— Jason, você entendeu tudo o que eu falei? — Bruce perguntou como se estivesse usando a máscara de Batman.

— Aham... — O filho rebelde murmurou, se espreguiçando e logo depois apoiando os pés sobre o painel dos computadores da Batcaverna. Mal tinha passado das sete da manhã, aquilo era o melhor que Jason poderia dar a qualquer um – ao menos depois de dormir tão pouco e se entupir de porcarias doces.

— ... Então repita.

— Damian com crise de pinscher de novo, você e Alfred levam ao médico... — Ele bocejou antes de continuar — ... Eu fico tomando conta do Dick, não colocamos fogo na mansão e todos ficam felizes para sempre. Acabou a história.

— Será que você pode ao menos fingir que está levando à sério!? Que se importa!? — Dick implorou, ainda tinha os olhos vermelhos por causa do choro. Estava procurando algo nas bases de dado do computador, o que não o impedia de se intrometer.

— Eu estou levando à sério, só acho que estão exagerando.

— Exagerando? — novamente, foi Batman quem falou.

— B... — Finalmente, Jason se endireitou na cadeira e olhou para o veterano mostrando o mínimo de seriedade — Pensa bem: deve ser tudo por causa daquele machucado na cabeça. Ele não tinha nada disso antes, é a única explicação. Só vão examinar ele, falar que é isso, passar algum remédio ou coisa assim e pronto.

— REMÉDIO, COISA ASSIM E PRONTO!? — Dick deixou o que estava fazendo de lado — Como você consegue falar uma coisa dessas!? Essa coisa vai estragar a vida dele e você simplesmente não se importa!? — O filho mais velho se aproximava do irmão pronto para fazê-lo perder a banca de “indiferente” nem que precisasse usar os punhos, mas bastou Bruce colocar a mão no ombro dele para o impedir.

— Pessoas epiléticas podem ter uma vida normal — o pai disse, resignado.

— Pessoas normais com epilepsia tem uma vida normal, B!

— E agora o Damian tem uma vida normal, cabeçudo! — Jason se levantou — Não estou falando que essa coisa toda é boa, mas... — Bocejou — ... precisamos aceitar...

— Por mais que pareça ruim agora — Bruce completou.

— Estão falando como se tivesse perdido as esperanças dele voltar ao normal! — Dick teimava, quase se permitindo quebrar mais uma vez e começar a chorar. A verdade é que toda a aceitação que tinha antes era apenas fachada, o que ele mais queria era ver o guri correndo por aí novamente vestido de Robin.

— Se ele tratar o machucado, ele volta ao normal! Qual parte disso está difícil de entrar nesse seu cabeção!? — Todd se aproximou dele — E se ele não voltar, bom pra ele.

— Como assim “bom pra ele”!?

— É melhor ele continuar sem memória!

— E também é melhor ele continuar com as crises!? Só falta você falar isso!

— Se ele continuar sem memória, não vai sentir falta de ser um Robin!

— PAREM! — O pai exigiu — ... Se realmente não tivermos o que fazer sobre as crises, elas poderão ser controladas. Com o tempo, caso Damian não recupere a memória, será melhor contar tudo à ele.

— B, o garoto vai surtar quando souber... — Jason disse angustiado. Ele queria ter o “pirralho fedido” de volta, mas o melhor era que tudo continuasse como estava, ao invés de Damian voltar pela metade e não conseguir lidar com tudo.

— É melhor que saiba por nós, aos poucos, do que um belo dia acordar e se lembrar de tudo...

— Vocês estão falando como se ele não pudesse voltar ao normal nunca mais! — Dick deixou uma lagrima escorrer — Ele é forte, aposto que nem mesmo é epilético e isso só aconteceu porque ele ficou nervoso demais...! — Ele passou as mãos pelo rosto — ... droga! Eu estive procurando sobre isso, eu sei que crianças podem ter se estiverem com febre...

— O único jeito de saber é levando ele ao médico.

Os dois rapazes se calaram. Não tinha o que discutir sobre aquilo, afinal, nem ao menos sabiam o que estava acontecendo com Damian... não sabiam nem mesmo o que tinha acontecido antes.

Morcego, Alfred já terminou de arrumar tudo... — Selina avisou ainda da escada, não se daria ao trabalho de descer tudo apenas para subir depois — Damian ainda está dormindo.

— Já terminei com os documentos, estou pronto! — Bruce suspirou, segurando com mais força a pasta com todos os exames médicos e tantos outros papéis que precisaria entregar ao médico especialista em Metrópole. Todos devidamente organizados, assim como alterados quanto às “causas”.

— Manda notícias... — Richard pediu, já estava um pouco mais clamo.

— E traz uns hambúrgueres... — Todd pediu, fingindo estar indiferente quanto a tudo.

— E vocês dois: se comportem — Dessa vez foi Bruce quem pediu algo, puxando os dois filhos mais velhos para um abraço, abraço este que foi retribuído até pelo filho rebelde.

A verdade é que o cavaleiro das trevas, o justiceiro que causava medo nos próprios monstros, não queria ir. Não queria descobrir se o filho tinha algo grave, não queria ver ele fazendo exames mais uma vez, não queria nem imaginá-lo deitado em uma maca e ligado à equipamentos, como tinha ficado por tanto tempo...

Bruce estava com medo, mas não deixaria transparecer. Não era apenas Damian quem precisava dele agora.

Morcego...! — Selina o chamou novamente, começando a subir as escadas.