Aquele domingo após o espetáculo, amanheceu mais frio do que havia sido em todo o mês. Blair foi obrigada a levantar mais cedo do que de costume, pois tinha um compromisso mais do que importante, o assessor de seu pai, Conrad LeBeau. A vedete teve que pegar um casaco pesado, da última coleção de Jacques Fath, tanto era o frio.

Mas só por sua curiosidade valeria a pena, afinal seus pais haviam cortado relações com ela quando ela tinha apenas dezessete anos, por motivos que ela se recusava a contar a qualquer um o que havia feito seus pais a renegarem, somente Serena sabia disso.

E ela ainda lembrava daquela triste noite, onde ela foi abandonada como um cão sarnento. E se agora, o assessor de seu pai, e de sua família, havia viajado até ali, algo muito sério deveria ter acontecido.

Ao seu lado no carro, Serena tentava adivinhar o que estaria havendo, por mais que amasse a loira - a mesma era sua melhor amiga desde pequena, e a única amiga que a ajudou quando ela precisou. - naquele momento queria joga-la pra fora do carro, tanto que ela falava.

Mas Blair apenas ignorava, observando a cidade passar por seus olhos, toda a cor de Londres lentamente se esvaia por causa da guerra, e ela sabia que logo a cidade seria atacada, talvez ela tivesse que ir para algum pais da América do Sul, o Brasil parecia ser uma boa opção.

Quando eles finalmente chegaram no imponente prédio do Palace, logo foram a recepção. Blair já era esperada, então tudo o que a recepcionista precisou fazer foi uma rápida ligação a suíte, logo um funcionário acompanhava as duas até o andar onde ficava o quarto, em tempos como aquele, ir ao quarto de um homem desacompanhada pelo pai ou marido era visto com maus olhos pela sociedade, mas Blair era vista dessa forma, de qualquer jeito.

O funcionário bateu a porta da suíte, e menos de um minuto depois a porta foi aberta.

– Senhorita Waldorf, senhorita Van Der Woodsen - ele as saudou cordialmente, Serena respondeu com um educado aceno e Blair apenas revirou os olhos e entrou na suíte. - Pode entrar - falou ironicamente.

– Bom, senhor LeBeau, podemos ir direto ao ponto? - Blair perguntou enquanto ele as guiava até o escritório do quarto que havia locado. Um dos mais caros, e tudo aquilo pago com o dinheiro dos seus pais, como eles eram tolos. Ao certo ele diria que ficou em uma das mais simples. - Se me chamou aqui, é porque algo muito sério aconteceu...

– Realmente, sentem-se - ele apontou as duas cadeiras para Blair e Serena. - Seu avô, senhor Richard Waldorf, ao qual eu trabalhei antes de trabalhar para seu pai, que agora comanda os negócios... Bom, senhor Waldorf está com um câncer terminal. - falou bruscamente sem nem preparar Blair para a noticia.

Blair olhou para o homem como se ele falasse grego e depois deixou as lágrimas virem, Serena a abraçou maternalmente e Blair apenas chorou mais. Richard Waldorf, era o homem mais vivaz que ela conhecia, praticava tênis, golf e até ousou ao jogar futebol certa vez. E também, ele e sua vó, Ilsa Waldorf, foram os únicos a ficar ao lado de Blair, uma vez que seus pais a haviam deserdado.

E quando Blair veio para Londres, foram eles que lhe mandavam dinheiro. Mas não havia muito a ser feito, já que seus pais não permitiriam que ela voltasse, e o casal já não tinha todo o controle do dinheiro o qual haviam trabalhado tão duro para conquistar, então veio a guerra, e o trafego de cartas e pessoas ficou cada vez mais difícil, e todo o contato que ela tinha foi aos poucos se cortando.

E agora, sem nenhum aviso prévio, ela descobre que seu avô está com um câncer terminal.

– Eu sinto muito - falou Conrad, sem nenhuma sinceridade nos olhos. Apenas como um protocolo - ele se recusa a falar com qualquer pessoa além de sua avó, e a mesma avisou a família que seu ultimo pedido era que a única neta mulher que ele tinha, voltasse para casa.

