Riddare Drakar

Capítulo 19 - A Batalha no Mar


Capítulo 19 - A Batalha no Mar


Sasuke

Cansado.

Eu estava cansado.

Mas, não era nenhuma surpresa se parasse para pensar como tem sido os últimos dias.
Já havia passado uma semana desde que fui a casa do Uzumaki e que dera o nome Kurama para o dragão Raposa-escorpião.
Depois disso, os dias correram de forma rápida e intensa. Naruto conseguiu passar no teste especial do Kakashi depois que o ajudei com mais algumas aulas, o que me rendeu uma seção de agradecimentos e exclamações de alívio do Dobe que não precisaria encarar a fúria escarlate da Matriarca Kushina, pelo menos não por enquanto. Kurama vinha periodicamente visitar a clareira para passar um tempo comigo e com Aoda, muito mais do que ele costumava fazer, o que me obrigou a preparar uma quantia razoável de suprimento para conseguir aplacar a fome desenfreada que aqueles dois tinham.
Além disso, os treinos também se intensificaram, Kakashi parecia excepcionalmente inspirado naqueles dias, nos dando uma sequência de aulas práticas que nos levavam ao limite, sentia cada pequeno pedacinho do meu corpo doer, o tipo de dor que repuxava os músculos e me fazia lembrar de sua presença a cada novo passo que dava em direção a mais um dia de treinamento. Tinha meu palpite de que aquilo estava acontecendo porque nos aproximávamos cada vez mais do dia derradeiro, nem dava para acreditar que o verão já se encaminhava para seu fim, dando adeus aos dias infinitos e olá para as noites escuras. O último inverno foi terrivelmente frio e sangrento, os Dragões pareciam ainda mais selvagens e bestiais do que em todas as outras vezes, e, além disso, tivemos muitas baixas no exército e na população. Mesmo que na nossa cultura a morte não seja o fim, mas sim um meio de alcançarmos Valhalla, não havia como não chorar por nossos mortos. Eu conseguia entender o ódio do meu povo pelos dragões, conseguia ver pelos mesmos olhos que eles quando o cadáver queimado de uma criança era trazido para ser entregue ao mar. Quando uma mulher grávida era encontrada soterrada sob os escombros. Quando o choro fúnebre de uma família era audível por todo o reino.
Mas, apesar de tudo, hoje eu também entendo que os dragões não são a encarnação do mal, como por anos acreditei ser. Ainda não sei explicar o que acontece durante o inverno para que ocorra os ataques, não há nada nos livros ou documentos que deem o mínimo de possibilidade para uma explicação plausível, simplesmente era assim, como parecia sempre ter sido, ou melhor, notoriamente mais intenso e violento de alguns anos pra cá.
No entanto, minha preocupação ainda estava no dia da exibição. Tenho melhorado muito nos treinos, coisa que não vem passando desapercebida por Kakashi e os outros, mas meu objetivo nunca foi me mostrar ou provar a eles de que era capaz, eu só queria reduzir o máximo de dano possível aos pobres dragões enjaulados que são usados na arena. Mas, não deixava de me sentir ansioso com a possibilidade de ser escolhido para a exibição no dia do teste final, "o melhor Hunter terá a oportunidade de matar o seu primeiro dragão diante do povo e dos deuses, provando sua honra e seu valor". Se há algo que eu não posso permitir que aconteça, é isso. Porque não serei capaz de tirar a vida de qualquer um deles, mesmo que eu esteja diante de todo o Império... Mesmo que seja meu pai a ordenar... Mas também não sei o que acontecerá se eu o desobedecer...
O sonho que tive a muito tempo atrás invade meus pensamentos sem permissão, a imagem de Aoda sob meus pés e Fugaku ao meu lado ordenando a execução no cenário em chamas me dava calafrios... a sensação de Impotência e submissão eram destruidoras.
Porém, talvez ainda pior, era pensar na possibilidade daquele sonho ser um aviso, uma premonição do caos que poderia estar por vir.
Não pude evitar o calafrio que subiu pela minha espinha.
Mas, no fim... Não havia mais nada que eu pudesse fazer além de pedir que os deuses me ajudassem e tivessem misericórdia.
Era essa minha oração.

}|*|{

— Caramba, Sasuke, sua animação é contagiante - disse o Uzumaki assim que me viu chegando próximo da Arena - Se você se esforçar mais, acho que vai acabar desmoronando aqui mesmo e vou ter que te levar arrastado pelo resto do caminho.
