Riddare Drakar

Capítulo 17 – Então, é a isto que chamam: Esperança...?


Capítulo 17 – Então, é a isto que chamam: Esperança...?

Sasuke

— Você tem certeza disso?

Enfim, estávamos de volta ao centro de Konoha, mais precisamente, de frente a grande fortaleza Uchiha. Naruto e Sakura insistiram em me acompanhar, mesmo eu lhes assegurando que estava tudo bem, e que as únicas coisas com as quais eu, verdadeiramente, precisaria me preocupar era em como eu iria explicar o que aconteceu com a minha cara para quem quer que viesse a cruzar meu caminho.

— Sim, eu estou bem – Confirmei a Sakura pela centésima vez – O Dobe precisa de muito mais atenção do que eu agora – Gesticulei com a cabeça na direção do loiro que se encontrava amparado pela Haruno, mesmo que estivesse bem melhor, algo muito positivo considerando que ele estava muito próximo de mim quando o raio me atingiu, suas pernas continuavam bambas, não conseguindo manter o peso de seu próprio corpo de pé sozinho. As náuseas também ainda o incomodavam, vomitou pelo menos duas vezes desde que deixamos a praia para trás, mas tirando isso, Naruto estava bem, o que era um alívio mútuo para todos nós.

— Eu uma ova! – Interrompeu o Uzumaki irritado – Foi você que quase nos mandou para Helheim por causa do susto que nos deu, idiota!

— Menos, Naruto – A garota o advertiu – Você não está em condições de se esforçar, mas te juro que te largo aqui e agora se continuar com isso! Vai ter que se virar rastejando pela cidade até encontrar Tsunade!

— AI SAKURA! – Reclamou assim que a garota pressionou o ponto onde estava a cicatriz, agora recém ferida novamente, nas suas costas como punição.

— Acha mesmo que não precisa de ajuda para levá-lo até lá? – Questionei, tirando a atenção dela da figura irritada, porém agora quieta, do loiro.

— Já se esqueceu do que eu fiz no Gaukmanour? – Riu, provavelmente por causa da careta que não fui capaz de segurar – Eu poderia muito bem ter te levado mesmo desacordado até Tsunade, mas sem a ajuda do Naruto seria difícil te manter numa mesma posição por todo o trajeto – Explicou simplesmente, porém, depois de dizer isso, sua expressão se fechou novamente, desenhando-se em seriedade – Se você sentir algo, qualquer coisa, precisa me avisar! Ou ir diretamente até Tsunade ou ao curandeiro mais próximo! Eu não sei o porquê de você parecer tão bem, e muito menos como as marcas nos seus braços desapareceram, mas você foi atingido por um raio! Por Thor! Um raio! Tem noção disso? Você deveria ter sido tostado até os ossos no ato, Sasuke!

Eu sabia a gravidade do que ocorreu, mas, definitivamente, não conseguia compreender qual foi o estopim para que a série de acontecimentos inexplicáveis viesse a se desenrolar da forma como se desenrolou.

Estava tão compenetrado dentro de mim mesmo... Das minhas lembranças e sentimentos... Que mal percebi a tempestade se formando, ou os relâmpagos, ou mesmo os trovões, só fui realmente acordar para a realidade quando o raio me atingiu e eu pude sentir cada veia do meu corpo pulsar.

Porém, mesmo agora, olhando para o céu, não havia mais qualquer resquício do temporal de outrora, nem nuvens, nem a cor cinzenta, o dia havia voltado a sua beleza exatamente da mesma forma como havia começado.
Até poderia dizer que tudo não passou de uma alucinação ou de um delírio da minha mente, mesmo se me contassem que eu havia desmaiado depois de levar um soco bem dado do Uzumaki seria muito mais plausível que afirmar que fui atingido por um raio e ainda sai ileso da, quase certa, sentença de morte.

Não fazia sentido, absolutamente.

— Eu irei até você – Finalmente respondi depois de um pequeno instante em silêncio – Mas, por favor, não conte nada a ninguém – Inqueri – Não quero causar alarde e... Bem, preciso primeiro entender o que aconteceu antes de tomar qualquer decisão a respeito.

— Quanto a isso pode ficar tranquilo, não contaremos a ninguém – Ela prometeu, tanto por si quanto por Naruto, com este apenas acenando em concordância.

