Ruído e conforto

Capítulo Único


Quando Garon decidiu por estender seus negócios, adquirindo a lavanderia da localidade, Leo prontamente se disponibilizou para o serviço, aborrecido que estava da constante disputa que Garon o fazia ter com seu irmão mais velho Xander.

Desse modo, como havia prometido ao pai, estava em frente ao lugar indicado a ele no dia anterior.

Era uma lavanderia cujo o antigo dono possuía diversas dívidas vencidas, situação que se revelou favorável para sua família ter a aquisição do espaço.

Pareceu-lhe que teria mais trabalho do que havia julgado a princípio, contudo, Leo não desanimou.

Durou semanas para que as máquinas quebradas fossem reparadas ou trocadas, assim como para não haver mais nenhuma teia de aranha disposta entre os cantos. Também não podia esquecer, claro, das entrevistas para ter um pessoal novo e experiente.

Não havia como seu trabalho não oferecer resultado ao fim, mas foi justamente o que aconteceu, sem nem mesmo uma única alma viva frequentando aquela lavanderia novinha e na legalidade.

Quer dizer, havia aquele rapaz suspeito, de sorriso zombeteiro, que geralmente usava uma das cadeiras de espera para ler um livro, perto da abertura da lavanderia, o que poderia lhe responder algumas de suas questões.

Parecia-lhe intimidador o suficiente, com aquele único olho a mostra, para que sua clientela, estranhamente já acuada, deixasse de existir como possibilidade.

Mas não poderia julgar a personalidade do homem apenas com esses dados. Então, ao ver que se limitar a observar o outro naquela mesma dinâmica, de ler livros e espantar as pessoas com o olhar, não o levaria muito longe, Leo se aproximou com o sorriso mais cortês que tinha e disse:

— Bom dia, não acho que já tenha te visto colocar qualquer roupa para lavar aqui.

— Oh, realmente. — O homem disse, mais simpático do que Leo poderia ter pensado. — Mas é reconfortante ouvir o som dessas máquinas trabalhando. Me ajuda a pensar em imagens específicas, então não podia evitar ficar muito tempo por aqui... tenho ideia do motivo do senhor vir falar comigo, caro dono... Leo. Mas sinto que não poderei atender aos seus anseios. Esse motivo que tenho para ficar aqui é mais forte do que minha vontade de ganhar a sua simpatia ou compaixão ou entendimento.

— Ora, e que motivo seria esse por acaso? — Leo disse, arqueando uma das sobrancelhas, sem entender. — Sabe que eu posso simplesmente chamar os seguranças para te retirar daqui, não?

— É algo evidente considerando quem sua pessoa é. — O homem disse, assentindo com um sorriso. — Mas caso faça isso o mistério que te aflige pode vir a se revelar tarde demais.

— Então você sabe? Tem alguma coisa haver com seus motivos? — Leo insistiu, a opinião sobre o homem piorando a cada minuto.

— Quem sabe. — O homem disse sem se abalar, guardando o livro, que na verdade era um caderno dando uma segunda olhada, na bolsa que trazia com ele. Então, se levantou da cadeira, com a alça da bolsa em um dos ombros, e seguiu para a saída, sendo seguido por Leo que estava intrigado com as ações do homem e o próprio.

Que surpresa ao descobrir que realmente não era Niles, mas a fonte da letra do nome da loja, do lado de fora! Odin, lhe contando os pormenores, escondidos por conta de ter sido o causador de tal situação e, como não queria mostrar sua falha diante de seu chefe e amigo, pediu o apoio dos outros funcionários que aceitaram, com alguma relutância e suborno, claro, apenas percebendo o que fez pela opinião e conselho desses mesmos colegas, lhe deixou a par de tudo, finalmente. Então, resolvido esse mistério, como bem previu, os clientes vieram e o funcionamento do local seguiu com tranquilidade.

Só que havia mais mudança: desde que tinha resolvido o caso tinha visto aquele homem apenas mais uma vez, que finalmente soube se chamar Niles, mas apenas pela última mensagem que o rapaz deixou nessa última vez na tiara preta que Leo usava, sem que tivesse percebido que o outro havia colocado ali, e que deixou Leo mais afetado do que imaginava quando descobriu. Quer dizer, ele realmente tinha achado estranho que o outro houvesse sumido quando disse que não se importaria com a opinião dele desde que ficasse. Mas aqueles dizeres de bela letra no pedaço de papel acabaram por ser mais reveladores do que preferiria:

“Você tinha perguntado pelos meus motivos. Meus motivos são mais obscuros que esse mistério que te afligia. Se souber onde está se metendo...” E um endereço.

Não imaginava o que esse tipo de motivo teria haver com as “imagens específicas” que tinha ouvido da boca do outro. Talvez não tivesse nada. Quem sabe fosse um escritor ou algo assim?

O que teria haver o barulho das máquinas e uma queda ou amor ou fosse lá o que aquele cara estivesse pensando dele? O reconforto de um ruído desconfortável... talvez, apenas talvez, aquele ruído lembrasse do sorriso de Niles, e o reconforto que isso causava também.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.