SPIN OFF - Carta Para Você

Como Sophie Conheceu Steve McGarrett


Nell e Eric nos chamaram cedo, mas cedo mesmo, nessa manhã de quinta-feira, eram cinco da manhã, quando eu entrei, um tanto dormindo, um tanto acordada dentro do QG do NCIS. E ainda bem que eu não era a única ali sofrendo com o sono. Deeks estava muito pior do que eu.

— Boa madrugada, Ruiva.

— Tá tão cedo que eu nem sei o que dizer. E bom dia para vocês! – Me joguei na minha cadeira, minha mesa ficava de frente para a dele e ao lado da de Kensi.

— Põe cedo nisso. A gente saiu daqui uma da manhã e já estamos de volta, creio que merecemos um aumento. Sabe como é, falando com você, porque você tem acesso livre à Superiora. – Deeks reclamou.

— Pode fechar os olhos e sonhar o quanto quiser, se eu abrir a boca pedindo um aumento, cabeças vão rolar!

— Quem está para perder a cabeça aqui? – Callen perguntou.

Olhei para Deeks e ele me olhou de volta.

— Ninguém.

Callen não comprou a resposta, mas se sentou.

— Alguém tem uma ideia do motivo de estarmos aqui tão cedo? – Sam entrou jogando a mochila no chão. – Não podiam ter esperado o sol nascer?

Todos ficamos calados e olhando para ele.

— Que foi agora? Esqueci alguma coisa?

O silêncio continuou. E Sam só balançou a cabeça.

— Bom dia, Hetty!

— Senhor Hanna, vejo que o seu humor já está melhor.

— Melhora quando eu te vejo. – Foi a melhor resposta que ele conseguiu dar. E essa resposta me lembrou, e muito, o Tony e eu tive que segurar a risada.

— Isso é muito bom, e agora, sente-se, vamos começar a distribuir as tarefas.

Era até engraçado, nos sentávamos como se fossemos alunos do jardim de infância.

— Muito bem, estão quase aprendendo. – A baixinha – não que ela sonhe que nós a chamamos assim pelas suas costas – aprovou. – Sr. Hanna e Sr. Deeks, hoje vocês vão para Camp Pendleton, e nada de reclamação. – Ela levantou um dedo na direção dos dois que mal tinham aberto a boca. – Sr. Callen e Senhorita Blye, San Diego. E Senhorita Shepard-Gibbs, Coronado.

— Sim, Hetty. – Falamos juntos.

— Suas designações já foram enviadas para seus celulares e tablets, tenham um bom dia.

Esperamos Hetty sair do alcance de nossas vozes e soltamos:

— Um bom dia na estrada.

Cada um foi para seu carro, e antes que eu saísse da garagem do NCIS com o meu nada chamativo Dodge, dei uma olhada no que eu tinha que fazer.

— Uma cena de crime? Eu ia ter que investigar uma cena de crime dentro de Coronado? Achei que era uma missão especial disfarçada de caloura nos SEAL’s, mas isso?! Peraí que vou pegar as Regras do Gibbs e ver o que eu tenho que seguir... porque hoje eu estou mais para integrante da MCRT do que do Escritório de Operações Especial de Los Angeles.

Como virou o meu costume aqui na Califórnia, abaixei os vidros, coloquei play no app de música e dirigi – o mais veloz que pude. – para Coronado. Ia ser um longo dia e uma longa noite de volta.

Minha playlist estava tão aleatória hoje que eu ia da música clássica para o heavy metal e depois para o pop britânico e que saudade que me deu quando começou a tocar Live While You Are Young... fiquei com vontade de voltar a ter 13 anos e ser a ruiva louca que subiu no palco para cantar com a One Direction, aliás, saudades da minha boy band favorita, que disse que era só uma pausa e já essa pausa já dura quase 10 anos... nem meu pai ficou tanto tempo assim no México!

Tirei a playlist do aleatório e me permiti escutar toda a discografia da banda de novo, mesmo que corresse o risco de ser chamada de infantil... não estava nem aí, minha irmã, que é a Primeira-Dama dos Estados Unidos, escuta Spice Girls até hoje, por que eu, uma reles Agente Especial, não poderia escutar algo da minha adolescência também?

Gastei as duas horas de viagem cantando sozinha dentro do carro e, às vezes, dançando também.