— Claro, Kakashi parece motivado a ver nossos ossos saltando para fora da pele - Disse de forma dramática, o que fez meu amigo rir.
— Acho que perdi a conta já de quantas vezes ele testou as Valquírias para vir nos buscar nos últimos treinos - Foi a minha vez de dar risada. Se não conhecesse o homem, diria com certeza que Kakashi estava sob influência de Loki para nos torturar e nos mandar o mais rápido possível para o mundo dos mortos.
Seguimos em frente, mas mal nos demos conta de quando chegamos a Arena, Naruto gargalhava contando sobre as explicações do Hatake e como ele fazia parecer simples desacordar um Fogo furioso apenas achando o ponto certo para apertar em seu pescoço, deixando de lado, é claro, a possibilidade de perdermos um braço antes de ter a chance. Riamos inocentemente ao atravessar os grandes portais sem perceber a atenção que atraíamos em nossa direção, em especial, a de uma certa figura grisalha (levemente irritado) que nos interceptou e nos encarou com aquele único olho que faria qualquer um estremecer.
As cem flexões seguintes que tivemos que pagar só me fizeram ter certeza de que daquele dia meu espírito poderia passar, mas meu corpo não seria capaz de fazer o mesmo.
— Meus caros caçadores - Kakashi começou assim que nos levantamos novamente - Agradeçam ao Pai de Todos, pois hoje teremos apenas uma aula teórica - Uma comemoração nada contida se alastrou entre os Hunter, o que, devo dizer, me deixou mais aliviado por saber que não era o único cansado da maratona de treinos do Hatake - Mas, amanhã, estejam preparados para colocar em prática o que falarmos hoje... - Ele fez uma pausa dramática - Vocês vão aprender a lidar com Dragões Aquáticos.
Claro, era bom demais para ser verdade.
Cochichos espalharam-se como fogo, seria a primeira vez que enfrentaríamos esse tipo de dragão. Eu mesmo só vi alguns de longe quando voava com Aoda pelos penhascos de Delling, se já era difícil lidar com os dragões comuns, não saberia dizer como faria para lidar com uma espécie tão diferente e, talvez, muito mais perigosa.
— Como vocês sabem, eu prefiro a prática. Mas, dessa vez, sem as devidas informações, alguém pode sair seriamente ferido - disse olhando excepcionalmente para o Uzumaki já vermelho do exercício.
As cabeças acompanharam Kakashi, mas não se demoraram, logo voltando a prestar atenção no mais velho, Sakura, porém, continuou encarando um Naruto com bochechas infladas num misto de raiva e vergonha. Ela riu abertamente da cena cômica, mas logo nossos olhos se encontraram, ela meneou a cabeça num cumprimento contido o qual retribui um pouco sem jeito, mas me esforçando para ao menos lhe oferecer um meio sorriso.
Tínhamos nos afastado depois do ocorrido da praia, ela me pedira uma conversa e que eu me cuidasse, mas só pude atender a um de seus pedidos. Tenho a evitado o máximo que me é possível, eu sabia que manter aquilo não seria saudável para nenhum de nós, e eu queria ao menos amenizar as coisas o quanto fosse possível, já que não demoraria para eu passar a vê-la diariamente pelos corredores da fortaleza. Ela, pelo menos, não voltou a insistir, provavelmente anda ocupada com a organização da festa de aniversário e todas as outras coisas que envolvessem o casamento.
Comprimentos cordiais e poucas palavras respeitosas teriam que ser o suficiente a partir de agora.
Quer queiramos ou não.
— De qualquer forma, vamos começar! - Kakashi voltou a chamar nossa atenção - O dragão que iremos trabalhar hoje será o Terror dos Mares, uma besta de duas cabeças com escamas azuis que ao em vês de fogo, cospe raios. Mas, vocês precisam estar cientes que ele é um animal temperamental e muito agressivo, o que significa que uma abordagem direta só vai resultar na morte de vocês.
Temari logo levantou a mão.
— Professor, onde ele foi achado?
— Então, loirinha, acharam o dragão na costa mais ao leste, os pescadores do clã Haruno tiveram sorte de não serem notados, alguns Hunter foram verificar com o grupo de Itachi, mas o líder sugeriu que seria um bom treinamento para vocês.
Ao ouvir a referência ao meu pai não pude evitar de fechar a cara.
