O céu estava azul como um dia nunca esteve. Não sabia se era realmente a coloração normal ou se minha paz colaborava para ver o céu de tal maneira. As nuvens estavam longe, apenas alguns riscos brancos pelo azul anil. Perfeito; como um dia nunca antes notei.

Saí da janela e voltei minha atenção para as mulheres ao meu redor, uma delas vestida de noiva; Wendy.

— Meu Deus – exclamou a baixinha – Sinto como se meu coração fosse sair pela boca. Estou suando, estou tão feliz e esse vestido pinica demais – falou afobada alisando o vestido.

Rimos e nos aproximamos.

— Nada de suar, garota! – disse Selina passando os dedos delicadamente pelo penteado da noiva – Nada de desmanchar esse penteado, entendido? Apenas na lua de mel.

Toquei o ombro de Wendy antes de falar-lhe:

— É o seu dia, mas sinto-me tão feliz por você.

Não pude conter o leve marejar de olhos. Wendy estava linda naquele vestido branco, tudo ao redor parecia belo. Aquela coisa que apenas casórios têm, uma sensação acalentadora.

— Não se atreva a chorar, Elizabeth! – disse a baixinha fazendo um bico engraçado – Se você chorar eu choro também e como Selina disse, vamos manter nossas maquiagens.

Rimos e voltamos a nos aprumar, pois logo a cerimônia começaria.

Eu era uma das damas de honra, passei o dia todo com Wendy e as outras garotas. Mas o dia passou tão rápido e logo nos arrumávamos na entrada da igreja onde ocorreria a cerimônia. Sentia-me feliz ao fazer parte disso, pois era a primeira vez que seria uma dama de honra. Pensando agora, vejo de quantas coisas fui privada, algumas levianas.

Tarik já estava no altar, porém perguntava-me onde estariam os rapazes, por exemplo Jake. Logo ele aparece em seu terno azul-escuro, sorrio ao contemplá-lo a face, sorriso que me é retribuído. Beija-me os lábios e coloca-se ao meu lado.

— Você está radiante – falou admirando o longo vermelho que eu usava, qual realçava-me o corpo – Extremamente sexy – sussurrou a última frase para que apenas eu pudesse ouvir, então sinto sua mão apertar-me o traseiro. Ainda bem que éramos os últimos da fila.

Dei-lhe um tapinha no ombro.

— Jake! – o repreendi reprimindo um sorriso – E obrigada. Você está lindo. Adorei o penteado.

Toquei-lhe os cabelos levemente.

— Tudo para impressionar uma garota aí.

— Ah, é?

— Será que funcionará?

Fiz de conta pensar.

— Talvez sim. Que tal vermos depois da festa?

— Não me tente, Elizabeth.

Não lhe respondi, apenas comprimi um sorriso e aprumei-me esperando o momento mais esperado do dia.

Depois de algumas lágrimas teimosas e suspiros apaixonados, finalmente Tarik e Wendy saíram dali oficialmente casados. Mas era apenas o começo, pois a festa continuaria no salão. Lá chegando as pessoas sentiram-se livres para aproveitar.

Algumas horas passaram-se e viam-se já os mais alegres na pista de dança por conta da bebida. Um casal em especial, Mary e Mike. Sorriam e dançavam desengonçadamente no ritmo da música.

— Quer dançar? – assustou-me Jake numa indagação, virei o rosto para fitá-lo.

— Não sei dançar músicas agitadas. Quando tocar algo mais lento podemos ir.

O homem deu de ombros.

— Tudo bem, você quem sabe.

Mais uma vez o encarei e vi um mínimo risinho nos lábios. O que estaria ele a aprontar? Conheço bem essa face, conheço bem Jake, conheço bem o homem quem estou junto há meses. Ele esconde-me algo.

— Tudo bem? – o pergunto de sobrancelhas arqueadas.

— Tudo ótimo! – responde ele num sorriso grande.

Nada digo e me dirijo à nossa mesa, sinto ele seguir-me. Sentamo-nos à mesa, Jake passa o braço por sobre meus ombros e tombo minha cabeça um pouco abaixo de seu ombro, onde o perfume despregava-se de seu pescoço.

Toquei-lhe levemente a gravata preta de seda que usava, subi meus dedos em direção a seu pescoço, logo encontrei a veia pulsante. Jake estava absorto a minha movimentação, a meus toques, parecia estar concentrado em algo que acontecia na pista de dança, onde inclusive os noivos aproveitavam.

Na verdade, minha mente estava longe dali, muito longe. Mal acreditava na paz que me rodeava, nas coisas boas que experimentava. O desespero e dor pareciam meras lembranças, que não gostaria de provar novamente.

