Révélation

Capítulo VII - Tudo Está Bem Quando Estamos Bem


— Quando aquele seu amigo vem estudar de novo com você, Marinette?

A família Dupain-Cheng estava a mesa de jantar, eles conversavam sobre assuntos da padaria ou as últimas notícias da cidade, mas quando o assunto se esvaiu, Sabine logo pôs-se a falar do que ela tinha como “futuro marido de sua filha”.

Marinette quase engasgou com a mudança brusca de assunto.

— Eu acho que amanhã…

— Ótimo! – Tom falou – Faremos macaroons amanhã!

— Não precisa fazer nada especial – Marinette tentou dizer, mas seus pais estavam empolgados em arranjar ela com sua paixão “secreta”.

— Ah, mas é claro que precisa – ele continuou.

— Ou talvez ele prefira biscoitos?

— Não, querida, ele já deve ter experimentado os biscoitos que ela levou naquele dia, lembra? Temos que mostrar que o que quer que seja, será delicioso! – ele respondeu à esposa.

Marinette suspirou. Se eles estavam felizes achando que Adrien voltaria ali mais vezes se eles o mimassem com comida, que permanecessem, pois ela não fazia ideia de como tiraria esse pensamento deles.

— Está tarde, eu acho que vou dormir – Marinette forçou um bocejo, ainda teria uma longa noite.

— Claro, querida, boa noite!

Ela subiu para o próprio quarto, dando finalmente à Tikki a liberdade de não se esconder. A Kwami tinha um sorriso no rosto.

— O que foi, Tikki?

— Seus pais parecem muito empolgados com o Adrien…

— É, eles geralmente são assim com qualquer pessoa que entre aqui e me trate bem. Você lembra de quando a Alya veio aqui as primeiras vezes?

Tikki confirmou com a cabeça. Marinette havia conhecido seus melhores amigos em um período muito curto de diferença entre um e outro. Primeiro conheceu Alya, depois Tikki no mesmo dia e então Chat Noir. Tikki e Alya estavam sempre na presença uma da outra através de Marinette, mesmo que Alya não soubesse disso.

— Tikki… Eu prometi ao Chat, na verdade eu convidei ele para se encontrar comigo hoje…

— Eu estava lá…

— Você desaprova se eu for me encontrar com ele?

— Olha, Marinette, vocês são mais do que apenas parceiros, são amigos! Claro que é arriscado se encontrar com ele desse jeito, mas ele já está se sentindo convidado a vir aqui sem saber que você é Ladybug, e isso é igualmente perigoso…

— Então você acha que eu devo ir e falar a ele para não vir mais aqui?

Tikki balançou negativamente a cabeça.

— Eu acho que mesmo sendo mais perigoso, é o mais saudável a se fazer para vocês dois. Vocês precisam estabelecer uma confiança maior um no outro, como eu e Plagg!

— Então… Você acha certo eu ir?

— Dessa vez sim. Mas isso não pode se tornar uma coisa frequente, você ainda precisa dormir e dois heróis passeando a noite pela cidade chamaria muita atenção. Vocês precisariam de um local mais privado, mas não podem saber da identidade um do outro. Então, está tudo bem você se encontrar com ele. Hoje.

Marinette confirmou com a cabeça antes de se transformar.

Dessa vez, a menina que chegara primeiro. Ela sentou-se a beirada da edificação, não queria esperar demais, não era como Chat que aproveitava a própria companhia durante as noites pelos telhados da cidade, ela tinha um objetivo ao sair de casa, e ele permanecia o mesmo. Apesar de que não podia negar que estar por ali a noite era uma fonte de inspiração para seus designs. Ela estava acostumada a ver a cidade daquele ângulo que somente a Ladybug via durante o dia, a noite era diferente, a cidade se acendia.

— Me esperava há muito tempo, Bugaboo? – Ela não olhara diretamente para ele, mas sabia que ele estava sorrindo.

Ladybug fez uma careta, estava feliz de estar ali com ele, mas isso não significava que passou a gostar do apelido.

— Não me chame assim – ela insistiu.

— Tem razão, “meu amor” combina mais com você.

Ela não evitou um suspiro pesado que lhe escapou dos lábios.

— Você disse que queria conversar comigo… – Chat sentou-se ao lado dela, eles estavam próximos a sua casa, então ele tomara o cuidado de sair com antecedência para que ela não o visse ali e descobrisse sua verdadeira identidade, e se ele chegasse cedo demais, ela poderia pensar que ele morava por ali por perto, ou que estava ansioso demais, até desesperado, para falar com ela, o menino não queria que acontecesse nenhuma das duas opções – Eu estou aqui. – Apesar de ser uma frase seca, foi dita suavemente.

