Ruined Dreams

I Don't Wanna Go - Part II


Eu encarava a fachada rústica do bar com interesse. O som que saía de lá de dentro era convidativo, as motos e carros estacionados na frente denunciavam a quantidade de pessoas que lá dentro estariam.

— Old Paul's? – indaguei sobre o bar.

Ele abriu um sorriso lindo em minha direção.

— Algum problema?

Ainda estávamos em sua picape e tê-lo sorrindo assim, tão perto de mim, fazia-me querer agarrá-lo agora mesmo, mas não queria parecer nenhuma louca… Apenas deixe ser.

— Tenho dezessete anos, lembra? Não posso entrar aí – apontei pro recinto.

Ele fez uma feição de “não se preocupe”.

— Nunca ouviu dizer que regras foram feitas para serem quebradas? Então…

Meneei a cabeça sorrindo pra baixo. Jake era o típico bad boy de que haviam me falado. Nunca ligando para regras e fazendo o que lhe desse na telha e bom, isso de certo modo, me atraía nele. Eu o invejava por ser tão espontâneo, ele parecia não temer nada.

— Sim, você tem razão – abri a porta da picape – Estamos esperando o que para entrar então?

Jake deu-me mais um de seus belos sorrisos e deixamos o carro. Começamos a caminhar em direção ao bar e na medida que nos aproximávamos a música ficava mais audível. O garoto passou o braço por cima de meus ombros antes de adentrarmos o lugar.

— Preparada para se divertir? – indagou ao pé do meu ouvido.

Fechei os olhos inspirei o ar para meus pulmões, ele me deixa louca. Procurei seus olhos com os meus.

— Estou sempre preparada.

Dito isso a diversão começou. Eu nunca imaginei que isso um dia poderia acontecer, tudo estava indo tão rápido, como um sonho, mas eu não estava reclamando. Deixei-me levar pela liberdade momentânea, meu corpo pedia por isso.

Deixei que ele me mostrasse tudo, me ensinasse tudo. O deixei que me mostrasse a diversão que a bebida traz, a diversão de se beijar calorosamente num canto de um bar cheio, a sensação de que eu poderia fazer qualquer coisa.

Seus amigos eram incríveis, garotos mais velhos que tinham histórias doidas para serem contadas. Copo de bebida vai, copo de bebida vem, nós nos beijávamos a cada instante. Isso era doido e gostoso, precisava absorver cada segundo, pois seria único e triste no final.

Em menos de duas horas eu já sabia jogar sinuca e pôquer graças a Jake. O que mais ele estava disposto a me ensinar nessa noite quente? Fechei meus olhos por um segundo e fantasiei algo insensato, mas agora não tão impossível de se acontecer.

Eu poderia jurar de joelhos, essa era a melhor noite da minha vida.

Sentia minhas bochechas doerem de tanto rir e estava um tanto zonza por conta da bebida forte. A música que tocava, era um hit muito antigo de Nancy Sinatra, Summer Wine. Músicas assim por aqui eram comum, todos conheciam.

— Vem, vamos até o balcão.

Jake pegou minha mão e guiou-me até o balcão cheio do bar. O garoto parecia feliz, sorridente. Não sabia se por conta da bebida ou dos amigos, talvez fossem os jogos ou talvez, minimamente, por minha causa.

O ouvi pedir dois shots. Eu já havia bebido demais essa noite, minha cota estava no máximo.

— Acho que já bebi demais, Jake – falei perto dele, para que ele ouvisse bem.

O garoto negou com a cabeça e segurou meu queixo, seus olhos firmes nos meus.

— Vamos fechar a noite com chave de ouro – beijou rápido meus lábios – Estou feliz que você está aqui.

Sorri abertamente ao ouvir aquela afirmação, qual fez meu coração pular dentro do peito.

— Também estou feliz, muito.

— Então vamos aproveitar.

O bartender já havia nos entregado os shots de whiskey Bourbon. Peguei o pequenino copo, Jake fez o mesmo. Brindamos e mandamos a ver.

Senti o líquido descer rasgando pela minha garganta, mas a sensação que vinha logo depois era deliciosa, fazendo-o querer mais um gole daquela bebida amaldiçoadamente boa.

Numa euforia repentina, agarrei Jake e o beijei. Ali no balcão do bar, com jovens e adultos bêbados ao nosso redor, risos e falas altas soavam enquanto nos beijávamos, mas estávamos alheios. Nossas concentrações estavam focadas uma no corpo do outro.

Nos apartamos com os corpos quentes de desejo, tinha algo que me puxava para ele, um ímã, uma sensação nova estava em meu corpo, o entorpecia.

— Que tal darmos uma volta por aí? – perguntou rente ao meu ouvido, ato que me fez ficar arrepiada.

Umedeci meus lábios antes de falar:

— Seria ótimo.

