Primeiro, passei através de algo semelhante a um túnel luminoso e quando pude pisar no chão, me vi em uma vasta pradaria ensolarada. Quando cheguei, minha mãe já estava lá. Andamos até ver uma ponte de cristal branco azulado que adentrava numa parede de névoa tão alta, que não conseguíamos ver onde acabava. Aí, três homens vieram por ela.
Um deles era de meia idade, com olhos cabelos cinza pálido e cabelo castanho avermelhado, usando um jaleco branco. Disse que o nome dele era Brandon Lockhart, e que ainda não havia chegado o momento de atravessarmos aquela ponte. Quando virei o rosto para falar com a minha mãe, percebi que ela não estava mais ao meu lado. Brandon acrescentou:
— Ela já voltou e logo será a sua vez. Fui eu quem construiu o laboratório subterrâneo, após descobrir aquela caverna por acaso. Nele eu comecei a fazer experiências que acreditava que me trariam fama e fortuna, talvez até um prêmio Nobel.Tudo em segrêdo,porque temia ter as minhas idéias roubadas.Porém a minha habilidade em lidar com produtos químicos não era tão grande quanto as minhas pretensões, e acabei morrendo sufocado por vapores tóxicos em setembro de 1924. Quando aquele monstro a ameaçou, eu lhe disse qual o frasco certo para usar como arma.

O segundo era um oriental de olhos castanhos escuros e cabelos negros, usando terno cinza, gravata turquesa e camisa social branca, se apresentou como Suzu Tomori.
— Na época da Segunda Guerra Mundial, fui coagido por uma organização extremista nipônica para traduzir manuscritos cujos poderes terríveis poderiam ter alterado o resultado das batalhas no Pacífico Sul. Quando traí a organização em dezembro de 1940, enviaram capangas que feriram mortalmente a mim e meu empregado Pablo, que mesmo assim acabou com os nossos algozes. Mostrei a você a imagem mental de uma naginata, uma arma dos guerreiros medievais japoneses, a melhor opção para usar contra aquele monstro.

O terceiro um homem de olhos castanho dourado e cabelos brancos, com camisa social branca e calças madrepérola era Pablo Alarcón.
— Meu papel foi orientá-la a fazer uma versão rústica da arma que o meu patrão indicou. Nós podíamos ver o Caçador Espectral e assim, a ajudamos durante a batalha. Infelizmente, o sangue do monstro atingiu seus olhos e por causa disso ao retornar, você estará cega. No entanto você receberá um dom surpreendente, a fim de remediar a sua perda.

De repente, eu senti um puxão como o de alguém fazendo bungee jump quando chega ao fim do salto e no momento seguinte, estava de volta ao mundo dos vivos. Logo percebi qual era o meu dom: um sentido de radar como o dos morcegos. Só que eu não preciso ficar gritando para que ele funcione, pois está sempre ativo.
— Sentido de radar? – pergunta Dipper.
— Sim. Mas creio que uma demonstração será mais convincente. Tire os sapatos Dipper, e comece a andar pelo quarto mudando de posição do modo mais sorrateiro que puder. Se quiser, pode se agachar ou deitar no piso. E você Mabel,não fale a localização do seu irmão, nem o que ele está fazendo.
— Entendido!
O menino começa a andar e Pacífica, sem se levantar da cama, começa a descrever tudo:
— Você está indo na direção da porta. Agora, começou a voltar pelo mesmo caminho. Virou a minha esquerda. Pôs a mão sobre a estante onde está o meu equipamento de som com karaokê. Agachou-se. Deitou no chão, com o rosto apoiado nos braços cruzados.

Dipper fica de pé outra vez, dizendo:
— O seu radar é fantástico! Você descreveu com precisão cada movimento meu! Só não entendo uma coisa: se Khatanid tem poder para ressuscitar pessoas, porque ele também não restaurou a sua visão?
— Não sei responder a isso, Dipper. Mas quaisquer que tenham sido os motivos dele, não vou questioná-los. Agora, quanto aqueles três homens, pelo menos pude retribuir um pouco a ajuda deles, que evitou que Caçador Espectral me fizesse em pedaços.
— O que você fez? – pergunta Mabel.
— Como eu sabia os nomes deles, falei para minha mãe e ela pediu aos encarregados da busca nos escombros do clube para que juntassem todos os fragmentos de esqueletos que estavam no subterrâneo e depois falou para os detetives da Watch & Warn procurarem os parentes, que foram encontrados em San Jose. As três famílias ficaram muito gratas a nós, por poder ter os restos mortais de seus antepassados de volta. A de Pablo teve de volta até a faca dele, que foi encontrada intacta sob os escombros.
— Isso foi muito nobre da sua parte, Pacifica. – comenta Dipper.