Quando vi os portões do Campo de Treinamento de Coronado, diminuí o som, busquei pela minha identificação e esperei a minha vez de passar pela revista, aproveitei a minha última folguinha do dia e mandei uma mensagem para Emily, compartilhando a música que ouvia, Drag Me Down.

Se lembra dessa? — Escrevi.

Minha amiga, como sempre, não me decepcionou.

MEU DEUS!!! FAZ TEMPO!! Estava ouvindo o Fine Line, não sei o motivo, mas Canyon Moon me lembra o Tio Gibbs e a Tia Jenny!

Canyon Moon!? Sério? Só porque ele diz que vai de Paris à Roma? Emily, vai fanficar os seus pais!

Eu já fiz isso, sabe qual é a música deles?

Não faço ideia!

Sympathy for the devil.

Eu não pude conter a gargalhada.

Combina com a Dona Diane.

Sim, Emily chamava o meu pai de tio, minha mãe de tia, mas eu jamais fui autorizada a chamar Diane de tia, para ela eu seria a eterna “Diabrete”.

Exatamente por isso que é essa a música do casal! Tá à toa hoje?

Nada. Em Coronado. Esperando para revistarem o meu carro.

Navy Seals? Ahahahaha, só cuidado, o último que você jurou que era lindo e perfeito...

Eu sei... e ele já teve o que merecia... tadinho, halteres caem, não é mesmo?

Você quebrou o pé dele com um halter de 10 kg! O cara teve que ser transferido para a Inteligência, porque o pé dele ficou uma porcaria!! Você é Má!

Comecei a rir de novo. Ah, Dave... você era legalzinho, até que eu descobri que você era casado e gostava de acumular conquistas, todas ruivas!!

Ele mexeu com a ruiva errada. E deu sorte que não usei o meu treinamento do Mossad nele.

Isso ele deu sorte mesmo...

A fila recomeçou a andar e eu era a próxima para a revista.

Vou indo. Tchauzinho Emilly, ache a cura para o câncer ou para qualquer outra doença e se lembre de mim quando ganhar o Prêmio Nobel de Medicina!

Tchau para você! E Cuidado, Seal’s são perigosos!

Avancei pela fila e parei quando um Suboficial me ordenou. Antes que ele viesse para a janela do motorista, deu uma boa olhada no meu carro.

— Documentos, senhor.

Baixei os óculos escuros e olhei para ele.

— Senhora! – Se corrigiu em um instante.

Mostrei a minha identificação do NCIS.

— Sim, claro, mas preciso revistar o carro.

Levantei a mão autorizando, e ele começou a vistoriar o carro para ver se tinha algo suspeito por baixo.

— Abra o Porta-Malas.

Como o carrão é um senhor quase tão idoso quanto meu pai, tive que descer para fazer isso. Claro não tinha nada.

Minha entrada foi permitida e eu tive que ir diretamente para o Comando da Base, Comandante Joe White já estava avisado da presença do NCIS e me esperava.

Parei na primeira vaga com sombra que vi, peguei a identificação, a arma e minha mochila com tudo que iria precisar e saí em direção ao Escritório Central. Graças a Deus todas as bases têm mais ou menos o mesmo design no que diz respeito à localização dos escritórios, então quem já entrou em uma, dificilmente se perde, e como eu fui praticamente criada dentro de uma... poderia estar vendada que achava o meu caminho.

Comandante White me passou todas as coordenadas sobre o Capitão morto, ao que parecia era um suicídio, mas o NCIS não investiga suicídio.

— O Legista atestou o suicídio? – Perguntei descrente.

— Não.

— Então, Comandante, até que provemos o contrário, foi um homicídio. Vou precisar da ficha do Capitão Fox e depois quero falar com o CO dele, bem como com cada um com quem ele encontrou nos últimos dias durante o treinamento.

Acho que White não foi muito com a minha cara, pois ficou me encarando estranho.

— Disse que se chama Shepard-Gibbs?

— Sim. – Confirmei sem olhá-lo, estava lendo a ficha de serviço de Fox.

— Eu me lembro do seu pai, no Golfo.

Dei aquele sorriso padrão de quem sabia que lá vinha história.

— E a sua irmã me salvou dentro do USS Webster. Você é irmã da Comandante Sanders, e atual Primeira-Dama, certo?

— Sim, eu sou.

