Após bombardeá-lo de perguntas sobre o motor da caminhonete velha e sobre o filtro dos sonhos que estava próximo ao retrovisor, Emma realmente cessou quando não obteve resposta alguma. “Ele deve estar pensando que eu sou infantil”, ela pensou. Mas Killian estava tão concentrado em dirigir, ou melhor, tentar dirigir e não desviar atenção para encarar a mulher mais curiosa e linda que já havia encontrado.

Quando de fato começaram a ver a torre do relógio, Emma começou a observar tudo, e segurou suas perguntas para mais tarde, então apenas comentou:

– Que lugar bonito!

– Foi o que eu disse assim que cheguei aqui - Killian sorriu ao se lembrar.

A caminhonete estacionou vagarosamente em frente a um prédio enorme, com a palavra “ESCOLA” gravada em suas paredes. Os dois pegaram as caixas, e como um homem educado que era, Killian deu apenas uma para Emma, sob protesto da mesma.

– Você está carregando muito peso. - ela disse - Me entregue mais uma caixa.

– Não - ele falou entre os dentes - Você não aguentaria uma caixa de isopor vazia.

Emma se sentiu muito ofendida em relação ao comentário, e mesmo não se lembrando de nada, tinha certeza de que era forte o suficiente para carregar o dobro de caixas de Killian.

– Se eu não tenho força, então acho que pode levar tudo isso sozinho - ela fez a menção de colocar a caixa em seus braços na pilha que estava com ele.

– Não faça isso! - ele exclamou com toda força.

– Então me deixe ajudá-lo! - Emma insistiu.

– Está bem, mas pega só uma caixa.

Ao estampar um sorriso vitorioso nos lábios, Emma viu que dois pares de olhos lhe observavam da porta da escola; os de uma mulher com pele branca feita neve, cabelos curtos bem negros e um sorriso encantador e, de um homem de cabelos claros e olhos azuis brilhantes.

– Killian, - a mulher se pronunciou - trouxe minhas rosas bem a tempo.

– Jamais te deixaria na mão, MM. - ele disse - E essa é... minha prima, Emma.

– Sou Mary Margaret, e esse é meu marido, David. - a mulher sorriu - É um prazer conhecê-la

– O mesmo - Emma falou já não aguentando o peso das caixas.

– Venham comigo. - a mulher disse dando sinal para que os outros dois se aproximassem.

...

FLASHBACK ON

Era uma chata manhã de domingo, onde Emma estava mais uma vez “presa” com as senhoras da alta sociedade, e não poderia sair de perto delas até que todas fossem embora. A garota ainda estava usando um vestido rosa cheio de laços, e isso a incomodava. Não, aquilo não se comparava ao Inconveniente - apelido que a mesma criou -, e estava bem ao seu lado falando sobre suas férias na Disney. Na verdade, tudo o que ele falava era sobre si mesmo.

– Eu tirei fotos com todos os personagens, e nem sei o nome de todos eles! Você tinha que ver aquele castelo enorme, e todos os brinquedos que...

– Neal, será que você pode parar com isso? - Emma disse baixo, mas de forma clara para que só o menino ouvisse - Eu não ligo.

A garota esperava que ele ficasse quieto e encarasse chão pelo resto do dia, mas não, ele tinha que correr chamando a maior atenção para si. Todas as mulheres se voltaram para Emma ao mesmo tempo, e balançavam as cabeças provavelmente perguntando “ Por que você fez isso?”.

– Elizabeth - sua mãe adotiva a repreendeu somente pelo nome que de fato nem era o dela.

Revirando os olhos, Emma saiu em disparada atrás de Neal. “Só por isso ele me deve um pacote de balas, ou talvez dois”, ela pensou.

Por ser muito rápida, a garota percorreu todos os quartos da mansão em questão de poucos minutos, mas não achou quem realmente precisava. Então deduziu que ele estava no jardim, provavelmente enchendo a paciência de Killian ou Regina. Correu até lá, e o Inconveniente atacava novamente.

– Me devolve! - a garotinha morena gritou.

Neal erguia o urso de pelúcia o mais alto que podia, e começava a rir. Regina, por ser a mais nova ainda não podia alcançá-lo e dava pulinhos, e já dava sinais de choro. Antes que Emma se pronunciasse, viu Killian surgir e avançar sobre o outro garoto, que caiu na grama. A garota loira pegou o brinquedo e o entregou para a dona, que enxugava os olhinhos.

– Faça isso de novo e eu acabo com você! - Killian o ameaçou, colocando medo até em Emma.

– Elizabeth, eu nunca pensei que fosse amiga da criadagem. - Neal o ignorou - Seus pais sabem sobre isso? Ia ser uma pena se eu contasse.

– O que você quer em troca para manter essa boca fechada? - Emma perguntou séria, já o conhecia há bastante tempo para saber que era como o pai.

– Sua amizade. - ele disse - Mas quero que você pare de falar com eles dois, ou eu conto.

Mesmo Killian e Regina olhando para ela com cara de desaprovação, Emma não podia deixar que Neal contasse.

