SPIN OFF - Carta Para Você

O Casamento de Sophie e Steve


Não foi nada planejado, não mesmo. Nem tinha como ser. Mas aconteceu, para a infelicidade da maioria das mulheres da minha família que não puderam dar nenhum pitaco em nada.

Mas eu vou contar como foi que eu vim parar aqui, na porta do cartório de Alexandria, vestida de branco, com Steve em seu blue da Marinha e sua Budweiser no peito e todo o Esquadrão Seis dos SEALs à tiracolo, isso sem contar meus pais. Sim, meu casamento se resumiu a isso. Do jeito que eu e Steve queríamos.

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A ideia estava presente há um tempo, talvez desde o dia em que eu fui resgatada no Iraque, porém, não tínhamos a necessidade de formalizar nada, nosso relacionamento era forte ao ponto de nos sentirmos casados, sem ter nenhum papel oficial que provasse isso.

Com Steve baseado na Virgínia e eu sendo transferida para trabalhar com o Oriente Médio e Leste Europeu, já no escritório de Washington, tudo estava tranquilo e em paz e assim ficou, até que nossas carreiras decolaram de vez.

Eu fui para a Europa, primeiro lotada na Itália, depois em Paris e, por fim, fui alçada à Diretora Internacional do NCIS em Londres, ou seja, voltei para casa, já que nasci e passei os primeiros cinco anos da minha vida nessa cidade. Steve, por outro lado, passou como um foguete de Tenente-Comandante para Comandante, para Capitão e, quando vimos, ele foi alçado ao posto de Almirante Duas Estrelas.

E foi aqui que a distância começou a atrapalhar nosso relacionamento, e, também a confidencialidade de nossas missões e designações.

Steve vivia praticamente dentro do Pentágono e eu só pisava no prédio quando algo de muito extraordinário acontecia, ou quando Tim MGee, o atual Diretor do NCIS, me mandava ir em seu lugar a alguma reunião ou planejamento de operação, o restante do tempo, eu passava todinho na Europa.

Foram incontáveis os dias festivos e, também férias e feriados que passamos separados. Reza a lenda dos corredores do Pentágono e, também do NCIS, que tinha muita gente achando que não estávamos mais juntos, que, como tudo na vida, nosso Conto de Fadas de Ação chegou ao fim.

Ledo engano de quem pensou isso. É claro que passamos por turbulências, por discussões acaloradas onde um acusava o outro de nunca estar presente quando precisava, ou até mesmo um exigindo que o outro abandonasse a carreira para passarmos mais tempo juntos.

Acontece que Steve e eu somos ao mesmo tempo diferentes e muito parecidos.

Na diferença: eu sou a passional. Não tem jeito. Dos dois, eu sempre fui aquela que sempre demonstrou como se sentia, talvez porque tenha visto em primeira mão o que é perder quem se ama por não ter falado o que se sente. Já Steve é um pouco mais racional, ele consegue sempre pesar o emocional e as ações para equilibrar a vida. Quisera eu conseguir fazer isso.

Semelhanças são muitas. Além da teimosia, resiliência e espírito de liderança, nós dois damos muito valor à família, seja a de sangue, seja a de amigos que a vida nos deu.

Se, por um lado, vivíamos batendo cabeças quanto nossas carreiras e sobre quem deveria desacelerar para o outro poder seguir, por outro lado éramos capazes de parar tudo para resgatar nossos entes queridos. E isso não aconteceu nem uma ou duas vezes. Até eu voltei a campo quando Danno foi feito refém e ameaçaram matá-lo para o mundo ver...

E, tudo isso, todas essas diferenças e semelhanças, um belo dia explodiram na nossa cara. Steve subiu para Almirante Duas Estrelas e ficou permanentemente lotado em D.C., já eu fui mandada, por tempo indeterminado para a Ásia, para cobrir o posto de um agente que foi expulso do NCIS depois de ser pego vendendo nossos segredos – mais tarde descobri que foi ele quem entregou a posição de Danno na operação onde ele acabou refém...

Assim, com um na América e o outro na Ásia, não nos víamos nunca e nem mesmo conseguíamos conversar por telefone, pois quando um estava acordado, o outro estava dormindo, e, quando acontecia de sermos selecionados para a mesma missão, tudo o que podíamos fazer era trocar informações sobre o caso, e nunca sobre nada pessoal.

Aos poucos nossos postos e lotações foram nos distanciando... distanciando, até que em uma manhã de domingo, no meio do inverno, depois de ficar quase dois meses sem conversar com o meu, então, noivo, chegou uma foto no meu celular.

O contato era desconhecido, o que já me alertava que isso poderia ser mentira, contudo, curiosa como sou, abri o aplicativo no celular e dei de cara com uma foto de Steve abraçado com uma morena. Eu já a tinha visto... ela, se não me engano, era da Inteligência Naval e fez Academia junto com McGarrett. Seu nome era Catherine Rollins e, segundo, Chin, apesar de ter namorado Billy Harrington, ela sempre foi interessada em Steve.

Eu parei e observei a foto com muito cuidado, tentando, primeiro, acreditar no que estava vendo e, segundo, realmente observar a foto, para ver se não era uma montagem.