— Marinha está no sangue.

— O senhor não faz ideia.

— Que fim teve seu pai, tem um tempo que não escuto o nome do Gibbs, por aí, a não ser o da Diretora do NCIS.

— Se aposentou, tem mais ou menos um ano.

— E ele está conseguindo ficar em casa?

— Mais ou menos. Às vezes ele dá consultoria para a equipe que ele liderava. – Informei.

— E você não quis assumir a equipe?

— Não estou no NCIS a tanto tempo assim. Fui lotada em L.A.

— Para o desespero do seu pai, assumo. Eu lembro que ele ficava vendo a foto da sua irmã toda a noite. – White foi conversando enquanto me levava para a cena do crime.

Isso era uma informação nova, e com a possibilidade de virar uma ótima chantagem caso precisasse.

— Bem, Gibbs, é aqui. – Ele me falou.

E que ódio que me dava quando ignoravam o sobrenome da minha mãe, mas evitei arranjar discórdia.

— Muito obrigada! – Disse ao virar a maçaneta e encontrar. – Isso foi uma bagunça... como alguém pode pensar em suicídio? – Murmurei.

Conforme manda a regra #2, fui logo calçando as luvas e começando a juntar as peças desse quebra-cabeças pra lá de esquisito.

Fotografei tudo, fiz o desenho de onde o corpo foi e como foi encontrado, o legista entrou, pegou o cadáver e o levou, sabendo que aquele era a alojamento privativo do Capitão, comecei a procurar por pistas sobre o que tinha acontecido ali.

Não tinha nada nos esconderijos convencionais, testei o piso, o fundo das gavetas, alguma lajota solta no banheiro, nada.

— É... onde você escondia seus segredos, Capitão?

Peguei o notebook dele, descobrir a senha foi moleza. Obrigada de coração Abigail Sciuto e Timothy McGee! E procurei nos arquivos, e-mails e...

— Bem... você até que é bom, contudo, eu tive os melhores professores! – Falei sorrindo ao achar o que não era para ser encontrado.

Liguei para Nell.

— Diga, Sophie!

— Estou te dando acesso remoto às provas que encontrei no notebook do Capitão, não está tudo aqui, mas preciso que você rastreie esses nomes e veja se alguém aqui é suspeito, por favor.

— Estou quase concluindo o download. E... Meu Deus, tem coisa demais aqui.

— Por isso preciso da ajuda de vocês!

— Deixa com a gente que assim que tivermos alguma informação eu te passo.

— Muito obrigada! – Respondi e continuei procurando por algo que me ajudasse a resolver esse enigma.

Acabei por encontrar a chave do carro do Capitão.

— Bem... um Mercedes Benz... interessante, ou pagam melhor na Marinha do que no NCIS, ou você tem muita culpa no cartório, Capitão. – Falei e depois de trancar e passar a fita na porta do alojamento, impedindo de entrarem ali, fui atrás do carrão. Restava saber onde o bendito estava. Mas era um Mercedes e conhecendo homens, todos eles já devem ter babado pelo carro, a menos que algum deles dirija uma Ferrari ou um Bugatti.

Não foi difícil achar o estacionamento e logo lá estava eu, atrás do carro, pelo celular fiz uma rápida pesquisa e descobri a cor, o modelo e o ano de fabricação.

— Então é aquele lá. – Apontei para o automóvel. – Sabe, até eu trocaria o meu amado Dodge por isso aqui.

Destranquei o carro e comecei a buscar por todas as evidências que podia, ali sim, tinha muita coisa, tudo escondido no forro do banco do carona.

— Tráfico de armas sem registro. Que coisa feia!

Eu já tinha o motivo. Faltava o “como” e “quem”. O “como” seria respondido em breve, já o “quem”...

— Eu tenho mais de duzentos nomes aqui! Como vou descobrir quem é? – Falei sozinha, estava sentada no chão, apoiada no para-choque do SLS AMG, analisando a documentação e fazendo a minha pesquisa com o meu computador e tablet e celular ao mesmo tempo, praticamente tinha montado um escritório ao lado do esportivo, quando uma voz me atrapalhou.

— Falando sozinha?

Na mesma hora levantei a minha cabeça e respondi:

— Não, procurando uma opinião profissional sobre um determinado assunto.

— Então pode começar! – O homem se escorou na lateral do carro e cruzou os braços e as pernas, me encarando.