Nos despedimos dos amigos de Jake que praticamente caíam de bêbados dentro e fora do Old Paul's. O bar era uma grande festa de amigos, onde todos estavam convidados a comparecer e se divertir.

Saímos dali em passos lentos, o garoto me segura em seus braços fortes, quase posso ver estrelas, não identifico as coisas muito bem, estou um pouco alta também. Olho pra Jake ao meu lado, ele parece calmo e sereno, mas o sorriso não larga seu rosto.

Adentramos sua picape Chevrolet C10 e damos mais alguns beijos quentes antes dele dar partida no automóvel. Isso parecia um gostinho do céu na terra, eu queria mais, mas como obter mais? Se eu soubesse que ficaríamos tão próximos tão rápido, teria o abordado antes, mas como sou uma imbecil deixei para fazê-lo apenas agora, quando já é tarde demais…

Verifiquei as horas: 3:30 da manhã.

— Tem hora pra voltar? – indagou Jake e eu ri.

— São quase quatro horas da manhã, óbvio que não tenho hora pra voltar.

Ele riu assentindo com a cabeça.

— Faz sentido.

Olhei pra baixo e mordi meu lábio, levantei o rosto e foquei meu olhar em seu rosto.

— Pra onde estamos indo agora?

— Surpresa.

— Eu odeio surpresas. Me fale pra onde está me levando.

Ele riu, estava gostando de me atiçar.

— Não, vai ter que esperar.

Bufei e encostei minhas costas no banco, teria de esperar e eu odiava esperar, principalmente não saber das coisas. Sem contar que eu estava eufórica e com o garoto que eu julgo ser o meu amorzinho ao meu lado. Penso que vou explodir, minha vontade é de agarrá-lo e pedir que pare no acostamento, tire minha roupa e me dê aquilo que almejo no momento. O que fiz, foi apenas olhar pela janela e ver a estrada passar rápido.

Saímos do centro da cidade, adentrávamos a interestadual deserta, repleta de um belo nada. Apenas a lua ao longe iluminando a noite e os faróis do carro. Alguns carros passavam por nós, iluminavam minha face, para depois cair na escuridão novamente.

— Está com fome?

Perguntou Jake me olhando. Apenas assenti com um movimento de cabeça. Ele parou num posto de gasolina isolado no meio do nada, caminhamos até a pequena loja de conveniências.

Observei o moreno pegar algumas guloseimas.

— Vai querer beber o quê? – perguntei me aproximando dos refrigeradores.

Logo senti sua presença atrás de mim.

— Esse aqui – pegou um Mountain Dew.

Encarei a cena. Quem diria. Jake gostava de Mountain Dew, refrigerante de limão, qual eu acho ter um gosto horrível.

— Vou ficar com essa Coca-Cola – peguei a lata.

Então andamos até o balcão, qual um garoto ruivo espinhento mascava um chiclete de boca aberta. Ele verificou os produtos e disse o preço sem ao menos olhar em nossas caras.

— Você fuma? – perguntou Jake.

Franzi o cenho, eu fumava às vezes, mas nunca havia comprado uma carteira pra mim.

— Às vezes – disse dando de ombros.

— Então me veja um Black Devil Rose Flavour – disse para o ruivo espinhento, qual se esticou e alcançou uma carteira de cigarros cor-de-rosa.

Não contendo o impulso, sorri. Franzi o cenho para Jake e depois peguei a carteira de cigarros cor-de-rosa. A abri e verifiquei, os cigarros também eram rosas.

— Cigarros rosas?

Ele pegou os itens do balcão depois de tê-los pago e começou a se movimentar para fora do estabelecimento.

— Sim, combinam com você.

Sorri com gosto.

— Sim, talvez. Obrigada, são… hum, muito bonitos.

Ele riu, mostrando aqueles belos dentes. Colocou os ítens dentro do carro e se encostou na porta da picape, eu estava em sua frente, o encarava como uma idiota sorridente. Ele é o melhor, com certeza.

Jake deu de ombros, rindo de canto. Mostrando seu charme ao máximo, a estúpida aqui o analisava todo como uma apaixonada.

— Deveria provar, são bons – tirou do bolso uma carteira de cigarros, pegou e o colocou entre os lábios, o acendeu e me ofereceu o isqueiro Zippo.

Me aproximei com um de meus cigarros rosa nos lábios e o deixei acender pra mim. Logo o gosto de tutti-frutti apossou-me de meus lábios.

— É bom, dá vontade de comer – falei rindo do cigarro.

Ele sorriu meio torto por ter o cigarro prendido nos lábios, no exato momento um relâmpago cortou o céu e senti que aquela cena ficaria presa em minha mente para sempre. Jake fumando num posto de gasolina, encostado em sua picape vermelha enquanto um raio cortava o céu. Daria tudo para ter uma Polaroid nesse momento.