Para ser bem sincera, isso era o que eu deveria ter feito, mas eu fiz totalmente o contrário. Eu entrei em choque primeiro, fiquei sem acreditar que, depois de quase oito anos juntos, Steve tinha feito isso comigo.

Meu mau gênio atacou e, possessa e fervendo de raiva, mandei uma mensagem para Steve:

Se você queria se livrar de mim, bastava ter falado que eu te mandava o anel de noivado pelo correio.

Devido ao fuso horário, era bem capaz que ele ainda estivesse na festa com a tal da Rollins, assim, não esperei por uma resposta e, chorando, tirei o anel do meu dedo e o arremessei em qualquer canto do meu apartamento.

Sentindo-me acuada e com falta de ar, dentro do minúsculo apartamento que me fora designado em Tóquio, resolvi sair para correr.

Com a playlist estourando meus ouvidos, tentei me concentrar somente para onde ia, mas meu cérebro parecia, neste momento, ser capaz de fazer duas coisas ao mesmo tempo, focar na corrida e na dor que eu sentia. Assim, entre passadas rápidas, as lágrimas escorriam de meus olhos e formavam cachoeiras em minhas bochechas.

Eu nunca pensei que um dia teria meu coração partido dessa forma. Nunca achei que Steve faria isso comigo, não depois de ele conseguir até mesmo a benção de meu pai...

Contudo, ele tinha feito.

E eu estava um caco.

Um buraco imenso tinha sido aberto dentro do meu peito. Meu coração parecia que tinha morrido e eu o carregava em minhas mãos.

Eu nunca fora muito dramática quando se tratava de relacionamento. Tive alguns namorados na época da faculdade. Nada que durasse, porque eu não queria que durasse... era só uma forma de passar o tempo, enquanto eu ainda estava no limbo da vida, não era uma adolescente na casa dos pais, mas também não era a adulta responsável por mim. Até que eu conheci Steve e entendi o que era amar de verdade...

Estranho pensar que eu achava Kelly exagerada quando se tratava de Henry, que não acreditava tanto na minha mãe quando ela me disse que a maior dor que ela sentiu na vida foi quando ela deixou meu pai em um aeroporto, com uma carta, depois de ser rejeitada por ele, ou assim ela pensava... Todavia, agora, nesse momento, eu sabia o que era isso.

Isso se chama coração partido. E, ironicamente, você só entende o que é, quando passa pela situação!

Eu estava vivendo como na frase do Gabriel García Marquez: “Talvez seja isso que as histórias querem dizer quando falam que alguém está de coração partido. Seu coração e seu estômago e todo o seu interior parece vazio e oco e dolorido.”, afinal, eu não sentia mais nada dentro de mim, só um imenso e tenebroso vazio.

Quando o choro ficou demais e o ar me faltou, desabei na calçada, sentando-me no meio-fio, procurando por meus pulmões que tanto necessitavam do ar que eu não conseguia respirar.

Algumas pessoas passaram por mim e me olharam como se eu fosse doida, outras tinham o olhar de piedade, mas, como é típico da Ásia, ninguém me abordou para saber se eu precisava de algo...

Vendo que não adiantaria nada ficar sentada, sozinha, atrapalhando o fluxo da calçada, levantei-me e, sabendo ser inútil secar as lágrimas, voltei para casa. Era a primeira vez em minha vida que eu andava de cabeça baixa, não por vergonha do meu choro, mas porque eu não tinha vontade de ver ninguém, de encarar ninguém.

Cheguei no meu apartamento e me joguei no sofá, me enroscando como uma bola e fiquei ali, sem vontade de fazer nada, sem ouvir nada, nem o som da minha respiração ou o batimento de meu coração. Eu estava envolta a uma bolha de torpor, eu não conseguia sair do meu desespero, da minha dor, mas o mundo exterior também não me afetava mais.

Não sei quanto tempo fiquei assim, mas aos poucos, os sons foram voltando, foram entrando na minha bolha e me despertando. Minha mente reconheceu alguns e tentou se fechar novamente, pois o mundo real doía. Uma hora, um som venceu todas as barreiras e me acordou por completo. Passei a mão em meu rosto, estava pegajoso de tantas lágrimas misturadas ao suor a minha corrida, e, sabendo que o mundo não para porque você teve o coração partido, obriguei-me a levantar e ir atrás do som.

Acontece que não era um som. Era uma cacofonia ensurdecedora.

Ao que parecia, todos os meus aparelhos eletrônicos estavam apitando ao mesmo tempo. Meu computador, meu celular, meu tablet, a linha fixa desse apartamento e até mesmo a minha Alexa me chamava, e eu nem sabia que isso era possível.

Tentei me situar no meio do caos. E fui atender a linha fixa.

Abri a boca para tentar falar um “Alô” que soasse como uma voz calma e tranquila, mas nada saiu, minha garganta estava seca.

Eu posso não ter falado nada, mas a pessoa do outro lado ouviu algo e, a voz da minha mãe preencheu meus ouvidos.

— Sophie? Graças a Deus! Onde você estava nas últimas dez horas?

Dez horas? Como assim?

— Ahn... oi mãe. – Consegui falar depois de coçar a garganta.

— O que aconteceu com você, Sophie?

