Roses

Mudança, Tempo e Dança


P.O.V EMMA ON

Eu conseguia ouvir a respiração dele, e creio que o mesmo acontecia com Killian; mas nenhum de nós dois tinha coragem suficiente para falar alguma coisa.

Foi aí que uma voz infantil rompeu o nosso silêncio, dizendo: “Papai” com convicção. Era o FILHO dele, e eu provavelmente os estava interrompendo - eu tinha certeza - ainda mais se ele estivesse falando sobre rosas com Milah, até porque o jardim a que ele tanto se dedicava era pra ela.

– Emma, ainda está aí? - ele me perguntou.

Como Killian podia agir com tanta naturalidade?! E por que eu ainda continuava tentando me convencer de que tudo era como antes?

Preferi não desligar o telefone do modo convencional, e ao invés disso, atirei-o contra a parede com tamanha força que ele se despedaçou.

– Não sou Emma. - falei entre os dentes - Me chamo Elizabeth... Miller.

Um arrepio percorreu todo o meu corpo, me senti como se estivesse agindo da maneira correta, apesar dos meus sentimentos gritarem justamente o contrário.

– O que aconteceu aqui? - Neal abriu a porta rapidamente, parecia preocupado.

– Nada demais. - respondi.

– Seja o que for, tenho certeza de que você não vai me contar. - ele falou se aproximando - Você está linda... Ah, não que você não seja linda o tempo todo.

– Obrigada. - acho que corei - Mas o que está fazendo aqui?

– Quero te mostrar uma coisa.

Dessa vez quando ele entrelaçou nossos dedos, não o impedi. Eu tinha que lidar com as mudanças, não é? Pois então, eu estava pelo menos tentando.

Nós fomos até o jardim da mansão, e algumas lembranças da infância voltaram à minha cabeça, mas eu as queria bem longe porque sempre me lembravam “dele”. Mas tudo se desvaneceu quando eu vi uma toalha de piquenique sobre a grama e garanto que tinha comida para um batalhão.

– Nossa! - eu exclamei me sentando no chão.

– Já que você não vai fazer o tratamento, quero te ajudar a recuperar algumas memórias sem a ajuda de um especialista.

Neal pegou um álbum de fotos de pôs-se a me mostrar algumas lembranças da nossa infância. Tudo o que começou sendo chato em poucos minutos não era mais, principalmente por causa do bolo de chocolate.

– Você era má. - Neal se referiu a um aniversário dele em que eu “acidentalmente” o empurrei contra a montanha de presentes.

– Desculpe. - eu ri um pouco alto demais, chamando sua atenção.

– Não consegue comer um pedaço de bolo sem se sujar? - ele sorriu, pegou um guardanapo de papel e limpou meus lábios.

Agora só havia um problema: O espaço pessoal de cada um. Nós estávamos muito próximos, e se eu não tivesse me levantado, ele provavelmente teria avançado um pouco mais, se é que me entende.

– Eu agradeço por ter feito tudo isso, - falei - mas tenho que te contar uma coisa.

– O quê?

– Eu decidi fazer o tratamento. - contei - E eu queria perguntar se você gostaria de tentar novamente.

Neal sorriu de uma forma única, nem sei como explicar a reação dele.

– Você sabe que éramos noivos. - ele comentou -Tem certeza?

– Absoluta. - falei rapidamente, antes de quebrar nosso espaço novamente.

Foi apenas um beijo. Nada de nossos corações baterem no mesmo ritmo, muito menos a vontade de querer ficar perto dele o tempo todo. As coisas mudaram, e eu aprenderia a amá-lo da mesma forma que amava Killian.

P.O.V EMMA OFF

...

Os olhos claros de Milah o observavam se aproximar, eles estavam tristes e ainda sim com raiva. Como era possível que Killian a abandonasse naquele momento por causa de uma paixão que não havia dado certo? É claro que, mesmo indo embora, ele a deixara com uma quantia em dinheiro, além da casa e da caminhonete.

– Aqui estão as chaves - Killian as entregou.

– Fique - ela segurou seu braço - Podemos ser uma família de novo.

– Nunca chegamos a ser uma família. - ele se soltou - Não torne as coisas mais difíceis, em breve eu voltarei.

A mulher acabou por obedecê-lo, e o viu se afastar e tomar o ônibus rumo a Boston, onde pegaria o primeiro vôo para o outro país. Poderia - se dizer que faltava muito pouco para que a própria chorasse. Mas assim que o ônibus se distanciou, Milah secou as lágrimas e um pequeno sorriso ficou estampado em sua boca.

– A minha parte foi feita, Gold. - ela disse - Agora é a sua vez.

Mal disse essas palavras e foi interrompida por Regina, que chegara praticamente correndo na rodoviária de Storybrooke.

– Estou atrasada, de novo! - a morena exclamou e depois murmurou algo indecifrável - Espero que ele tenha sorte.