Virei-me então para adentrar a fortaleza, dando a conversa por encerrada, mas senti a pequena mão de Sakura agarrar meu pulso no último minuto, obrigando-me a me voltar novamente para ela. Assim que tornei a encará-la deparei-me com seus grandes olhos verdes me fitando, porém, eles reluziam uma quantidade tão grande e infinita de sentimentos que senti meu próprio coração tropicar em meu peito.

Já fazia tanto tempo que vinha fugindo da garota...

Tentava ignorar sua existência o máximo possível desde o dia do anuncio oficial, até evitava os lugares onde eu sabia que poderia encontra-la apenas para impedir que outro momento desagradável viesse a acontecer, contudo, todas as vezes que tinha a infelicidade de cruzar nossos olhares, seja nos treinos ou em encontros ocasionais pela cidade, o sentimento incomodo vinha bater à porta novamente.

Olhar para ela... doía.

Mesmo que nunca tenhamos chegado si quer perto de conversar sobre isso, de expor os sentimentos um para o outro, ou seja lá o que for que Sakura sinta por mim, seus olhos me diziam que ela estava tão infeliz quanto eu.

Por isso, para mim, o certo deveria ser eu me afastar.

Mesmo que o sofrimento dela seja unicamente pela infelicidade de ser obrigada a se casar contra sua vontade, eu não queria ser mais um fardo para Sakura se culpar, não queria que ela me visse como alguém digno de pena, ou que tivesse o dever de se compadecer pelo meu sofrimento...

Nunca foi isso o que busquei dela.

Nem de ninguém.

— Nós... Precisamos conversar, Sasuke... – Disse sem jeito, desviando momentaneamente seu olhar para a mão que ela mantinha firmemente agarrada a meu braço.

— Você não precisa fazer isso, Sakura – A respondi, encarando igualmente nosso pequeno contato, enquanto tentava me fazer parecer o mais calmamente distante que me era possível.

— Não é questão de precisar! – Retrucou, quase como se estivesse indignada, logo voltando a me encarar nos olhos – Nunca foi... Nós precisamos conversar, de verdade! – Enfatizou.

— Não agora... Naruto precisa de você – A lembrei, buscando inutilmente desviar sua atenção do assunto principal.

— Então quando? – Perguntou, mas era nítido o desapontamento e amargura em sua voz – Quando vai parar de fugir de mim?

O silencio que nos cercou foi quase mórbido, nós três continuávamos ali, sem saber realmente o que dizer ou fazer, Naruto talvez fosse quem estivesse mais desconfortável por ter que ficar no meio desse problema meu e da Haruno, sei que não está sendo fácil para nenhum de nós, nem posso imaginar como a cabeça de Sakura deva estar com tudo isso, mas do que adiantaria, afinal?

Colocar ainda mais sal na ferida?

E depois, o que?

Não havia nada que pudéssemos fazer.

Não mais.

E eu já estava convicto disso.

— Eu não sei... Eu, realmente gostaria de dizer: vamos conversar amanhã! Mas acredito que uma conversa não será capaz de mudar as coisas entre nós... – Soltei-me do aperto de sua mão, o que só tornou sua expressão ainda mais dolorida – Eu te agradeço, de verdade, pelo que fez na praia e te prometo não esconder nada sobre isso! Somos amigos, antes de qualquer coisa... E... Eu me importo com você – Esforço-me para lhe oferecer o mais fraco dos meus sorrisos – Mas não há mais nada que qualquer um de nós possa fazer quanto a isto... Me perdoe, Sakura.

Viro-me e ponho meus pés a marchar convictos para dentro da fortaleza.
Ainda caminhando, ouço a Haruno chamar meu nome uma última vez, mas diferente do que talvez teria acontecido a algum tempo atrás, não me detenho, e si quer vacilo nas passadas dos meus pés, a luta contra Naruto realmente havia me feito muito bem, e provavelmente nunca terei palavras o suficiente para agradecê-lo por isso... Ainda ao fundo consigo ouvir meu amigo lhe dizer que aquele não era o melhor momento, que ela precisava ter paciência com meu próprio tempo, mas, a medida que me afastava, mais suas vozes tornavam-se inteligíveis, permitindo-me mergulhar mais uma vez para dentro de mim mesmo e refletir sobre tudo até aquele momento.

