20 anos depois, e estava de volta a pista de patinação. Após sofrer o acidente, achei que nunca mais fosse poder patinar. A patinação era algo que me dava muita alegria. Quando conseguia ignorar os gritos da minha mãe, conseguia entrar em outra dimensão. Esquecer-me de tudo, era só o gelo, a música e eu, nada mais.

Estava insegura quanto a dar aulas, não sabia se seria capaz, não queria ser uma carrasca como Renée. Queria fazer diferente, que todos sentissem a sensação de liberdade, de flutuar, queria que se divertissem. E me empenharia muito para que isso acontecesse. A princípio iria dar aulas para crianças, mas acabei como professora para iniciantes. Seria mais uma instrutora do que treinadora. Quando souberam disso, minha família resolveu se matricular para poder me dar uma força. Seria bom ter o apoio deles. Edward era o mais animado, mal conseguia ficar em pé por dois segundos, mas estava lá sorrindo e me incentivando o tempo todo. Até o Paul estava lá. Era uma situação no mínimo inusitada, meu ex- marido e meu atual marido. Sim, Edward e eu tínhamos nos casado há dois meses e estávamos muito felizes juntos, as crianças estavam pedindo por um irmãozinho e devo dizer que estávamos trabalhando e muito nisso, mas por hora queríamos apenas curtir os dois e o pequeno Thomas. Meu sobrinho era a cara de Emmett, simplesmente lindo e fofo. Se dependesse de nós, seria a criança mais paparicada e mimada, perdendo apenas para Sophie, que continuava sendo a princesinha da família.

Ela estava muito animada com as aulas de patinação, e levava muito jeito. Me via nela. O mesmo jeito inocente e sonhador de patinar. Se ela quisesse ser patinadora, daria o maior apoio e prometi que não iria interferir em nada, meus filhos fariam suas próprias escolhas e poderiam ser o que quisessem. Desde que fossem felizes com suas escolhas.

— Bella, socorro. – Emmett me gritou do outro lado e corri para ajudá-lo.

—Nossa como você é péssimo. – Seth zombou dele. – Sua mãe e sua irmã são campeãs de patinação e você nem consegue ficar de pé. Ei Bella, me ensina a fazer uma pirueta?

—Claro Seth, mas vá com calma. Emm, será que se esqueceu das aulas que recebeu quando criança? – o ajudei a sair do rinque.

—Não levo jeito pra isso. E não quero que meu filho fique me vendo cair. – acenou para Rose que estava com Thomas no colo em uma das mesas da lanchonete. – Vou ficar com eles. E irmãzinha, você está arrasando, é uma excelente professora, muito melhor do que a mamãe. – me deu um abraço forte.

— Obrigado Emmett, você é o melhor irmão do mundo.

—Sempre vou cuidar da minha irmãzinha. Vai lá que seus alunos estão caindo. – apontou para Seth que tinha acabado de levar um tombo e era ajudado por Jasper a se levantar.

—Seth, mantenha os braços estendidos, cabeça e quadril em linha reta e tente evitar curvar para frente. Pessoal – chamei a atenção de todos. – Vamos repassar os primeiros passos: Braços na altura dos ombros, relaxem, dobrem levemente o joelho e se inclinem para frente. Vamos lá. – fui os acompanhando enquanto eles iam devagar. - Isso, vão com calma. Muito bem. – deixem que ficassem alguns minutos se acostumando. – Certo, agora vamos um pouco mais rápido. Se acharem que vão cair, dobrem o joelho e levantem os braços para o lado. Muito bem, vamos lá. – os incentivava a todo o momento. Observei que tinha um garotinho que cai a todo instante e o pai gritava com ele.

—Oi, qual o seu nome?

—Alec. – respondeu prestes a chorar. – Acho que vou desistir, sou muito ruim.