— Bom, é melhor irmos. Um temporal se aproxima – disse ele.

Chuva de verão, pensei.

— Ok, vamos.

Entramos na picape e ele retomou o rumo para aonde quer que fosse que ele estava me levando. Ele dirigia rápido, uma adrenalina boa corria meu corpo. Eu poderia observá-lo até amanhã de manhã nessa mesma cena.

Comi alguns alcaçuz que ele havia comprado e tomei da Coca-Cola gelada. Dei alguns alcaçuz em sua boca, ele tomava seu refrigerante de limão. O açúcar quebraria o efeito do álcool em nosso corpo.

Logo Jake adentrou uma estrada de terra, sentia o carro fazer uma subida, porém continuei em silêncio, o deixaria me guiar essa noite, pois sentia que poderia fazer qualquer coisa.

Dez minutos depois ele parou o carro, pude distinguir que estávamos em um lugar alto. O olhei, seu olhar já estava em mim.

— Você vai gostar. Vem…

Ele desceu do carro, eu fiz o mesmo. Aproximei-me dele e logo seu braço se encaixou por sobre meus ombros, eu já estava me acostumando com esse ato. Por ele ser bem mais alto que eu, esse ato era aconchegante e Jake parecia gostar de fazê-lo.

No exato momento distingui aonde estávamos, numa colina. Dava pra ver a cidade toda, as luzes amareladas e esbranquiçadas em contraste com a noite estrelada. A pequena – talvez nem tanto – cidade de Lincoln tinha uma bela vista daqui de cima. Era lindo. Como não conhecia esse lugar?

— É lindo. Sério, muito lindo. Olha – apontei em uma direção – Ali é o aeroporto, não é?

Ele assentiu.

— Sim, é. Gostou mesmo?

Virei-me para encará-lo.

— Claro, eu não conhecia ainda. Muito bonito.

Ele sorriu de modo sincero. Curvou-se até mim e achou meus lábios com os seus. Um beijo leve e rápido.

Jake se abaixou e sentou no gramado, sentei-me ao seu lado.

— Trouxe muitas garotas pra cá? – o indaguei sorrindo.

Ele sorriu olhando pra frente.

— Na verdade, não. Eu costumava vir com meu pai quando menor. Vinhamos no 4 de julho, é um belo ponto para se avistar os fogos de artifício no feriado.

Franzi o cenho.

— Vinha?

O garoto me jogou um olhar triste, depois voltou a encarar a cidade lá embaixo.

— Sim, vinha. Ele morreu faz quatro anos.

Tampei minha boca com a mão.

— Oh, Jake, desculpe. Me perdoe, eu não sabia, sinto muito.

Toquei seu ombro e o afaguei. Ele meneou a cabeça.

— É a vida, pessoas morrem o tempo todo.

Assenti em silêncio. Essa conversa estava tomando um rumo muito triste e não estávamos aqui para isso, viemos para nos divertir, foi o que Jake disse.

— Eu estou adorando essa noite – revelei sorridente.

Um sorriso fez-se nos lábios bem feitos dele. Um adorava saber que eu causava aqueles sorrisos.

— Posso dizer o mesmo, Lizzy. Você é uma garota especial.

Foi como se milhares de borboletas pousassem em meu corpo e me fizessem flutuar naquele momento. “Você é uma garota especial”. Isso ficaria marcado em minha mente pra sempre, igualmente ele fumando sob aquele raio.

Eu estava sentindo-me apaixonada… Eu estava me apaixonando. Tudo isso em apenas uma noite, poderia soar surreal se eu mesma não estivesse vivendo isso.

— Você é a melhor coisa que poderia ter me acontecido essa noite – continuou ele – Pensando melhor, acho que já a vi algumas vezes, mas seus cabelos eram diferentes, mais loiros eu acho. Enfim, você tinha um ar de superioridade, sabe, você me intimidou.

Franzi meu cenho e abri meus lábios num sorriso estranhamente espantado. Eu intimidar Jake? Nunca.

— Sem contar que você sempre estava acompanhado de alguma garota – zombei.

Ele sorriu.

— Sim, verdade, não nego. Mas hoje parecemos ser os sortudos da vez.

Não contendo o impulso, pois estávamos tão perto, o beijei. Passei meus braços ao redor de seu pescoço, logo o senti deitar-me no gramado, levemente.

Sua boca ainda explorando a minha, cada recanto. Minhas mãos em seus cabelos castanhos macios, olhos fechados e coração disparado. Um calor abateu-me, Deus do céu!

Senti sua mão encontrar minha coxa, adentrou meu vestido lilás e acariciou a pele sensível. E sua mão subia, mas eu não o repelia, eu queria. Dobrei meu joelho e grudei minha perna em seu quadril, ele estava apoiado no gramado ao meu lado, nossos corpos quentes.

