Com esforço consegui entrar na portaria do prédio com Bê, ele não havia melhorado muita coisa ainda, até temi que o porteiro não o reconhecesse e impedisse nossa entrada.
Quando finalmente chegamos no apartamento levei-o direto para o banheiro no quarto dele, deixei ele sentado sob a privada e liguei o chuveiro, seria melhor se houvesse mais alguém para me ajudar, pois ele precisava passar uma água no corpo para acordar.
—Bê, tenta ficar de pé.
Ele levou um tempo para raciocinar meu pedido, e quando tentou levantar se virou rapidamente e vomitou na privada. Pelo menos ele havia sido esperto e não vomitou em algum lugar que desse trabalho para limpar.
O lado bom era que organismo dele ficaria mais limpo.
Abri a janela do banheiro para ajudar a circular o ar, Bê vomitou umas três vezes até seu estômago melhorar. Confesso que o cheiro me fazia querer vomitar também, porém aguentei firme. Tirei a blusa dele, os sapatos e as meias, o cheiro do banheiro impedia que houvesse um clima ali, Bê estava começando a voltar um pouco a si, criei coragem para tirar sua calça e colocá-lo só de cueca debaixo da água que eu deixei um pouco fria.
Aquele corpo não podia ser real, era tão definido que parecia ter sido desenhado detalhe por detalhe. Ele primeiramente reclamou um pouco da temperatura da água, depois de uns minutos parecia que nunca iria querer sair de debaixo do chuveiro. Quando ele voltou o suficiente para ficar em pé sem riscos de cair, sai para pegar um pijama para ele colocar.
Entrei no quarto dele e me senti um pouco desconfortável, pois foi como se eu invadisse a privacidade de Bê, ainda mais quando revirei o guarda roupa procurando por uma gaveta de cuecas. Me incomodava a falta de coisas pessoais no quarto, o que mais chegava perto de algo que mostrasse um pouco sobre ele era uns livros sobre a escrivaninha.
Talvez estivesse tudo organizado no guarda roupa, eu me senti tão invasiva mexendo nas coisas dele que nem havia reparado direito o que havia, mas em uma das portas me lembro de varias caixas de organização.
Antes que eu pudesse pensar em bisbilhotar, Bê chamou meu nome para que eu levasse uma toalha também.
Entreguei a toalha para ele e deixei o pijama encima da pia, fui para a cozinha e comecei a fazer um pouco de café.
Quando ficou pronto, Bê já estava sentado na mesa, um clima pesado estava parado sobre ele, sua postura não era a mesma de sempre, seu rosto estampava cansaço.
Servi a xícara de café e ele deu um sorriso, olhando para mim apenas por um segundo e depois desviou o olhar, parecia querer me evitar.
—O que está te incomodando?- Perguntei, sentada em sua frente.
—Passei um pouco dos limites, me empolguei na bebida.
—Fiquei sabendo que teve um motivo para isso.- Ele arregalou os olhos, ficou em silêncio por um minuto até que falou:
—O que te falaram?
Fiz um suspense, para ver se ele me dava a informação, mas como realmente ficou me esperando falar, não tive escolha:
—Não muita coisa, apenas que você tem umas histórias do passado que te atormentam, uma com sua família, e a outra, a qual eles tivera que te lembrar porque “sou uma boa pessoa”.
Ele pareceu muito irritado nessa hora, virou todo o café e deixou o açúcar escorrer até sua boca, lambeu os lábios e respirou fundo tentando se livrar da inquietação.
—Não é nada com o que você deva se preocupar, foram uns erros que cometi e que me assombram.
—Mas porquê seu amigo me envolveu nisso?
—Podemos conversar amanhã? Eu não estou conseguindo nem pensar direito, ainda está tudo rodando.
—Você dorme no seu quarto hoje.
Saí e fui direto para meu quarto, fechei a porta, não somente isso, a tranquei também. Eu estava irritada, já me sentia insegura antes, sabendo que ele esconde algo importante, algo que pode me envolver, mesmo sendo pouco importante ou impactante na minha vida, faz com que eu me sinta em um lugar estranho.
Quando acordei não quis sair da cama, fiquei deitada ali, olhando para o teto, e depois para a janela. Fiquei mentalizando musicas para passar o tempo, até que decidi que a melhor coisa a fazer era sair e conversar com Bê.
Me arrumei, respirei fundo para sair de meu quarto. Não havia mais ninguém no apartamento, Bê não estava ali. Vi que havia deixado meu celular encima da mesa, havia varias mensagens apagadas do Bê no meu WhatsApp, a única que ele havia deixado era uma em que ele dizia que sentia muito por ontem e só voltaria depois do almoço.
“Que idiota”, pensei, fugindo de novo.
Tomei café, escovei os dentes, coloquei outra roupa e decidir sair desse lugar claustrofóbico.
Estava vestida de um modo muito mais descontraído do que eu costumo me vestir, precisava dar uma refrescada na mente, nada de preocupações até eu voltar.
Saí e fiquei esperando o Uber na frente do prédio. Fui surpreendida por uma presença que poderia estragar minha tentativa de respirar. Matheus dirigiu a palavra a mim na maior intimidade:
—E aí?? Não sai mais daqui hein!!! Está indo para onde?
—Acho que vou dar uma passadinha no jardim botânico.
—Estou indo visitar a fazenda de um primo, quer ir?
Por um momento me empolguei com a ideia de sair com Matheus, meu lado vingativo estava tentado a dar uma volta com outro cara qualquer que aparecesse do nada.
—Sinto muito, mal conversamos, seria um pouco estranho.
—Se isso é um impedimento, mudo meus planos!!
Meu Uber chegou e ele vendo que eu o identifiquei agiu antes que eu pudesse entender o que ele estava querendo dizer, ele dispensou o meu motorista e pagou a multa.
—O que acha que está fazendo?
—Vamos no meu carro, irei com você, você quem disse que precisamos nos conhecer melhor!
—Não! Desculpe, mas não estou te dando liberdade para que você faça algo assim, e também eu entrando no seu carro você pode muito bem me levar para algum lugar suspeito.
—Então você pelo menos já está considerando a ideia de entrar no meu carro, quer dizer que você quer ir!
—Olha, eu sei que posso estar sendo grosseira, porém você anda com a Rebecca, alguém que com certeza me odeia e quer me atingir, então para mim você não é confiável!
Ele parou pensativo, hesitando se falava o que estava em sua mente.
—Ela não te odeia, ela odeia o Bernardo.
—E qual o motivo dela para isso??
—Você não faz ideia mesmo né?? Bem que Rebecca falou que seu namoradinho nunca que iria te contar!
Ele viu minha expressão de que algo se encaixou em minha cabeça, ele tinha a informação e eu estava interessada.
—E você irá?
Como esperado, Matheus fez uma expressão de quem tem a vantagem nas negociações e não irá ceder fácil.
—O que acha de passar a tarde comigo? Quem sabe eu deixo escapar!
Encarava Matheus e tentava tirar dele o máximo de informações possíveis ou evitava correr riscos e ficava assombrada por minhas dúvidas?
—Tudo bem, mas eu escolho aonde vamos!
—Fique à vontade, aquele é o meu carro- Disse ele apontando para uma caminhonete vermelha- aposto que no fim da tarde de hoje você estará sem todo esse preconceito que possui em relação a mim.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.