Que claramente não é a sua! Agora desencosta do carro e circulando, isso aqui é uma cena de crime.

— Não tinha que ter uma fita amarela ou coisa assim? – O SEAL disse sorrindo.

— Só quando eu sair daqui. Para que curiosos, como você, não fiquem se metendo onde não foram chamados. E a propósito, quem é você?

— Tenente Steve McGarrett, SEAL’s. E você?

— Agente Especial do NCIS, Shepard-Gibbs. – Mostrei o distintivo e, se você é realmente da Marinha como está dizendo. Onde está a sua identidade militar??

— Ficou no carro.

— Então vá pegá-la, normas da Marinha Americana dizem que todos devem portar suas identidades quando dentro de bases militares.

— Olha aqui, Ruiva...

Agente Especial Shepard-Gibbs!!

— Tudo bem, Agente Especial Shepard-Gibbs, eu sou um Navy Seal e estou dentro de Coronado, não preciso ficar mostrando a minha identidade militar por aí.

— É mesmo?? Acho que você está errado. Além do mais, isso aqui é uma cena de crime, e todo e qualquer Marinheiro ou Marine que passar por aqui vai ter que mostrar a identidade. Onde está a sua??

— Eu já disse, ficou no carro. E, só para constar, eu nunca vi investigarem uma cena de crime usando saltos altos. – Ele olhou pela extensão das minhas pernas que estavam esticadas até a ponta do salto do meu Louboutin.

— Para tudo tem uma primeira vez, não é mesmo, Tenente McGarrett?? Se é que esse é o seu verdadeiro nome.

— Pode apostar que é, Agente do NCIS. - O tal do McGarrett disse, contudo não arredou um milímetro e eu me vi na obrigação de ameaçá-lo.

— Como eu já disse, e estou achando que terei que desenhar, isso aqui é uma cena de crime, e você não pode ficar aqui.

Finalmente ele pareceu perceber que eu falava a verdade e, batendo continência, apenas disse:

— Nós vamos nos esbarrar novamente, Ruiva.

E quando ele virou as costas, minha mão coçou para pegar a arma e brincar de tiro ao alvo com a parte de trás da cabeça dele.

Voltei minha atenção ao meu trabalho e coloquei o tal Tenente intrometido no fundo da minha mente, ou pensei que teria colocado, até que me vi falando.

— Até que ele é bem bonitinho, se não fosse tão chato!

Vi que ficar sentada no meio do estacionamento da base não era lá a minha melhor opção, assim, coloquei todos os documentos em sacos de evidência, tranquei o carro e passei a famigerada fita de “cena do crime, não ultrapasse” ao redor da vaga.

Com os dados que coletei dentro do carro, voltei para o alojamento do Capitão e tornei a ligar o notebook dele, talvez eu desse sorte e conseguisse cruzar algumas informações e diminuir o número de possíveis suspeitos.

Nell e Eric me ligaram de madrugada, me ajudando a eliminar nomes, mas, mesmo assim, eu ainda tinha muito o que fazer, contudo, eu precisava de um banho e de um cochilo, meus pobres neurônios estavam basicamente sobrevivendo com ajuda de aparelhos, então suspendi temporariamente as investigações e fui procurar um hotel para dormir.

Voltei menos de quatro horas depois, ainda pensando na minha listinha de suspeitos, quando estacionei o carro e peguei minhas coisas, escutei um assobio.

— Nossa! Então é seu.

Meu Deus, logo cedo!

— Sim, algum problema?

— Nenhum, mas achei que, devido aos saltos, você seria a orgulhosa dona de um Mini Cooper, um Fiat 500 e, se desse sorte, um SUV qualquer, mas jamais isso. – McGarrett disse dando uma volta ao redor do meu carro.

Fingi que não escutei o famigerado estereótipo e dei as costas para ele. Só que ele me acompanhou rápido e ainda riu da minha passada lenta por conta dos sapatos.

— Olha, para a sua alegria, estou usando minha identificação hoje. – Apontou para a identificação presa em seu peito.

Minha alegria?! – Me peguei respondendo. – É a sua obrigação. E você sabe que não portar a sua identificação pode te dar uma advertência e ser anotado na sua ficha, o que te impediria de ser promovido, Tenente.

McGarrett ficou sem palavras.

