Sacrifício – Segundo Ato

Considerando que saltara trinta anos no tempo, Marco Diaz estava se adaptando muito bem a situação.

Viver na casa da Janna estava sendo uma experiência incrivelmente agradável. Quem diria que a sociopata do ensino médio iria se converter numa mãe responsável e em uma professora competente.

Era uma surpresa para ela mesma.

O convívio na escola também era pacífico, no geral. Seu colega de classe, Nate (filho da Jackie Lynn) o estava ajudando com a adaptação.

Era Luna Buterfly quem estava sofrendo.

Quando Star mandou a filha de volta à Terra com Marco, achou que Echo Creek faria bem a ela, da mesma forma que havia feito a si mesma.

Mas Luna não era Star.

Ela era tímida. Tinha dificuldades de fazer amigos.

É claro, ter chifres e ser meio-demônio não facilitava as coisas.

Para resumir, ela passava boa parte do tempo escondida atrás de Marco. O único que, de fato, entendia o desconforto da princesa.

Para o bullyng massacrante e incrível jornada que o ensino médio dispõe, ela rapidamente criou um método de defesa.

Ela simplesmente ateava fogo nas coisas com a mente.

Só para causar um pouco de medo. Manter os demais (com exceção de Marco) afastados.

....

Ah, sim, teve aquela vez em que ela colocou fogo em toda a escola.

Esse foi um dia bom.

Houveram piores.

Mas vamos nos ater em um dos dias bons.

Como no dia do incêndio, por exemplo.

....

Desesperada pelo que tinha feito, Luna correu em disparada para a floresta.

Queria desaparecer do planeta, se pudesse.

Correu o máximo que conseguia. Sentiu as pernas doerem e os pulmões arderem.

Ainda assim, não parou.

Só desistiu de ir mais longe quando notou, pela primeira vez, que não tinha menor ideia de onde estava.

Merda — Pensou.

....

Eu tenho que ir embora.

Vou acabar matando alguém assim....

.... Podia pelo menos roubar um beijo dele....

Rapidamente, ela se deu um tapa e tentou esquecer a ideia.

É claro, gênia.

Você rouba um beijo dele e de quebras coloca fogo na cidade.

Com raiva, e ela enfiou a mão no casaco e puxou sua varinha.

Pra que você serve, afinal? Não me ajudou nem no incêndio!

Seu troço inútil!

Arremessando a varinha para longe, ela foi pega em pleno ar por Marco.

— Wow! Vai acabar furando o olho de alguém com isso!

— Marco?! Como você me achou?! Estamos no meio do mato!

— Não, não estamos. Você só correu por uns dez minutos.

— Como?

Ele gargalhou e se aproximou da filha de Star, sentando-se ao seu lado, dividindo a mesma pedra.

— Você não tem muita aptidão física, sabia?

Mesmo sendo ruiva, de pele avermelhada, ela conseguia corar fácilmente.

Um talento que o rapaz achava meigo.

— Alguém morreu?

— Hum? Ah, não. Todo mundo está bem.

— Estão com raiva de mim?

— Pelo contrário. Colocar fogo na escola era o sonho de metade dos alunos.

E você mandou ver. Eles querem levantar uma estátua em sua homenagem.

Pela primeira vez, em muito tempo, ela sorriu.

— Quer conversar?

Luna mordeu os lábios e balançou a cabeça.

— Tudo bem. Foi um acidente.

Acontece.

— Já colocou fogo e muitos prédios públicos?

— Ainda não, mas.... Eu chego lá.

Ela riu e dessa vez, Marco a acompanhou.

....

Depois de uns minutos em silêncio, a princesa quebrou o sigilo.

Se havia algo a ser dito, tinha que ser agora.

Não haveria momento melhor.

— Eu fiquei com ciúmes.

— O que?

— Ciúmes! – Bradou a jovem – Eu fiquei com ciúmes, okay!

Eu vi aquela mulher te beijando e não aguentei!

Mas foi um acidente! Não queria destruir lugar, só que....

Eu não consegui me controlar....

Marco namorou Star por um tempinho, mas não se lembrava de nenhum ataque de ciúmes.

Não sabia se devia ficar assustado ou lisonjeado, então achou melhor se sentir de ambas as maneiras.

— Caramba. Uau. Ela é só uma amiga de infância. E ela idolatrava sua mãe.

Não foi com segundas intenções.

— Eu sei, eu sei! Do contrário, não teria motivo para você chama-la de StarFan13!

Mas não consegui me conter! Esse planeta é tão confuso.

Têm notas, bullyng, reciclagem e sexo com camisinha! Nada faz sentido aqui!

— Não acho que esteja entendendo seu ponto....

Luna deu de ombros.

— Você é minha rocha. Minha âncora.

— Quer dizer que eu te puxo para baixo?

— Não! Quero dizer que você é meu ponto fixo. A única coisa que eu entendo aqui.

Com carinho, Marco colocou a mão na cabeça dela e fez um afago.

— Até agora. Você vai se adaptar.

— Não vou, não. Vou acabar matando alguém. Ou pior, matando você!

Marco se aproximou, bem mais dessa vez. Luna ainda estava sentada, mas ele se pôs de joelhos.

Face a face.

Mais uma vez, ela corou.