— Mas, Kakashi - Foi a vez de Shikamaru levantar a mão - Dragões Aquáticos são muito perigosos, estão numa escala 8 de agressividade, acha realmente que seria seguro para nós que somos meros principiantes se para o pessoal altamente treinado já é muito perigoso?
— Não precisam se preocupar, o batalhão de Itachi estará lá para fazer a segurança de vocês.
— TODO o batalhão? - Ino se pronunciou, com um curioso sorriso de orelha a orelha que deixava muito explícita a sua empolgação.
— Sim, Ino, todo o batalhão - A garota faltou só dar um gritinho de felicidade, me pergunto quem do batalhão do meu irmão a interessava tanto - Mas, vou lembrar a todos MAIS uma vez, estejam concentrados. Um deslize, uma falta de atenção, e nem o melhor guerreiro dos nove reinos será capaz de salvá-los da boca cheia de dentes daquela fera.
O aviso serviu como uma boa motivação, pois o resto da aula se passou sem qualquer outra pergunta irrelevante e com o grupo focado em prestar atenção nas explicações do mais velho sobre pontos fracos, pontos cegos, fraquezas e outros por menores que poderiam salvar nossas vidas.
Ao fim do dia, Kakashi dispensou a turma, e eu fiz questão sair o mais rápido possível, não me preocupando em me despedir do Uzumaki ou qualquer outra pessoa. Nem passar na fortaleza eu passei para comer alguma coisa, simplesmente fui direto ver meu grande dragão negro e, possivelmente, esfomeado.
Como sempre, ele me recebeu alegremente, aquilo nunca deixava de me fazer sorrir. Dessa vez, Kurama não estava me esperando junto de Aoda, assim, depois de aplacar a fome do Fúria da Noite, levantamos voo para a costa leste.
Não eram céus que costumávamos nos aventurar, aquela região tinha uma movimentação considerável de pescadores do clã Haruno, e pela falta de árvores, não seria nada discreto estar voando por ai com um enorme dragão negro numa abóbada celeste que não escurece, por isso, seguimos por cima das nuvens até que eu tivesse certeza que seria seguro.
Logo que pousamos, encontrei um esconderijo para Aoda e disse para ele ficar ali de prontidão, avancei em direção à praia, mas não precisei ir muito longe para encontrar o que eu procurava.
Lá estava o Terror dos Mares, dormindo serenamente, como se nada nesse mundo pudesse perturbá-lo. Kakashi não brincou quando disse que o animal era enorme, as escamas azuis estendiam-se uniformemente por todo seu corpo, as duas cabeças eram grandes, com uma boca enorme e cheia de dentes que saltavam para fora mesmo com ela fechada. O animal era definitivamente grandioso e extraordinário. Teria ficado ali perdido na beleza do dragão por horas a fio se algo não chamasse minha atenção.
O topo de uma cabeleira rosa apareceu por entre os arbustos, e logo, o que era só uma pequena parte, se mostrou por inteiro olhando diretamente para mim. Talvez, o deuses gostem de brincar com a minha cara.
Seu jogo preferido, sem dúvidas.
— Sasuke - Ela se pronunciou primeiro - Veio fazer uma pesquisa de campo também? - E sorriu.
Droga.
Aquele maldito sorriso.
— Hm, sim. Acho que tivemos a mesma ideia.
Pela cara que ela fez, posso deduzir que Sakura não estava esperando uma resposta "normal" depois de tanto tempo. E admito que, apesar de tudo, eu sentia falta disso.
— Achei que seria mais sensato, já que nunca tivemos um treinamento assim ou precisamos lidar com um Dragão tão perigoso - ela continuou enquanto encarava o réptil a sua frente - Talvez ele só perca para um Fúria da Noite.
Aquele comentário me pegou de surpresa.
— Vo-você acha? - Droga, não consegui evitar gaguejar - Um Fúria da Noite seria mais perigoso que esse dragão enorme? Eu já ouvi falar que eles não têm um porte grande ou coisas do tipo.
—Aí que está, não ser grande não quer dizer não ser perigoso... Fúrias da Noite são letais simplesmente por que nasceram para ser.
Acabei me calando, sem saber como continuar o assunto. Claro, não foi fácil o processo até que eu e Aoda conseguíssemos nos entender, foram alguns meses de muita insistência da minha parte até que pudéssemos dar o primeiro passo.