Mal consigo me lembrar qual foi a última vez que me senti tão leve comigo mesmo em todos esses anos, isso se realmente houve algum dia em que algo assim chegou a acontecer, parecia que grande parte do fardo que vinha arrastando sobre meus ombros enfim estivesse mais leve, mais suportável. A liberdade parecia ameaçar bater em minha porta a qualquer momento, ansiosamente aguardando para que eu abra e a deixe me tirar do lugar tórrido que estou a tantos anos afundado.

Mas... Ainda havia muito o que se fazer, é verdade.

Algumas correntes não são tão fáceis de quebrar... Sakura, inegavelmente, ainda é uma delas.

Todavia, talvez, só talvez, colocar tudo para fora na luta contra Naruto tenha sido o primeiro passo, afinal.

Ou, quem sabe, ser atingido pelo raio?

Talvez, um evento tão eloquente seria aquilo que tanto esperei para encontrar o ponto de virada da minha vida?

Enfim, a única certeza que tinha naquele momento era que sim, algo havia mudado dentro de mim, a melancolia que seguia-me como uma sombra nos últimos dias enfim parecia se dissipar aos poucos, fazendo-me descobrir uma singela chama dentro do meu peito que aquecia-me por completo, espantando as criaturas obscuras que constantemente sussurravam em minha mente.

— Então, é a isto que chamam: Esperança...?

}|*|{

— Mas, o que isso significa?!

Curiosamente, assim que pisei com os pés dentro da torre principal da fortaleza Uchiha, dei de cara com Itachi e Fugaku saindo da sala de reuniões do lugar. A grande estrutura da fortaleza era exuberante, suas rochas escuras e fundidas lhe davam um ar de superioridade e grandeza, algo que sempre existiu desde a fundação da cidade com os primeiros antepassados Uchiha’s. Alguns dizem que foi um dragão que derreteu as grandes rochas da torre, mas ao invés de destruí-la a estrutura se solidificou, as pedras escureceram e sua fundação ficou ainda mais forte. O Clã Uchiha sempre governou essas terras, e, consequentemente, foi o único clã permitido a viver na própria torre ou aos arredores da mesma, seja pela confiança na lealdade do sangue quanto por se tratar do lugar que simbolizava o ponto zero de Konohaagakure, o inicio de tudo.

Além da grande estrutura de pedra principal, onde a família real vivia, havia algumas casas dentro dos limites do alto muro que circundava a fortaleza, era lá que viviam descendentes da linhagem menor e aqueles que trabalhavam na organização e proteção do local. A grande maioria dos clãs fazem o mesmo, deixando seus familiares de segundo e até terceiro grau morando próximo das torres de cada um, enquanto que seus guardas e ajummas chegavam a dormir dentro das próprias fortalezas, a única diferença para com os Uchiha’s é que os clãs não possuíam uma grande muralha para separar seus domínios.

De qualquer forma, tinha tido sorte em conseguir passar desapercebido pelos guardas, e até pelas ajummas que zanzavam de um lado para o outro, mas justo quando estava quase alcançando as escadarias que levariam ao meu quarto, dei de cara com eles. Realmente gostaria de ter evitado esse encontro, nem muito por conta de Itachi, mesmo que eu venha igualmente o evitando desde o grande anúncio, não seria problema explicar o motivo do meu estado físico deplorável, mas o mesmo não se aplicava a Fugaku. Se havia alguém que eu verdadeiramente gostaria de manter distância, ele era esse alguém.

Foram emoções de mais em um único dia para poder lidar, tanta coisa aconteceu ao mesmo tempo que nem eu mesmo conseguia entender como consegui chegar até ali! Agora, mesmo depois de tantas coisas, eu ainda teria que dar explicações justo para ele? Definitivamente, isso estava fora de cogitação e além dos limites que meu emocional era capaz de aguentar.

Contornei a ambos sem dizer uma única palavra, mas não pude deixar de notar seus olhares surpresos sobre minha figura, mesmo quando dei as costas por completo ainda sentia-me sendo observado, mas, talvez, o que mais me espantou foi o fato de nenhum dos dois insistirem em absolutamente nada, até mesmo Fugaku preferiu se calar a tentar tirar qualquer informação que pudesse de mim, como ele costumeiramente tinha o prazer de fazer.

Pelo menos, nisso, eu poderia agradecê-lo.