Essa pergunta trouxe uma avalanche de sentimentos. Dor, perda, desespero, raiva, ódio, uma vontade assassina de colocar as minhas mãos ao redor do pescoço de Steve e esganá-lo...

— Eu... eu ainda não sei. – Tentei sair pela tangente. Era fora de cogitação que eu fosse trazer à tona o que havia acontecido. Não daria aos meus pais a chance de caçar, torturar e matar Steve. Isso era tarefa minha.

— Não sabe, ou não quer falar?

— Mãe...

— Eu vi a foto. Recebi ainda de madrugada.

Respirei fundo.

— Sophie... – Ela me chamou como se tentasse me acalmar, como se eu fosse uma criança que tinha acordado no meio da noite depois de um pesadelo particularmente ruim. E, um tanto tarde, percebi que minha mãe falava assim, porque eu tinha recomeçado a chorar. Eu estava soluçando de tanto desespero e dor.

— Filhota... não fica assim...

E eu não falava mais nada, escorreguei pela parede onde me apoiava e sentei-me no chão, ainda chorando com o telefone na orelha.

Ao fundo, escutei a voz de meu pai, ele pedia para falar comigo.

— Não deixa. – Consegui pedir para minha mãe. – Eu não quero ouvir que ele tinha razão quando falou que eu não deveria ter me envolvido com... – Minha garganta se fechou ao tentar falar o nome dele.

— Hei, Ruiva... me escute. – Meu pai se fez presente na linha. É claro que ele não aceitaria um “não” vindo de minha mãe...

— Oi... – Murmurei, tentado deixar a minha voz mais estável possível.

— Você atendeu a algum telefonema hoje? – Ele me perguntou.

O que diabos meu pai estava falando comigo? Que papo era esse? E, a fúria que ficou eclipsada pela dor veio à tona e eu simplesmente soltei:

— Que conversa é essa, pai? Esse é o primeiro telefonema que eu atendo hoje, e já estou me arrependendo. Dá um beijo na mamãe por mim. – Falei e desliguei.

Cansada de me sentir humilhada, resolvi dar um jeito na minha vida, arrumei minha casa, depois fui tomar um banho, e, por todo esse tempo, ignorei os eletrônicos e cheguei ao ponto de colocar o telefone fixo fora do gancho, só para ter paz e mostrar para quem quer que fosse que eu não precisava da piedade de ninguém.

Na segunda de manhã, fui obrigada me reconectar com o mundo, e, até que o meu celular acabasse de receber os espíritos, digo das mensagens da minha família, levou quase dez minutos, e, como estava no silencioso, nem me importei, continuei dirigindo para o escritório de Tóquio.

Mal tinha chegado à minha sala, e meu telefone começou a tocar. Meu secretário disse, com olhos arregalados e assustados, que o Diretor do NCIS já tinha ligado quatro vezes, e queria falar urgentemente comigo, sendo, e aqui ele fez aspas com as mãos, “era imperioso que eu ligasse para ele imediatamente”.

Na mesma hora eu sabia quem estava por trás dessa ligação. Não era o Tim... era um certo casal que estava usando de sua influência sobre o atual Diretor para que ele me achasse e me obrigasse a entrar em contato.

Agradeci polidamente ao meu secretário, ele não tinha culpa nesse jogo de manipulação e, depois de encostar a porta, fui ligar para D.C.

Não deu meio toque e eu escutei a voz da minha mãe, sim, ela, no escritório do Diretor do NCIS em plena noite de domingo!

— Sophie... – Seu tom de voz era perigoso e ela pareceu sibilar a letra S.

— Boa noite. – Falei.

— Nunca mais desligue o telefone a nossa cara.

Legal, a chamada estava no viva-voz ontem. Maravilhoso.

— Então, por favor, nunca mais mudem o assunto de uma hora para outra.

— Seu pai não mudou de assunto. – Minha mãe respondeu ríspida.

— Não era o que estava parecendo.

— Você não me deixou terminar nem uma frase, Sophie.

Então meu pai também estava ali... perguntei-me internamente o que o pessoal do Estaleiro estava achando de ver o Ex-Casal Vinte do NCIS, borboletando pelo prédio em uma bela noite de domingo...

Fiquei calada, se eles quisessem falar algo, falariam agora...

Só que não foi a voz de meus pais que eu escutei, foi outra...

— Quem vai falar para ela que é montagem? – Abby perguntou baixinho.

— O que é montagem? – Perguntei querendo encurtar a ligação, começar a trabalhar e enterrar o assunto Steve McGarrett para sempre.

— A foto. A foto que te mandaram e que mandaram para todos nós. – Ziva falou alto.

— Desde quando minha vida pessoal é assunto de todos vocês? – Perguntei azeda.

— Desde que nós também recebemos as fotos. – Abby falou.

— Fotos? No plural?

— Você não viu, Peste Ruiva?

E mais uma vez eu fui pega desprevenida.

— Só vi uma... – Murmurei.

— E era mentira. Eu passei no software que detecta montagens... precisou de três programas diferentes, mas localizaram a montagem em si. E usaram uma foto sua com o Steve como base.

Fiquei calada. Porque eu deveria ter pensado nisso. Não é essa a regra #08? "Nunca tenha nada como certo"?