Enquanto isso, sentado em uma das poltronas desconfortáveis do ônibus observando as árvores passarem rapidamente, Killian avistou a histórica placa de Storybrooke. Não conseguia acreditar que estava realmente indo embora do “melhor lugar em todo mundo” - como ele costumava dizer anos atrás. O que sentia era algo parecido com liberdade, medo e sofrimento, principalmente por “ela”. Era como se ele próprio a estivesse abandonando.

No dia da ligação de Emma, ele não fazia ideia de que Liam o havia seguido até sua casa e aparecera lá de surpresa o chamando de “Papai”. Talvez aquele fosse motivo para a loira ter ficado com raiva e ter desligado, e mesmo tentando retornar a ligação - milhares de vezes -, Killian não foi atendido.

“Mudanças são necessárias, e nos fazem bem”, esse era o seu pensamento, ou a melhor forma de esquecê-la, pois o mundo o esperava.

...

1 ANO DEPOIS

O aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, era o maior de toda a França. Políticos e famosos passavam por ele o tempo todo, porém naquele dia todos os holofotes estavam voltados para um casal específico: Neal Cassidy e Elizabeth Miller, ou Neller - de acordo com os shippers. Alguns diziam que combinavam mais que morango com chantilly.

Ambos não eram estrelas de cinema, muito menos cantores, mas apenas filhos de magnatas. Resumindo: Só chamavam a atenção por serem extremamente ricos.

– Será que eles nunca se cansam? - a loira reclamou dos paparazzi.

– Cansar de admirar sua beleza? - Neal beijou seu rosto - Nunca!

Ela havia corado diante da resposta do noivo, mas logo assumiu um semblante sério para as câmeras, e as perguntas começaram feito um bombardeio.

– Srta.Miller, o que pretende fazer na França? - um homem perguntou.

– Muitas coisas. - ela se esquivou e foi andando em direção à saída do aeroporto.

– Quais são seus planos para diversão?

– Ah... Eu não...

– Deixem isso comigo. - Neal a falou maliciosamente, arrancando gargalhadas de todos.

– Poderiam posar para uma foto? - um fotógrafo basicamente os encurralou.

O casal obedeceu e a foto ficou - no mínimo - perfeita. Mas a felicidade de todos foi interrompida por uma mensagem no celular de Neal, precisamente do hotel onde ficariam. Se não estivessem lá em 1 hora, a reserva seria cancelada.

A pior parte era se livrar dos repórteres que se aglomeravam em massa na porta do aeroporto, mas quando se tem cinco brutamontes, ou melhor, seguranças, isso não era problema.

– Desculpe pelo atraso, Robin. - Elizabeth falou assim que entrou no carro.

O homem apenas assentiu com a cabeça, preferia não agir como um conhecido quando Neal estivesse por perto, apesar de Elizabeth ter se tornado sua amiga nos últimos meses.

O caminho até o Hotel Marseille foi bem tranquilo e quieto, mas os olhos da loira estavam mais agitados do que nunca quando viram a Torre Eiffel, e foi reprovada mentalmente por Neal. “Vou me casar com uma criança”, ele pensou.

– Aqui é tudo tão lindo! - ela exclamou.

– Eu sei, Paris é o único lugar onde eu me esqueço do trabalho. - ele disse - E falando nisso, como estão os preparativos...

– Neal, por favor. - ela o interrompeu - Eu contratei a melhor empresa de decoração e paisagismo da França.

– E qual seria o nome? - ele começou a interrogá-la.

– Pois é... - ela franziu o cenho - Não me lembro agora, mas sei que o lema é: “Mudanças são necessárias, e nos fazem bem”.

– Só você pra memorizar o lema, Elizabeth. - ele sorriu.

Passados outros minutos em silêncio, finalmente chegaram ao hotel. A fachada era sem dúvida incrível, remetia à nobreza e ao luxo. Mas o que prendeu a atenção dos dois foi a melodia vinda de um acordeon tocado por um músico de rua.

– Dança comigo, milady? - Neal fez uma reverência.

– Como recusar, senhor? - ela aceitou.

O casal pôs-se a dançar “La Valse a Mille Temps”, atraindo muitos curiosos, que logo formaram um círculo em volta deles para observar e aplaudir. Tudo ia muito bem até que - entre rodopios -, Elizabeth avistou na multidão um rosto desconhecido, mas familiar. A loira parou imediatamente de dançar, e sentiu um aperto no peito.

– O que foi, meu amor? - Neal perguntou - Elizabeth?

Mas ela não conseguia parar de encarar os belos pares de olhos azuis, que pareciam estar cheios de lágrimas prontas pra cair. Mas eles de repente desapareceram na multidão.

“Tudo o que isso faz é me arruinar

Porque meu coração se parte um pouco

Quando ouço o seu nome

[…]

Jovem demais, tolo demais para perceber

Que eu deveria ter lhe comprado

flores e segurado sua mão

Deveria ter te dado as minhas horas

quando tive a chance

Ter levado você a todas as festas

Porque tudo o que queria era dançar

Agora minha garota está dançando,

Mas está dançando com outro homem."

When I Was Your Man - Bruno Mars