Nesse momento a porta se abre e Ashley diz:
— É hora de voltarmos para casa.
Na sala, Kevin pergunta a Priscilla:
— Quais são os seus planos para o Natal?
— Eu, Pacifica e Pinãta faremos uma ceia aqui em casa.
— Sem nenhuma festa? – pergunta Mabel.
— Bem, nós acabamos de chegar a cidade e com tanta coisa para fazer como o divórcio, a mudança e tudo mais, não tivemos tempo para pensar nesse assunto.
— Sendo assim, venham a nossa casa! – fala Ashley – Ficaremos muito felizes em tê-los junto conosco!
Mabel adora ouvir aquilo:
— Que ótima ideia, mãe!
No entanto, Dipper faz uma ressalva:
— Não quero ser estraga prazeres, mas como vamos resolver o problema com os nossos pets?
— É que além de Waddles, Mabel também tem uma gata chamada Alice. Pacifica terá de deixar Goldie sozinha em casa aqui porque se leva-la na ceia, vai haver uma enorme bagunça!
— Acho que posso ajudar. – diz Pinãta – Tenho alguma habilidade em lidar com animais.
— Está dizendo que pode impedir uma cachorra, uma gata e um porco de brigarem entre si? – pergunta Kevin.
— Sim, isso é possível. – responde Pinãta.
25 de Dezembro
Pacífica (legging rosa com blusa lavanda de mangas longas) e a mãe (calça de veludo laranja claro e blusa marfim de mangas longas) saem de casa em um belo Toyota Prius híbrido branco de duas portas. Pacífica segurava o cajado e duas sacolas de papel vermelho brilhante com presentes.
Pinãta, usando camisa social amarela e calças ocre estava no banco traseiro ao lado de Goldie, que usava um cinto de segurança para cães. Pelo espelho retrovisor, Priscilla percebe que o monge afagava a cabeça da cachorra enquanto falava baixo, e continua a fazer isso durante alguns minutos.

Quando param na calçada em frente á casa da família Pines,Pinãta diz:
— Esperem um pouco, porque agora eu tenho de lidar com os pets da Mabel.
Ele entra e é recebido por Kevin. Marilyn (tia de dos gêmeos) e Shermy (o avô) logo o cumprimentam. Waddles se aproxima curioso. Alice fica olhando a uma pequena distância, mas quando o monge estende a mão ela chega perto e cheira. Depois pula no colo de Pinãta que fica falando baixo com a gata e o porco, enquanto Mabel filmava com o smartfone sob o olhar da tia e do avô das crianças que perguntam:
— O que ele está fazendo?
— Acalmando- os. – responde Dipper expressando um palpite, e não uma certeza.
Após dois minutos Pinãta se levanta e sai, voltando junto com Pacífica e Priscilla, que segurava Goldie pela coleira. Shermy e Marilyn se assustam esperando pelo início de uma briga, mas ao invés disso os três animais apenas cheiram um ao outro e depois começam a andar calmamente pela casa.
— Eu não acredito no que estou vendo! – diz Marilyn.

Durante a ceia a tia e o avô dos gêmeos tem dificuldade de acreditar que Priscilla era mesmo mãe de Pacífica, e o cajado da menina também chama muito a atenção deles. Após terem comido, Priscilla mostra em um tablet as reportagens dos jornais de Melville sobre o culto no clube Erebus, onde a filha havia perdido a visão.
Depois põe no aparelho de DVD a filmagem feita na Câmara de Comércio. Shermy e Marilyn ficam de queixo caído e seu espanto aumenta quando Pacífica fala sobre o fantasma do lenhador e Mabel, na aventura na qual ela, Grenda e Stan saíram para resgatar Dipper e Ford do Estatiticator e seus capangas . Shermy pergunta ao filho:
— Mas como você e sua esposa puderam enviar meus netos para um lugar tão perigoso?
— Nós não sabíamos de nada, pai! Eu juro! – se defende Kevin.