Só que eu não fiz isso, eu fiquei tão chocada, tão cega pela dor e pelo ciúme, que meu cérebro não trabalhou no modo normal. Eu parti para a conclusão mais óbvia, aquela que meus olhos viam pelas provas que estavam no meu celular, que Steve estava me traindo com a Rollins...

Se era montagem, se o que os meus olhos viram, não existiu... Quem fez aquilo?

E, aqui, mais uma vez eu ignorei a minha família fofoqueira e comecei a planejar a minha vingança. Se eu descobrisse quem fez isso... quem me mandou as fotos, ah... a pessoa ia desejar uma morte rápida, porque o que eu iria fazer com ela, ia por medo na Ziva... porque ninguém me faz sofrer desse jeito e fica vivo para contar a história... ninguém.

Quando vi, estava sorrindo ao planejar a minha vingança, porém, cedo demais, escutei:

— Ainda está aí Peste Ruiva? – Foi Tony que me trouxe de volta.

— É... sim. Estou aqui. – Falei balançando a cabeça e vendo meus planos se dissiparem.

— Então você escutou o que a Abbs disse, não?

Parei por alguns segundos... eu não fazia ideia do que a Abby disse.

— Jethro... parece que não conhece a sua filha! Acha que ela escutou algo que a Abby estava dizendo? Você realmente acha isso? Ciumenta como só ela sabe ser, você acredita que Sophie estava prestando atenção nas palavras de Abby? – Minha mãe cortou a fala de meu pai, ela sim, sabia o que eu estava pensando.

— Ruiva?! – Meu pai, como sempre deu aquela ignorada nada básica em minha mãe e voltou a conversar comigo.

— Ahn... bem, não. Eu não escutei nada. - Respondi e pude jurar que escutei minha falei falando "Não disse?"

— Eu falei, Sophie, que eu já sei quem fez as montagens e como se trata de uma, seria correto dizer ofensa? Eu não sei. Mas, voltando, como se trata de um ataque a um superior, a denúncia já foi devidamente enviada para a Marinha.

— Então vocês já sabem quem foi que fez aquilo? – Perguntei animada e internamente eu pedi para conhecer a pessoa e ter a chance de encontrá-la.

— Sim. Foi a Catherine Rollins. – Respondeu Ziva. – Você a conhece, Sophie?

Eu vi vermelho, mas ao mesmo tempo sabia que não deveria estar tão surpresa, dado ao que Chin havia me falado não muito tempo atrás.

— É. Já ouvi falar. É a mulher da foto.

— Sim, é ela. – Abby falou. – E não se preocupe, Sophie. Tudo será resolvido. Agora... – E aqui Abbs parou e um silêncio se instalou na ligação.

— Agora? – Perguntei depois de quase um minuto, só para ter certeza de que a ligação não havia caído.

— Steve. – Minha mãe falou.

— Ah! – Foi tudo o que eu consegui exclamar. Na minha ânsia por vingança tinha esquecido que eu mandei uma mensagem terminando tudo com meu... bem com Steve.

— Sophie, o que você falou com ele? – Minha mãe claramente tirou o telefone do viva-voz e, não duvido, tinha esvaziado a sala.

— Falar, falar... nada.

— O que você mandou para ele?

— Depende da capacidade de interpretação dele. Se ele me conhece bem, e eu espero que sim, ele vai desconsiderar a mensagem. O problema não é esse.

— E qual é o problema?

— Eu arremessei o anel de noivado em algum canto do meu apartamento e eu acho que eu posso ter aspirado o bendito e mandado para o compactador. – Minha voz foi ficando cada vez mais baixa e quando cheguei na última sílaba, não passava de um sussurro.

— Você fez o que?! – Eu podia jurar que minha mãe estava com os olhos arregalados e, simplesmente pensando os motivos pelos quais eu tinha que ser exatamente como ela em algumas coisas.

— Eu tirei o anel. Arremessei em um canto e, posso ou não ter mandado o negócio para o beleléu.

Escutei minha mãe se sentando em uma cadeira. Para o bem da sanidade mental de todos no NCIS, esperava que não fosse na cadeira da Direção.

Ela inspirou e expirou profundamente, quando enfim abriu a boca, ela me deu a pior das notícias.

— Depois de você não responder a nenhuma mensagem, ou atender nenhum dos telefonemas dele, Steve pegou o primeiro avião para o Japão, dizendo que iria te explicar tudo pessoalmente, mesmo que antes de ele abrir a boca, corresse o risco de apanhar ou até mesmo levar um tiro.

Foi a minha vez de me jogar na cadeira.

— Steve está vindo?

— Ele pegou o avião há oito horas.

E foi quando eu entrei em pânico. Explicar o meu rompante de não querer conversar com ele era fácil. Steve conhecia o meu péssimo gênio. Mas como eu ia explicar o sumiço do anel? Do anel que pertenceu à avó dele?

E o pior. Eu tinha apenas seis horas para, ou achar o anel, ou inventar uma desculpa muito plausível e bem convincente, para dar ao meu noivo. Se é que ele ainda seria o meu noivo depois de saber que eu posso ter triturado o anel que está na família dele há gerações.

