Retorno para Camelot

Capítulo 1 - O encontro


No vilarejo de Tintagel no condado de Cornwell em uma tarde nublada e fresca um senhor de barba branca com um olhar triste caminha entre os corredores de um antigo castelo. Após muito caminhar com os braços para trás com os dedos das mãos entrelaçadas nas costas e com um olhar triste e saudoso parou em frente à entrada de um grande cômodo erguido por pedras.

O senhor que aparentava uns setenta anos parou e posou suas mãos enrugadas, porém ainda firmes de outrora na parede da entrada do grande salão. Parado naquele espaço o senhor fechou os olhos e respirou de forma profunda e lentamente como se tentasse sentir algo que não mais existia. Após algum tempo voltou ao corredor pensativo parou em outro espaço e nesse demonstrou um ligeiro sorriso tímido e saudoso.

Muitos turistas caminhavam em volta, no entanto, o velho de cabelos longos e bancos parecia não perceber ninguém mais em seu lado. Era como se ele estivesse em outro momento em um outro lugar. O que fez com que não percebesse a aproximação de um jovem rapaz.

— Esse lugar é incrível, certo? Até hoje não se sabe se as lendas do Rei Arthur realmente existiram, mas essa atmosfera faz aguçar nossa imaginação. – disse o rapaz animado.

O velho não se vira para o locutor apenas continua caminhando com suas mãos entrelaçadas atrás das costas e diz algo em tom baixo o suficiente apenas para o curioso rapaz que caminhava próximo ouvisse: - Um grande idiota e arrogante.

— O que o senhor disse? – o rapaz continuava caminhando ao lado do velho e ficou interessado nas palavras ditas.

— Eu não disse nada. Esse lugar realmente é encantador. Após essas palavras, o homem de barba seguiu com passos mais rápidos em direção a um outro cômodo com um grande espaço no qual as placas de aviso dizia que aquele era o salão onde supostamente ocorria as principais reuniões dos antigos donos.

No momento em que o velho maltrapilho parou para contemplar o grande salão, o rapaz alto com um olhar curioso escondido por trás de óculos típico de quem passava horas e horas em árdua leitura. – Oi.. eu sou Robert. E um grande admirador das lendas sobre Rei Arthur e os cavaleiros da távola redonda.

Ao virar para cumprimentar o rapaz, o velho grisalho apenas respondeu: – E eu sou apenas um velho cansado de ouvir tanta bobagem.

— Bobagem? Por que bobagem? - disse Robert com sua curiosidade aumentada.

O velho continuou a caminhar pelo salão ignorando o rapaz ao seu lado.

— Eu sou escritor com grande interesse pela a história de Camelot. Se o senhor for algum tipo de historiador eu ficaria muito feliz em poder conversar com o senhor.

— E o que você está escrevendo? Disse o velho sem parecer mostrar muito interesse na resposta.

— Na verdade eu estou coletando informações para escrever um romance de como teria sido Camelot após a morte de Arthur.

— Interessante. Por que você não está escrevendo sobre a vida do Grande Rei Arthur como muitos outros já fizeram?

— Partindo da ideia de que de fato a lenda é só uma lenda, estou escrevendo de como seria Camelot após a morte do rei. Então o senhor é um historiador?

— Não... sou apenas um velho que viveu demais e que conheceu muitas pessoas incríveis. Disse o senhor no momento que para em frente a uma janela e contempla com o mesmo olhar saudoso a paisagem no horizonte.

— Será que poderíamos tomar um café?

— O que você quer saber? – Disse o senhor de barba ao virar-se para Robert.

— Eu sempre venho aqui nesse lugar em busca de inspirações para escrever e sempre converso com todos aqui, mas nunca vi alguém como senhor.

— O que você está dizendo? O velho senhor respondeu contemplando um pouco melhor o rapaz e percebeu que ele continuava com o olhar tímido mais avido que o fazia lembrar de uma amiga que conheceu. E isso fez com que seu velho coração alegrasse de novo.

— Eu estou o observando e vejo que olha este lugar de forma diferente. É como se estivesse com saudade de algo.

— De casa.

Depois dessa resposta o velho que apesar de estar um pouco corcunda ainda caminha com bastante firmeza em direção a uma lanchonete que funcionava no jardim do castelo. Um estabelecimento moderno em uma região que parecia ter parado no tempo de reis, rainhas, dragões.