No entanto, quando já estava com a mão sobre a maçaneta para adentrar em meus aposentos, senti um toque suave sobre meu ombro, mas, mesmo que quisesse dizer o contrário, não foi surpresa alguma ver Itachi logo atrás de mim. Como ele havia me seguido tão silenciosamente continuaria sendo um mistério, mas seus olhos, tão escuros quanto os meus, encaravam-me sérios e intensos, logo me levando a compreender que ele também não queria envolver Fugaku no interrogatório típico de irmão mais velho que, certamente, ele já tinha preparado para mim.

— Posso? – Ele questionou, provavelmente mais como uma maneira de ser educado ao invés de dizer deliberadamente que meus dias de fuga haviam cessado, querendo eu ou não. Meu irmão era alguns bons centímetros mais alto que eu, o que sempre acentuava sua postura ameaçadora e autoritária, mesmo que as vezes nem mesmo ele se desse conta de tal fato.

No entanto, isso não significava que eu o temia ou algo semelhante, em outras palavras, talvez, eu possa dizer que se tratava de um respeito profundo.

Mesmo quando Fugaku se afundou em seu luto eterno, foi Itachi que esteve ao meu lado quando achei que não haveria mais ninguém, foi ele que me protegeu, que cuidou de mim por todos esses anos, e mesmo com toda a carga da responsabilidade de herdeiro sobre seus ombros, ele sempre encontrava algum tempo para ficar comigo, mesmo que isso significasse passar horas organizando pergaminhos antigos em uma sala sufocante e mal ventilada. Mas eram em dias como esse que ele me incentivava a aprender, me incentivava a querer saber mais sobre assuntos do império, sobre a politica dos clãs, nossa história e sobre os dragões. Graças a sua fé em mim pude bolar táticas de defesa contra os ataques dos dragões, pude opinar sobre estratégias contra territórios vizinhos, sentir-me verdadeiramente importante enquanto fazia algo além de “tentar ser o grande guerreiro que o império desejava ver”.

Porém, com o tempo, o próprio Fugaku passou a me barrar, impedindo minha participação nas reuniões, vedando meu acesso aos assuntos do império e cada vez mais me limitando a apenas ser o aprendiz de Kakashi em sua ferraria. Reduzindo seu filho, o segundo príncipe, a apenas um ferreiro ridicularizado pelas pessoas do meu próprio lar, as mesmas pessoas que nunca saberão que ajudei a cuidar de sua cidade, e protege-los de uma guerra.

Era frustrante em tantos níveis que não conseguiria mensurar, mas isso nunca mudou o que Itachi via em mim. Até mesmo quando lhe contei que havia conseguido derrubar o Fúria da Noite, ele ficou ao meu lado, como nenhum outro teria ficado.

Refletir sobre tudo isso só me fazia sentir-me pior por tê-lo evitado por todo esse tempo.

Com um simples aceno de cabeça concordei, e o permiti me guiar na direção oposta do grande corredor de aposentos onde estávamos, levando-me diretamente para o seu próprio quarto.

Talvez, no fim, a próxima corrente que eu deva quebrar seja justamente a dele.

— O que aconteceu? – Itachi foi direto, perguntando assim que fechou a porta de madeira atrás de si. Seu quarto era muito parecido com o meu em termos de estrutura, quiçá fosse um pouco maior, havia também uma grande janela com grade que ficava voltada para a cidade, proporcionando a vista mais incrível que se poderia ter de Konoha de qualquer outro lugar. Mas, além de sua armadura e algumas armas penduradas pela parede, o quarto não tinha quaisquer outros grandes ornamentos, sua própria cama não era das maiores e um pequeno armário da madeira já era mais que o suficiente para guardar todas as suas coisas. Meu irmão sempre foi alguém muito simples e prático, apesar de ser o primogênito herdeiro, nunca precisou de muito para se sentir satisfeito, isso desde que pudesse estar no meio dos campos de batalha, como ele mesmo gostava tanto de enfatizar.

— Naruto.

Agradeci mentalmente por ele não insistir em saber dos detalhes, apenas a menção do nome do Uzumaki já foi o suficiente para acalmar seus receios mais preocupantes.

Seu suspiro de alívio era a maior prova disso.

Assim, calmamente Itachi caminhou pelo quarto até seu armário, tirou de lá um frasco transparente com um líquido verde viscoso e uma pequena pilha de bandagens que ele provavelmente usava em si mesmo depois de treinos muito intensos ou batalhas propriamente ditas. Sem dizer nada, sentei-me sobre sua cama e tirei minha proteção de coro e blusa para que ele pudesse, então, tratar de meus machucados.