— Eu tenho que achar esse anel! – Falei em um rompante. – Mãe, eu... vou para casa. Tenho que achar o anel. Qualquer coisa, me achem pelo celular. Beijos e, passe o meu muito obrigada a todos. Estou devendo a vocês um belo jantar. Te amo. – Desliguei o telefone antes que ela falasse algo e, depois de pegar a minha bolsa, passei igual a um míssil teleguiado pelo meu secretário e avisando por cima de meu ombro:

— Tanaka, se precisar de mim, pode me ligar, que eu volto. Tenho que resolver um problema urgente que surgiu.

Tóquio pode ser uma cidade muito bem planejada, com pessoas super educadas e conscientes de seus direitos e deveres, mas, como toda grande metrópole, tem um trânsito dos infernos.

Fiquei mais tempo parada do que normalmente levaria para chegar no prédio em que moro. Se eu fosse a pé, chegaria mais rápido. E, antes mesmo de ter aberto a porta, já fui descalçando os sapatos e mergulhando no chão, atrás do anel.

Vasculhei cada canto e não encontrei. Tentei buscar na memória onde estava sentada (ou seria em pé?) quando arremessei o anel e, onde ele tinha acertado. Não consegui me lembrar.

Em desespero arrastei os poucos móveis que poderiam ser arrastados, levantei os tapetes e nada.

— Onde você foi cair? – Perguntei alto, tentando fazer o meu cérebro pegar no tranco e se lembrar o local exato em que o anel tinha caído.

Sem resposta e sem encontrar o que eu tanto procurava, decidi por buscar o lixo do prédio. Não era a tarefa mais glamourosa, porém era minha última chance. Não querendo mergulhar no lixo com minhas roupas de trabalho e nem de salto, coloquei um macacão velho e calcei os chinelos que uso para andar no corredor até o coletor de lixo.

Na hora em que coloquei o meu pé esquerdo no chinelo, senti que algo me machucou.

— Não creio! – Fui tirando o chinelo com cuidado e, ali, no cantinho, estava o anel.

Eu dei um grito tão alto que eu tenho certeza de que receberei uma multa por isso, mas pouco me importava.

Eu tinha achado o anel. E, talvez, tinha salvado o meu noivado com isso.

Como uma doida desvairada comecei a pular perto da porta, esquecendo-me de esta estava aberta e que todo mundo poderia me ver. Quando me dei conta de que o casal que mora do outro lado do corredor me observava um tanto assustado, pedi licença e fechei a porta para poder comemorar em paz.

Agora, eu poderia voltar ao trabalho e esperar que Steve chegasse para pedir desculpas a ele. Sim, eu iria quebrar uma das mais famosas regras de meu pai, dessa vez por um bom motivo.

No caminho de volta ao escritório mandei uma mensagem para minha mãe dizendo que tudo iria ficar bem. Ou assim eu achava.

Steve ainda demorou para chegar, as seis horas que eu tinha quando saí às pressas de manhã, acabaram virando quase dez, somente Steve pode ser tão azarado para pegar um voo que consegue atrasar tanto e, eu já estava em casa quando ouvi os passos de alguém no corredor, não eram meus vizinhos, pois nenhum deles faz barulho ao andar, então só poderia ser uma pessoa.

Assim, antes mesmo que os passos cessassem, escancarei a porta e me joguei nos braços de Steve e, sem me importar com mais nada, comecei a pedir um milhão de desculpas.

Meu noivo, pego de surpresa, só me segurou e ficou parado a meio caminho da porta e, quando eu parei de falar para tomar fôlego, ele me interrompeu e disse:

— Não sou eu quem tenho que pedir desculpas, Sophie?

Soltei meu abraço e dando um passo para trás, encarei Steve. Depois de dois meses sem conversamos pessoalmente e sei lá quantos sem nos vermos, era um alívio poder abraçar meu noivo.

— Você?! – Perguntei um tanto descrente.

— Sim... porque toda essa confusão...

— Ah! Isso já foi explicado. – Resumi a conversa chata.

— Como?!

— Steve, você contou para a minha família. Não se esqueça que eles são um bando de fofoqueiros e que sempre, sempre, vão se intrometer em qualquer assunto. Ainda mais meus pais que estão tão à toa que até mesmo resolveram invadir o NCIS!

— Mesmo assim... eu te devo...

— Steve, olha... sei que muitos dos problemas que meus pais tiveram foi por falta de uma comunicação eficiente, mas isso que aconteceu, primeiro, não foi a sua culpa, a Rollins é maluca, e, bem, eu também tenho a minha parcela de culpa, ao invés de verificar tudo duas vezes, eu não verifiquei nem uma e pulei direto par uma conclusão totalmente errada! Nós já passamos por tanta coisa, mas por tanta coisa, que eu te devia o benefício da dúvida e não ir jogando na sua cara que tudo estava acabado.

E McGarrett me segurou à distância de um braço e somente me falou:

— Se você não reagisse por impulso não é a mulher por quem eu me apaixonei, Sophie. Você é uma excelente agente, sabe agir sobre pressão como nenhuma outra, mas quando se trata de nós, dos seus sentimentos, você é passional até demais. E, no instante em que eu vi as fotos eu sabia que tinham te mandado e que você teria uma reação exagerada. Eu simplesmente sabia. Por isso corri até seus pais... porque eu sei, que se tem alguém nesse mundo que você escuta, mesmo quando não quer, são eles.

