Scorpius Malfoy não tinha dormido muito bem naquela noite. Ele tinha sido impulsivo, e a impulsividade geralmente vem acompanhada da estupidez. E, Deus, como ele tinha sido burro. Ele tinha colocado em risco todo o plano. Aquela era a oportunidade de ter o que sempre quis.

Desde sempre o loiro desejou ser um auror, antes mesmo de saber como aquela profissão poderia limpar a imagem da família Malfoy. Mas, quando terminou Hogwarts não conseguiu sequer ingressar na academia de aurores, mesmo que tivesse as melhores notas, tudo por causa do sobrenome dele.

O que era irônico, pois só tinha conseguido aquela oportunidade por causa do sobrenome dele e ele ia agarrar aquela oportunidade para mostrar do que realmente era capaz. Até a noite passada. Até ter quase colocado tudo a perder.

Ainda se martirizando levantou da cama. No espelho viu a imagem de uma pessoa cansada. Olheiras. Cabelo bagunçado. Barba por fazer. Ele definitivamente não estava fazendo jus para a imagem impecável que os Malfoy’s sempre deveriam ter

....

Rose Weasley levantou acordou com o som irritante do despertador. Ela não tinha dormindo muito na noite anterior e sua cabeça doía. E naqueles primeiros segundos ela se arrependeu de todo o álcool que tinha tomado na noite anterior. Durante o preparo do café ela prometeu, mais uma vez, que não voltaria a beber de novo.

Quando já estava pronta para ir para o trabalho Sophie, sua companheira de apartamento, estava tomando o café.

Não acredito que vai trabalhar depois de ontem.

Felizmente só tenho que assinar uns papéis e dar entrada em uns processos. Espero que não demorar. Estou com uma ressaca horrível.

Sophie deu de ombros. Sabia bem que Rose era viciada em trabalho.

Será que Mel não vai trabalhar?

Perguntou Sophie com um sorriso travesso no rosto.

­-Acho que deveríamos acordá-la. Afinal, que tipo de amiga seríamos se ela perdesse o emprego por nossa culpa?

Rose disse já caminhando em direção ao quarto de Melanie.

Que feitiço vamos usar hoje?

Sophie perguntou baixinho na porta do quarto. Rose apenas sorriu antes de convocar um balde e enchê-lo de água.

As duas jogaram dois baldes com água gelada em Melanie, que acordou assustada.

Vou matar vocês duas.

Gritou ela após o susto inicial.

Ora ora... veja quem acordou Sophie.

—E parece que acordou de mau humor, Rose.

Sophie e Rose se olharam rindo. Melanie começou a atirar todas almofadas da cama nelas.

Deixa de violência, Mel. Nós como boas amigas viemos aqui te acordar porque ficamos preocupadas de você se atrasar para o trabalho.

Explicou Sophie enquanto se desviava dos travesseiros.

Eu estou de férias suas idiotas!

Gritou Melanie.

Sophie e Rose gargalharam.

...

Amo vocês meninas, mas tenho que ir trabalhar. Já estou quase atrasada.

E, enquanto descia as escadas escutou Melanie gritando:

Como se o Richard não fosse adorar uma desculpa para te levar para a sala dele e fica a sós contigo.

Sophie sorriu. Todo mundo sabia que Richard era secretamente apaixonado por Rose, menos ela.

Se comportem.

Disse Rose antes de sair.

Com a ressaca que estou vou passar meses sem pensar em festa.

Comentou Melanie.

Aposto 50 galões como daqui a 6 horas você vai suplicar pra Rose e eu te acompanharmos em alguma festa.

Isso não vai acontecer.

Como se eu não te conhecesse, Mel. Eu vou indo para a casa do Vitor – medibruxo e noivo de Sophie.

Rose chegou em seu escritório já desejando ir embora. E, até poderia ir se não fosse a caixa postal. Haviam quatro mensagens. Três ela poderia deixar pra resolver em outro dia, mas a última...

Rose, reserve um horário após o expediente para um funcionário meu que está com problemas com a polícia trouxa. Sapos são verdes”.