Ele sabia que eu e Naruto temos esse péssimo habito desde muito novos, mas preciso admitir que fazia tempo que não fazíamos algo do gênero, e Aoda pode ser um potencial motivo para tal, já que desde que conheci o dragão nada mais foi como antes, nossos voos são tão libertadores quanto uma troca de socos com o Uzumaki, mas dessa vez ela foi mais necessária do que eu poderia mensurar.

Entretanto, a questão mais preocupante foi justamente o que aquela luta acabou ocasionando.

Apenas o fato de lembrar fazia minha pele arrepiar, quase como se os resquícios do raio ainda não houvessem deixado meu corpo.

De qualquer forma, Itachi habilmente passou o líquido viscoso sobre os hematomas mais feios e escuros, além de cobrir cada pequeno corte que se espalhavam por minhas costas e rosto. O cheiro era forte, aponto de não conseguir evitar uma careta assim que o aroma foi tragado por minhas narinas, pelo pouco que consegui decifrar, parecia uma grande mistura de ervas medicinais diluídas em seiva de bordo, apesar de não ser nada agradável, conforme ele ia espalhando a mistura meus músculos iam desprendendo todos os nós doloridos atados as minhas juntas e aos machucados, trazendo a sensação de alivio que eu tanto precisava.

Finalmente, enfaixou meu torso por completo com as bandagens, além de também fazer o mesmo com meus dois pulsos, mãos e meu joelho direito.

Assim que terminou, ficamos em silêncio por algum tempo. Eu não fazia ideia de como deveria começar aquela conversa com ele. Continuava a coçar a nuca desconfortável, não sabendo para onde exatamente olhar ou o que fazer, afinal, a vergonha de ter fugido dele era frustrante, faltava-me coragem até de encara-lo por muito tempo, provavelmente temendo que acabasse me desmanchado bem em sua frente, porém, como se pudesse ler meus pensamentos, o que eu realmente achava que acontecia vez ou outra, meu irmão tomou a atitude primeiro, livrando-me desse pequeno sacrifício, e tornando-me ainda mais grato por sua sutileza.

— Sasuke – Começou – Eu sei que você está sofrendo muito com tudo o que aconteceu... E sinto que não posso deixar de tomar responsabilidade por boa parte di...

— Itachi... Eu não te culpo... – Lhe disse interrompendo, usando o máximo de coragem que havia conseguido ajuntar – Eu só precisava ficar um tempo sozinho e... Colocar minha cabeça no lugar. Seria hipocrisia da minha parte não reconhecer que você também está sofrendo... Talvez até mais que eu...

Riu pelo nariz, mesmo que sua expressão não desse parecer estar tão bem humorado assim. Talvez ele estivesse surpreso com minha resposta? Provavelmente essa deveria ser a última coisa que Itachi esperaria ouvir depois de eu ter ficado tanto tempo o afastando para mais e mais longe de mim.

Num movimento inesperado, meu irmão colocou a mão por dentro da gola de seu peitoral de couro e tirou de lá um colar de metal. Muitos de nós temos o costume de carregar colares com símbolos importantes, alguns usam runas como forma de proteção, outros usam o martelo de Thor com o intuito de ser ajudado durante grandes batalhas, mas aquele que estava na mão de Itachi era diferente de tudo o que eu já tinha visto até então.

Definitivamente tratava-se do símbolo do estandarte de nosso clã, um pequeno leque com a aba branca e um perfeito círculo vermelho, feito provavelmente de alguma pedra preciosa e circundado por um metal brilhante e reluzente. Ele serve para representar o poder superior dos olhos Uchiha, e significa, exatamente, “vento vermelho” pois todos aqueles que podem despertar estes olhos são como um verdadeiro vento sangrento sobre o campo de batalha, já que eles concediam percepção e agilidade extra ao herói que o despertasse.

Porém, não são todos que conseguem adquirir tal poder, até hoje não se sabe exatamente qual é o ponto de ignição, muitos dizem que é preciso ser escolhido pelos deuses, outros que é preciso fazer por merecer, mas uma coisa é certa, ter estes olhos é carregar uma grande responsabilidade, tanto pelo nome a se presar quanto a honra de ser um verdadeiro guerreiro.