– Feito.

FLASHBACK OFF

...

P.O.V EMMA ON

Carregamos as caixas por um longo corredor, e mesmo sentindo que havia uma tonelada em meus braços não deixei de sorrir quando me deparei com o jardim da escola. Era uma área ampla, repleta de árvores e flores coloridas para alegrar o ambiente. “É um ótimo lugar para se contar estrelas” pensei de imediato.

Colocamos todo o carregamento no chão, e eu agradeci a Deus por isso. Mas não entendi uma coisa, então perguntei:
– O que farão com essa tamanha quantidade de rosas?

Mary ficou contente, e se aproximando de mim começou a explicar:

– Vai haver um baile na semana que vem, toda a cidade foi convidada... mas alguns se recusam a ir - ela encarou Killian - E essas rosas vão servir para a decoração.

– Eu gostaria de ir, mas acho que não vai dar - falei.

– Se quiser, eu venho com você - Killian sorriu.

Como recusar aquele “pedido”? Meu coração disparou e eu não conseguia dizer uma só palavra, ou melhor, nem conseguia pensar direito quando ele me encarava.

– Vou pensar. - foi a primeira frase que veio, apesar de eu querer dizer “Sim”.

Enquanto os homens que se diziam “fortes o suficiente para darem conta do recado” replantavam as rosas vermelhas, eu e Mary Margaret nos sentamos num banco de madeira para observá-lo, mas ela era tão insistente e curiosa...

– De onde você veio?

– Boston - essa foi fácil de responder, Killian havia me dito pra falar aquilo.

– Engraçado, seu sotaque não se parece com o de lá. - ela comentou - O que fazia por lá?

– Eu era estudante - soltei, mesmo sem pensar, e tive vontade de sorrir com mais uma lembrança que voltara.

– Você e Killian parecem ser primos bem próximos. - ela continuou - Você o faz feliz.

– É- é sério? - perguntei incrédula, jamais me passou aquilo pela cabeça.

– Sim, ele não sorri daquela forma em anos! - Mary exclamou - Por causa daquele acidente...

– Que acidente? - perguntei logo, ai como sou idiota - Q - quero dizer, como foi pra ele?

– Após a morte de Milah, ele vendeu tudo o que tinha e comprou aquela casa no meio do nada, e se trancou lá, falando apenas palavras monossilábicas - Mary assumiu o semblante triste.

Quem era Milah? Será que esse era o seu segredo?

– Eu... - não tinha palavras para me expressar, só sentia uma imensa vontade de abraçá-lo..

– Ela adorava rosas, principalmente as lilases, e Killian nunca mais plantou ou cuidou de uma rosa, e você pode perceber no jardim dele. - Mary parou - Até agora.

Eu voltei meu olhar para ele, parecia realmente feliz no que fazia. Quem o visse jamais imaginaria que passou por tudo aquilo.

– Está me dizendo que...

– Ele teria mandado David ir buscar as rosas, mas as trouxe até aqui e está as replantando. Isso é um milagre. - sorriu - Você veio em boa hora.

Nesse momento eu estava mais confusa do que normalmente estaria. Como se não bastasse eu perder a memória e saber apenas que entendo sobre as estrelas, agora eu descobri que meu coração batia descompassado por ele. Mas não podia, e seu fosse casada ou coisa pior?

P.O.V EMMA OFF

...

No fim da tarde, uma Ferrari preta serpeava por entre as rodovias incansáveis ao norte do país em alta velocidade. No carro estava um jovem se achando a pessoa mais incrível do universo e no banco do passageiro, um senhor reclamava de tudo o que o outro fazia.

– Neal, devia ter vindo com o seu Range Rover, assim não correria tanto.

– Pai, eu só quero chegar logo a essa cidade. - o filho falou - E o senhor sabe que eu não gosto de demora.

– Serão apenas alguns dias enquanto nos “recuperamos” da morte de Elizabeth.

– Ainda não acredito que ela se foi - o mais novo franziu o cenho.

Quando chegaram próximos a Storybrooke perceberam que havia marcas de pneu, e a placa de “bem-vindo” estava caída no chão.

– Precisamos comer alguma coisa e descansar - Neal comentou.

– Vamos descansar primeiro - o pai ordenou.

...

– Killian! - Emma tentou acordá-lo, mas ele continuou deitado no sofá reclamando coisas indecifráveis - Está me ouvindo?

Ela curvou-se sobre ele para observar como ele estava agindo feito uma criança. “Depois não reclame”, ela pensou ao empurrá-lo. O impacto foi tão forte que ela sentiu pena quando ele ficou todo assustado, mas não conteve o riso quando ele a encarou.

– Pretende me matar?! - exclamou - Estava me observando?

– Desculpa. - ela corou e ignorou a segunda pergunta - Disse pra eu te acordar às 18hs.

Ele bagunçou os cabelos negros e concordou. Assim que se levantou, ele a pegou pelo braço e eles dois foram até a caminhonete a passos rápidos.

