Como uma pantera andando em direção à sua presa, Mileena andava calma e lentamente em direção a Blodia e Rex. Rex estava desacordado, com muitos ferimentos; não tinha mais a menor condição de luta. Blodia estava apenas com algumas queimaduras por causa da tira que ativou acidentalmente por causa da Primeira Maldição, a qual ainda a afetava. Mais atrás, estava Agouro, que estava em um estado ainda pior do que o do Rex e também estava inconsciente. Blodia era a única que poderia fazer frente à moça de manopla, mas suas capacidades de combate eram inferiores às de seus companheiros. Pior ainda, sendo ela ainda afetada pela Primeira Maldição, todas as suas habilidades estavam comprometidas. Porém, a Flor de Neve era uma aspirante, quase uma Combatente, e era recobrando isso em sua mente que ela buscava coragem. Como a distância entre as duas lutadoras estava diminuindo, seria mais fácil para Blodia atingi-la. Blodia sacou todas as facas que ainda possuía; um total de vinte. Mileena, em resposta, sacou a que havia guardado consigo durante a batalha.

Blodia: Eu não vou cair aqui... Não antes de dar aquilo que você merece! Por tudo o que eu já falei e também pela minha irmã, Elena, que foi morta pelas mãos de suas malditas irmãs!

Mileena: Interessante... Primeira Bênção.

Embora intrigada por saber que estava enfrentando a irmã da Combatente Elena, Mileena não baixou a guarda e não reduziu o ritmo do seu andar. Mileena até poderia usar a Quinta Bênção, mas resolveu usar a Primeira por capricho, até porque, já imaginava que ela iria errar várias delas. Blodia também imaginava que isso iria acontecer, mas mesmo assim, não esmoreceu. Uma a uma e rapidamente, ela lançou as facas contra Mileena. Como esta previra, sua adversária errou bastante; nove facas passaram pela moça de manopla, sem atingi-la. As outras onze foram defletidas com precisão, e, então, Mileena lançou sua faca contra Blodia. Esta foi atingida no abdomen e caiu sentada, consciente, mas em choque. Porém, recobrando-se, a Flor de Neve se pôs em pé mais uma vez e arrancou a faca de si para usá-la contra Mileena. Ela sabia que isso a faria perder mais sangue, mas ela não queria parar de lutar. A moça de manopla já estava bem próxima de Blodia; então, esta tentou apunhalar sua adversária. Foi em vão. Mileena segurou seu punho e pressionou-o para fazê-la soltar a faca e depois aplicou um forte soco em seu rosto, que a derrubou. Devido a dor que sentia e devido à perda gradual de seus sentidos por causa da perda de sangue, Blodia não tinha mais como lutar, mas ergueu seu tronco e usava o cotovelo como apoio. Ela olhava para Mileena, não com medo ou desespero, mas com tristeza, pois a maior batalha que teve junto com seus companheiros terminaria em suas mortes e, pior, sem vingar seus entes. Compreendendo isso, Mileena, olhando com pena para ela e seus companheiros, dirigiu a palavra à Flor de Neve.

Mileena: Posso não dever satisfação a você, mas eu não participei daquela rebelião. Nunca em minha vida concordei com a loucura que minhas irmãs fizeram. Eu sinto muito pela Jasmine eu sinto ainda mais por Elena. Você tem minhas condolências.

Blodia: Puf... Acha mesmo que suas condolências vão resolver alguma coisa?

Mileena: Não. Mas, se você não quer aceitá-las, isso é problema seu. De qualquer forma, vocês estão de parabéns. Vocês são muito bons; fazia tempo que eu não tinha uma luta tão intensa. Se fosse uma situação diferente, eu poderia poupar todos vocês pra lutarmos de novo algum dia, mas... Ngh!

De repente, Mileena sentiu a luva apertar sua mão de novo, dessa vez mais fortemente. Ela já estava incomodada por causa da mesma coisa que acontecera antes, durante a batalha, mas havia ignorado por um momento para encerrá-la. Porém, agora, a luva apertava ainda mais. Tentando entender o que acontecia, ela se lembrou das palavras de Void sobre como a manopla reagiria aos seus maiores desejos.