Voz reconheceu facilmente a voz do auror chefe do ministério bruxo alemão. Os dois haviam se conhecido quando ele se envolveu em um delito trouxa – excesso de velocidade. Algo muito simples, que em anos anteriores poderia ser facilmente resolvido com magia, mas os tempos haviam mudado e a legislação só permitia o uso de maia para sair de situações no mundo trouxa em caso de vida ou morte.

Na ocasião Rose havia o ajudado de forma tão discreta que nem mesmo as pessoas do Ministério da Magia souberam. Desse momento em diante sempre que precisava resolver qualquer assunto envolvendo leis trouxas ele procura Rose. Naquele dia, no entanto, não seria ele, mas um funcionário.

Ninguém sabia da relação entre os dois. Rose o ajudava na área jurídica e ele a ajudava área pessoal, escondendo os rastros dela.

Rose retornou à ligação. Esperou chamar duas vezes e desligou. Aquele era o código para informar que já tinha escutado o telefonema.

Liguei pra ele dois toques apenas, era o codigo para informar que eu já havia escutado o telefonema.

...

Um celular tocou em cima da mesa. O objeto trouxa servia como meio de comunicação entre Scorpius e seu chefe, isto porque poderia ser facilmente transfigurado e a maioria dos bruxos sequer sabiam como funcionavam, assim dificultava eventuais interferências.

O loiro atendeu no segundo toque.

Naten falando— esse era o nome do disfarce dele – senhor eu... -Mas o tal chefe o cortou antes que ele continuasse com o pedido de desculpas.

Não trabalho com desculpas. Estarei enviando coordenadas para que encontre uma pessoa de uma minha extrema confiança. Ela já me ajudou em casos parecidos. Talvez, ela precise de informações sobre a missão...como eu disse confio plenamente nela. Não estrague as coisas.

E antes que pudesse dizer qualquer coisa a linha já tinha sido cortada.

...

Às 17h uma pomba entrou no apartamento de Scorpius. Na perna um bilhete.

“Reunião com Paige. 18h. Segure o pergaminho para aparatar”.

Antes que Scorpius pudesse aparatar Draco e Astoria Malfoy entram em seu apartamento.

Filho, essa decoração está péssima. Muitos tons sombrios.

Astoria reclamou assim que entrou. Ele os cumprimentou sem dar muita atenção para os comentários da mãe.

Porque resolveram passar por aqui?

Scorpius perguntou tentando não soar como se tivesse os expulsando, embora tivesse fazendo exatamente isso.

Uma mãe não pode mais visitar o filho?

Astoria questionou se fazendo de ofendida.

Estamos preocupados com você -Disse Draco, ele não era um homem de meias palavras – Preocupados com a vida que está levando.

Scorpius suspirou desanimado com o rumo daquela conversa. Parte do seu disfarce era agir como um verdadeiro filhinho da mamãe, sem rumo, sem se importa com ninguém e vivendo do dinheiro da família.

Filho, você não é mais um adolescente. Mas, olha esse apartamento... parece que uma criança vive aqui.

Astoria argumentou tentando não soar decepcionada com o comportamento do filho, mas os olhos dela a entregavam.

Não é porque não tive tempo de arrumar o aparamento que eu seja uma criança.

Retrucou ele fugindo do assunto principal, mas Draco não o deixou escapar tão fácil.

Não se trata da bagunça e sim... Você foi o melhor aluno da melhor escola de bruxaria e mesmo com todo seu potencial prefere... prefere fingir que não tem talento nenhum e viver às custas do dinheiro da família.

—Se o problema for esse eu deixo de usar o dinheiro...

Disse tentando fugir mais uma vez do foco principal.

O problema não é o dinheiro. Scor... você só vive em festas, fica com inúmeras garotas... vive como se fosse um adolescente que foi trancafiado durante toda a puberdade e agora precisa extravasar. Desistiu facilmente dos seus sonhos e sinceramente começo a me perguntar se um dia vai ser homem suficiente para correr atrás do prejuízo.

Astoria disse em um tom incisivo que não lhe era característico.

Não sou o irresponsável que pensa, mãe!