Mordi o lábio inferior, Steve me conhecia bem demais, talvez ele me conhece mais do que eu a ele.

— Mas... – Tentei interromper a sua explicação, contudo, ele colocou um dedo na frente de meus lábios para me impedir.

— Não, Sophie. Nós precisamos disso. Dessa conversa franca e, de resolver o nosso relacionamento de uma vez por todas.

E, com uma simples frase, Steve destruiu a minha autoestima e me apavorou por completo.

— Resolver nosso relacionamento? – Perguntei baixo, tão baixo que nem sei se ele tinha escutado.

— Sim. Há mais de seis meses que não nos vemos, Sophie. Sei e entendo que nossos trabalhos vêm e sempre vieram em primeiro lugar, nós nunca escondemos isso de ninguém, nem de nós mesmos. Nós nos conhecemos em uma base militar, passamos mais de três anos, indo e vindo entre San Diego e Los Angeles, depois você foi sequestrada e, por poucos meses ficamos na mesma cidade, quase na mesma rotina.

— Sim... – Murmurei ao me lembrar de todas as fases de nosso relacionamento.

— Só que, de três anos para cá, muita coisa mudou.

Respirei fundo. Eu não estava acreditando no que estava acontecendo. Não mesmo. Orgulhosa como sou, segurei as lágrimas, levantei a minha cabeça e encarei Steve. Ele me olhava também, estudando as minhas reações.

— Eu não estou terminando com você, Sophie. Não seria maluco a esse ponto. Depois de todos os anos, depois de tudo, eu não sei viver sem você.

E eu juro, isso era o mais próximo de uma declaração de amor que eu ouviria de Steve McGarrett. E ele, como me observava atentamente, viu a surpresa em meus olhos e deu um sorriso.

— Sim, Sophie, eu estou aqui, falando tudo isso, fazendo a pior declaração de amor da história, só para te pedir uma coisa.

— Que é? – Agora eu também sorria e, vergonhosamente, algumas lágrimas escorriam por minha bochecha.

— Case-se comigo!

— Mas você já me pediu isso e eu disse sim! – Respondi sem entender o real pedido que ele me fazia.

— Eu sei disso, Sophie. Sei que você aceitou, que seu pai, muito relutantemente, deu a benção, mas eu não estou falando de ficarmos noivos, estou falando de casamento propriamente dito. Eu, você e o primeiro cartório ou capela de Las Vegas que entrarmos para dizermos “sim, eu aceito”.

Fiquei um tanto petrificada, eu nunca me imaginei em um vestido de noiva sendo levada ao altar pelo meu pai, ou, para ser sincera, eu nunca me vi como uma mulher que se casa vestida de branco com toda aquela pompa e circunstância como foi o casamento de Kelly. Para mim, casamento é a união de duas pessoas que se amam e não precisa de mais nada, nada de bençãos religiosas solenes ou uma autoridade confirmando isso.

— Mas... por quê?

— Porque tem muita gente querendo o fim do nosso relacionamento em Washington, Sophie. Tem muita gente espalhando histórias...

— Que falem! – Explodi. – Nós sabemos a verdade.

Steve me olhou, sério.

E foi quando eu entendi.

— Steve, uma confirmação oficial não vai impedir que façam fofocas, montagens e ou que histórias sejam inventadas. Você sabe disso.

— Sei que muita gente não tem escrúpulos quando se trata de falar da vida dos outros, Sophie. Mas a verdade por trás desse pedido é outra. Oficializar nosso casamento significa informar para a Marinha e para o NCIS que temos parceiros e, com isso, poderemos ficar mais tempo juntos. Poderemos pedir lotação para a mesma cidade. Se eu for transferido, você pode tentar um escritório perto, e a mesma coisa comigo.

— Steve, o meu cargo é de vice-diretora. É permanente e é lotado em Londres.

— Não pelo que ouvi em D.C.

Levantei uma sobrancelha pedindo por explicações.

— As fotos que você recebeu, outras pessoas foram vítimas da mesma chantagem. As nossas foram montagens, mas as outras não. Foram verdade e muita gente está agora arrumando os escritórios e dando adeus aos cargos.

— Quem mais?

— O Secretário da Marinha foi flagrado em uma situação bem comprometedora. Estava pedindo renúncia quando entrei no avião. Assim, eles têm um outro nome para o cargo.

— Por favor, não me fale que sou eu! Eu... não, eu não quero esse tipo de política!

— Não, mas Tim está cotado. O que te torna...

— Diretora interina do NCIS.... – Murmurei.

— Exato.

— E, assim, voltaríamos a ficar na mesma cidade. – Abri um sorriso. – Tem quanto tempo que nós dois não moramos juntos por mais de uma semana?

— Uns quatro anos? – Steve acompanhou a minha alegria.

— Isso tudo? – Perguntei.

— Sim. E, agora que poderemos ficar juntos por mais tempo, o que me diz da minha proposta?

— Você realmente quer se casar comigo? – Questionei incerta. – Você sabe que eu sou doida!