Ladybug precisou pensar em como introduziria o assunto sem que fosse arriscado e sem que ele desconfiasse de sua verdadeira identidade.

— Eu notei que você não parou de perambular pelos telhados… – Ela não o olhava, pois estava, no mínimo, sem graça.

— Sim…

— Eu tenho medo que Hawk Moth possa te atacar a noite e eu não acorde para poder te ajudar – ela inventou, claro que acordaria.

— Acho improvável, My Lady.

Ele não estava contribuindo muito na conversa, se limitava a responder o que ela lhe perguntava. Ladybug não entendia o porquê dele estar fazendo isso, mas o gato apenas estava sendo cauteloso, ele queria sim conversar com ela, mas ela mesma dissera que aquilo não aconteceria, ele não podia criar falsas esperanças de que ela mudara de ideia, afinal, poderia ser simplesmente para tratar de coisas longe de serem pessoais.

— Somos uma equipe… Somos amigos – ela repetiu o que ouvira de Tikki mais cedo, o fazendo olhar diretamente para ela, a menina retribuiu o olhar – Precisamos ter uma relação saudável… Eu achava melhor nos mantermos o mais distante um do outro, mas nos vemos todos os dias e não podemos… – Ela pensou na palavra certa a usar – Ignorar… A afeição que se criou entre nós. – Certo, talvez aquelas não fossem as melhores palavras para se dizer, ela não queria insinuar que eles gostassem “gostassem” um do outro.

— Afeição? – Ele fora cativado.

— Sim, é… Somos amigos, bons amigos! – o nervosismo se instaurou em sua voz, ele pareceu um pouco menos animado.

— É claro – Chat Noir respondeu, forçando uma indiferença que não sentia.

— O que eu quero dizer… É que eu quero que você fique bem, Chat… Eu não posso lutar ao seu lado ignorando que você não esteja bem. Somos um time, temos que cuidar um do outro!

— O que você está propondo, Bugaboo?

— Quero que seja honesto comigo, que me deixe ajudar… Não podemos saber a verdadeira identidade um do outro, mas precisamos confiar um no outro. Você não acha?

Ele confirmou com a cabeça, estava um tanto comovido.

— Eu não acho que a decisão que eu tomei na outra noite foi a melhor a se fazer. – ela prosseguiu – Eu considerei apenas o que eu queria e não tentei achar um meio termo que servisse para você também…

— Precisamos ser honestos um com o outro – ele manifestou sua opinião pela primeira vez. A conversa estava sendo, e muito, do seu interesse.

Apesar de terem muito o que falar, eles não sabiam como dar rumo àquela conversa, então o silêncio se alastrou por um longo período.

— Que tal fazermos assim: uma pergunta por uma pergunta? Sem mentiras.

— Posso perguntar qualquer coisa?

— Qualquer coisa que não fale diretamente sobre as nossas verdadeiras identidades.

Chat pensou por alguns segundos.

— Por que mudou de ideia?

— Eu pensei melhor… – Não era completamente mentira, mas ela não responderia à primeira pergunta com uma meia verdade, então prosseguiu, ocultando apenas que ela era Marinette – E eu vi você conversando com aquela menina ontem…

Naquele momento tudo pareceu clarear, não havia sido coincidência que um dia depois de ele conversar com Marinette, Ladybug houvesse decidido que era uma ótima ideia chamá-lo para uma conversa.

— Eu não sou o único a perambular por aí a noite, então! – Estaria Ladybug com ciúmes? – O que você ouviu da conversa?

— Nada disso, é a minha vez! Como você está? – Apesar de curta, a pergunta era a menos simples possível, o que desorientou o menino.

Ele precisou pensar um pouco antes de responder. Mas deu um jeito nisso.

— Agora? Estou bem. Estou feliz que tenha mudado de ideia.

— Mas não pense que isso será algo frequente. Provavelmente não acontecerá mais tão cedo. Você pode me chamar para conversar quando quiser, mas tem que ser só quando você sentir que precisa disso. Não podemos saber a identidade um do outro. – ela finalizou lembrando-se das vezes que Chat perguntou a Marinette se ela tinha alguma pista sobre a identidade de Ladybug, aquilo implicava que ele não poderia sair por aí perguntando esse tipo de coisa.

— Eu sei… – Seu olhar se tornou distante. Não podia se acostumar àquilo, encontrar com quem amava várias noites.

— Eu posso confiar em você? Que você não vai quebrar o nosso acordo?