— Eu confio em você. Não vai me machucar. Sei que não vai.

— Não faz isso.... Por favor.

— Não quer?

— Eu.... Não quero....

Ignorando o aviso, ele a beijou.

Dessa vez, não por engano.

....

Nos primeiros instantes, ela se deixou levar. E o apertou firme com os braços.

Era seu primeiro beijo.

Pelo menos, o primeiro consciente.

Mas quando se deu conta do que estava fazendo, ela o empurrou.

— NÃO! Você tem que se afastar! Eu vou acabar te machucando!

— Não vai! Tá tudo bem....

— Fica longe de mim, Marco....

Chorando, a princesa tentou se afastar. Mas o rapaz a segurou pela mão.

— Não pode se esconder. Moramos na mesma casa. Aliás, dividimos um beliche.

— Pára, por favor....

— De que? De gostar de você? Nem pensar!

— SE AFASTA DE MIM!!!!

Sem conseguir controlar o surto, ela explodiu.

Labaredas correram por todos os lados, atingindo as árvores, pedras, animais....

E Marco.

....

Assim que o fogo baixou, ela abriu os olhos.

Estava com medo de olhar o que tinha feito.

Soluçando e se destruindo em lágrimas, ela olhou ao redor.

Nada.

....

Exatamente isso. Nada. Quero dizer, nada havia acontecido. O fogo se espalhara, mas não queimara coisa alguma na floresta.

O que, para falar a verdade, é um péssimo lugar para se esconder se você pode atar fogo com a mente.

No entanto, as chamas agiram como o vento. Se espalharam sem fazer mal algum, exceto derrubar algumas folhas secas.

Marco ainda estava caído no chão com o empurrão, contudo, estava bem.

Com o cóccix dolorido, mas estava vivo.

— O que aconteceu aqui?

— Não tenho ideia. Mas eu não matei você....

Marco se levantou e passou de leve a mão no cóccix.

— Viu? Não pode machucar. Você me ama.

Eu avisei.

Num surto (dessa vez, de alegria), Luna correu e se lançou nos braços de Marco.

Infelizmente, ele não esperava por essa e, abraçados, foram ao chão.

— Quer dizer que eu posso te beijar, quando quiser? Na frente de todos, inclusive?!

— Já podia estar fazendo isso a semanas, mas tudo bem....

E sem demoras, ela voltou a beija-lo.

Estava se segurando a muito tempo, desde de Mewni. E não o faria mais.

Nunca mais.

....

Ela ainda não sabia o que o termo “Sexo seguro” significava, mas aprendera o termo “beijo de língua” bem rápido.

....

Ao longe, de cima de um planalto, Tom observava a cena com um binóculo.

Nota mental— Pensou o rei de Mewni – Matar o Diaz por beijar a minha filha.

Já se preparando para voltar ao seu reino, ele fora pego de surpresa por sua esposa.

— Então, pai-coruja, o que você fez – indagou Star.

Tom arqueou uma das sobrancelhas.

— Eu? Nada....

Era a vez de Star arquear a dela. O efeito que isso provocava em Tom era muito diferente. Ele sentia que ela estava falando com seriedade e tinha uma leve tendência a suar frio quando isso ocorria.

E suar frio não é nada fácil para um demônio.

— Posso ter desligado os poderes da Luna, por um tempo.

Achei que ela já teria aprendido a controlar a essa altura, mas me enganei.

É melhor assim.

— E ela? Como está?

O rei demorou um pouco para responder.

Não por medo. Mas queria escolher o conjunto certo de palavras.

— Feliz. Vai ficar bem. Mas acho que você perdeu seu namorado para ela....

— Como disse?

— Agora vai ter que esquecer o Diaz de vez.

Ele está mais para seu genro, nesse momento.

Star olhou com o marido com certa raiva.

Não muita, no entanto. Aquela raiva pequena, que te faz querer esganar o parceiro, mas nunca o faz.

— Acho que alguém aqui está com ciúmes de um adolescente....

— Ciúmes?! Ciúmes?!

E na segunda vez, ele colocou uma forte ênfase na palavra.

— E porque eu teria ciúmes de um humano magricela e patético, como ele?!

Não faz sentido algum!

Ele é bonitinho? Pode ser.

Inteligente? Talvez.

Não signifique que eu vou ter ciúmes daquele moleque....

— É ciúmes de mim ou ciúmes de pai, que está vendo a filhinha crescer? Só para deixar claro....

Tom urrou e virou – se de costas para a rainha.

— Vou embora, antes que eu coloque fogo em você.

Mas Star não deixou. O abraçou por trás e o segurou firme.

Esse era o ponto fraco de Tom. Sentir os seios de Star roçando em suas costas.

O deixava sem ação.

– Sabe porque eu te amo tanto?

Porque depois de tantos anos de casado, você ainda sente ciúmes de mim.

É tão fofo....

Mesmo sendo um rei e um demônio poderoso da quinta dimensão de pele avermelhada, Star o conseguia faze-lo corar facilmente.

Um talento que a rainha achava meigo.

— Você vai ser um pai e tanto!

— Você quer dizer que eu já sou um pai e tanto....

— Não – Retificou Star – Quero dizer que vai ser.

De novo.

Quais os seus planos para daqui a nove meses?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.