– Pra onde vamos? - Emma perguntou.

– Granny´s. - ele respondeu - A melhor comida da cidade você encontra lá.

– Qualquer comida é melhor do que a sua. - Emma o provocou.

Ele a olhou indignado, mesmo sabendo que era a mais pura verdade, mas quando se deu conta, já estava pensando nela novamente e em seu lindo sorriso tímido. Para disfarçar, começou a dirigir, mas logo as perguntas dela voltaram. E como ele adorava aquilo.

– Quando eu vou recuperar a minha memória? - ela perguntou mais para si do que para ele.

Foi então que Killian percebeu que ela iria embora, e aquilo aconteceria a qualquer momento. Só de pensar o sofrimento tomava conta dele.

– Tenho um amigo que talvez a ajude.

...

FLASHBACK ON

Uma semana era tempo demais para ficar longe de seus amigos. Emma só os observava pela janela do quarto e nada mais, nem uma palavra - assim como Neal havia dito.

Mas naquela manhã havia uma movimentação diferente por parte dos empregados, até de seus pais adotivos. Procurou por Killian no jardim, mas nem sinal dele. Ouviu um choro por entre alguns arbustos, e resolveu ver quem era.

– Regina? - ela viu a garotinha encolhida - O que aconteceu?

– Meu pai, ele foi para o céu.

Emma sentou-se ao lado da amiga, mas quando ia dizer alguma coisa, foi interrompida por Killian.

– Vamos, Gina - ele segurava uma mochila que aparentava estar cheia.

– Pra onde? - Emma estava assustada com tudo aquilo.

– Não sei direito. - ele entristeceu enquanto puxava a irmã - Mas nunca mais vamos te ver.

Emma saiu em disparada e os impediu de continuar. Seus olhos agora estavam cheios de lágrimas que estavam prestes a encharcar seu rosto.

– Vocês são meus amigos, não podem me deixar! - ela protestou.

– Meu pai uma vez disse que quando as pessoas gostam umas das outras, sempre se encontram. - Killian falou - Então vamos nos ver outra vez, não se preocupe.

E assim os três se abraçaram, acreditando que um dia eles estariam juntos novamente.

– Pode se lembrar de mim sempre que olhar esse pingente. - o menino falou - Vai ficar tudo bem.

FLASHBACK OFF

...

O Sr. Gold e o filho entraram no Granny´s na esperança de serem atendidos, mas todos estavam reunidos em torno de uma mesa qualquer. Quando estavam prestes a sair, ouviram uma voz familiar, os fazendo girar os calcanhares e encararem a mulher loira que acabara de se levantar da cadeira.

– Eu volto já - ela disse.

Gold segurou o braço de Neal para que não fosse atrás dela, e mesmo não gostando, o filho lhe obedeceu. Somente o homem mais velho seguiu até a mesa, onde estava a prefeita, seu irmão, a professora e seu marido. Mas todos perderam os sorrisos quando o homem lhes dirigiu a palavra:

– Sentiram a minha falta?

– Gold. - Killian o cumprimentou.

Logo a mulher loira voltou, falou que seu nome era Emma, e sentou-se como se nunca o tivesse visto antes. “Não pode ser”, ele pensou, mas teve a confirmação quando percebeu o cisne que pendia da gargantilha que ela usava.

– Jones, já sabe. - ele disse enquanto se afastava.

Killian assumiu uma aparência sombria e empalideceu. Logo, também percebeu o olhar que o filho de Gold direcionava a Emma. Não falou absolutamente nada, mas ela insistiu para que ele contasse de onde conhecia aquele homem.

– Trabalhei para o Gold por alguns anos, e tenho dívidas com ele - foi a única coisa que respondeu.

Do outro lado do restaurante, antes de saírem sem ao menos fazer o pedido, Neal a observou mais uma vez antes de irem embora. Ela estava tão diferente, até parecia mais feliz.

– Pai - Neal sussurrou - aquela é...

– Elizabeth, mas ela não se lembra de quem é.

– Então precisamos ajudá-la - Neal tentou fez a menção de voltar para o estabelecimento.

– E vamos, mas do meu jeito.

...

P.O.V KILLIAN

Naquela madrugada fria, fui acordado com os gritos de desespero que vinham do meu quarto. Fui até lá e me deparei com uma cena horrível: Emma respirava ofegante, seus cabelos estavam colados em sua testa pelo suor, e ela gritava nomes e frases sem sentido.

– Neal, vá embora!... Meu nome é Emma, não Elizabeth!... Killian, não me deixe de novo!

Corri até ela, e meu primeiro instinto foi abraçá-la forte. Quando vi seus olhos se abrirem me senti melhor, e consegui sorrir. Mas ela estava tão frágil e se agarrou em mim como uma garotinha. Beijei sua testa e disse:

– Vai ficar tudo bem.

"Olhe dentro de meus olhos

Você verá, o que você significa pra mim

[...]

Você sabe que é verdade,

Tudo o que eu faço, eu faço por você".

(Everything I Do) I Do It For You - Bryan Adams.