— Já foi da Marinha?

— NCIS. - Apontei para o distintivo.

— Só que trabalhar na agência civil não te dá todo esse conhecimento.

— Se eu não tivesse esse conhecimento, não estaria trabalhando aqui. – Respondi taciturna e me virei na direção do alojamento do Capitão, um guarda da base estava de vigia no local para evitar que alguém invadisse.

— Bom dia e muito obrigada! – Agradeci ao trabalho, cortei a fita e entrei, fechando a porta e me jogando de cabeça no que tinha que fazer.

Levei todo o dia e parte da noite, mas resolvi, Eric, me deu uma ajuda e tanto e, quando deu nove da noite, eu tinha meu suspeito sob custódia, tinha todas as evidências dentro do porta-malas do meu carro e estava morta de cansada, mas feliz por ter resolvido o caso.

Passei no hotel, peguei minha bolsa e resolvi que voltaria ainda hoje para Los Angeles. Assim, poderia entregar a papelada para Hetty, antes do meio-dia.

Assim eu encerrava o meu primeiro caso solo.

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QUINZE DIAS DEPOIS

Parecia até brincadeira que mais um caso tinha acontecido em Coronado, e não era ligado ao caso que eu tinha resolvido há quinze dias. Dessa vez eu não vim sozinha, Eric veio comigo e o pobre ainda estava meio atordoado da viagem.

— Diz o Google Maps que essa viagem dura duas horas e seis minutos, SEM trânsito! Você fez em uma hora e três, e nós pegamos um congestionamento de outro mundo na saída de Los Angeles! Assim você vai me matar, Sophie.

— Você está bem vivo para mim, Eric. Pare de reclamar. E vamos ao trabalho. – Pegamos nossas coisas e fomos para o escritório central, novamente me encontrando com o Comandante White.

Com Eric me ajudando, o caso de crime cibernético foi rápido de ser resolvido e como se tratava de uma sexta-feira, e já estava bem tarde para voltar, - palavras de Eric, não minhas. - decidimos por passar a noite na cidade e partir no sábado bem cedo.

— Tudo bem, eu não vou morrer nessa noite sendo obrigado a voltar com você dirigindo feito uma alucinada para L.A., mas, o que vamos comer? Você trabalha igual a uma máquina e se esquece que existem refeições.

Suspirei, Eric não estava errado.

— Não faço ideia, não conheço nada daqui, mas podemos perguntar na recepção do hotel.

Foi o que fizemos, e nos deram dois lugares. Um que era frequentado pelo pessoal da base e outro mais tranquilo. Eric falou que já tinha visto homens uniformizados demais por um dia e escolheu o outro, não reclamei, foi ele falar em comida e parecia que um buraco tinha se aberto no meu estômago.

O bar não era muito longe do hotel e na verdade, nem era muito um bar em si, era uma mistura de lanchonete, casa noturna e bar, tudo ao mesmo tempo.

— Nunca vi um lugar assim! - Comentei quando entramos, era tão diferente que eu até gostei.

Sentamos nos banquinhos da bancada do bar, pedimos nossos sanduíches e ficamos jogando conversa fora enquanto Eric bebia a sua cerveja e eu uma enorme caneca de chá gelado.

O local foi enchendo e logo um grupo de amigas entrou, pelo jeito era uma despedida de solteira, porque uma delas usava um véu na cabeça e uma faixa onde se lia “noiva” e tomaram conta da Jukebox, colocando várias músicas da minha adolescência para tocar.

Eric fez uma careta quando algumas músicas começaram e eu só pude começar a rir.

— Nell me disse que já te pegou malhando ao som de Counting Stars do OneRepublic, deixa a 1D, tocar.

— Temos uma Directioner por aqui? – Ele brincou com a minha cara.

— Sabe como é, dizem que você pode até se afastar do fandom, mas nunca sair completamente. – Dei de ombros e comecei a cantarolar uma das músicas.

Nossos sanduíches chegaram e eu me vi obrigada a pedir mais uma caneca de chá, e, entre conversar com Eric, comer, beber e cantarolar algumas músicas, não notei que o lugar estava quase completamente cheio.

— Me dá uma licença. – Pedi a Eric, depois de tanto chá, tive que usar o banheiro, aproveitei a deixa e dei uma conferida na minha aparência. Eu estava com aquela cara de cansada!

