P.O.V. Charlotte.

Ela é uma bruxa. Uma bruxa de verdade.

—Mãe, acho que ouvi tiros ontem á noite.

—É porque ouviu. Um bando de lobos estava rondando a propriedade e, bom não vamos mais precisar nos preocupar com eles. A sua amiga a senhorita Thorne fez a bondade de nos avisar e estamos reunindo um grupo de pessoas habilidosas para dar um fim nessas criaturas.

Ela armou isso. Armou tudo isso para pegar os Cavaleiros de São Cristóvão.

Estava na cama, mas não conseguia dormir os tiros sendo disparados. Então eu fugi pela janela. E fui para a floresta atrás da propriedade.

O que eu achei lá foi... ainda mais chocante do que ver os homens sendo transformados em bestas.

P.O.V. Emily.

Agora é a minha vez de ser a caçadora.

—Olá lobinho.

Acendi as minhas mãos.

—E que São Cristóvão tenha piedade de você, pecador em nome do pai do filho e do espírito santo!

E taquei uma bola de fogo no lobo que tentou fugir de mim.

—Imagino que não seja tão divertido agora que são vocês que estão sendo queimados. Não é?

Continuei a perambular pela floresta com as mãos acesas e a cada lobo que eu encontrava... atirava uma bola de fogo. E pra garantir, eu atirava nas cabeças deles.

—Bom, acho que é o suficiente por hoje. Na lua cheia eu volto e vou queimar vocês em sua forma humana.

Sai satisfeita.

P.O.V. Charlotte.

Ela os queimou vivos e atirou nas cabeças deles. Jogou bolas de fogo neles.

—Meu Deus!

Voltei pra casa em choque. Como pode ela ter tanto sangue frio assim?

—O que aconteceu Charlotte?

—Ela os matou Daniel. Não simplesmente matou, os queimou vivos e dai atirou nas cabeças deles.

—Quem?

—Emily!

—Oh, já estou ficando cansada de ouvir este nome. Emily isso, Emily aquilo. Porque não mudamos de assunto?

Minha mãe nos obrigou a falar de amenidades, mas quando finalmente acabou eu fui ao Stoaway para confrontá-la, mas ao invés de encontrá-la encontrei o Declan.

P.O.V. Daniel.

Eu fui na casa dela. Para saber se isso era mesmo verdade. Estava pronto para bater quando a porta simplesmente abriu.

—Emily?

—Me diga, o que você quer?

—Eu vim aqui para saber se...

A porta se fechou atrás de mim e a tranca foi passada.

—Se você queimou os lobos vivos.

—Queimei.

—É. Eu sabia que... O que?

—Queimei. E queimaria de novo. Mas, você já sabia disso.

Disse servindo duas taças de Cabernet Sauvignhon.

—Não se preocupe Daniel, você não é a primeira pessoa a se apaixonar por um monstro.

—Me apaixonar? Você não...

—Não tente negar. Você se apaixonou sim e se apaixonou porque eu não sou como as outras. Porque havia algo em mim que te intrigava e mesmo depois que descobriu, ainda está aqui.

Ela começou a se aproximar de mim.

—Vai me jogar uma bola de fogo também?

—Não seja idiota. Você não fez nada comigo. Não tenho razão para te matar ou se quer te ferir.

—Sabia que eu viria.

—É claro que eu sabia. Mortais são tão previsíveis. Sempre a mesma reação. O Jack, o Nolan e agora você. A única diferença é que... o Nolan aceita que eu sou uma predadora, mais que isso ele gosta.

Disse tomando um gole da taça. E olhando para mim, os olhos negros eram como punhais que penetravam na minha alma.

—Para com isso. Qual quer que seja o feitiço que esteja fazendo, pare.

—Não estou fazendo feitiço nenhum. Mas, certo faça o que os seus antepassados fizeram, faça como os cruzados culpe a bruxa. Não é culpa minha que você tem um lado negro, Daniel. A natureza exige um equilíbrio. Ninguém é de todo bom e ninguém é de todo mau. O problema, jovem senhor Grayson é que neste mundo todos vivemos de aparência. Todos julgam o livro pela capa, ás vezes a capa é linda, mas o que está lá dentro é podre e fede. Tome de alguém que tem as memórias de cada um de seus ancestrais.

—O que?

—Não viu essa chegando viu? Pois é, no momento em que uma bruxa morre suas memórias são passadas para seu descendente mais próximo e se ela tem mais de um filho é para o primogênito que elas vão. E essa magia vai fluindo e fluindo, cada geração mais potente do que a anterior.

—Então só o primogênito tem magia?

—Não. Só o primogênito tem as memórias.

—Não vai me oferecer vinho, me convidar pra sentar?

—O vinho ta na taça se quiser beber beba, se quiser sentar senta.

Bom, sendo assim. Eu peguei a taça e me sentei.

E começamos a conversar.

—Minha mãe não gosta muito de você.

—Olha, Daniel... quando você tem na cabeça tantas memórias quanto eu tenho... ai é que você percebe a hipocrisia disso tudo. Os títulos mudam, o resto é igual.

Disse tomando outro gole de vinho.

—O que quer dizer?