Priscilla e Pacífica auxiliam a apaziguar os ânimos e tudo termina em abraços, com Shermy dizendo aos gêmeos que se eles voltassem a Gravity Falls, ele e Marilyn iriam acompanha-los. Na saída, Mabel para no meio do caminho entre a porta de casa e o carro de Priscilla, a fim de ter uma breve conversa em particular com Pacífica que a abraça para sussurrar-lhe no ouvido:
— Depois me ligue para combinarmos uma festa do pijama. Já falei para mamãe e Pinãta sobre o nosso relacionamento. Ela disse que se você me faz feliz ela aprova e o mestre que, uma vez que você ajuda na minha harmonia interior, ele não tem objeções.
— Que bom saber disso! – retruca Mabel com outro abraço. Em seguida, fica acenando enquanto o carro vai embora.

5 de Janeiro

A escola secundária Pallas estava instalada um prédio em estilo neoclássico inaugurado em 1936 , com escadarias largas nas laterais e um rampa de inclinação suave com corrimão no meio, para facilitar o acesso as pessoas cegas ou em cadeiras de rodas. As escadas internas, dos fundos e das saídas de emergência eram do mesmo tipo.

Com o fim do recesso natalino,os 670 alunos enchem de novo os corredores do prédio. A professora na classe dos irmãos Pines era a senhora Bellerose, uma mulher acima do peso de rosto quadrado, olhos cinza claro detrás de óculos com grandes lentes redondas sem aro, cabelo castanho médio, seios grandes, usando um vestido malva com mangas três quartos e sapatos azul marinho de salto médio.
A aula está prestes a começar quando a porta se abre e entra o diretor Aiken, um homem com um metro e 80 centímetros de altura, ombros largos, rosto oval, cabelo cinza prateado, olhos verde acinzentado, usando calça púrpura, camisa social branca, gravata turquesa e sapatos pretos. Ele diz:
— Um momento, senhora Bellerose. Tenho de apresentar uma nova aluna a classe.
— Claro, senhor diretor.
Todos olham para a porta e veem entrar uma garota com um longo cabelo louro dourado, usando legging e blusa rosa choque com sapatos brancos de salto baixo, com óculos de ciclista rosa pastel, segurando um cajado de madeira com sete nós entalhados nela e topo esférico de bronze. Trazia a tiracolo uma grande bolsa terracota, com quatro bolsos fechados por zíper na parte frontal. O diretor orienta:
— Dê meia volta. Assim vai ficar de frente para todos.
A novata obedece e ele diz:
— Essa vai ser sua nova colega, Pacifica Elise Northwest. Quer dizer algo para a classe?
— Sim, eu espero que mais do que colegas de classe, todos possamos também ser bons amigos! Agora, o diretor me disse que nesta classe há dois alunos chamados Dipper e Mabel Pines.
Mabel estava usando uma suéter verde musgo com a estampa de um morango e mini-saia cor de rosa. O irmão, com blusa amarela e calças jeans fala:
— Sim Pacífica, Mabel e eu estamos aqui!
A garota prossegue:
— Eu soube que eles estão sendo vítimas de bullying. Alguém que me falar a respeito disso? – pergunta ela, com ambas as mãos no topo do cajado.
Aquilo era algo inesperado e um garoto de olhos verde acinzentado e cabelo castanho médio, usando blusa cinza azulado diz:
— Eles andaram contando um monte de aventuras malucas que juram ter acontecido numa cidadezinha do Oregon chamada Gravity Falls, onde passaram as férias de verão.
— Pois saibam que enquanto os irmãos Pines estiveram lá apenas por dois meses, eu morei em Gravity Falls por doze anos. Também posso contar várias histórias malucas. Vocês pretendem fazer bullying comigo por causa disso?
O constrangimento é enorme, e ninguém consegue dizer nada. Pacífica comenta:
— Vou entender esse silêncio sepulcral como um “não”.