Mas, essa visão que todos tinham dos Fúrias da Noite não fazia sentido na minha cabeça. As descrições não se pareciam com o dragão que eu via todos os dias. Com o dragão que fazia manha quando não recebia atenção suficiente. Com o dragão que gostava de carinho. Com o dragão que me aninhava em seu grande corpo depois de um dia cansativo. Nada disso parecia se encaixar com Aoda, o mesmo dragão que eu tentei matar, mas que poupou minha vida.
Porém, nos calamos imediatamente quando ouvimos um som alto de algo se quebrando se propagar no meio da floresta. Imediatamente pensei em Aoda e que ele deveria estar aprontando alguma coisa, mas, para nossa pura sorte, não foi só Sakura que ouviu o som, mas também o dragão, até então adormecido, que decidiu abrir os quatro olhos em nossa direção.
Só tive tempo de puxar a garota para trás de uma árvore antes que uma rajada de raios atravessasse os troncos atrás de nós como se não passassem de folhas de papel.
— CORRE! - Gritei em plenos pulmões e sai arrastando a Haruno floresta adentro.
Não tive a curiosidade de olhar para trás, apenas ziguezagueava entre as árvores com a mão da garota em punho.
Mas, não podia me esquecer de que Aoda estava em algum lugar daquela floresta sem conseguir voar e, possivelmente, correndo perigo se o Terror dos Mares realmente tivesse decidido ir atrás de comida fresca.
— Sakura - Parei ofegante, me voltando finalmente para ela - Vamos nos separar!
— O que?! - ela exclamou confusa e tão sem fôlego quanto eu - Ficou louco?!
— O faro do Terror dos Mares é muito aguçado - Menti descaradamente. Tenho certeza que Loki ficaria orgulhoso - Se ele estiver nos seguindo vai vir atrás do nosso cheiro, mas se nos separarmos isso irá confundi-lo!
— Mas... - Ela então olhou finalmente para as nossas mãos entrelaçadas e arregalou os olhos, ficando com as bochechas levemente rosadas enquanto desviava o olhar para qualquer outro canto da floresta, mas não fazendo nada para afastar minha mão, o que me confortou, afinal, ela não estava ressentida pelo meu afastamento - Certo... Então vamos fazer isso - Ela concordou, mas não parecia tão convencida quanto eu poderia desejar.
— Vá pelo caminho para Konoha, eu vou contornar e seguir para as Kildene Winters, nos encontraremos na cidade!
E sem dar tempo para que ela pudesse processar qualquer outra coisa, finalmente soltei sua mão e parti em disparada na direção contrária, torcendo para que Aoda tivesse tido o bom senso de fugir ou ficar escondido e não querer enfrentar o dragão Aquático.
Depois de alguns longos minutos correndo, finalmente o encontrei, no mesmo lugar em que eu o tinha deixado. O miserável roía um tronco de árvore recém cortado como se fosse um osso gigante, nem aí para o fato de quase ter me matado.
— Por um triz não virei um churrasco pra dragão por causa de uma árvore... - Não pude evitar de revirar os olhos e estapear minha testa - Às vezes não sei se você é um gato gigante ou um cachorro gigante.
Dito isso, montei novamente nele e partimos de volta para a clareira.
}|*|{
Tínhamos combinado de nos encontrar cedo, assim que o galo cantasse pela terceira vez, próximo do lugar em que o Dragão estava. Mas, já era passado muito tempo que todos haviam chegado e nada do Kakashi aparecer.
Ficamos esperando por mais de uma hora até que a figura grisalha decidiu dar o ar de sua graça. Sem justificativas, ele nos deu bom dia e seguiu na direção da praia tranquilo, como se ele não tivesse nos deixado plantados ali sem mais nem menos. O Hatake foi fuzilado por toda a turma e pelo batalhão em peso do meu irmão, além é claro de ter que ouvir um Uzumaki reclamando e esbravejando pela demora e sendo apoiado por Sakura e Ino.