—Nada disso. Vem. – estendi a mão para ele. – Vou te ajudar. – Chamei Felix, um dos instrutores, para que ficasse de olho no resto do pessoal. – Vamos lá Alec, segure na minha mão, vamos juntos e não tem importância cair, faz parte, já cai várias vezes.

—Mas, e se meu pai brigar comigo?

—Minha mãe vivia brigando comigo, e eu a ignorava. Respire fundo, feche os olhos e tente esquecer tudo, se concentre apenas na minha voz. – fez o que pedi. – Relaxe, abra os olhos e vamos tentar, sem pressa e sem medo. Você consegue.

Fiquei por alguns minutos com ele e no final ele já estava patinando muito bem, até arriscou umas piruetas, mesmo não conseguindo, o aplaudi e fui acompanhada pelos demais.

—Muito bem cara. – Anthony o cumprimentou.

—Mas, eu não consegui.

—Foi uma bela tentativa, na próxima você consegue. Minha mãe vai te ajudar e se precisar te ajudo também.

—Valeu, é bom ter um amigo. Até mais. – Alec saiu feliz e decidido a voltar.

—Não sabia que patinava tão bem. Anos de casados e não conhecia esse seu lado talentoso. - Paul estava do meu lado, mas mantendo uma distância razoável.

—Era algo que queria esquecer. Foi uma fase muito boa da minha vida, mas uma fase muito triste e sofrida.

—O que mudou?

—Esqueci a parte ruim e me concentrei apenas nas partes boas. – toquei no braço dele. – Obrigada Paul, de verdade.

— Só quero que seja feliz e quero que saiba que estou seguindo com minha vida. Conheci uma pessoa. – respondeu meio envergonhado.

—Que ótimo. Espero que seja feliz.

—Obrigado. Posso levar as crianças?

—Se eles quiserem ir, não vejo problemas.

—Vou perguntar a eles. E, parabéns, você nasceu para isso.

—Você foi incrível com aquele garoto. – Edward chegou por trás me abraçando.

—É horrível ter alguém gritando com você o tempo todo. Sabe, foi o Phill que me ensinou aquele truque de ignorar os gritos. E depois que te conheci, pensava em você e conseguia me esquecer do resto. – confidenciei me virando.

—Então quer dizer, que consigo te fazer esquecer de tudo? – perguntou dando aquele sorriso torto que me deixava sem palavras.

—Hãn? – começamos a rir. – As crianças vão para casa do Paul.

—Então só nós dois hoje?

—Antes dos pombinhos ficarem a sós. Acho que devemos comemorar?

— O que vamos comemorar Carlisle?

—A sua volta. Está bem?

—Sim, meu pé dói um pouco, mas estou muito feliz. É bom estar de volta. Devemos comemorar e muito. Esme será que pode fazer aqueles sanduiches que só você sabe fazer? – pedi tentar imitar o olhar pidão de Sophie, mesmo não saindo do jeito que deveria, meu pedido foi atendido.

—Aos velhos tempos? – Alice perguntou erguendo o copo.

—Aos novos bons tempos. – Edward corrigiu.

– A nossa família, que é a mais doida e amorosa que existe. Quero agradecer a todos por hoje. Foi o apoio de vocês que me manteve firme. Vocês são os melhores. Amo vocês. – brindamos ao novo começo de nossas vidas.

Ficamos mais um pouco rindo e ouvindo as piadas de Emmett e Seth. As crianças resolveram ir ficar um pouco com o pai, tínhamos entrado em acordo, Paul não tinha dias certos para ver os filhos, sempre que quisessem e as crianças também, eles poderiam se ver e estava dando certo isso.

Com a casa livre, não ficamos por muito tempo e resolvemos ir aproveitar um tempo a sós.

—Feliz?

—Mais do que achei que seria possível.

—Quer apostar que consigo te fazer ainda mais feliz? – provocou fazendo cócegas no meu pé.

—Não duvido de nada, você tem a capacidade de me fazer feliz sem nem ao menos se esforçar. Te amo. – voltamos a nossa bolha e ficamos por horas nela.