Run for Love

Capítulo IV - Armário


Dalla imaginou que Thomas fosse ficar resmungando, desnorteado, chateado ou talvez até preferisse seguir caminho sozinho sem ela, mas diferente disso ele estava bem, sim bem. Parecia uma definição boa para ele. Andava, olhava o céu, estava determinado, quieto. Não haviam trocado uma sequer palavra desde que abandonaram o hospital (e seus amigos também) ele não a respondeu quando tocou no assunto, e foi assim que ela percebeu que a melhor coisa a se fazer era se manter calada. Enquanto isso Thomas olhava para a garota que parecia viajar para outro mundo, ele estava bravo por ter deixado seus amigos para trás, mas não havia jeito, a culpa era dele. Foi ele quem abandonou Minho naquela noite, e foi nessa de procurar Minho que acabou envolvendo todos os outro nessa também. Não tinha o que ser feito além de correr atrás do prejuízo, salvar seus amigos era seu único objetivo, e podia custar o que custar, ele conseguiria. Mas naquele momento, ele não estava pensando nisso, apenas analisava o rosto sereno de Dalla e a forma como ela respirava de forma calma, ela desfilava no deserto como se desfila em uma passarela. Não fazia a menor diferença se ela estava suja ou não, ela tinha um glamour próprio. E isso o irritava, por que ele já estava respirando pela boca, cansado, com sede, ele já estava pronto para pedir para descansar e ela parecia intacta. Pensou por um momento se a garota era real, já havia ouvido falar sobre ilusão.

— Por que está me olhando desse jeito? – A loira perguntou puxando os cabelos para cima na tentativa de prende-los em um coque mal feito.

— O que? Que jeito? – Ele piscou algumas vezes a encarando, percebeu que em seu pescoço havia suor, e concluiu que humana, pelo menos, ela era.

— Desse jeito. – Ela o olhou e ele sorriu de leve.

— É que você, bom, não aparenta ter andando pelo deserto durante 3 dias. – Ele comentou a fazendo sorrir.

— Cresci andando pelo deserto. É questão de controlar a respiração, saber que existe uma balança que mantem sua respiração equilibrada. – Ela bufou. – Você está cansado? Quer parar? – Ela indagou com tranquilidade, a memória de seus amigos sendo arrastado se instalou em sua mente, ele negou com a cabeça. Ela deu de ombros. – Uma hora você se acostuma com as constantes mudanças, em fugir sempre, em não ter realmente uma casa. – Ela sorria de canto, como se visse graça em suas palavras. O silencio dominou o momento novamente, Thomas olhou para o horizonte pensativo.

— Isso vai acabar. – Disse ríspido. – E sou eu quem vai acabar com eles.

— Sério? – Ela soltou um riso ajeitando a mochila nas costas. – Não queria te decepcionar, mas você ser imune não te transforma em um super-herói.

— Se eu não conseguir, vou morrer tentando. – Disse por fim fazendo com que Dalla engolisse a seco.

— Então... – Depois de longos minutos ela se pronunciou. – Temos algumas horas até escurecer e digamos que onde estamos não é o melhor lugar para se estar ao anoitecer. – Thomas olhou ao redor. Ele lembra que havia passado por ali, pelos destroços de prédios, pelos destroços do que restou de uma antiga cidade. Não naquele exato lugar, mas havia passado por ali, não estavam mais tão longes quanto antes... pelo menos, era o que ele achava.

— Cranks? – Indagou olhando para ela que assentiu pegando sua garrafa de água para umedecer a boca. – E o que vamos fazer?

— Não sei. Podemos continuar andando, o problema é se eles nos seguirem.... Não temos folego nem forças o suficiente para corrermos.

— Podemos achar um lugar seguro pra ficar enquanto está claro. – Sugeriu.

— Isso vai contra a lei que diz “Thomas nunca tem planos”. – Ela o olhou de relance.

— Isso é mentira – Ele disse e ela murmurou um “aham” e foi andando na frente.

Não foi difícil achar um lugar para ficarem, escolheram um dos prédios, um quarto sem crancks com poeira e um armário junto com janelas que traziam a claridade. Poderia ser considerado um sistema ruim de segurança, mas foi tudo que conseguiram pensar: Quebraram as janelas para que quando amanhecesse a claridade expulsasse os talvez cranks que entrassem, deram um jeito de trancar a porta usando uma cadeira velha, mas sabiam que não era o suficiente, por isso decidiram que quando escurecesse entrariam no armário e passariam a noite lá dentro, não era espaçoso e provavelmente não era confortável, mas conseguiriam se trancar do lado de dentro, e era um ótimo esconderijo e mais seguro, pelo menos quando planejaram, parecia um bom plano. Quando o céu estava indo de seu tom alaranjado paras um azul escuro eles entraram no armário azul, e ficar tão próximos um do outro era realmente constrangedor.

— Acho que ficar aqui dentro, abafados e de pé não é uma ideia tão boa assim. – Ela comentou. Thomas rio no escuro, tanto por seu comentário quando por sentir o hálito da loira com cheiro de menta. Lembra de ter visto ela guardar na bolsa uma pasta de dente, e roubou um pouco. Não parecia certo passar 12 horas ali dentro jogando um hálito horrendo em seu rosto quando a mesma se preocupou com isso também. – Já estou ficando com os pés doidos. – Resmungou outra vez.

— A gente entrou não faz nem meia hora. – Ele respondeu. Ela percebeu o seu hálito, mas não comentou sobre.

— E daí? Não posso ficar cansada? – Retrucou se movendo no pequeno espaço. Thomas sentiu os seios da garota contra seu peito, as mãos dela esbarrarem nas suas, e o que ele podia fazer sobre? Era um pouco assustador, não sabia como reagir a toda essa proximidade. Toda a relação que ele havia tido com o sexo oposto havia sido com Teresa, e não havia sido grande coisa. Um barulho na porta fez com que ambos engolissem até mesmo a própria respiração. – O que foi isso? – Indagou preocupada e outra batida forte na porta.

— Fica quieta. – Sussurrou Thomas, mas a terceira batida veio acompanhada de um grunhido e o barulho da porta sendo derrubada fez Dalla se agitar e Thomas puxou seu pulso. Grunhidos, passos agitados. Era possível ouvir e sentir tudo, era apavorante, não se sentiam seguros ali dento agora. Dalla queria sair e enfiar algumas balas em alguns Cranks, por outro lado sabia que era suicídio. Ela espirrou, Thomas fechou os olhos. Péssima hora para ser humano. Grunhidos de novo, passos acelerados e dessa vez era mais que um, eles sabiam. O armário foi em cheio ao chão. Dalla tampou sua boca e a boca de Thomas com a mão, nenhum barulho foi reproduzido. O lado bom? A porta caio contra o chão, seria mais difícil deles os tirarem dali. O lado ruim? Seria meio difícil sair dali no dia seguinte, e ficará mais difícil respirar de repente. Dalla cairá por cima de Thomas, e eles estavam preocupados de mais para perceber o quanto isso era constrangedor, por isso, depois que todo o alvoroço do momento passou, Dalla dormiu apoiado no peito de Thomas, e Thomas dormiu apoiado ao chão.