– Voltar pra casa? Eu... - Blair parecia confusa.

– Ele falou que não quer que você se afaste de sua vocação, que é cantar, já que isso é um dom, e era o que a mãe dele melhor fazia, ou seja, ele só quer você ao lado dele nos últimos momentos de vida.

– Blair, eu sei que essa é uma decisão sua, mas eu acho que isso é um pedido mais que justo de seu avó. - Serena aconselhou a amiga - Ele sempre te apoiou... Eu sei que deve ser difícil voltar a conviver com Eleanor e Harold, mas pense em Richard e Ilsa, por favor.

– Eu sei Serena - Blair sorriu, mas tinha tristeza em seu olhar. - E eu vou voltar, mas eu não quero sequer olhar na cara de Eleanor e Harold Bass. Eles deixaram de ser meus pais a muito tempo.

~~~~~ xoxo ~~~~

Amanda Bass era uma garota de vinte anos, mas já havia vivido muito mais do que a maioria das jovens dessa idade que ela conhecia. Quando era pequena sua vida beirava a perfeição, filha de um dos maiores empresários dos EUA, Bart Bass e tinha uma mãe que cuidava dela e do irmão com todo o carinho, Eliabeth Bass. Seu irmão, cinco anos mais velho, Charles Bass - ou Chuck para os íntimos - sempre fora protetor com ela.

Porém em uma fatídica noite, o navio no qual seus pais viajavam se perdeu no meio do atlântico, e foi encontrado anos mais tarde afundado perto da Austrália. Porém, seu tio Jack Bass assumiu o controle das industrias Bass, fazendo assim com que os sobrinhos fossem para o orfanato e que nenhum resticio do dinheiro fosse dado a eles.

Quando Chuck fez dezoito anos arrumou um emprego como garçom em um restaurante chique da cidade, e alugou uma casa simples onde passou a viver com a irmã. Porém quando eles já haviam se estabelecido, e estavam trabalhando e juntando dinheiro para comprar uma casa própria Chuck foi chamado para a guerra, e ele tinha apenas vinte e três anos.

Agora, ela recebia uma ligação, dizendo que seu irmão estava em um hospital público que ficava no Brooklyn. Provavelmente em condições precárias.

Quando ela chegou no hospital encontrou o irmão em um quarto, dividido com mais três soldados, ele estava com soro e curativos por todo o corpo, e suas pernas cobertas por um fino lençol.

– Chuck! - ela gritou ao chegar mais perto - Oh, meu irmão... Você está tão ferido - ela o abraçou, com tanto cuidado quanto era possível. Ela não via o irmão há pelo menos um ano e meio. - Eu senti tanto a sua falta...

– Amanda... - Chuck falou com certa dificuldade - Eu estava com tantas saudades, o que me deu forças foi saber que você precisava de mim.

– Não se esforce muito - ela pediu.

Mas a verdade era que ele não se importava em falar, já estava quase recuperado. Havia duas semanas que estava naquele hospital, e por mais que ele fosse atendido como um indigente quase, era melhor do que no Japão, mil vezes melhor. Ele tinha entrado em tantos campos de guerra, passado noites em trincheiras, e passado mais de dez dias sem ingerir quaisquer alimento, aquilo ali parecia o paraiso.

Ele havia visto coisas, passado por coisas, que nunca mais poderia esquecer. Viu seus amigos morrerem, teve que matar inimigos e todas as noites tinha pesadelos. Mas quando ele tentou salvar seu amigo, Nathaniel Archibald de um tiro ele próprio fora atingido, e agora não poderia mais movimentar as pernas.

Ele estava condenado, sabia disso. Não poderia mais trabalhar, e teria que pedir ajuda ao tio, algo que ele seria obrigado a ceder. Mas mesmo assim, não era como Chuck se via quando tinha dezoito anos, numa cadeira de rodas.

Ele mal podia acreditar. Mas mesmo assim, ele sabia que tinha motivos pelos quais lutar.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.