Mileena: (Está tentando me avisar algo? Será que...)

Nesse instante, a imagem de Purkeed surgiu em sua mente. E foi nesse exato momento que a luva deu seu aperto mais forte. Finalmente, Mileena entendeu. Purkeed estava em perigo.

Mileena: (Purkeed!) Segunda Bênção!

Blodia, que naquele momento olhava Mileena sem entender o que acontecia, viu a moça de manopla sumir de sua vista em um instante. Esta foi até Pata, que estava junto com as outras haripis à frente da porta para o edifício principal da Casa de Prata, aguardando a batalha terminar. Pondo a mão no ombro da sua amiga haripi, ela deu-lhe um recado.

Mileena: Presta atenção; enquanto eu estiver fora, você é a líder. Entendeu?

Pata: Quaaa...

Mileena: Quanto àqueles três, matem todos. Podem fazer uma boquinha depois.

Pata: Kyum!

Mileena deu um beijo na testa de Pata e partiu em alta velocidade. Atendendo a ordem dela, Pata mandou suas companheiras ao ataque.

Pata: QUAAAAAAAKYAAAAAAH!!!

"KAAAAAAAAAH!!!"

Blodia se assustou ao ouvir aquele berro. Logo depois, ela viu as haripis se aproximando dela e de seus amigos. Sem forças para reagir, a Flor de Neve meramente fechou os olhos, esperando o seu fim.

Blodia: (Elena... Jasmine... Me perdoem...)

Mileena corria a toda a velocidade, imaginando o que poderia estar acontecendo com Purkeed. Ela tinha esperança de salvá-lo, seja lá o que estivesse acontecendo.

Mileena: (Aguente firme, Purkeed! Eu tô chegando!)

A sensação de perigo que Mileena teve em relação a Purkeed se deu porque ele viu que as coisas se complicaram de vez. Quando o soldado levara o bêbado para longe do capitão, encontrou alguns clientes de Lobs por acaso, e estes, sem saber direito do que se tratava toda aquela confusão, acabaram confirmando a palavra do velho grogue, pois conheciam Purkeed. O soldado, então, voltou e comunicou ao capitão sobre as informações que encontrou. Carly ouviu o soldado passar as informações e viu que era o fim da linha. Assim, o capitão se dirigiu novamente à bibliotecária.

Capitão: Bom, você ouviu tudo. Tem mais algo a declarar?

Carly olhava seriamente para o capitão. Sabia que não havia mais escapatória. Mas ao invés de cair no desespero, ela se lembrou de Kai, seu irmão morto. Naquele momento, Purkeed era o “irmão” dela. Se ela não pusesse pôr um pouco de coragem em suas atitudes agora, ela não seria diferente da Carly de alguns anos atrás, a que deixou seu irmão falecer. Além disso, por mais que não fosse muito com a cara da Mileena, no fundo ela tinha uma ponta de inveja da moça de manopla. Carly, então, deu sua declaração.

Carly: Sim. Vá te ferrar, seu filho de rameira.

O capitão aplicou uma bofetada brutal na bibliotecária, fazendo-a cair no chão. A bofetada machucou sua boca, fazendo-a sangrar, e derrubou os seus óculos. Agoniado com a cena, Purkeed se soltou do soldado que o segurava e foi acolher a pequena moça. Ele pegou os óculos no chão e entregou para ela, que logo o repôs.

Purkeed: Senhorita Patch! Senhorita Patch! Você está bem?!

Carly: Ai... Esse filho de uma...

Purkeed: Senhorita Patch!

Carly: Purkeed... Aproveita que tá livre e corre.

Purkeed: M-Mas e você?

Carly: Não se preocupe comigo; vá logo...

Purkeed não teve mais tempo para obedecer a ordem, pois o soldado o capturou novamente. Mas Carly havia carregado magia de antemão justamente para o caso de algo dar errado com o seu plano e, sendo esse o caso, ela não hesitou em disparar uma bola de energia mágica contra o soldado, que foi jogado para trás. Com isso, Purkeed estava livre novamente.