— Preciso de férias! E só vou conseguir uma folguinha no Dia de Ação de Graças, daqui a seis meses!

Saí do banheiro e reconheci a música que tocava na hora, Best Song Ever, quase que eu dou um ataque de risos ao lembrar de Emilly e dos ataques que demos no show, mas, o mais divertido da história, era que agora algumas pessoas tinham tomado conta da pequena pista de dança em frente a jukebox e dançavam. E vi outra coisa, um grupo de marinheiros, a julgar pelo modo como se portavam e entre eles, Steve McGarrett.

Passei direto e fui perturbar Eric.

— Sentindo falta da Nell uma hora dessas, Eric? – Perguntei assustando o avoado.

— E como!

Comecei a rir.

— Eu acho que já está passando da hora de ser a Nell no lugar daquela noiva lá. – Apontei com a cabeça.

Eric ficou vermelhinho.

— Pode ir parando.

— Não falei nada demais. – Me defendi.

— E você? Já viu que tem um ali que não tira os olhos de você desde que chegou?

— Não. Quem?

— Parece um Marinheiro, e desde o momento em que te viu sentada aqui, ele nem disfarçou. Na hora em que você se levantou, ele te seguiu com os olhos pelo bar inteiro.

Levantei a minha cabeça em direção ao bar e pelo espelho que tinha atrás do gabinete de bebidas, eu vi de quem Eric falava.

Steve McGarrett.

Ele percebeu que eu finalmente notei que ele me olhava e me deu um aceno de cabeça. E eu não sei se foi por conta da cor da blusa dele, ou se era porque, dessa vez, eu não tinha que me preocupar em trabalhar, mas assim que os nossos olhares se cruzaram pelo espelho, uma carga elétrica passou por mim.

Não mantive o contato visual, voltei a conversar com Eric, porém, logo o garçom colocou na minha frente, sem eu ter pedido, outro chá e um bilhete, escrito em um guardanapo.

Eric foi logo comentando:

— As fofocas de escritório na segunda-feira vão ser animadas!

— Não se atreva, Eric, eu sei te matar usando um Cartão de Crédito e conheço pessoas que encobririam todas as evidências.

— Não está mais aqui quem falou, mas ele continua te olhando, não vai ler o bilhete? – Questionou todo curioso.

Desdobrei o guardanapo, e li a seguinte frase:

Eu não disse que nós encontraríamos de novo, Ruiva? E só uma pergunta, aceita dançar comigo?

Eric, que leu todo o bilhete sob o meu ombro, só me chutou na canela e falou:

— E aí? Ele continua te esperando.

— Você é pior que a Nell e a Kensi juntas!! Credo! Por acaso você fez o download do software do Tony?

— Não, só quero que você desencalhe, assim ninguém vai ficar segurando vela quando o grupo sair.

— Eu não seguro vela! E não estou encalhada! Solteira sim, sozinha nunca!

— Segura sim! Toda vez! E deve acabar a noite com as mãos queimadas. – Ele riu da minha cara. – E se não está sozinha, onde está o seu ficante?

Revirei os meus olhos.

— Ele parece ser inofensivo. – Eric constatou.

— Eu já o vi antes.

— Onde?

— Vai dar uma de amigo, ou é só para as fofocas?

— Os dois.

— Em Coronado. Quinze dias atrás.

— Uhn... rolou alguma coisa?

— Eu estava trabalhando e todo mundo era suspeito até que se provasse o contrário.

— Agora ele não é um suspeito e está vindo para cá. Se decida, Sophie.

Eric mal fechou a boca e Steve McGarrett e toda a sua altura, parou do meu lado. Com menos de dez segundos Eric pediu licença e sumiu no meio do bar.

— Grande ajuda! – Murmurei.

— Então, Ruiva, estou esperando a sua resposta.

— E quem te falou que tenho uma?

McGarrett se encostou no balcão de costas para o bar, virado para mim.

— Porque eu sei que tem.

— Se você sabe que tem uma resposta, deve saber qual é! – Repliquei.

— Admita, você gosta dessas músicas que aquele bando de malucas colocou para tocar, vi você cantando. – Apontou para o grupo de amigas que dançavam e riam.

— Tá me observando faz tanto tempo assim?

— Eu te vi na base hoje de manhã. Aquele que está com você não é o seu namorado, é? – Olhou torto para Eric que falava ao celular na porta do bar.

