O grupo prosseguia seu caminho através do Bosque Sinelth, lidando com eventuais problemas conforme estes surgiam. William seguia por último, sua atitude reservada já vista com normalidade por seus novos companheiros. Quem realmente chamava a atenção era Karin, que parecia não estar disposta a deixar Samantha em paz.
–Karin: Eu prometo que obedeço suas ordens e faço o que disser, por que não vai me ensinar?
–Samantha: Eu já cansei de dizer que não tenho interesse em perder meu tempo ensinando outras pessoas.
–Karin: Ah, vai, podem ser apenas uns feitiços simples!
–Samantha: Luna, por favor cale a boca dessa garota antes que eu a afogue na próxima poça que eu encontrar pelo caminho.
Os outros integrantes da equipe, à exceção do manipulador do vento, riam descontraidamente, o que aumentava a ira da bruxa. Após olhar de relance para trás e notar a inexpressividade de William, Yasmin deteve seus passos até que este a alcançasse.
–Yasmin: Sorrir não dói, sabia? Além disso, torna a vida mais tolerável.
–William: Não faço questão, tenho minha própria opinião sobre como se deve viver e não sou o tipo de pessoa que muda de ideia facilmente.
–Yasmin: Diz isso, mas quando Samantha e Fernand estavam em perigo foi correndo salvá-los, mesmo sabendo que não tinha chance sozinho contra o Ent. O que houve com o rapaz que dizia que nunca se preocuparia com eles?
As palavras de Yasmin atingiram o orgulho de William como uma flecha certeira, mas ele não se daria por vencido facilmente.
–William: Fala de mim, mas você que é toda certinha não só gritou que ia matar Scythe como é bem provável que tenha conseguido mesmo.
–Yasmin: Eu salvei sua vida, não salvei? Devia me agradecer.
–William: Não preciso da piedade alheia.
Um silêncio constrangedor se iniciou entre os dois, durante o qual William foi obrigado a aceitar que realmente estaria morto, não fosse pelas atitudes da capitã. Por mais que lhe doesse o orgulho, sabia que Yasmin estava certa em dizer que ele deveria mostrar gratidão.
–William: Mas de toda forma... obrigado por me ajudar.
Yasmin sorriu, cada vez mais certa de que o coração de William não era de gelo como o rapaz fazia tanta questão de fazer parecer.
–Yasmin: Sabe, eu acho que estamos influenciando um ao outro aos poucos.
–William: Como assim?
–Yasmin: Você está se preocupando mais com seus aliados e eu estou perdendo minha ingenuidade com relação à realidade das batalhas.
–William: É, quem sabe você esteja certa...

Dois dias depois, uma chuva fraca descia sobre Releav. Não havia ninguém ao ar livre, excetuando Yasmin e seus colegas, que se mantinham secos graças a uma pequena barreira de vento que William criara sobre eles.
–Fernand: Será que alguém está vigiando o pilar daqui em meio a essa chuva?
–Luna: A Ordem da Rosa Branca seria muito incompetente se não mantivesse guarda mesmo em dias assim!
–William: Numa situação destas nem sequer precisamos aguardar a noite, vamos invadir o cemitério agora mesmo.
–Samantha: Mas debaixo de chuva os poderes de Yasmin não se tornam inúteis?
A capitã estendeu a mão, deixando-a fora da cobertura de vento. Uma pequena chama se formou na palma e logo filetes de vapor começaram a subir, indicando que o fogo fazia a água da chuva entrar em ebulição.
–Fernand: Parece que não.
–William: Muito bem, agora escutem meu plano. Talvez os guerreiros que protegem este pilar ainda não saibam que Yasmin é inimiga deles, portanto podemos usá-la para enganá-los e fazê-los deixar o local desprotegido.
–Luna: E quanto a vocês?
–William: Seguiremos por outra rota, mas participaremos da batalha se eles atacarem.
–Yasmin: Não custa tentar, vou pensando em alguma mentira enquanto isso.
–William: Então nos separamos aqui, boa sorte.

Karin, Luna e Yasmin estavam diante da entrada do cemitério e viam claramente o pilar, porém parecia não haver ninguém lá.
–Karin: Será que eles são mesmo incompetentes como a Luna disse?
–Luna: Duvido, deve haver algum membro escondido neste local.
As três garotas avançaram, passando por várias tumbas enquanto trilhavam o caminho reto que levava até o pilar. Não demorou para que notassem que de fato havia um guerreiro da rosa branca lá, este apoiado na parede ao lado da entrada de um mausoléu, protegido da chuva.
–Yasmin: Ok, agora vamos agir como se fôssemos aliadas de-
Os olhos da capitã se arregalaram ao reconhecer a figura que, percebendo a chegada das meninas, começou a caminhar na direção delas. Ela jamais poderia esquecer o assassino de Kenoh, Quartzo, que tinha em suas mãos a falsa Draconis.
–Quartzo: Bem-vinda, Pyrath, eu estava esperando você.
–Karin: Luna, aquele homem é...?
–Luna: Aquele que assassinou Kenoh.
–Yasmin: Quartzo!
Yasmin imediatamente abandonou o plano de William, pois naquele momento a única coisa em que pensava era em vingar a morte de seu tio. Ela não perdoaria Quartzo, de forma alguma.
–Quartzo: Eu ouvi muito a respeito de você, sobre o quão promissora parecia. E sobre o quão humilhante foram as suas derrotas ao tentar proteger os pilares...
As garotas permaneciam paradas enquanto Quartzo se aproximava devagar, falando em um tom de voz casual.
–Quartzo: A família Pyrath tem decaído bastante ultimamente, não concorda? Mas admito que fizeram coisas impressionantes no passado, com esta bela espada aqui.
O homem ergueu a espada, mostrando para as inimigas como se estivesse exibindo um troféu.
–Quartzo: Eu estive te esperando, Yasmin Pyrath, ansioso pela chance de lutar contra você. Quero descobrir se você merece o sobrenome que tem, ou se ele é apenas um efeite.
–Yasmin: Enfeite é essa sua espada ridícula!
–Quartzo: O que disse?
–Yasmin: Você vai quebrar a cara, Quartzo, e não vai ser apenas de uma forma! Vai se arrepender de ter comprado briga com os Pyrath!