O homem apenas ignorou, guiando-nos até o local onde saberia que iria encontrar o objetivo do dia. Eu comecei a perceber que estava nervoso, apesar de disfarçar bem. Olhando ao redor encontrei um Naruto falador, que comentava animado com Sakura sobre a aula de hoje e suas expectativas, ela apenas achava graça da felicidade do Uzumaki, e provavelmente preferindo não comentar sobre nosso encontro antecipado com o animal no dia anterior. Logo a frente ia uma Ino animada e tagarela com Temari em seu encalço, curiosamente muito próximo ao grupo de Itachi, talvez meu palpite estivesse certo sobre o interessa da Yamanaka, agora quem era o pobre coitado já não saberia dizer, mas pela cara de Temari ela preferiria enfrentar sozinha o Terror dos Mares do que ter que ouvir a ladainha da irmã àquela hora do dia. No mais, o resto do grupo seguia tranquilo, Shikamaru bocejando, Hinata e Karin conversando e eu, o mais atrás possível, me contentando em observar.
Não demorou para praia do dia anterior logo despontar no nosso campo de visão, mas ao invés de encontrar o dragão dormindo como na última vez, ele estava bem desperto, boiando sobre a água como se quisesse aproveitar o sol, de forma tranquila e despreocupada. Não pude evitar o sentimento ruim que me tomou, ele não parecia nada perigoso naquele momento, era apenas um animal tentando viver, mas aparentemente eu era o único ali que pensava assim. Kakashi sinalizou e o batalhão se posicionou em locais estratégicos, a fim de não alertar o animal de nossa presença.
Depois foi a nossa vez, conforme o combinado da aula de ontem, Ino e Temari foram as primeiras a seguirem em direção ao animal, pois acreditávamos que as duas cabeças iriam ficar confusas por estarem lidando com cada uma de um lado. Assim que notou nossa presença ele saiu da água e veio a passos largos em nossa direção. A estratégia parecia estar dando certo, porém o Dragão abriu a sua boca soltando uma rajada de raios na direção de Temari, que só não sofreu danos por Shikamaru estar perto e ter a puxado para o chão bem na hora.
Depois foi a vez de Naruto avançar, mas antes que pudesse ir muito longe, Sakura o agarrou e pediu para que ele esperasse. Olhando para mim, sinalizou como se estivesse esperando minhas ordens. Os outros não pareceram notar, pois estavam ocupados de mais evitando o animal e fugindo das rajadas poderosas de raios.
Os segundos que estavam levando para que eu tentasse bolar alguma estratégia para me aproximar do dragão pareciam uma eternidade. Mas, algo enfim chamou minha atenção, percebi que enquanto os outros lutavam, inclusive Naruto e Sakura que apesar de estarem me esperando não se deixavam abalar pelo ser voador, o dragão estava claramente assustado, mas sabia o que estava fazendo, tanto que quando ele recarregava sua rajada, parecia entender que a água era condutora, já que ia sempre para o mar.
A primeira vez que isso aconteceu Naruto foi o único a ser levemente machucado, tiveram sorte de Hinata e Karin conseguirem evitar uma catástrofe maior.
Mas, enfim, como uma luz na noite sem fim, tive uma ideia. Chamei ambos para um lugar mais afastado, enquanto o resto distraia o dragão e lhes expliquei o plano.
— Sakura, preciso que você faça com que ele venha atrás de você, acho que você é a única entre nós com essa capacidade, ele precisa ficar longe da água, mas não o machuque, não sabemos o que pode acontecer se ele ficar mais arredio.
— Mas, Sasuke, como pretende que ele me siga?
Calei-me por alguns segundos pensando no que fazer.
— Podemos usar seu machado - conclui - para provocar ele, tente chamar atenção fazendo um reflexo, se a luz acertar qualquer um dos olhos já deve servir.
— Tudo bem, deixa comigo!
— Dobe - voltei-me para o Naruto - proteja a Sakura com o escudo dela quando ele atirar. Eu estarei junto, quando isso acontecer, deixem comigo e se afastem, por que pode dar errado.
Ambos arregalaram os olhos, mas não discordaram, meus feitos durante os treinos tinham que valer de alguma coisa. Além disso, os outros já estavam cansados, e alguns machucados, procurei meu irmão por entre as árvores e vi que ele já estava em posição para intervir a qualquer momento, nossos olhos se encontraram e sinalizei para que ele esperasse. Achei que ele hesitaria ou se recusaria, mas não havia dúvidas no seu rosto, ele confiava em mim.
Seu aceno de aprovação foi o suficiente para eu agir.
Sakura e Naruto seguiram o plano, estava dando tudo certo, já que o escudo que eles tinham levado não era de metal, logo não era um condutor, e puderam levar o animal o mais longe possível da água.