— É claro que pode, Bugaboo. Eu nunca quebraria a sua confiança. – Ele a olhava novamente. Ladybug sorriu.

— Então você vai me dizer como está? Mais especificamente…

Ele deu de ombros.

— Eu estou melhor por saber que você confia em mim. Mas eu preciso sair às noites, eu não me sinto bem preso na minha casa… Como Chat Noir eu me sinto livre. Eu entendo que não vamos poder nos encontrar sempre assim, mas não tem a possibilidade de eu parar de sair durante as noites sempre que não me sentir confortável. Por favor, entenda isso. – Ele suplicou.

Ela não queria que ele fizesse isso, principalmente sabendo para onde ele pensaria em ir sempre que desse na telha. Mas ela não poderia simplesmente falar que ela era quem o acolhia sempre.

— Está bem – Ladybug falou baixinho, sem saber exatamente como lidar com a situação – Não posso privá-lo disso.

Ela achou que um novo silêncio se instauraria ali, mas Chat logo tratou de não de deixar isso acontecer.

— O que você ouviu da minha conversa ontem?

— Que você não se sentia bem – Ela havia basicamente resumido toda a conversa, sem especificar que sabia de tudo.

— E então veio falar comigo…

— Por que você se sente preso em casa? – ela interrompeu.

Ele a olhou intensamente.

— Não posso responder a isso, My Lady. – a conversa estava ficando mais intensa.

Ela se deu conta de que se tratava de uma pergunta pessoal, então trocou as palavras.

— Tem algo que eu possa fazer?

— Só conversar com você ajuda bastante… Você está melhor desde a última vez que conversamos?

— Bem melhor. Tem mais alguma coisa te incomodando?

— Nada que você possa saber… E… – ele passou alguns segundos calados, a boca entreaberta, na dúvida se completaria ou não a pergunta, resolveu terminar, já que já havia começado – Como vai aquele menino? – disfarçou o ciúmes em sua voz, que soou magoada.

— Que menino?

— O que você falou uma vez… Vocês tem alguma coisa?

Ladybug se deu conta do que ele estava falando, não sabia se ria ou se saía correndo.

— N-não. Não temos nada… Ele me vê só como uma amiga, eu acho…

— Bem, ele não sabe o que está perdendo.

Ela deu um meio sorriso e se levantou.

— Se suas perguntas já chegaram a esse nível, acho que já podemos nos despedir, ainda temos que dormir…

— Sim – Ele se levantou, mesmo que tivesse concordado, não planejava dormir tão cedo – Vejo você depois, Bugaboo – Ladybug se despediu e rumou à sua casa. Chat observou-a ir até sumir de seu campo de visão.

A tristeza voltou a tomar seu corpo, sentiu-se bem enquanto estava com ela, mas ao estar sozinho novamente foi como se ela houvesse ido embora e levado sua alegria. Não restava mais nada a fazer além de voltar para casa, já estava tarde e apesar de não estar com sono, o cansaço era discrepante, ao menos poderia sentir-se assim deitado em uma cama macia e quente.

A noite lhe rendera informações importantes. Sentia-se mais próximo de Ladybug, como se de amigos eles tivessem passado para melhores amigos, ela agora era uma pessoa com a qual ele poderia falar sobre qualquer coisa, assim como poucos em sua escola. Não conseguiu evitar pensar sobre o que ela lhe falara sobre o menino que gostava. Ele a via apenas como uma amiga, quem em sã consciência veria uma garota como aquela apenas como uma amiga? Ele suspirou pesadamente, desejou que as coisas fossem diferentes. Será que ele mesmo não deveria parar de insistir em alguém com quem não tem a mínima chance? Talvez houvesse alguém que pudesse gostar dele como ele gosta dela. Apesar de ser tão difícil, ele não queria desistir, gostava de gostar dela, talvez os ventos mudassem a qualquer momento, de qualquer forma ser um dos melhores amigos dela e tê-la por perto estava bom o suficiente para ele.

Pouco antes de adormecer, sentiu-se grato por ela ter compreendido, mesmo que não concordasse muito, que ele precisava sair de casa sempre que se sentisse desconfortável, era o melhor que podia fazer para não enlouquecer. Mesmo que ela não fosse se encontrar com ele tão frequentemente quanto ele gostaria, Chat Noir possuía outros amigos, ou melhor, uma outra amiga, alguém que lhe ofereceu ajuda não só como super-herói, mas para o Adrien. E ele agora achou-se livre para poder visitá-la quando quisesse. E, com esse pensamento, adormeceu com um leve sorriso preso aos lábios.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.