— E eu doido e meio. Creio que faremos um bom casal. – Ele chegou para mais perto de mim, bem perto mesmo e pegou meu queixo entre seus dedos, travando seu olhar no meu. – E o que me diz?

— Sim. – Falei um tanto baixo. – Sim. – Aumentei o tom. - SIM! – Dei um grito e Steve, sem conter a felicidade que sentia, me puxou para si e me deu um beijo. Um beijo que eu nem sabia que estava sentindo falta.

— Quando você volta para D.C.? – Ele me perguntou aos arquejos quando nos separamos por falta de ar.

— Assim que receber a ordem. Você sabe que eu não posso abandonar meu posto. – Respondi apoiando a minha testa na dele. – E você? Quando tem que voltar?

— Volto com você, tirei uma licença de quinze dias. Se precisar, fico mais.

De brincadeira, coloquei minha mão em sua testa, achando que ele poderia estar doente.

— Uma licença de 15 dias. Você nunca fez isso! – Disse quando ele segurou minha mão próxima ao seu rosto e beijou a palma.

— Eu precisava te ver, Sophie.

E, pela primeira vez em muito tempo, eu não tinha o que dizer.

— O que foi? – Ele brincou comigo. – Não tem uma resposta para o que acabei de dizer?

Eu só consegui balançar negativamente a cabeça e puxá-lo para outro beijo.

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Estranhamente minhas ordens de voltar a D.C. só chegaram dez dias depois, claro que toda a fofoca já tinha se espalhado pelo mundo e não raro tinha um agente falando sobre as fotos, sobre nomes de pessoas que eu nunca imaginei que poderiam estar envolvidas em um escândalo como esse.

Mas, como minha mãe sempre disse: Era Washington e até mesmo as paredes tinham segredo.

Arrumei minha mala, despachei os poucos pertences que eu tinha em Tóquio e, de mãos dadas com meu futuro marido, subi no avião que me levaria para casa e, dessa vez, eu esperava que eu definitivo.

Desembarcamos no meio da madrugada no Dulles e, como Steve tinha deixado o carro no estacionamento, fomos para casa direto. Como era finzinho do inverno, a neve ainda caía pela capital e eu me maravilhava com a cena, como fiz tantas vezes quando era criança.

— Até parece que nunca viu neve. – Steve me cutucou na cintura, só para que eu olhasse para ele.

— Não é a neve. É a sensação de estar em casa. Fazia muito tempo que eu não pisava aqui. E, só agora percebi a falta que essa cidade me faz.

— Está nostálgica, é?

Sorri na direção dele.

— Não. Só acabei de perceber o que a palavra “casa” realmente significa. Depois de rodar o mundo, agora sei onde é a minha casa. E é aqui.

— Achei que era Londres.

— Meu segundo lugar favorito no mundo. – Respondi de uma vez.

— E o terceiro? – Ele quis saber.

— Não é o Hawaii. – Brinquei e ele fez uma carranca. – É a Califórnia. Mais precisamente, a parte sul do estado. – Falei próxima ao seu ouvido. – Será que você sabe o motivo?

Steve tirou uma mão do volante e me abraçou pelo ombro, mesmo que precariamente.

— Acho que sei sim. – Ele respondeu rindo.

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Na manhã seguinte à minha chegada, fui convocada a comparecer no Pentágono, de onde, depois de uma longa reunião, sai como Diretora interina do NCIS, e, não seria Tim McGee o meu chefe, já que ele aceitou o cargo de diretor da NSA.

— Sério, Tim? Depois de todos esses anos, você vai deixar o NCIS? – Perguntei enquanto íamos para nossos carros.

— Gostei da ideia do desafio, Sophie. E, além do mais, eu não sirvo para ser Secretário da Marinha. Isso é burocracia demais para mim.

— E o que a Abbs tem a dizer sobre isso?

— Ela me garantiu que não sai do NCIS. Ainda mais agora que o sobrenome Shepard-Gibbs voltou para casa.

Temporariamente. – Corrigi.

— Não acho isso, Sophie. Acredite em mim, não tem ninguém no NCIS ou em D.C. que se encaixe tão bem na cadeira de Diretora do NCIS como você.

Levantei uma sobrancelha descrente para ele.

— Como Abby falou: Você já nasceu destinada a ser Diretora do NCIS. Treinada para isso foi.

Tive que rir.

— Mas não pense que você ficará livre de mim! – Alertei quando paramos ao lado de nossos carros. – Se eu precisar, vou ligar para você.

— Por quê? Sendo que eu sempre liguei foi para sua mãe. – Ele retrucou com um sorriso.

Balancei negativamente a cabeça, no fim das contas, eu teria que acabar recorrendo à minha mãe mesmo.

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Os meses que se seguiram à minha promoção temporária, foram um caos total, eu tive que, além de liderar a agência, convencer a grande maioria dos homens e muitas mulheres de Washington que eu era capaz de fazer o que fazia e que eu estava onde estava por mérito e não por conta do peso de meu sobrenome.

Foi duro, foi penoso. Foram incontáveis as vezes em que cheguei a pensar em desistir, em jogar tudo para o alto e voltar a ser agente. Mas não fiz. Mantive a fachada de séria, lançava olhares medonhos para quem falasse besteira perto de mim e seguia em frente de cabeça erguida.

