— O que você quer?

Levar um tiro, com toda certeza doeria menos que ter esse olhar de indiferença de Jake direcionado a mim. Senti-me a pior pessoa do mundo e talvez eu fosse.

Tirei meus óculos escuros rezando que minha maquiagem escondesse bem as marcas em meu rosto. O fitei olhos nos olhos.

— P-posso entrar?

Ele me encarou por alguns segundos que pareceram durar uma década. Seus olhos perscrutaram meu corpo que estava moldado em um vestido preto que ia até o joelho e saltos baixos, também pretos. James obrigou-me a vestir isso. Mais parecia que eu estava vestida para um enterro.

Por fim Jake deu de ombros, como se eu não fosse nada. Deu-me as costas e entrou em sua casa. Pisei para dentro e fechei a porta atrás de mim.

— Seu marido sabe que você está aqui? – indagou-me ainda de costas.

Segurei o aperto em meu peito e as lágrimas. Observei suas costas largas abraçadas pela camisa azul escura, seu olhar deveria estar perdido nos pinheiros verdes que se viam através da enorme janela de sua casa. Sentia-o tão longe, literalmente.

— Eu realmente não sei o que dizer, Jake.

Ele virou-se.

— Não diga nada. Nem sei porquê está aqui.

O fitei nos olhos azuis, pareciam extremamente tristes, porque talvez realmente estivessem. Eu não era a única devastada aqui pelo visto.

— Eu… – limpei minha garganta lembrando-me do que vim fazer – Eu vim para que esclareçamos as coisas.

Ele riu debochado.

— Esclarecer? Esclarecer o quê, Elizabeth? – o homem se aproximou em seu tamanho – Tudo está claro aqui, pelo menos pra mim.

Sua mão chegou na minha, observou a aliança e deu-me um olhar subjetivo. Puxei minha mão, juntamente da aliança dourada.

— Está claro pra mim. Vejo que se reconciliou com seu marido.

Seu cheiro chegava a mim, quase podia sentir seu calor, se eu apenas desse um passo, meu peito encostaria no dele e era tudo que eu queria, o acalento do homem que amo.

— Vim para lhe pedir perdão.

Ele riu zombeteiro dando um passo pra trás.

— Perdão? Acha que é fácil assim? Do nada você aparece, muda minha vida drasticamente e pronto, acabou. É assim pra você? Pra mim não.

— O que você quer que eu faça?

— Eu não sei. O que você veio fazer aqui? – ele tinha os braços abertos numa indagação.

Umedeci meus lábios e suspirei.

— Me perdoe, Jake. Eu não mereço você, não mesmo. Você não entenderia…

— Tente me explicar – interrompeu-me.

A minha vontade era de contá-lo tudo, tentar convencê-lo. Dizê-lo que eu estava nas mãos de um fugitivo, que teríamos de correr agora pela porta dos fundos e chamar a polícia, porém meu medo era maior.

— Apenas me perdoe, Jake ou… não. Me odeie, você quem escolhe. Apenas saiba que eu… eu te amo como nunca amei ninguém.

Meus olhos transbordavam em lágrimas. Eu fazia tudo ao contrário, deveria estar desfazendo-me de Jake, mas é impossível, não com ele em minha frente, não com todo esse amor que sinto.

— Então por que voltou com seu marido? Por que está com essa maldita aliança?

Ele deu um passo em minha direção, recuei outro.

— Como disse, você não entenderia.

Ele assentiu em silêncio.

— É dinheiro, não é? A madame cansou-se da vida pacata de milionária, então resolveu tirar férias extraconjugais e o idiota aqui, – apontou para si mesmo – foi o escolhido da vez.

Uma raiva me abateu por ele pensar tal coisa de mim.

— Nunca! Isso não é verdade! Eu nunca te usaria, Jake. Nunca usaria ninguém.

— Não é o que parece, Elizabeth.

Suspirei para segurar-me dentro de mim, sentia-me quase explodir.

