uma entidade divina. Eu sempre ficava em segundo plano, mesmo antes dessa porra de exército. E pra mim tudo bem, porque eu entendia, afinal, eu era tão ocupado quanto você. Mas pelo menos eu te via todos os dias. Sabia pelo o que você estava passando. Agora, eu o vejo a cada alguns meses e isso está me matando. Eu não aguento mais essa situação, de ficar no escuro sempre preocupado com você, fazendo tudo pela metade porque uma parte de mim nunca estava completamente ali no que eu estava fazendo.

Thomas engoliu em seco, sentindo-se uma pessoa horrível. Não sabia que o namorado se sentia tão mal com a sua ausência. Para Thomas, apenas ele era quem passava pelo lado difícil da situação. Era ele que passava quase uma semana inteira sem dormir, sem comer, enquanto retalhava o corpo de alguém na tentativa de fazê-lo viver mais alguns dias. Era ele que, enquanto estava apenas lavando as mãos, sua posição era bombardeada pelo exército inimigo. Thomas era quem sofria da falta do namorado, que estava bem e vivo trabalhando em um hospital seguro de metralhadoras e granadas. Estava enganado. Talvez Newt sofresse tanto ou mais que ele. E Thomas não viu isso. Ou melhor, Newt nunca havia lhe dito nada sobre. Deixou com que ele fosse mesmo assim para Síria, mesmo que não quisesse.

— Porque você nunca me disse isso? Se eu soubesse que era assim que você sentia, eu nem pensaria em pisar naquele avião!

— Você queria ir, Thomas. Quem sou eu para te pedir a fazer o contrário? Eu não iria gostar de viver convivendo com o fato de que você ficou apenas porque eu quis. Era você que deveria preferir ficar!

— Eu não iria se soubesse que você não estava de acordo com isso. Somos um casal, se lembra? Acha que eu trocaria você por qualquer trabalho que fosse? Newt, eu te amo!

O loiro se afastou quando Thomas tentou se aproximar. Seus olhos estavam vermelhos, as lágrimas caíam sem pressa. Isso quebrou Thomas no meio, que engoliu em seco como se tivesse levado um soco no estômago.

— Eu não quero que fique comigo sabendo que estou te impedindo de fazer alguma coisa que gosta. — o loiro disse, dessa vez sem gritar. Seu tom de voz era grave, sério.

Thomas perdeu uma batida do coração.

— O que quer dizer com isso?

Newt não estava totalmente certo do que iria dizer, mas sabia que talvez fosse necessário.

— Acho que a gente tem que dar um tempo. Isso não está mais dando certo.

O coração de ambos parecia ter se desfeito em um milhão de pedacinhos naquele momento. Thomas deu alguns passos para trás, perplexo com o que ouvia, até que bateu contra a porta da entrada.

Piscou, banhado de raiva e mágoa. Newt realmente não o desculparia?

— É assim então? — perguntou, o tom de voz agora estava ácido.

Newt pensou por um momento. Era o que ele queria? Certamente que não. Mas ele não conseguia ver outra opção no momento. Tudo estava tão tenso entre eles que o loiro não conseguia pensar direito. Thomas, muito menos.

— É. É, sim.

Thomas assentiu, colérico. Se Newt achava que estarem separados era melhor, quem era Thomas para dizer o contrário?

Em um ato de raiva, disse:

— Ótimo. Quando perceber o erro que está cometendo, não venha me procurar. Cansei, desisto de você, Newt.

E então Thomas saiu pela porta, dando passos apressados e duros para longe. Ele saiu e a última coisa que viu fora o semblante do agora ex-namorado se convertendo na imagem mais triste de toda a sua vida. Mas ele continuou a ir embora sem olhar para trás.

Ouviu quando a porta de Newt se abriu e fechou-se novamente. O loiro também havia saído, mas, ao contrário do que Thomas desejava, Newt não o seguiu. Pelo contrário, foi na direção oposta.

—=—

Thomas rolou sobre os lençóis, sentindo os olhos arderem das lágrimas que desciam por suas bochechas.

Bebeu todo o conteúdo da garrafa em um único gole. Jogou a garrafa no chão, ouvindo-a se espatifar em vários pedaços. O barulho foi familiar, era como ouvir seu próprio coração quebrando toda vez que se lembrava do que havia acontecido.

O tempo passou, a noite chegou. Com ela, as lágrimas pareceram se cansar de caírem. Thomas dormia encolhido sobre a cama, abraçado ao travesseiro que o ex-namorado usava para dormir quando estava ali.

Eram quase três da madrugada quando seu celular passou a tremer debaixo de suas costas. O toque não lhe era familiar. Preocupado de que fosse algo importante, resolveu atender.

— Yeah?

O barulho do outro lado da linha despertou Thomas de seu sono. Sirenes de ambulância, gritos. Estava um caos. Seu coração se apertou na hora.

— Thomas Carver? Preciso falar com Thomas Carver, é o senhor?