— E se for?

— Não parece que é.

— Como sabe disso?

Ele só me deu um sorriso.

— Tenho a impressão de que não é. Se fosse não te deixaria aqui, sozinha.

— Ah! Ele sabe que eu sei me cuidar muito bem!

— Isso é bom. – McGarrett se sentou no banco ao meu lado. – Agora resta saber se você sabe dançar.

— Isso não é da sua conta.

— É claro que é. Te convidei para dançar. Se você não souber, eu vou ter que te conduzir, se você souber, nós dois vamos dançar juntos.

— Você parece gostar mais da primeira hipótese. – Conjecturei.

— Seria mais fácil para não te deixar fugir.

— Acha que tenho medo de você?

— Não, mas pode ter medo de dançar. – Ele chutou, me olhando.

— Você não sabe com quem está mexendo. – Adverti.

— Então me mostre.

Sustentei o olhar dele, e tentei decifrar se era azul, verde, castanho claro ou mel, não sabia dizer, mudava conforme a luz e quando ele se virou para mim, estavam azuis escuros.

— Sim ou não? – Perguntou sério me olhando nos olhos.

— Para? – Levantei uma sobrancelha.

Ele sorriu.

— Você é difícil, garota!

— Se está me achando tão difícil assim, busque uma que te dê menos trabalho... – Deixei a frase no ar e tomei um gole do meu chá.

Steve olhou em volta, talvez procurando outra garota sozinha ou alguma com quem ele achasse que teria sorte.

— Não. Só tem uma ruiva aqui.

— Então você tem um tipo? Ruivas. Que interessante! – Disse com uma voz monótona.

— Não tenho tipo. Mas só você é a Ruiva.

— Não me chame de Ruiva. – Alertei.

— Por quê? Apelido que alguém já te deu?

— Com certeza. E você não está autorizado a usá-lo.

Ele deu uma risada.

— Seu pai. Tudo bem, não vou mais usar, mas seria mais fácil se você me dissesse seu nome.

— Você sabe o meu nome.

— Deixa de ser misteriosa, garota! Seu primeiro nome. Você sabe o meu!

— Tente adivinhar!

— Não, tem uma possibilidade imensa de nomes por aí, fora os que os seus pais podem ter inventado um nome. Não vou tentar. Me diga.

— Se eu disser, você vai embora?

— Depende, se eu não gostar do seu nome, sim. Se eu gostar, não.

Levantei a sobrancelha e encarei o Navy Seal na minha frente.

— Sophie.

— Pequeno demais para criar um apelido.

— Você que pensa. – Disse e me lembrei de todos os que tenho. Sendo Novata o mais novo deles.

— Então, Sophie, vamos para a pista de dança?

Olhei por sobre o ombro dele, observando tanto a pista de dança, quanto os demais marinheiros que faziam companhia a ele na mesa que ele ocupava até momentos atrás.

— Por que tão desconfiada?

— Só pesando as possibilidades.

— Que possibilidades?

Não respondi. Estava vendo se ele era realmente sincero ou se eu era somente um joguinho de um grupo de amigos. Como diz o velho ditado: “gato escaldado tem medo de água fria”. Tudo que vi era um grupo com outros sete marinheiros que estavam bem distraídos, olhando ora para o grupo que dançava e ora para Steve, mas nos olhares deles eu não vi a malícia de uma aposta, não, eu vi, uma espécie de torcida.

— São Thomas, Freddie, Adam, Danno, Chin, Junior e Bocão.

— Do seu esquadrão, presumo.

— Sim.

Não sabia dizer quem era quem, mas um deles me deu um oi.

— E aquele?

— Bocão.

— Tem cara de doido.

— Pode apostar que é!

Me virei de volta para o bar, vi que Steve chegou mais perto.

— Vai pesquisar as nossas vidas antes de dizer sim? – Perguntou quase sussurrado.

— Talvez eu não esteja no ânimo para dançar.

— Talvez dançar seja tudo o que você esteja precisando. – Ele falou e puxou a minha mão, no instante em que a música trocava e Canyon Moon começava a tocar.

Para um marinheiro, Steve dançava extraordinariamente bem, e eu me deixei ser conduzida por ele, no ritmo da música. E logo outra começou e mais uma, e ele não parou de dançar, nem eu. E quando eu já estava preocupada com o sumiço de Eric, e querendo encerrar a noite, a noiva correu para a jukebox e escolheu a dedo mais uma.

