O que seremos nós ao final disso, Nico? Conseguirei penetrar além da sua bela aparência, do glitter que ilumina sua aura?

Você, a mente agitada de uma soldado em treinamento. Você, a bomba-coração pulsante moldada com seu ar eletrizante. Eu, a garota disposta a morrer. Eu, a explosão. Eu, o ferimento. Eu, com a mente sempre em guerra.

Nós.

Podemos nós ser o campo de guerra flamejante que eles observam a noite e se queimam nas chamas? Eu quero ser parte da sua arquitetura idealizada. As cores, os tijolos, a argamassa. A simbologia que orbita no seu universo, a ideologia existencial que seu estilo imprime.

Ó, Nico, o quanto podemos realmente conversar em um único dia? Deveríamos ter tido vinte. Talvez lhe contaria sobre os negros cosmos na minha mente, sobre o caos, os constantes big bangs. Gostaria de lhe dizer que minha cabeça é um vácuo, Nico. Um silêncio, Éter, um lugar para se encontrar consolo. Vamos ver o quanto isso duraria.

E você me contaria sobre a casa com estufa em que você viveu, onde todas as coisas belas crescem. Onde existem híbridos brilhantes e rosas do deserto.

Pessoas como você manipulam a evolução. Um fenômeno natural que aquece as piores atmosferas. Que tipo de radiação está presa na sua superfície? Estaria disposta a me deixar descobrir, Nico?

Somos uma natureza, você e eu. Nós agitamos, entramos em colapso, nós florescemos. Nascemos beija-flores, Nico, ninguém deveria nos obrigar a ser malditos castores. Somos sistemas de voo.

Mas lhe pergunto: tem um limite para sua visão? Poderemos nos ajudar a enxergar além dessas peles em que habitamos? Você me disse que, no mundo real, você não cabe numa caixa, está além das definições, linguagens. E lhe direi: vamos entrelaçar nossas línguas, criar a nossa própria. E talvez me responderá que as entrelaçará, mas não pelo bem das palavras, porque palavras falham, destroem. O que fazemos quando nos cansarmos de falar? Flutuaremos, irei sugerir. Por sorte, você é como água, mesmo que seu elemento seja o fogo.

E no seu oceano, Nico, não me importo em afundar.