Havia se passado um mês desde o acontecido com James, onde o tirei a vida. Tive pesadelos por dias a fio e em todos quem morria era eu ou Jake, contudo eu acordava para a realidade e meu coração acalmava-se.

Sim, num momento senti culpa pelo que fiz a James, o tirei a vida, o matei. Mas também não posso negar o alívio que me abateu. Sinceramente, tento não pensar sobre, porque se pensar demais, sinto que posso enlouquecer e isso é minha vida passada. Tenho de enterrar meu passado doloroso e viver fervorosamente minha vida presente.

Minha mão desceu na camisa azul clara de Jake, coloquei os dedos sobre seu peito direito, onde levou um dos tiros. Haviam duas cicatrizes, uma ali e a outra na costela esquerda. Meu homem foi forte, salvou-me, resistiu, viveu por mim. Se ele tivesse morrido naquela noite, com certeza eu teria cometido alguma loucura, daí sim seria uma chacina completa.

Não foi o que aconteceu. Jake viveu, está bem, está comigo. Agora também traz cicatrizes consigo, porém diz não arrepender-se delas, fala que valeram a pena. “Eu faria tudo de novo por você, Lizzy. Levaria mais tiros se assim fosse.” Sorrio lembrando-me de suas palavras quando o confidenciei meu sentimento de culpa.

Por fim sorrio ao constatar seu coração pulsante sob meus dedos. O amo tanto que pareço uma dependente e não quero sentir-me assim, ao mesmo tempo que não há escapatória. O que temos é um amor pleno e leve, qual sempre almejei e pensei que um dia nunca alcançaria.

— Te amo – proferi lhe rodeando o pescoço com as mãos.

Encarei-o nos olhos azuis.

— Te amo – respondeu me beijando.

— Hora do buquê! – escutei Wendy gritar no meio da pista de dança – Venham!

Virei o rosto e deparei-me com a locomoção de mulheres.

— Você não vai? – indagou-me Jake.

— Não sei. Deveria?

Deu um sorrisinho de canto.

— Com certeza.

Dei de ombros e me dirigi para o aglomerado.

— Vamos fazer diferente dessa vez – falou Wendy com uma caixinha em mãos – Eu tenho algumas chaves aqui. Estão vendo aquela caixa? – apontou para uma sobre a mesa – Então, o buquê está lá dentro e apenas uma chave dessas abrirá a caixa. Façam fila, por favor.

Todas começaram a se arrumar apressadamente e eu tonta fiquei sem saber o que fazer.

— Vem, Liz! – Mary puxou-me para o final da fila com ela – Será que teremos sorte hoje?

— Eu não tenho sorte com essas cosias. Nunca ganhei um sorteio na minha vida.

A ruiva sorriu.

— Pare de ser tão pessimista. Vamos lá! Ânimo, mulher!

Ri meneando a cabeça.

Logo Wendy já estava ao nosso lado. Mary pegou uma chave e eu peguei outra, a última que lá se encontrava.

— Boa sorte, garotas! – exclamou Wendy sorrindo abertamente.

Uma por uma naquele salão tentou abrir a caixa, contudo nenhuma era certa. Quando vi sobrou apenas eu e Mary. Com certeza seria a ruiva a ganhar o buquê, pois eu não tenho sorte nenhuma para esse tipo de coisa.

A moça aproximou-se da caixa, tentou e sua chave não abriu a caixa.

— Acho que ela é sua, Liz – falou a ruiva dando-me espaço para abri-la.

— Será?

Aproximei-me introduzindo a chave que imediatamente abriu a caixa. A abri devagar esperando um belo buquê de flores, porém havia outra coisa ali dentro. Outra caixa, só que bem menor.

— O quê? – franzi o cenho pegando a caixinha vermelha aveludada.

Procurei pelas faces ao meu redor, todos sorriam como se compartilhassem de um segredo. Imediatamente procurei pelo olhar de Jake, qual sorria-me abertamente.

Meus dedos tremularam e meu coração disparou quando abri a pequena caixa e deparei-me com um anel. Era lindo, um diamante simples e solitário.

— Casa comigo?

Fitei Jake a minha frente. Ele tinha um sorriso no rosto, mas ao mesmo tempo uma apreensão quanto a minha resposta.

Minhas mãos estavam trêmulas e os olhos transbordando de lágrimas. Seria isso real? O amor de minha vida estava pedindo-me em casamento? Sim, estava.

— Sim – respondi o encarando nos olhos apreensivos – Eu caso.