Aquela era a parte que mais odiava no plano decepcionar seus pais. Logo eles que sempre o apoiaram em tudo, que sempre estavam do lado dele, saber que os magoava feria Scorpius de uma forma profunda, mas depois, depois eles saberiam que esses comportamentos dele faziam parte de algo maior. Eles se orgulhariam depois. Ele sabia.

Sua mãe não está dizendo eu você é irresponsável, não achamos isso. Mas, você está agindo como um.

Ele não poderia continuar com aquela conversa. Não naquele momento. Já estava atrasado para a reunião com a tal Paige.

Prometo que vou refletir sobre o que vocês disseram, mas agora eu realmente preciso ir. Sabem como é... tenho várias garotas e esperando e ainda não decidi qual delas vou trazer para cá.

Scorpius se odiou pelo olhar magoado que Astoria tinha. Não podia dizer que ser idiota era o disfarce dele.

Assim que Draco e Astoria foram embora Scorpius tentou ao máximo melhorar sua imagem cansada e sua postura deprimente. Segurou o pergaminho e aparatou.

Era um prédio moderno, Scorpius o reconheceu, ficava próximo ao seu apartamento em Munique. Sempre imaginou que era um prédio trouxa, já que o apartamento dele ficava em uma área trouxa.

Tenho uma reunião com a senhorita Paige.

Comunicou ele para um segurança. O guarda o olhou desconfiado. Pediu para revista-lo, mas Scorpius apresentou sua carta branca – um recurso utilizado somente por pessoas de cargos muito importantes.

...

Rose detestava atrasos e o tal funcionário já estava 30 minutos atrasado.

Ainda está aqui?

Richard perguntou entrando na sala de Rose. O prédio já estava quase completamente vazio.

Terminado de resolver uma papelada. Sabe com é.

Melanie permitiu que ficasse até tarde? É que notei que faz uns dias que ela vem te buscar aqui no escritório – Explicou ele quando notou a expressão surpresa de Rose.

Ah sim. Ela está em um “vibe” de despedida de solteira adiantada.

—Achei que essa o padrão de comportamento dela.

Comentou Richard e os sorriram.

Por que não deixa essa papelada para depois. Você precisa descansar um pouco. Posso te dar uma carona.

Antes que ela pudesse aceitar o convite o porteiro avisou a chegada do cliente.

Senhorita Paige. Há um senhor aqui que diz ter uma reunião marcada.

Paige era o nome do meio de Rose, desde que cortou laços com a família passou a usar seu nome do meio e o sobrenome da mãe dela, para se camuflar no mundo bruxo. Seus sócios sabiam quem era ela de verdade, mas a maioria dos funcionários da empresa não tinham ideia.

—Pode deixa-lo subir.

Richard encarou a cena surpreso.

Pensei que estava só resolvendo umas papeladas...

Disse ele desconfiado.

Eu tinha uma reunião, mas como ele já estava atrasado pensei que não ia vim mais.

—Se quiser posso ficar aqui. Não tem ninguém mais nesse andar.

Rose sorriu. Richard como sempre bancando o protetor. Ele era assim com ela desde quando descobriu quem ela realmente era e o porquê dela esconder sua verdadeira identidade.

Não tem porquê se preocupar Richard, e mesmo que tivesse sei me defender muito bem sozinha.

Richard pensou em relutar e insistir em sua permanência, mas lembrou-se que do cliente misterioso, ela jamais tinha revelado o nome, só que era uma pessoa importante do Ministério da Magia e que gostava de manter as coisas o mais confidencial possível em razão do cargo que exercia.

...

Scorpius não pôde acreditar no que estava vendo. Aquela era Rose Weasley. Rose. Ali na sua frente. Depois de todos aqueles anos. Estranhamente na porta estava escrito “Paige Grande – Associada G3”.

Mas dentro da sala estava Rose Weasley e Scorpius não pôde deixar de notar no quanto ela estava linda. Quando ele entrou na sala ela o viu pela primeira vez, os dois ficaram assim petrificados, se encarando por alguns segundos. Scorpius foi o primeiro a sair do “transe” e deu um sorriso singelo para a ruiva, lembrando-se imediatamente do gosto do beijo dela.