Quando Sieghart conheceu Gaon, muitos séculos atrás, foi por meio de rumores.

Existiam algumas lendas sobre a quarta deusa, aquela que se sacrificou por seja-lá-qual-fosse-o-motivo que envolvia a Escuridão e um Eclipse ou qualquer coisa do tipo, e uma ou outra linha falava sobre ela reencarnar. Nada além disso. Registros escritos costumavam ser essencialmente inúteis naquela época.

Mas o boca-a-boca, a famosa “fofoca”, era algo que Sieghart afirmava raramente falhar. Não boatos mal intencionados ou lendas contadas para assustar ou acalentar crianças ao anoitecer, mas as histórias contadas por parentes de pessoas que visitaram tal lugar e que ouviram de lá tal história de outra pessoa que já passara por alguma situação. Isso sim era útil.

E foi assim que Sieghart chegou a Gaon.

Os rumores apontavam para um lugar em meio ao nada de Arquimídia, muito afastado do lugar que um dia já foi Calnat ou das intrigas que os Anões e os Elfos-Negros tanto gostavam que se meter. Também era muito distante do que costumava ser a base dos Highlanders, mas Sieghart não queria pensar sobre aquilo.

Gaon era um vilarejo perdido, tão escondido e tão afastado de tudo que o Imortal se questionava como era possível que algum mortal tivesse conseguido chegar até lá algum dia. Mas eles chegaram, os rumores existiam e ali estava o vilarejo.

As pessoas de lá eram legais e simpáticas. Não recebiam muitos forasteiros, então sempre os tratavam muito bem, e Sieghart estava grato por aquilo. Descanso era mais do que bem vindo.

Mas o ponto sobre Gaon não era uma vila no meio dos confins do mundo, mas sobre quem aquela vila protegia. Os moradores não negavam os rumores, mas também não os confirmavam.

Então, em sua primeira visita, Sieghart apenas aproveitou da hospitalidade local e se informou um pouco sobre a medicina dali - sempre era muito útil - e foi embora, sem se preocupar em confirmar ou negar qualquer rumor, apesar de ter ido até ali com base neles.

Na segunda visita, algumas décadas depois, ele foi igualmente bem recepcionado. A maioria das pessoas de sua primeira visita já havia falecido, e as que ainda estavam vivas tinham sido muito novas para se lembrarem especificamente de si. Por aquele motivo, ele estava seguro.

Dessa vez, porém, ele perguntou sobre a tal lenda da reencarnação da deusa. Não tinha vergonha em mostrar interesse; tinha certeza de que todos os outros que já conseguiram chegar ali estavam atrás da mesma coisa.

Confirmaram o boato, mas ninguém se dispôs a apresentá-lo à suposta reencarnação. Então, ele partiu, tendo a certeza de ter achado alguém familiar.

Na terceira visita, ele não precisou comentar ou perguntar sobre alguém divino ou alguém que carregava um selo de uma deusa desconhecida pelo mundo. Dessa vez, ele tinha certeza de que aquela garota era familiar. Um pouco mais nova do que em suas últimas visitas, sim, mas os cabelos brancos, os olhos azuis e os sorrisos grandiosos, além da forma devota com que era tratada por todos da vila, não deixavam dúvida sobre sua identidade.

Agnécia. Ele quase podia ouvir os rumores mais uma vez.

Assim, aparentemente por nenhum motivo, Sieghart virou uma visita constante em Gaon.

Agora as pessoas já sabiam que ele era um Highlander, agora a reencarnação da deusa já confiava nele, e a cada visita ele aprendia algo novo sobre ela.

Agnécia sempre reencarnava como uma garota, sempre com a mesma aparência, mas com nomes, personalidades e sonhos diferentes.

As meninas retinham as memórias de suas vidas passadas. Isso mantinha o estudo e descoberta de seus próprios poderes em progresso de forma linear, além de ajudar na proteção da vila também. E era isso que permitia que Sieghart se tornasse um grande amigo delas.

Ruby, Maeve, Lyre, Hannah, Gaia, Agnes. Todas elas se lembravam de Sieghart, e apreciavam suas visitas constantes, assim como suas histórias sobre Ernas e as eventuais outras dimensões que ele acabava encontrando.

Ele raramente passava mais do que alguns anos sem as visitar. Às vezes, o intervalo era muito curto ou muito longo e ele encontrava uma criança ao invés da adulta que esperava encontrar, mas crianças nunca foram um problema para ele, então brincava com ela no que podia e contava mais histórias.

Por isso, quando decidiu que se uniria à Grand Chase para deter Astaroth, ele já tinha em mente visitar Gaon depois de terminar. Mas não esperava, de maneira nenhuma, encontrar Lin após todo o caos da luta.

Ela o reconheceu. Ele via isso nos olhos claros e no jeito animado como acenou e gritou para que o grupo a esperasse e a acolhesse. Calnat não existia mais, ela devia saber por suas histórias, mas ela também não sabia como viajar, para onde ir, e Gaon não era mais um lugar seguro onde poderia se sentar e esperar que ele aparecesse em breve, depois de quase 20 anos sem uma visita.

Então, ele apenas perguntou seu nome e a ajudou a se enturmar com o grupo. O fator “reencarnação da deusa esquecida” devia ser introduzido aos poucos, então ele comentou por cima já ter visitado o lugar e se deparado com Lin alguns anos antes.

Não era mentira. Talvez o tempo estivesse sendo distorcido, mas não era uma mentira.

Ele nunca explicou como a conhecia, e Lin era muito mais enérgica e sociável do que suas últimas vidas, então não havia com o que se preocupar. Logo, ela era amiga de Elesis, havia encontrado uma pessoa para encher as paciências, e tinha mais amigos ao seu redor do que nunca teria achado possível.

Mas Sieghart era o primeiro a saber a verdade; era ele quem, durante os lanches que o grupo fazia, servia uma caneca de chá de ameixa para ela, ciente de que era uma bebida tradicional de Gaon, e ficava satisfeito com o sorriso agradecido que ela lhe direcionava.

Quando a verdade veio à tona, não muito antes da profecia dos 12 discípulos, ele foi paciente em apoiar a garota e confirmar as perguntas que os outros tinham a fazer. Não que soubesse muito mais do que a própria Lin - cujo acesso às memórias de vidas passadas ainda não era pleno como poderia. Mas tudo bem, eles tinham tempo.

Ele havia sido seu amigo mais recorrente por anos - séculos - assim como ela fora a dele; depois de 6 séculos vagando por aí, ter um rosto conhecido, embora não da maneira convencional, e alguém com quem pudesse falar sobre qualquer coisa, era mais do que poderia pedir às deusas.

Agora, ele também havia encontrado para ela uma nova família, a oportunidade de viajar os mundos e as dimensões que tanto narrara por anos, e não poderia ter recompensa melhor do que vê-la brilhar em um sorriso.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.