Algo reservado somente aos grandes.

Mas que, tolamente, escolheu a mim para contradizer a todas as possibilidades, pois afinal, estava mais que certo que meus olhos escarlates, mesmo que ainda sem meu total controle, já haviam despertado.

— Irmãozinho tolo, sabe o que esse colar significa?

— É o símbolo do nosso clã...? – Respondi confuso pela pergunta óbvia.

— Na verdade, é muito mais que isso – Itachi sorriu sucintamente, deixando-se levar pelo sentimento, que ao me ver, parecia-se muito com nostalgia – Foi nossa mãe que me deu ele pouco tempo antes de... Bem... Nós dois sabemos do que.

— Isso então... Era dela? De Mikoto? – Senti meus olhos brilharam apenas com a pequena menção ao nome de nossa mãe – Mas, quando e... Como?

— Sim... Foi no meu aniversário de oito anos... Lembro-me como se tivesse acontecido ontem... Mikoto veio com você no colo até meu quarto depois do banquete especial, exatamente o mesmo que fazemos até hoje nos dias de celebração ao nosso nascimento, e entregou o colar diretamente para mim. Ela disse que se tratava de uma relíquia de nossa família e é por isso que não existe outro igual no mundo, seguindo a tradição de sempre ser passado de geração em geração para o próximo líder do clã... Mas, sabe... – Continuou depois de uma pequena pausa – Mesmo que não seja o que mais chame a atenção na nossa família, nós também somos conhecidos como aqueles que mais amam, “pois quando nos apaixonamos por alguém, nos apaixonamos para sempre” – Itachi encarava tão profundamente o pingente que quase parecia estar assistindo novamente aquilo que continuava a me contar, levando-me para o mesmo momento também enquanto eu me maravilhava com aquela memória perdida, mas recém descoberta – Mamãe então disse que eu deveria guarda-lo comigo até que encontrasse a minha pessoa mais amada, para presenteá-la no dia de nosso casamento.

— " Eu queria poder dar esse colar para vocês dois” foi o que ela disse. “Vocês são as pessoas que eu mais amo e quero proteger na minha vida... Tudo o que eu tenho e tudo o que sou são seus para sempre! Por isso, por favor, Itachi, proteja seu irmão. Eu espero que vocês se amem o mesmo tanto que eu amo vocês... Pois nenhuma relíquia centenária jamais poderia ser mais preciosa do que meus dois meninos já são para mim.” Mesmo ainda sendo muito novo, nuca me esqueci de suas palavras, posso até lembrar da entonação que ela usou, da forma carinhosa que ela te segurava em seus braços e em como seu olhar era quente e acolhedor enquanto nos dava toda sua atenção... – Não pude evitar que meus olhos lacrimejassem, e notei que os de Itachi fizeram o mesmo – Ainda que eu não deixe tão aparente, eu também sinto falta da mamãe... E por isso queria te entregar um de seus últimos desejos: “Nunca deixe de seguir seu coração" – Itachi então fechou firmemente a mão sobre o pingente do colar e voltou a me encarar, mas agora, com uma determinação renovada que eu não tinha visto até então – Sasuke, eu amo a Izumi e você sabe disso melhor que qualquer um. O meu maior desejo é ficar com ela, desistir de tudo e ir embora para que todos pudéssemos viver nossas vidas como sempre desejamos... Mas não são somente as nossas vidas que estão em jogo aqui, é por toda Konoha que eu sei que não posso desistir nem dar para trás. Selei um compromisso com o povo desse lugar e precisamos honrá-lo acima de tudo... Porém, ainda há uma coisa que eu posso fazer, mesmo que seja contra as regras.

Assim, com um único e forte puxão, Itachi arrancou o colar de seu próprio pescoço, levantou-se e o estendendo em minha direção, deixando-me completamente sem reação.

— Ma-mas, Itachi! Eu não posso! Isso pertence ao próximo líder! É a tradição e a mamãe...

— Eu sei que não deveria fazer isso – Fui interrompido em meu surto de negação – Mas, de certa forma, não estou infringindo completamente a tradição, porque eu ainda estou dando ele para a pessoa que eu mais amo – Estendeu a outra mão livre e acertou um poke em minha testa – Você, irmãozinho tolo.