O diretor fica impressionado com aquela atitude. Aquela aluna era fora do comum! Tinha coragem e estilo! Ele pergunta aos alunos:
— Quem quer levar a senhorita Northwest até uma carteira?
— Eu farei isso! – diz Mabel, erguendo a mão e ficando em pé. Usava um suéter verde com o rosto de um gatinho, minissaia abóbora meias e brancas e sapatos madrepérola. Vai até a sua amada e lhe segura o pulso dizendo:
— Venha por aqui, Pazzy.
As duas vão andando pela classe, observadas por todos. Vendo o lugar para onde as duas estavam indo, um garoto robusto de ombros largos, olhos verde claro e cabelos castanho avermelhado, quinze centímetros mais alto que Pacífica, usando blusa madrepérola de mangas curtas, calças marrom escuro e sapatos da mesma cor se levanta e diz para a garota.
— Por favor, sente-se aqui. Assim, poderá ficar ao lado da Mabel.
— Muito obrigada. A propósito, qual é o seu nome?
— Toroa Gomez-Banta.
— Você é muito gentil,Toroa.
— Ele? Só se for! - diz uma garota de olhos azul escuro e cabelos negro azulados arrumados num rabo de cavalo por uma presilha vermelha, usando um mini-vestido magenta de mangas curtas e gola redonda.
— Sim. – diz um rapaz ruivo de olhos cinza, usando uma blusa verde lima – Se houvesse um concurso de bullying aqui na escola, ele ganhava!
— E os irmãos Pines são as vítimas preferidas dele! – acrescenta uma garota de olhos azul brilhante e cabelos castanho alourado, usando mini vestido pêssego de mangas curtas.
— Isso é verdade? – pergunta Pacífica, fechando a cara.
Em posição de sentido, como um soldado diante do sargento, ele responde:
— Sim! Mas de hoje em diante, prometo não fazer mais bullying contra os irmãos Pines, nem qualquer outra pessoa, Princesa Pazzy!
— Por que está me chamado desse modo?
— Porque quando ficou voltada para nós, com as mãos no topo dessa bengala estilosa, v-você estava tão elegante e altiva quanto uma princesa!
— Posso tocar o seu rosto,Toroa?
— Sim, Princesa Pazzy!
Ele fica parado enquanto Pacífica o toca, perguntando a cor do cabelo e dos olhos. Ao terminar, ela diz:
— Espero que mantenha sua promessa.
E beija o rapaz, que enrubesce. Mabel comenta:
— Eu não conhecia esse seu lado fofo,Toroa!
— Fofo e também, vermelho como uma cereja! – diz um aluno.
— E olhem que foi só um beijo na bochecha! Imaginem se tivesse sido na boca! – diz outro.
— Aí ele teria enfartado e agora, estaria caído no chão! – comenta uma garota.
Toroa não sabia que atitude tomar porque entre uma frase e outra, todos na classe riam e cada vez que isso acontecia, ele ficava ainda mais vermelho. O diretor intervém:
Chega de bagunça!

Todos ficam em silêncio. Aliviado, o rapaz aproveita a chance para pegar seu material escolar e vai para uma carteira vazia. Mabel põe o cajado de Pacífica apoiado na parede e vários alunos próximos observam o objeto, fascinados com seu visual requintado.
— Senhora Bellerose, prepare-se para dar aula.
Olhando em direção da porta, onde vários alunos estavam aglomerados, ele diz:
— E vocês, voltem para suas classes!
Todos vão embora e o diretor sai, fechando a porta. Uma garota de olhos castanho escuro e cabelo castanho cinza curtos pergunta a Pacifica:
— Me desculpe se pareço indelicada, mas como vai fazer para acompanhar a aula?
De dentro da bolsa, Pacifica retira um laptop, dizendo:
— O meu aparelho tem teclado em braile e versões em áudio de todos os livros didáticos da escola. A tela de toque possibilita que eu possa sentir coisas como imagens e gráficos. Para não incomodar ninguém enquanto ouço os livros, usarei esse fone de ouvido.
E de um dos bolsos da pasta, ela tira um plug cor de rosa com um fio da mesma cor, que ela liga a saída de áudio.
— Assim como isto para registrar as aulas. – completa, retirando de outro bolso um gravador digital prateado, do tamanho de um maço de cigarros.
— Está muito bem preparada, senhorita Northwest! – comenta a professora.
— Tenho de estar, senhora Bellerose. – responde ela, com um sorriso encantador.

A notícia de que o valentão mais temido do colégio havia sido “domado” pela novata (uma garota cega!) e o apelido dela se espalham depressa entre os alunos, entre os quais Pacifica logo faria muitos amigos.
O presente era radiante.O futuro seria repleto de surpresas, mistérios e desafios.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.