Carly: ANDA, PURKEED! FUJA DAQUI!

Dessa vez, Purkeed obedeceu instintivamente e fugiu dali, sumindo das vistas de todos. O capitão, em resposta, deu um chute nas costelas de Carly, que ficou caída de barriga pra cima, sentindo muita dor. Em seguida, ele sacou sua espada e, para evitar ser também uma vítima de uma bola mágica, fincou a lâmina na mão esquerda dela, cravando-a no chão.

Carly: AAAAI! Aaaai...

Enquanto Carly se contorcia de dor por causa de sua mão traspassada, o capitão, vendo que já havia alguns curiosos vendo, resolveu fazer um pronunciamento para se autopromover.

Capitão: Atenção, todos vocês! Como vocês bem viram, essa mulher foi flagrada em cumplicidade com a maligna Mão de Pravus, escondendo sua parentela em seu próprio estabelecimento e permitindo descaradamente sua fuga! Como bem viram, ela é capaz de usar magia, como a própria Mão de Pravus, sendo uma Darphai é capaz! Assim como ela, essa filha de Pravus aqui não passa de uma bruxa sanguinária!

Nesse momento, o capitão arrancou a espada do chão, fazendo a ferida de Carly doer ainda mais, e a ergueu no ar.

Capitão: Por esses pecados, essa mulher é considerada uma traidora de Sortiny! E, segundo as ordens do rei Ritchie, os traidores deverão ser exterminados no ato! Assim será nesse momento com esta vil mulher!

Carly: Ngh...

Capitão: Vá para as profundezas de Pravus agora!

Com essas palavras, pisou no ombro da bibliotecária, para impedir que ela escapasse. Carly já não tinha mais concentração para disparar outra bola de magia por causa da dor de sua mão perfurada; por isso, ela não tinha como reagir. O capitão virou a lâmina de sua espada para baixo, posicionando-a em cima do abdômen de Carly, e colocou ambas as mãos no cabo. Então, ele impiedosamente desceu a lâmina de encontro a ela. A lâmina penetrou na barriga de Carly e perfurou seu corpo, cravando-a violentamente no chão. Em choque, Carly apenas deu um gemido, mas não desmaiou por pouco. Seu sangue começava a jorrar da sua barriga e de suas costas, manchando suas roupas e a terra. Ela sentia sua vida se esvaindo aos poucos.

Carly: (Kai... Eu... Me perdoe... Adriel... Piedade...)

O capitão acertou o abdômen de Carly e não uma área vital, pois queria que sangrasse até morrer, julgando assim estar cumprindo a justiça. Para isso, depois de perfura-la, ele arrancou a espada de volta, aumentando o sangramento das feridas da jovem. Carly ainda assim estava consciente, mas já estava cedendo. Após isso, o capitão voltou a se pronunciar.

Capitão: Que isso sirva de exemplo para todos que... BGH!!!

Para a surpresa do capitão, assim como de todos que olhavam a cena, um punho vermelho e bem cerrado atingiu o rosto dele com tamanha violência que esmigalhou os ossos de sua face, sem sequer usar a Quarta Bênção, e o lançou para trás, fazendo seu corpo se chocar com a parede da biblioteca. Ele não morreu, mas foi a nocaute de imediato. Mileena havia chegado à vila há pouco tempo, no exato momento em que o capitão cravou a espada em Carly. Furiosa, ela tomara as dores da bibliotecária e arremeteu contra o capitão a toda velocidade e sem o menor dó. Ela queria muito salvar Purkeed, mas a situação de Carly era muito mais urgente. Os soldados, porém, tentaram cercá-la naquele momento, mas Mileena carregou uma bolinha de âmbar que pegara de seu alforje e o lançou ao alto. A bolinha explodiu, assustando a todos ali e causando um princípio de tumulto. Enquanto todos estavam distraídos com a explosão, Mileena tomou Carly nos braços e fugiu dali correndo com o auxílio da Segunda Bênção.

