Rodovia 144
Estranho à beira da estrada
– O que aconteceu? Por que minhas roupas estão assim? E por que minha cabeça está molhada de sangue? – perguntou Luna ao menino que se encontrava na sua frente. Ele tinha mais ou menos a sua idade, uns dezesseis ou dezessete anos, com cabelos cor de mel e olhos cristalinos, um azul meio esverdeado. Pele branca e um sorriso no rosto. Aliás, esse sorriso era bem contrastante com o lugar em que se encontravam. Estavam em um vasto gramado de beira de estrada, com alguns destroços de carro aqui e acolá. Falo dessa maneira porque as partes do carro estavam bem espalhadas. Metade do carro estava amassada contra um poste ali perto e a outra metade se encontrava mais ao longe no gramado. Nesse espaço que separavam as duas metades, algumas peças como o retrovisor, o pneu ou cacos de vidro se encontravam esparramados. Luna encarava o menino e a cena à sua frente, tentando achar alguma resposta para aquilo tudo.
– Você sofreu um acidente de carro. Acho que isso resume as respostas de todas as suas perguntas. – respondeu o menino, calmamente, olhando para Luna com ternura.
– O que? Como assim? – perguntou desesperada.
– Irei te explicar. – o menino não tirava aquele sorriso do rosto. Ele foi andando até a metade do carro que se encontrava amassada contra o poste. Luna o seguiu. – Você e seu pai estavam indo visitar a sua avó, lembra disso?
– Bom, disso eu lembro. – sua voz saiu fraca. A lembrança não era lá muito boa – Meu pai estava...
– Bêbado. – o menino completou. – Completamente bêbado e dirigindo em alta velocidade.
Luna olhava para o chão, uma lágrima escorreu pelo seu rosto.
– Não é de hoje que isso acontece não é mesmo? – o menino se aproximou de Luna e enxugou a lágrima.
Luna não respondeu. Apenas balançou a cabeça e choramingou baixinho.
– Pobre garota. – suspirou.
Após um tempo, Luna falou:
– Continue. – levantou a cabeça enxugando as lágrimas.
– Você tem certeza?
– Sim. - respondeu, secamente.
– Certo então. Como disse, seu pai vinha em alta velocidade, embriagado. É claro que essa combinação nunca dá certo. Seu pai perdeu o controle do carro e tentou frear. O carro deu um giro e bateu com toda a força no poste. O impacto foi tanto que partiu o carro ao meio. Uma metade, como você pode ver, ficou aqui, junto ao poste, e a outra voou, soltando peças para todos os lados.
– Meu deus! Espera... E o meu pai?! – Luna gritou aflita.
– Calma, eu vou levá-la até ele.
O menino foi andando em direção a outra metade do carro. Chegando lá era possível ver a metade da cintura para cima de um corpo saindo do carro, ainda preso ao cinto de segurança. Seus cabelos pretos estavam encharcados de sangue, e seu braço estava estendido de uma maneira que não era natural. Quebrado, com certeza.
Luna se jogou ao chão, do lado do corpo do homem, aos prantos. Apesar de tudo o que aquele homem fizera a ela, todos os maus tratos, ele continuava sendo seu pai, e Luna o amava.
– Luna, acalme-se. – O menino disse, ajoelhando-se ao lado dela. – Seu pai não está morto.
– Ele não está? – Luna arregalou os olhos para o menino.
– Não, ele não está. Mas ele ficará em coma e provavelmente nunca mais poderá andar.
Luna levou as mãos à boca. Em seguida, perguntou:
– Você já chamou ajuda não é?
– Não.
– O que? – gritou Luna, levantando-se de uma vez. – Você está louco?
– Eu não posso. – levantou-se. Ele continuava calmo.
– Como você não pode? – Luna gritava cada vez mais alto. – E como você sabe de todas essas coisas? Como você sabe meu nome? Quem é você afinal?
– Luna...
O menino foi interrompido abruptamente por Luna:
– Olhe! Tem alguém ali! – Luna correu alguns metros à frente de onde seu pai se encontrava. Ela havia avistado alguém deitado no chão. – Mas o que...? – O corpo que se encontrava deitado no chão era de uma menina com cabelos lisos e castanhos, que vestia uma calça jeans que havia rasgado no joelho e uma blusa cor de rosa, que já estava praticamente marrom por causa da terra. Sua testa estava encharcada de sangue e havia machucados por todo o seu rosto, assim como Luna. Ela olhou com os olhos marejados para o menino, sem conseguir pronunciar uma palavra.
– Luna, você foi arremessada para fora do carro. Estava sem cinto de segurança. Lembra que seu pai simplesmente não a deixou colocá-lo? Pois bem. Isso talvez tivesse salvado a sua vida.
– Quem é você? – a voz de Luna saiu falha.
– Eu sou a morte Luna, e vim buscá-la.
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