Levei meu corpo ao seu num abraço terno, um abraço de cumplicidade, cheio de promessas, carregado de amor.

— Você é a melhor coisa que me aconteceu, Elizabeth – disse fitando-me nos olhos – Eu faria tudo de novo. Obrigado por estar comigo.

Senti minhas pernas bambas, porém não deixei que as mesmas me traíssem.

— Jake… Eu te amo tanto. Eu não consigo explicar em palavras… – comecei a chorar – Me desculpe.

Ele riu e pegou o anel da caixinha colocando em meu dedo, selando ali nosso compromisso. Noivos.

— Agora é pra sempre.

Assenti o abraçando e experimentando a sensação do anel em meu anelar.

— Pra sempre.

O futuro já estava selado, talvez desde a primeira vez que nos beijamos naquela festa quando eramos adolescentes. Nunca acreditei em Destino, mas decidi dá-lo um voto de confiança, pois Jake jazia ao meu lado.

— Quer ir a algum lugar especial? – perguntou-me meu noivo.

— Sim.

Agradecemos as congratulações que recebemos enquanto andávamos pelo salão. Alguns abraços, sorrisos, todos pareciam felizes por nós.

— Quem já sabia disso? – o perguntei dentro do carro.

— Quase todo mundo.

O fitei enquanto dirigia.

— Até a Mary?

— Até ela.

Uma luz clareou-se em minha mente.

— Agora entendo a estranheza de todos. Estavam a me esconder algo – olhei a estrada pela janela – Mas aonde você está me levando?

— Surpresa.

— Não sou adepta de surpresas.

Sua mão achou a minha e entrelaçou nossos dedos.

— É por uma boa causa.

Nos fitamos e sorrimos.

— Sim, uma boa causa.

Logo estávamos naquela colina de anos atrás. A cidade parecia a mesma em contraste com a noite, as luzes, o vento gelado de encontro com o calor. Era perfeito.

— Parece que nada mudou – falei para Jake ao meu lado.

— Algumas coisas não mudam.

Assenti fitando a paisagem. Era belo, calmo e ao mesmo caótico. Uma mistura de sentimentos, como em meu peito. Fitei o anel em minha mão, qual significava muita coisa, muitas promessas.

— Se arrependeu? – indagou-me num tom cômico – Veio o caminho todo rodando esse anel no dedo.

— Oh, não! Claro que não. Nunca.

O abracei aconchegando minha cabeça em seu peito, onde podia ouvir seu coração bater calmamente.

— Lembra daquela noite? Eramos tão jovens – divaguei.

— Claro que lembro.

— Quem diria que estaríamos aqui, não é? Novamente. Mas numa situação totalmente diferente.

Levantei o rosto para olhá-lo.

— Devia ter te sequestrado aquela noite. Assim você não teria voado para tão longe de mim – falou acariciando meu rosto, sorri.

— Mas eu voltei, não voltei? Alguns acreditam em Destino e essas coisas.

— Talvez eu também acredite agora.

O alcancei num beijo voluptuoso, buscava senti-lo, agradecê-lo por tudo que fez por mim, mas as palavras pareciam poucas, ainda bem que tínhamos uma vida toda para demonstrar isso.

Sentamo-nos no gramado verde ainda sentindo um ao outro. Logo estávamos deitados, com os braços enroscados e excitados.

Nos amamos ali, no relento da noite, as estrelas como testemunhas de nosso amor. Era apenas o começo e eu sentia-me cheia. Seria possível ter mais?

Apoiei-me no peito de meu amado.

— Obrigada, Jake. Por me amar, por me entender, por estar comigo, por não me deixar.

Senti seus dedos dedilharem minhas costas.

— Eu que devia lhe agradecer.

Sorri e o beijei levemente nos lábios.

— Temos bastante tempo pra isso.

— Que tal começarmos por agora?

Subi sobre seu corpo, sentindo o calor delicioso que lhe emanava do tronco.

— Não vejo problema quanto a isso – o beijei terna – Sou completamente sua, Jake. Até meu último dia. Eu amo você.

— E eu sou seu, Liz – acariciou-me as costelas lentamente – Eu te amo, de todas as maneiras possíveis.

Nos beijamos novamente, selando ali nosso futuro.

E com a noite como nossa testemunha, nos amamos mais uma vez, dessa vez diferente de todas. Pois estávamos juntos, dessa vez sem nada para nos atormentar, tudo corria a nosso favor, finalmente. A vida, os planos, os amigos… Enfim plenamente um do outro, enfim jovens e apaixonados.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.