— A última da noite! – Ela anunciou, e pelo visto o noivo tinha chegado, porque logo ela o puxou pelo braço e começou a dançar com ele.

Nos primeiros acordes eu reconheci a música e quem cantava.

Louis Tomlinson. Kill My Mind.

E uma letra nunca fez tanto sentido quanto agora.

You kill my mind

Raise my body back to life

And I don't know what I'd do without you now

You kill my mind

Raise my body back to life

And I don't know what I'd do without you now”

Eu juro que não sei como aconteceu, ou quando foi, quando dei por mim, eu estava beijando Steve, ao ritmo da música e o verso da música ecoando e fazendo todo sentido no momento:

Just a little taste babe

And ya won't let go of your hold on me

Sim, eu não saberia como fazer sem ele agora. Como isso pode ser tão rápido?

— Você vai voltar para Los Angeles? – Steve me perguntou quando deixamos o bar, Eric havia me deixado uma mensagem, quase duas horas atrás, dizendo que estava indo para o hotel. E agora Steve me acompanhava até lá, quando falei que eu iria sozinha, ele não deixou.

— Sim, daqui a pouco.

— Vou precisar descobrir onde você trabalha.

— Você sabe onde é! – Falei.

— Me disseram que é como a batcaverna, poucos sabem exatamente onde fica esse escritório, ou foi isso que escutei na base... – Ele me respondeu.

— Uma coisa de cada vez, primeiro. – Tirei um cartão do meu bolso e coloquei no bolso da camisa dele. – Meu telefone. Não apresse as coisas.

— E se eu aparecer em L.A. nesse final de semana?

— Talvez dê sorte, talvez não. Nunca se sabe. – Dei de ombros. Chegamos na porta do hotel e eu estava para abrir a porta quando ele pegou o meu pulso.

— Eu não estou brincando, Sophie.

— Nem eu. Mas tente a sua sorte. Eu nunca sei quando estou efetivamente de folga.

— E quando vai ser a sua folga de verdade?

— Ação de Graças.

Eu soube que ele era o cara quando ele me deixou na porta do hotel, e não pediu para ir para o meu quarto, apenas me dando um beijo de despedida, e no sábado, quando, ao meio-dia, me ligou dizendo que estava em L.A. e queria me ver. Nos encontramos em um café, ele comeu para um batalhão e eu fiquei praticamente olhando. E entre uma mordida e outra, nós fomos conversando, sabendo mais sobre um e outro. Steve fez o trajeto entre Coronado e Los Angeles sempre que ele tinha uma folga, e essas idas e vindas duraram pelos próximos quatro meses, até que, em um sábado estranhamente chuvoso, eu mandei a tradição para o espaço e deixei que ele ficasse no meu apartamento. Tínhamos cinco meses de namoro. Ele sempre indo e vindo e eu sempre vigiando o que ele estava fazendo. Quando não podíamos nos ver, sempre conversávamos, e não íamos para cama sem ao menos dizer um simples boa-noite, e essa ligação eram a segunda mais importante do meu dia, a primeira era saber se tudo estava indo bem com meus pais em D.C. Nosso relacionamento era firme e nem mesmo nossas agendas malucas eram capazes de nos fazer brigar. A equipe o conheceu quando tínhamos três meses, e dessa vez, ninguém ficou de vela. Nunca soube como a notícia da presença de Steve na minha vida nunca chegou ao ouvido da minha família, creio que deve ter sido Hetty...

Nosso aniversário de seis meses era exatamente no Dia de Ação de Graças e como tanto eu, quanto ele, tínhamos folga, resolvi que já estava passando da hora de apresentá-lo aos meus pais e todo o restante da família, porque eu tinha certeza, Steve McGarrett veio para ficar, ficar para sempre. E ali, bem nesse dia, foi o princípio da nossa vida à dois... e, ah, se eu soubesse como seria, mesmo assim, eu não teria mudado um nada.

E só para constar, Kill My Mind era a nossa música, não adiantava, era um escutá-la que logo se lembrava do outro. Afinal, foi essa música que embalou o nosso primeiro beijo...

Steve era, definitivamente, o meu final feliz, disso eu tinha certeza.