Ele esconde-se atrás de um cigarro, deixando a fumaça persistir em seus lábios. Expira suas mágoas, as observa flutuar para o céu a medida em que as nuvens provam do seu beijo.

Ele esconde-se atrás de uma garrafa, deixando que o líquido abafe sua dor. Ministra as doses do que acha ser salvação, enquanto seus demônios lhe povoam o coração.

E ele esconde-se em meio a neve e nos brancos filamentos encontra abrigo. Ele os aspira avidamente para preencher a solidão, enquanto sua sanidade se perde nos becos frios de sua mente.

É apenas um garotinho gritando, emudecidamente, por ajuda num canto escuro do quarto dos fundos de sua casa construída em mentiras. A inocência arrancada pelas sombras que ao lado moram. Seu corpo maculado pelas mãos perversas de um ser.

E ele sorri, belo e brilhante como se tudo estivesse perfeitamente bem. Preenche o ambiente com sua falsa alegria pra se esquivar da exposição, enquanto caminha direto para lugar nenhum.

De quarto a quarto, presa em presa, insaciavelmente. Espera, talvez, encontrar nas entranhas alheias a inocência que lhe fora roubada, ou apenas se deleita com o sabor da conquista. Sua alma livre não lhe permite ficar por mais que uma noite.

E quando foge, deixa devastação pelo caminho e a si devasta também. Vivendo a vida como um raio, sem ter medo de coisa alguma. Um bravo leão negro, solitário, como aprendeu a ser.

Um dia ruirá como um trovão, carregando em si os mais profundos cortes.