Após as acrobacias de Sakura e a astúcia de Naruto, eu consegui ficar frente a frente com aquele animal irritadiço e assustado, era notório o cansaço estampado em seus olhos, mas, com calma, me aproximei dele, o loiro e a rosada se afastaram, e todos os outros pararam para nos observar.
Levantei minha mão com cautela enquanto largava um punhal com a outra, como imaginei, ele se acalmou mais sem a presença de armas, estávamos longe o suficiente da água para caso algo desse errado e ele decidisse me fritar. Os outros também haviam recuado a uma distância segura, se protegendo próximo a um aglomerado de rochas.
Quando minha mão já estava completamente estendida, olhei firmemente para ele, não poderia desviar os olhos, não sabia o que o animal poderia fazer, então com paciência aguardei até que ele se sentisse confortável.
Pareceu uma eternidade.
Nem podia imaginar o que os outros estariam pensando, Kakashi provavelmente deve achar que enlouqueci de vez, mas estava confiante, Sakura mesma disse que um Fúria da Noite era muito mais perigoso que um Terror dos Mares, e se foi possível eu acalmar e me tornar amigo do dragão mais perigoso já visto, o ali e agora não seria impossível.
Quando menos esperei, vi as duas cabeças se aproximarem da minha mão e roçarem o nariz gelado numa demonstração clara de carinho.
Eu sabia! Eu sabia!
Aoda não era uma exceção.
Kurama não aceitou ajuda por estar machucado.
Eles atacam para se defender, é um instinto!
Mas... Então por que eles atacam no inverno?
Contudo, não pude ir mais além no meu raciocínio, todos começaram a gritar dizendo que eu devia finalizar e acabar logo com o Terror dos Mares, isso quebrou nossa frágil bolha de compreensão, o animal me empurrou e cai de costas na areia, e quando pensei que tinha chegado minha hora de conhecer os portões de Valhalla, ele lançou uma última rajada, passando bem próximo de mim, mas não me atingindo.
Por fim, só vi sua forma azul mergulhar de volta ao mar e desaparecer por entre as ondas.
Não pude evitar de desejar que pudéssemos nos encontrar novamente, em uma outra circunstância.
Assim que voltei, todos estavam impressionados, tanto o pessoal quanto o batalhão do meu irmão, eles me aplaudiam e eu só conseguia pensar em como gostaria de apenas desaparecer dali.
— Parabéns irmãozinho Tolo, afinal você não é tão tolo assim - Itachi veio ao meu encontro e deu um peteleco na minha testa, o que só pude retribuir com uma careta - Parece que já temos um novo membro para o meu batalhão.
— Ah, você não... - Mas antes que pudesse responder, fui interrompido por uma voz que se sobressaiu do meio das árvores.
E eu a conhecia muito bem.
— Até poderia ser... - A figura austera do líder Uchiha surgiu no campo de visão de todos - Se você tivesse finalizado o monstro.
Ouvir a voz do meu progenitor só conseguiu me dar náuseas, num misto de raiva e desconforto.
— Sinto em dizer... - disse após uma pausa - Mas isso é um treinamento, não havia motivo para realmente matar o Dragão, além disso ele poderia ficar ainda mais assustado e eu estava sozinho, e se ele causasse um desastre. E se ele acabasse indo para Konoha? E se ele matasse alguém?
— Ele não faria nada disso se estivesse MORTO - Ele me retrucou - Não machucaria ninguém e não iria para Konoha se você tivesse findado com ele.
—Veja Fugaku... - Kakashi tentou se pronunciar, mas meu pai não dava espaço.
— Até me parece... - Ele chegou tão perto, que conseguia sentir o ar saindo de suas narinas - ...que você o deixou escapar de propósito.
— Se deixei ou não isso não importa - O encarei de frente, sem me amedrontar - Eu salvei meus amigos, e isso para mim já basta. Deveria bastar para você também.
Fugaku se irritou, e vi a sombra dos olhos Escarlates ameaçando aparecer, mas ele não conseguiu dizer nada. Não esperei sua boa vontade em mudar de ideia e virei as costas sem lhe dar qualquer chance antes que eu apenas partisse dali.
Talvez, já tenha se repetido vezes demais.
Mas, a única coisa que senti até desaparecer por entre as árvores eram os olhos curiosos queimando minhas costas. No entanto, fazia muito tempo que havia deixado de me importar, bastava que eu pudesse sair dali.
De encontro ao meu porto seguro para dias tempestuoso.
Aoda.

}|*|{