Seu toque subiu de minha coxa para meu ventre, então ele encontrou minha calcinha. Um pequeno desespero me abateu. Desgrudei minha boca da sua e o encarei.

— Jake, eu nunca… eu não…

Ele sorriu de canto sedutoramente.

— Calma, não vou fazer nada que não vá gostar – beijou meu pescoço – Se me pedir eu paro. Tudo bem?

Assenti de leve e logo seus lábios estavam nos meus. E sua mão voltou a passear em meu corpo, depois voltou para meu ventre. Ele soltou de meus lábios e ficou a me encarar, então senti sua mão adentrar minha calcinha, eu almejava pelo toque, todo meu corpo pedia, clamava por ele.

Dobrei novamente meu joelho livre e afastei a perna. Mas quando o senti tocando-me lá, foi como ver estrelas ou tocar o céu. Eu nunca havia sentido isso, se isso já era delicioso, imagine ir até o fim.

Sem a minha permissão gemidos começaram a sair de minha boca e involuntariamente eu movi meus quadris no ritmo dele, no ritmo de seus movimentos em minha intimidade. Por incrível que pareça, eu ansiava por mais, um toque mais forte, algo mais preciso…

Como se escutasse meus pensamentos, o senti intensificar os movimentos fazendo-me quase perder o juízo. Comprimi meus olhos e arqueei as costas, senti um choque percorrer meu corpo e encontrar meu ponto sensível, onde Jake ainda me tocava.

Abri meus lábios num gemido sôfrego, finquei minhas unhas nos braços de Jake, ele tinha o rosto na curvatura do meu pescoço, parecia sentir prazer em me dar prazer. Então um calor me invadiu e depois um prazer imensurável, qual fez-me sentir deleite e mais desejo ainda.

Eu tive o primeiro orgasmo da minha vida.

— Disse que ia gostar – falou malicioso.

Sorri parecendo estar sem forças.

— Você quer… – engoli saliva – ir até o final? – perguntei acanhada.

Ele sorriu-me sincero e acariciou meu rosto.

— Não, não ainda.

Eu não sabia se sorria de alegria ou chorava de tristeza. Como contá-lo que não teríamos um amanhã? Mas não insisti para que fizéssemos algo a mais, isso já estava perfeito.

Um tempo depois partimos dali. Eram quase cinco da manhã quando Jake estacionou em frente a minha casa. O encarei desolada, eu não queria partir, eu não queria ir pra casa, não hoje, não queria ir. Eu não quero ir.

— Está entregue – disse sorrindo, tentei sorrir de volta.

— Pois é… Bom, Jake, eu… Eu adorei tudo, foi a melhor noite da minha vida.

Um pequeno sorriso fez-se em seus lábios.

— Você é uma garota especial, Lizzy.

Olhei pra baixo e segurei lágrimas. O encarei novamente.

— Preciso ir.

Ele assentiu levemente.

— Tudo bem…

Aproximou-se e me beijou. Segurei seu rosto e o beijei forte, pois seria a última vez. Estaria o beijando forte antes de partir.

Abri meus olhos para encontrar os dele, não resistindo o beijei de novo. Agora lento e prazeroso, nos apartei com pesar, não queria desgrudar dele.

— Tenho mesmo que ir – afirmei rente aos seus lábios.

— Então vá – disse Jake ainda segurando minha cintura com força.

Dei um riso anasalado.

Afastei-me dele com certa lentidão e pesar. Como estava sendo difícil isso… Soltar dele. Alcancei a maçaneta da porta do carro, a abri.

— Nos vemos por aí, não é? – indagou-me ele, o sorriso sedutor nos lábios.

Meu coração murchou.

— Quem sabe… – falei evasiva.

— Tchau, Elizabeth.

Sorri pesarosa, pois sabia que nunca mais o veria.

— Adeus, Jake.

Saí do carro e dei a volta nele, não me contendo andei até a janela do motorista e o beijei. Com certa dificuldade me afastei e corri para dentro de casa.

Fechei a porta atrás de mim e me encostei nela. Lágrimas vieram em meus olhos.

— Droga, droga, droga!

Segurei com força a carteira de cigarros que ele havia me dado. A única lembrança que teria dele. Escorei meu corpo na porta e desci até o chão. Lágrimas escorreram ao pensar que nunca mais estaria com ele.

Eu não poderia manter um relacionamento a distância… Não mesmo. Estava me mudando para o estado de Nova York, muito, mas muito longe daqui. Não sou rica, meus pais não teriam dinheiro para que eu viesse sempre visitá-lo ou algo assim, e também não daria certo… Eu longe dele. Na verdade, eu estava pensando alto demais, apenas foi uma noite… Uma mísera noite.

Encarei os cigarros cor-de-rosa e sorri triste.

— Acho que me apaixonei.