— Novamente imploro que me perdoe. Perdoe-me por ser desse jeito, nunca quis magoá-lo, eu me importo com você, mas…

— Não termine sua fala, não fale nada. Se veio aqui para praticar sua piedade comigo, perdeu seu tempo. Apenas… apenas vá embora.

Procurei seus olhos com os meus e podia ver-me, ele espelhava o que eu transparecia, estávamos no mesmo patamar, sentindo a mesma dor.

— Sim, Jake, é o que farei. Estou deixando Lincoln. Eu apenas achei que deveria vir e… eu não sei…

Ele soltou um suspiro exasperado. Afastou-se dois passos pra trás, como se segurasse para não cometer uma loucura.

— Você tem todo o direito – continuei a falar, tentando fitá-lo nos olhos – … de me odiar, porém não duvide de que fui verdadeira esse tempo todo.

Ele riu com escárnio.

— Verdadeira? Você mentiu. Mentiu pra mim, pra todos. Cada segundo você mentia, meu Deus, como fui idiota – ele fechou as mãos em forma de punho, mas logo conteve-se, tomou uma respiração – Ao contrário de você eu fui verdadeiro todo esse tempo.

— Eu fui verdadeira… em partes… Mas quanto a meus sentimentos, Jake – aproximei-me dele – Eu nunca menti sobre isso. Nunca menti quando disse que te amava.

O homem nada disse, apenas fitou-me profunda e longamente. Umedeceu os lábios e meneou a cabeça negativamente, como se ele brigasse consigo internamente.

— Vá embora, Elizabeth.

— Jake… – tentei tocá-lo, ele repeliu-me.

— Vá.

— Me escute, eu…

Sua mão achou me pulso e levou-me em direção a porta, ele não me machucava, até tocava com um tipo de repulsa como se eu tivesse um tipo de doença contagiosa.

— Já escutei demais – sua mão livre abriu a porta, colocou-me para fora da batente amadeirada, vi-me livre de seu aperto – Já ouvi e vi demais. Vá embora, volte com seu marido e nunca mais volte. Esqueça que existo, esqueça tudo que vivemos.

Abri minha boca para falar, mas vi que era o certo, estava feito, estava perdido. Assenti em silêncio, deixando uma lágrima escorrer.

— Tudo bem – balbuciei – Adeus, Jake.

Poderia jurar que vi um relance de culpa e arrependimento nos olhos azuis do homem a minha frente, porém o relance logo sumiu e o ódio voltou. Ele nada disse, apenas fechou a porta a sua frente, assim definindo nosso presente e futuro.

— Me perdoe, Jake – disse para a porta de madeira maciça, como se Jake ainda estivesse ali – Eu te amo.

Em passos pesados e dolorosos cheguei ao carro onde meu demônio me esperava. Havia um sorriso em seus lábios. Ajeitei-me no assento e fitei a estrada.

— Está feito.

— Sim, pude ver pela sua cara – seus dedos acharam meu queixo fazendo com que eu o fitasse – Oh, meu amor, estou orgulhoso de você. Não sabe o quanto a amo.

James beijou-me demoradamente nos lábios e quando sua língua pediu passagem, neguei-o. Virei meu rosto, afastando sua mão. Senti seus olhos amaldiçoados queimando meu rosto.

— Tudo bem, Elizabeth. Por hora… ficaremos nisso. Por hora! Lembre-se que você é minha esposa e tem deveres a mim.

Contive a repulsa em meu corpo.

— Vamos logo embora, James.

Ele sorriu dando ignição no carro.

— Agora a queridinha tem pressa. Deveria tê-la feito dar uma basta nisso tudo, muito antes.

Nem fiz menção de fitá-lo, não queria encarar aqueles olhos castanhos demoníacos.

— Você teve o que quis. Estou aqui, você me tem novamente. Por favor, vamos.

— Oh, como eu te amo, Elizabeth!