Se eu já não sabia como reagir antes, agora realmente sentia-me devastado. Tanto pela culpa de em algum momento ter responsabilizado Itachi pela tragédia que havia se transformado nossos sentimentos, quanto por perceber o quanto minha felicidade era muito mais importa para meu irmão que a sua própria, aponto dele afirmar com todas as letras que sou a pessoa que ele mais ama.

— Por isso – Ele voltou a falar – Continue com ele, Sasuke. Além de ser a prova que você é a pessoa mais importante para mim, também será a de que Mikoto sempre estará ao seu lado. E... Quem sabe um dia, você possa entregar para a pessoa que você também mais ame?

Mesmo ainda estando relutante, e nem um pouco convencido de que aquela seria uma boa ideia, levantei-me de sua cama, mas o movimento fez a dores dos machucados virem lembrar-me que ainda estavam ali, e provavelmente demorariam para desaparecer, por isso estendi a mão para Itachi com cuidado e este depositou suavemente o colar sobre minha palma.

Ele era mais pesado do que aparentava a primeira vista, porém, quanto mais eu o olhava mais o achava bonito e encantador. Tentei memoriza cada pequeno detalhe daquela inestimável relíquia, as curvas do metal, o brilho carmesim da pedra preciosa, os pequenos desbastes causados pelos longos anos de sua existência, sempre me deparando com algo novo e interessante. Porém, assim que a virei de costas, me deparei com um desenho um tanto curioso e que chamou ainda mais minha atenção, as gravuras certamente foram feitas depois que a peça já estava pronta, pois eram extremamente rústicas e irregulares, mas por mais que a observasse não conseguia associar o desenho a nada que eu já vi até aquele momento, tenho quase certeza que minha confusão era tão notória que não Itachi logo se prontificou em voltar a se pronunciar para amenizar minha confusão interna.

— São runas – Explicou – Um conjunto de Runas, para ser mais específico.

— Você sabe o que elas significam?

— Significa: “Sempre”, já que o colar simboliza justamente isso: Um voto de vida para a eternidade.

— Oh...

Olhei fascinado o colar por mais alguns instantes antes de finalmente circundá-lo sobre meu pescoço e prender suas cordas firmemente umas nas outras. Uma sensação boa impregnou-se sobre meu corpo, quase como um arrepio de felicidade fizesse uma rápida travessia de um ponto ao outro.

Mas, ainda não dando-me por satisfeito, com um movimento impensado, lancei-me sobre os braços de meu irmão.

Foi algo tão repentino que quase derrubei nós dois no chão durante o processo, mas logo passando o susto, ele não tardou em retribuir o afeto.

— Me desculpe por tudo... – Murmurei ainda contra o peitoral de couro de sua armadura – E... Obrigado, Itachi.

— Está tudo bem, tolinho, está tudo bem – Dava leves batidinhas em minhas costas – Eu não sei como faremos sobre o casamento, nem o que virá depois dele... Acredite, estou tão aterrorizado quanto você. Mas, uma coisa eu te prometo, Sasuke: Eu sempre estarei ao seu lado, te ajudando ou protegendo, não importa! Sou seu irmão, e não deixarei que aqueles dias escuros voltem a acontecer... Nunca mais.

As dúvidas, medos e receios continuavam a perambular pela minha mente... E isso é um fato.

Ainda havia muito no que pensar.

No que fazer.

No que descobrir.

Respostas perdidas dentro de mim mesmo que estavam esperando para serem encontradas.

Respostas que talvez eu precise descer muito mais fundo para compreender.

E, também, respostas que jamais poderiam ser alcançadas.

Mas, uma coisa era certa: algo havia, enfim, despertado.

Como se minha alma tivesse sido lavada durante todo aquele longo dia, desde o campo verde de frente aos Penhascos de Delling até a bela praia do Rochedo, desde minhas lágrimas até meus olhos escarlates, desde meu medo até minha fúria, desde a calmaria até a tempestade.

Algo enfim estava movendo-se dentro de mim.

Como pequenos filetes de energia formigando minha pele e abalando meu interior.

Era inegável.

Mas, então, estava eu afinal um passo mais perto de minha sonhada liberdade interior?

Ou, talvez, ainda seja muito cedo para afirmar qualquer coisa?

E este agora seja apenas isso: O meu primeiro passo?

Ainda não sei.

Mas, certamente, quase posso jurar ter ouvido o estralo de uma corrente se quebrando naquele exato momento.

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