Quando tudo se acalmou e a Secretária da Marinha confirmou em definitivo o meu cargo, desculpe mãe, sou mais nova do que a senhora quando assumiu esse mesmo cargo, eu pude, enfim, começar a pensar em meu casamento.

Steve e eu concordamos com um único ponto: não queríamos festa. Não queríamos chamar atenção, já bastava que os tablóides adoravam nos colocar nas capas para falar da nossa nada convencional história de amor.

Assim, em silêncio e sem avisar a ninguém, marcamos a data no cartório. As únicas pessoas que sabiam eram meus pais, que, claro, descobriram tudo por eles mesmos e a equipe de Steve, na verdade era só para o Danno descobrir, mas ele é linguarudo e comentou com Magnum, que comentou com Bocão e, aí todo mundo ficou sabendo na velocidade da luz.

Não contei para Kelly, não falei nada para Tony ou Abby ou Ziva ou qualquer um, porque se falasse, tenho certeza de que minha irmã daria uma de doida e iria querer fazer uma festa do mesmo tamanho que foi a dela, e eu não queria isso.

E, no dia e hora marcados, estávamos na porta do cartório aguardando o juiz de paz nos chamar.

Steve todo elegante no Blue da Marinha e com todas as suas condecorações e eu com um vestido branco, simples. E, essa cena, me trouxe um dejá vù.

— O casamento da senhora também foi assim. – Falei para minha mãe que estava olhando para cima para não deixar que as lágrimas estragassem a pouca maquiagem que ela usava.

Quase. Vocês me trouxeram para o cartório no escuro.

— Isso é verdade. Mas se não fosse assim, a senhora não vinha. – Retruquei.

Minha mãe olhou para meu pai que só concordou com a cabeça.

— O senhor não está chateado por não me levar até o altar, está? – Perguntei ao meu pai que estava ainda mais calado do que o normal.

— Não, Ruiva. Eu sempre soube que se casar na igreja não era uma coisa para você.

— Papai... – Fiquei sem graça.

— Não estou, Ruiva. Pode ficar tranquila, filha. Só te faço a mesma pergunta que fiz para a sua irmã.

- Que é?

— Você está certa disso?

Foi a minha vez de olhar para Steve que só escutava a nossa conversa com atenção, pegar a sua mão e apertar com força.

— Mais certa, impossível.

— Então seja feliz, filha. – Papai se levantou e veio beijar a minha testa.

— Jethro, por favor, não me faça chorar ainda! – Mamãe reclamou.

— Não nos faça chorar! – Corrigi minha mãe.

— Nunca achei que você seria a noiva que chora, Miniatura. – Minha mãe brincou ao secar os olhos e me passar um lencinho de papel para fazer o mesmo.

Dei uma risada.

— Não, Jen. Ela não é a noiva que chora, nunca seria, não é, Ruiva?

E, foi com um imenso sorriso no rosto que caminhei até o juiz de paz, de braços dados com meu pai, que fez questão de me entregar à Steve e dizer:

— Eu poderia te ameaçar e dizer que se você não tomar conta da minha Ruiva, eu iria te fazer sofrer e depois de matar, Seal, mas eu só te digo uma coisa: se você fizer algo errado, boa sorte, ela foi muito bem treinada e criada e sabe se defender como ninguém.

— Jethro! – Minha mãe puxou meu pai pelo braço e eu só pude tentar segurar a gargalhada que eu queria dar.

Já Steve, tão acostumado como já estava com minha família e comigo, só respondeu:

— Eu sei disso, Senhor Gibbs. E é por isso que estou me casando com a sua filha!

E, depois dessa frase, papai me deu um beijo na testa e me "entregou" à Steve.

A cerimônia foi rápida e tendo meus pais como minhas testemunhas e Adam e Kono como as testemunhas de Steve, assinamos o livro e, não, eu não acrescentei o sobrenome de Steve ao meu, não vi motivos para tal, e ele sabia que eu não o faria. Sempre gostei da sonoridade de meu nome e, ao contrário do que Kelly fez, eu não queria abrir mão do meu lindo sobrenome composto para passar assinar somente McGarrett. Apesar de que Sophie McGarrett também soava bem.

Não teve buquê sendo arremessado depois dos votos. Não teve chuva de arroz ou pétalas de rosas ou papel picado depois da cerimônia. Para falar a verdade, não iria ter nem Lua de Mel. Era uma manhã de sábado e o máximo que nós iríamos fazer era reunir a família no almoço de domingo para contar a novidade. Só isso.

Todavia, nada disso importava. E nunca importaria. Porque, por mais que Steve e eu fôssemos os opostos (nem tão opostos assim) que se atraíram há alguns anos, em uma coisa nós concordamos: era o nosso casamento e nós dois não precisávamos de uma festa ou de toda essa baboseira de tradição para que nosso amor fosse declarado e selado.

Mesmo que, sem ele saber, eu estava usando uma coisa nova, uma coisa velha, uma coisa azul e uma coisa emprestada... porque, superstição por superstição, algumas sempre têm que permanecer, não é mesmo?