Foi durante a caminhada um do lado do outro que Robert percebeu que o senhor de barba longa e branca tinha em um de seus dedos um anel com símbolo que ele já tinha visto antes em suas pesquisas sobre rei Arthur.

Já sentados e tomando um café Robert resolver decifrar o velho senhor.

— Então senhor como se chama?

O senhor não respondeu pareceu mais interessado nos livros e cadernos que Robert pôs em cima da mesa e que ele imediatamente começou a analisar.

— Ok... eu vi que o senhor tem um anel bem antigo no dedo.

— Não é um anel é um selo real.

— E de qual família?

— Pendragon. Disse o senhor ao rapaz como se já tivesse dito aquilo várias e várias vezes e que agora não parecia ser tão interessante.

— Pendragon?! Eu já li isso antes. É um dos vários nomes associados ao Rei Arthur.

O velho continuou tomando o café e folheando as anotações do estudante.

— Suas anotações são interessantes, mas essa parte que diz que Camelot acabou logo após a morte de Arthur não é real.

— Há suspeitas de que todas as histórias arthurianas não foram reais. Por isso são chamadas de lendas. De qualquer maneira, eu estou seguindo a linha de vários grandes historiadores sobre esse assunto. Já viajei para vários lugares para conversar com essas pessoas ilustres e todas elas dizem que de acordo com o que foi encontrado até hoje cidades como Camelot já estavam em decadência no período que diz que Arthur morreu.

Não dando ouvido ao rapaz o senhor continuou a saborear o café ao mesmo tendo que lia atentamente cada linha das anotações do rapaz.

— O senhor está me ouvindo?

— Sou velho, mas não estou surdo. Como disse suas anotações são interessantes, mas a onde está a magia aqui? Não vejo nenhuma menção a magia ou mesmo a antiga religião. Desde quando Morgana era uma bruxa louca?

— Eu não acredito muito nessa coisa toda de magia. Gosto das histórias, mas meu romance seguirá uma linha mais realista. Acredito que Morgana tinha algum tipo de ligação com alguma religião pagã e nada mais. Mas magia... do tipo que se faz chover ou faz aparecer estrelas no céu..... não acredito nisso.

O velho olhou para o rapaz, mas não fez nenhum comentário. Depois de tantos anos ele percebeu que as pessoas não mais acreditavam na magia como antes. As pessoas agora estão tão ocupadas em seus próprios interesses que se esqueceram de pequenas coisas o que levou a magia ser totalmente esquecida.

— Apesar de eu discordar de quase tudo que está escrito aqui. Eu vejo paixão nas suas escritas. E acho que seria interessante que o mundo visse Camelot como ela realmente foi.

— Do jeito que o senhor fala é como se tivesse prova de que Camelot existiu.

— Eu vou lhe ajudar. Vou ajudar você a contar a verdadeira história de Camelot. Porém, essa história vai começar com a morte de Arthur.

— Não estou entendendo. O senhor tem prova que Camelot existiu, mas quer contar a parte de como ela foi destruída?

— Como você mesmo disse.. todo mundo já escreveu como Arthur transformou Camelot em um grande reino. Apesar de discordar de muitos linhas relatadas por ai...devo dizer que cada uma das versões tem seu ponto de verdade. Mas poucas falam como a magia voltou a Camelot após a morte de Arthur.

— Acho que o senhor deve ter passado muito tempo entre esses castelos. Mas caso queira me ajudar a criar meu livro. Ficarei muito grato.

O velho ignorou o fato de que Robert não acreditava muito que Camelot realmente existiu. Mas para ele isso não era importante, o que aquele senhor queria mesmo era dizer ao mundo o que ele viveu... Ele queria alguém para conversar sobre tudo que aconteceu. E ele via no jovem incrédulo rapaz sua oportunidade. Ele sabia que muitos não acreditariam no que fosse publicado, mas ele não se importava muito com isso, tanto por que, tudo que ele se importava tinha sido tirado dele há anos. Família, amigos e o pequeno Arthur de quem sentia mais falta. Naquele momento, Merlin, só tinha aquele rapaz de olhos que muito se assemelhava ao da jovem Gwenevere, sua grande amiga.

E foi assim que no mundo moderno onde a magia não mais existia Merlin voltou a se sentir vivo mergulhando em suas memorias e voltando a Camelot.