— Sim, sou eu. O que está acontecendo?

— Sou enfermeira do Seattle Press Hospital. Houve um tiroteio na rua 7 há alguns minutos, alguns feridos. Seu número estava como emergência na carteira de uma das vítimas. O senhor é familiar de Newton River?

Thomas havia parado de escutar no meio da conversa. Com uma adrenalina e um medo forte tomando conta de cada célula de seu ser, o rapaz se levantou da cama e passou a procurar os calçados, vestindo-os o mais apressado possível.

Pegou as chaves que estavam no chão, a carteira e a jaqueta e saiu porta a fora, sem nem se importar se havia trancado ou não o apartamento. Ele não conseguia pensar em outra coisa que não fosse o amor de sua vida, aquele para quem havia dito que desistia do mesmo, sofrendo.

— Senhor, ainda está na linha? — a enfermeira o chamou, lembrando-o de que ainda estava com o celular no ouvido. Ele descia apressado as escadas do prédio velho e quase chorou de alívio ao ver sua moto estacionada no estacionamento, com o tanque cheio.

— O que houve? Qual a gravidade do problema? Eu chego aí em cinco minutos. — disse, atropelando-se nas palavras ao passo que ligava a moto e acelerava para fora do prédio.

— Foi em um posto de gasolina. O assaltante tentou roubar a loja de conveniência, houve uma briga. Seu conhecido tentou pará-lo quando ele começou a atirar nas pessoas. Levou a pior, quatro tiros.

Thomas ficou grato pela enfermeira ir direto ao ponto, sem se preocupar em destroçar o rapaz em pedacinhos. Ele quase tombou da moto, mas recuperou o equilíbrio. Era melhor saber do que ficar no escuro.

Thomas já estava na metade do caminho. Dirigia com uma mão só, sem se preocupar em usar capacete ou obedecer às leis de transito. Era madrugada, ninguém iria se importar se ele estivesse na contra mão de uma avenida.

— Eu sou médico, um cirurgião. Pode me dizer onde foram os tiros? Quais os procedimentos estão tomando?

— Ombro, peito, abdômen e braço. Não sei dos procedimentos, ele ainda está no pronto-socorro.

— Estou chegando. — disse antes de desligar.

Enquanto dirigia, mil planos diferentes de como proceder com as remoções de bala passavam em sua cabeça. Ele precisava de mais informações, saber exatamente onde as balas estavam alojadas — que tipo de mal elas estariam fazendo contra o corpo do amado. Mesmo assim, Thomas buscou em seu cérebro todos os tipos de cirurgias que já havia feito por conta de tiros. Todos os planos, maneiras e procedimentos foram repassados para que assim que chegasse ele estivesse pronto para fazer o que fosse preciso. Não importava se ele não trabalhava naquele hospital, se não tivesse legalmente nenhuma relação com Newt. Ele precisava tentar. Precisava ver seu namorado bem e vivo.

Chegou a frente ao hospital e pulou da moto, mal notando que a mesma caiu no chão. Correu até a sala de entrada, onde algumas enfermeiras estavam no telefone ou conversando.

Todas elas se assustaram quando Thomas se apoiou contra o balcão para conseguir parar de correr. Ele respirava ofegante, mas não se deteve ao começar a falar:

— Tiroteio. Meu... namorado. Tiro. Onde ele está?

— Venha comigo, senhor.

Muitas coisas aconteceram ao mesmo tempo. Uma enfermeira passou a levá-lo para a sala de espera, mas, no meio do caminho, Thomas parou. Pois viu uma porta que levava ao pronto socorro. A enfermeira do telefone havia dito que ele estava no pronto socorro, não havia? Thomas correu até lá, ouvindo a enfermeira que o acompanhava chamá-lo para voltar.

O pronto-socorro estava um caos. Médicos gritavam, assim como pacientes, e todo mundo corria de um lado para o outro. Mesmo assim, Thomas conseguiu identificar a cabeleira loira do amado em uma das salas privadas. Se aproximou, a porta estava aberta. Thomas esqueceu como se respirava, como se mexia.

Seu namorado estava ali, com o corpo totalmente inerte. Os olhos fechados, o rosto coberto por respingos de sangue. Sangue. Sangue por todo o seu corpo... Seu tronco, seu braço, sua perna. Tudo sob um vermelho escarlate que doía no âmago de Thomas. Mas o que deu a Thomas a vontade de morrer, que o fez gritar tão alto e com tanta dor fora o fato de que o corpo não se mexia — não respirava.

— Vamos tentar de novo. Carreguem para 200. — orientou algum médico qualquer e então o mesmo médico prensou o desfibrilador contra o peitoral magro de Newt.

O corpo completamente ensanguentado e sem vida, pulou para cima, mas, mesmo assim, não houve efeitos contra a máquina de batimentos cardíacos, que já não mais apitava. Era apenas um mero zumbido ecoando na cabeça de Thomas, que assistia a vida esvaecer do corpo daquele ao qual era o amor da sua vida.