Procurando desesperadamente por um local onde ninguém haveria de incomodá-la, Mileena corria pela vila, até que deu a sorte de achar uma casinha abandonada no limite da vila e, sem pensar duas vezes, foi até ali. Ela deitou Carly no chão, colocou-a um pouco de lado e arrancou um pedaço do vestido dela, expondo os ferimentos de entrada e de saída da perfuração. Imediatamente depois disso, ela impôs as mãos na jovem, uma na barriga e outra nas costas, e começou a executar uma magia curativa. Porém, Mileena estava com pouca carga mágica por causa da luta que teve com os aspirantes e ela temia que tivesse não fosse o suficiente para salvá-la, mas Mileena dava o seu melhor mesmo assim.

Mileena: Aguenta firme, tampinha. Você vai ficar bem.

Carly ainda estava consciente naquele momento. Ela sentia alívio por causa da magia de Mileena, mas ainda sentia que estava morrendo. O sangramento ainda era muito intenso e as feridas custavam a se fechar. Carly sentia que, mesmo com essa ajuda, não teria muito tempo e já estava aceitando a sua morte.

Carly: Ah... M-Mileena... Não precisa... Me ajudar... Pode me deixar...

Mileena: Tá maluca? Nem pensar; eu não vou deixar você morrer.

Carly: O Purkeed... Por culpa minha... Ele...

Mileena: Culpa sua uma ova. Você tentou ajudá-lo como pôde; eu notei que você usou magia pra deixa-lo fugir. Eu sou grata a você, de verdade. Além disso, mesmo que o peguem agora, não vão mata-lo imediatamente. No momento, você precisa mais de ajuda do que ele...

Carly: Eu não consigo... Proteger ninguém... Meu irmão... Morreu por minha causa... E agora o Purkeed... Eu... Eu não mereço viver...

Mileena: Quer calar essa boca, ô escaladora de poltrona?!

Apesar de Mileena ter zombado de sua altura de novo, Carly esboçou uma irônica risada, mas sentiu dores na hora.

Carly: Pft... Cof... Ai... Não acredito... Vai zoar da minha altura... Numa hora dessas?

Mileena: Isso é o que você merece por ser falastrona. Mas morrer? Você não é a Lady Fogaréu, nem o Aspo Shabon... E nem as tontas das minhas irmãs...

Carly: Mileena...

Mileena: Minha mãe, Midea, me ensinou uma coisa quando ainda vivia... Todos têm direito a uma segunda chance. Se você acha que tem que pagar pelos seus erros, então pague por eles em vida, não com ela! Se seu irmão estivesse aqui, duvido muito que ele fosse gostar de ver você morrer. E eu te garanto que Purkeed também não gostaria.

Carly: Mas como você sabe que... Eu não maltratei ele?

Mileena: Se tivesse, eu saberia... E aí, quem te mataria seria eu.

Mileena deu essa resposta com um sorriso largo no rosto. Não era como se ela estivesse fazendo uma ameaça em tom de brincadeira, mas estava meramente respondendo a pergunta dela. O sorriso dela passava um estranho tom de gratidão por Carly ter valorizado sua confiança e Carly entendeu a mensagem. Confortada pela mensagem de Mileena, Carly também retribuiu com um sorriso.

Mileena: Você vai ficar bem. Aguente firme...

Carly: O... Obrigada... De verdade... Mas... Acho que... Não dá mais...

Mileena: Tampinha, por favor, aguente mais um pouco, eu tô quase lá!

Carly: Desculpa... Desc...

Embora Carly tenha se reconfortado com a atitude de Mileena, ela estava dando sinais de que não estava aguentando. Ela lentamente fechou os olhos e seu rosto descaiu. Desesperada, Mileena reforçou a magia. Ela já estava a beira da exaustão, mas não quis desistir, embora Carly já não desse mais resposta.

Mileena: Tampinha! Tampinha, por favor! Carly, acorda! Carly! CARLY!