—A minha linhagem existe desde antes do Egito. É proveniente de uma cidade que agora já não existe mais. Chamada Asheron. Cinco famílias foram abençoadas por Deus, Deuses, a natureza bem não importa. Foram abençoadas com o dom da magia. E é claro que uma linhagem se destacava das demais como sempre, mas para melhor ou para pior os cinco reinos eram felizes e amigos, reinos cintilantes tão lindos. Espera vou mostrar.

Emily trouxe um espelho e lançou um encantamento sob ele.

—Ilumina Obscuration.

E as imagens começaram a se formar. Realmente os reinos eram lindos, majestosos.

—Mas então, o Rei Manon, soberano da cidade de Asheron ficou ganancioso. E assassinou todos os seus antigos aliados numa noite de fogo e vingança. E ele fez o impensável, algo que para as bruxas é considerado sacrilégio. Roubou os restos, os ossos dos Reis caídos e com eles fez uma máscara que tinha um poder inimaginável. Um Poder que ninguém deveria possuir.

—Porque roubar os ossos seria sacrilégio?

—Assim como vocês nós morremos e temos rituais funerários. Quando uma bruxa morre seus restos devem ser consagrados e de preferência ao lado das suas ancestrais. Se os restos não são consagrados o espírito não descansa. E o Poder... não flui.

—Ele fez pelo Poder.

—Sim. Os bruxos Asheronianos possuíam um dom que nenhuma outra linhagem possuía. Levantar e controlar os mortos. Bruxos necromantes. De posse da máscara o Rei Manon escravizou todo o mundo civilizado, afogou os reinos antes majestosos e reluzentes em sangue. Usando a máscara e o sangue puro e abençoado de suas filhas para invocar espíritos de um mal inefável. Demônios.

Enquanto ela contava a cena passava no espelho e cara era horrível.

—As tribos bárbaras se rebelaram contra ele e com a ajuda de sua única filha Tamara invadiram a cidade. Depois de anos duma guerra sangrenta... os bárbaros finalmente despedaçaram a máscara e sem o Poder dela... Asheron caiu. Aqueles que antes abençoaram agora condenavam. Condenaram as filhas de Asheron a uma vida de escravidão e servidão. Elas serviram a Reis tiranos, foi com o sangue das bruxas da antiga linhagem de Asheron que o Egito tornou-se o vasto Império que era, então a Grécia e Roma. Depois da divida de sangue estar paga, as descendentes de Tamara estavam livres da escravidão, mas a Igreja Católica e os Cruzados não eram tão... misericordiosos como o Deus a quem serviam.

E aquilo continuava. Elas eram violentadas, escravizadas, assassinadas, queimadas vivas.

—É assim que mundo realmente funciona Daniel. Nada muda. Nunca. A mudança é uma ilusão. Felizmente nos dias de hoje escravidão, assassinato e abuso sexual são crimes alguns hediondos. Mas, fora isso... Faraós, Imperadores, Reis, Comerciantes, Empresários. O título muda, o resto permanece igual. Eu fui ao Egito uma vez e enquanto eu olhava para aquelas pirâmides e via os turistas batendo fotos e sorrindo... eu também via o passado. Centenas de milhares de escravos, homens, mulheres, crianças trabalhando de sol á sol, debaixo de chibatadas até a morte para construir aqueles monumentos. E mesmo depois de mortos... eles ainda tinham uma serventia.

Eu vi pelo espelho os cadáveres dos escravos sendo triturados, socados e misturados ao cimento.

—Eram usados para dar liga no cimento. E alguns ainda estavam vivos quando foram cimentados. O mesmo vale para a Grande Muralha da China, só que os Chineses não se importavam em triturar... jogavam o cadáver todo lá dentro.

—Isso é horrível!

—Ah, é o mundo Daniel. Ou você senta no Trono ou você vira cimento. E nenhuma bruxa teve parte nessa coisa. Foi tudo obra dos mortais. As bruxas só... estavam lá para ver. Então... admito que pouco me interessa se a sua mãe gosta de mim ou não. Se lhe trás algum conforto eu também não gosto dela, eu vejo o que ela realmente é. Eu sou uma predadora, é verdade, mas não sou um monstro.

—Minha mãe não é um monstro.

—Não é? Será a sua mãe já te contou o que a sua vó fez com ela? Sobre os seus meio-irmãos?

—Meio-irmãos?

—Algo me atraiu para este lugar, eu só não sabia o que. Até conhecer a Charlotte. Ela não é sua irmã Daniel, ela é nossa. Charlotte não é uma Grayson... ela é uma Clark. Como eu. E quando a sua irmã fizer vinte e dois... ai quero ver ela falar do meu instinto assassino.

—O que?!

—Acontece com os meio-sangues. Eles só recebem a magia quando completam vinte e dois anos. Charlotte é filha da sua mãe Victória Harper, uma mortal. Com o meu pai... David Clark. Um bruxo. Se duvida procure uma dessas no ombro esquerdo dela.

Disse Emily mostrando uma marca no seu ombro esquerdo que parecia o olho egípcio.

—Eu prometo que vai achar. Todos os descendentes de Tamara tem.