Mary

Dia seguinte

A casa de Elizabeth estava no mais absoluto silêncio, tudo trancado, nenhum sinal de vida. Pensei por um segundo, bom, era de tarde, ela não trabalha esse horário, então com toda a certeza do mundo deve estar com Jake.

Meneio a cabeça enquanto volto para meu carro. Lizzy é extremamente louca! Deus, enquanto seu marido maníaco está por aí à solta, a garota deixa-se envolver num relacionamento. É muito perigoso. Não quero nem pensar no que isso pode acarretar.

Preciso tirar Lizzy desta cidade o mais rápido possível, colocá-la sob um programa de proteção à vítima, ela não sabe do perigo que corre. Sou advogada, estou nesse ramo, sei bem como as coisas funcionam para esses criminosos malditos.

Vago pela minha antiga cidade, logo a frente avisto o bar onde Liz trabalha, no estacionamento vejo a caminhonete branca de Jake. Ela tem de estar lá dentro!

Estaciono numa vaga livre e em passos rápidos chego a porta amadeirada, entro no recinto vazio e vejo apenas um ruivinho no balcão.

— Estamos fechados, ruiva.

Entro mesmo assim no recinto, encaro-o.

— Eu sei, ruivinho.

— Então?

— Enfim, estou atrás da minha amiga, Elizabeth e bom, a caminhonete de Jake está lá fora, deduzi que ela estivesse aqui. Preciso muito falar com ela.

O garoto franziu o cenho, parecendo absorver minha rápida fala.

— Jake está lá no escritório – apontou com a cabeça a direção – Já aviso, ele não 'tá nada bem.

— Elizabeth não está aqui?

— Não mesmo, moça.

Pisco algumas vezes e umedeço os lábios.

— Posso falar com Jake?

O ruivo deu de ombros.

— Você pode tentar, mas como disse, ele não 'tá muito legal.

— Ok, obrigada.

Digo e ando em direção a um corredor, lá encontro três portas, opto pela entreaberta. Dous duas batidas.

— Jake? Posso entrar?

Não obtenho nenhuma resposta. Dou de ombros e termino de abrir a porta. Dentro do local acho um Jake de cotovelos na mesa e mãos ao lado da cabeça, segurando-a.

— Desculpe, Jake… fui entrando… – limpei minha garganta, ele ainda não havia me encarado – Bom, é que eu estou procurando Elizabeth. Ela não me atende, não está em casa…

— Ela não está aqui – interrompeu-me, pela primeira vez me olhando.

Soltei um riso sem graça.

— Sim, eu percebi. Mas sei lá, você com certeza deve saber onde ela está.

Ele demorou a me responder.

— Ela não está aqui.

Ok, isso está soando estranho.

— Sim, eu percebi, Jake. Ei, está tudo bem?

— Ela foi embora – o homem balbuciou.

Meus olhos se arregalaram. Será que entendi bem?

O quê?

No seguinte instante eu estava colada a mesa, fitando aqueles tristes olhos azuis.

— Ela foi embora. Partiu. Deu-nos as costas.

— Co-como assim? Jake, me explica isso! Agora!

Ele meneou a cabeça e encostou as costas na cadeira.

— Foi embora com seu amado marido…

Ai, meu Deus! – soltei exasperada.

—… Você sabia, não é? Que ela era casada.

Não consegui responder pois senti um choque percorrer meu corpo. Deus do Céu! Elizabeth com seu marido? Com James? E como Jake ainda estava vivo para contar a história?

— Jake, você é louco ou o quê? Meu Deus! Como a deixou ir? Elizabeth deve estar cavando sua própria cova uma hora dessas. James! James vai matá-la! Ou pior! – tapei meu rosto com as mãos – Merda! Eu a avisei! A avisei!

O homem franziu o cenho desencostando-se da cadeira.

— Do que você está falando?

Parei meu corpo eufórico e fitei-o.

— Precisamos encontrar, Lizzy. Agora!