Reset

Preparação


Acordei sentindo o cheiro forte vindo do perfume que Julietty passava. Grunhi e fechei os olhos novamente com a vontade de dormir e acordar apenas no dia seguinte.

-Nemesis virá te arrastar se não levantar agora – disse ela com um riso na voz.

-Tenho provas na próxima semana, não vou me preocupar com essa festa – resmunguei me virando de contra a parede.

-Deixa seu lado nerd preso no armário hoje, Scalat – satirizou ela – É uma festa e acredite que deveria se animar.

Virei-me para olhá-la enquanto colocava uma regata preta sob a baby look verde que usava. Corri meu olhar pro resto do quarto, a cama de Perséfone estava arrumada.

-Cadê a secretaria do diabo? – perguntei me sentando

-Não conheço ninguém com essa profissão – respondeu ela penteando o cabelo.

Revirei os olhos antes de me espreguiçar.

-Te apresento ela depois – disse antes de ir ao banheiro

-Enjoada – ouvi ela resmungar

Deixei um sorriso escapar enquanto tirava minha camisola. Olhei para a brancura da minha pele no espelho.

Talvez precisasse pegar um pouco de sol.

Tomei banho quase não pensando em nada, minha mente meio que rodopiava em torno de uma coisa só.

Vingança.

Sei que talvez eles estivessem certos ao querer resolver esse caso dessa maneira, mas não acredito que Martin mereça isso, não importando o que ele fez para mim ainda me sentia ligada á ele de uma forma inexplicável.

Abracei meu corpo de forma protetora enquanto as lembranças daquele dia vinham á tona novamente. Senti que as lagrimas queriam descer também, mas cravei minhas unhas em meus braços fazendo a dor tirar essa vontade de chorar de mim.

Arfei procurando por ar antes de fechar a torneira. Coloquei minha testa na parede e fechei meus olhos.

Precisava retirar a sensação sombria e melancólica que se alastrava por todo meu corpo com fúria.

Peguei meu roupão após alguns minutos saindo depois para o quarto não encontrando mais Julietty, só que em seu lugar estava Amanda que folheava uma das revistas de fofoca dela.

-Bom-dia flor do dia – ela me cumprimentou virando uma pagina – Jensen Ackles a cada semana fica mais gato.

-Você gosta dele não é? – indaguei indo para meu armário.

-Amo ele e o Jared Padelecki – disse ela rapidamente – Por que seus braços possuem marcas de unha?

Estanquei enquanto pegava uma blusa.

-É porque... – enrolei tentando achar uma desculpa.

-Estava pensando em Martin – completou ela fechando a revista.

-Como sabe? – perguntei pegando uma calça

-Está escrito na sua testa isso – respondeu ela se levantando – Você possui belas pernas, Scalat arrume uma bermuda.

-Acho melhor... – ela me lançou um olhar intimidador enquanto cruzava os braços – mesmo.

Ela sorriu enquanto revirava minhas roupas.

-Essa bata é perfeita – disse ela por fim me dando uma bata azul com estampa branca – Vista-se.

-Sim senhora – debochei enquanto ia colocar as peças.

Terminei de me arrumar e logo fiz um coque no cabelo, o prendendo com um hashi. Em seguida, peguei uma rasteirinha a calçando enquanto Amanda já saia do quarto.

-Está de folga hoje? – indaguei quando seguíamos para o salão.

-Não, ensaiarei a tarde – disse ela – Tenho que estar perfeita na apresentação.

-Que alias nunca soube do que se trata – confessei dobrando a direita

-Dança – contou ela – Espetáculo de dança.

-Sozinha? – indaguei curiosa

-Somos ao todo oito – disse ela – Ainda temos que dar ajustes na sincronia, mas no resto estamos indo bem.

-Final do próximo mês, certo? – indaguei mordendo o lábio inferior, ela assentiu – Não vou perder.

-Se perder, eu te mato depois – me ameaçou enquanto entravamos no salão.

Ela revirou os olhos com um sorriso.

-Bom-dia pessoas – cumprimentei me sentando vendo Debby com panquecas banhadas em calda de caramelo, fiz uma careta.

-Nem vem – queixou-se ela – Deixa-me feliz com meus doces.

-Eu não falei nada – disse enfática pegando uma xícara

Ela virou o rosto emburrada fazendo Gregory apertar suas bochechas.

-Ai – gemeu ela colocando suas mãos nas bochechas – Agressivo.

Ele riu enquanto levava a boca um pedaço de bolo de cenoura.

-Precisamos achar uma maquiagem que cai bem com o vestido, Scalat – comentou Nemesis sentada na minha frente.

-Ela não precisa, Nemesis – disse Isabel se olhando no espelho pequeno que segurava – Zumbi não se preocupa com a aparência.

-Então não sei o que você faz com esse espelho – replicou Amanda se voltando para ela

Todos seguramos o riso, menos Gregory que acabou por cuspir café no rosto de Perséfone que o olhou com vontade de matá-lo.

-Quais são suas ultimas vontades, Gregory Olivell Solivam? – perguntou ela se levantando

-Seja piedosa? – respondeu ele hesitante

Ela se lançou na sua direção o puxando pela gola da camisa. Isaac a puxou de volta, fazendo-a soltá-lo.

-Segura esse espírito que esta em você, Perséfone – provocou Amanda.

Nemesis lhe deu um beliscão que a fez fazer uma carinha chorosa. Revirei os olhos antes de ver Perséfone sair pisando firme.

-Scalat – chamou Al – Quer carona para casa dos seus pais?

-Pode deixar que eu a levo quando acabar alguns detalhes – disse Nemesis antes de levar sua xícara a boca

-Ouvi a tampinha, não é? – indaguei com escárnio fazendo-o rir

-Tudo bem – disse ele terminando seu café

Com isso continuamos nosso demorado café da manhã, em seguida fui arrastada para o ateliê onde as alunas assistiam à aula de moda, no caso Nemesis e Amanda estavam nessa área.

-Pra onde Debby foi com a Julietty? – perguntei enquanto abríamos as janelas.

-Foram para casa de Isaac ajudar Cibelle e Carmen na organização – respondeu Amanda vindo até mim – Prova final do vestido.

Assenti enquanto via Nemesis sumir por entre uma coluna de tecidos.

Achava incrível que as duas tivessem jeito para criação de roupas. Na verdade não gostavam de ter o mesmo modelo de roupa que metade das outras garotas tinham.

Se bem que todos que faziam aula de moda criavam suas próprias roupas.

-Vai experimentar – disse Nemesis voltando com meu vestido já terminado

O peguei indo me trocar no biombo no extremo oposto da sala.

Quando retornei, elas me olharam pensativas antes de já darem seus palpites.

-Acho que devemos encurtar mais um pouco – comentou Amanda – Não melhor criar uma abertura na lateral.

-Vai ficar vulgar – opinou Nemesis.

-Ela precisa de liberdade para dançar – argumentou Amanda

-O vestido é vermelho, gente... – Nemesis levou seu indicador aos lábios pedindo que me calasse.

Respirei fundo enquanto ficava que nem um dos manequins que estavam na parede lateral. Elas continuaram a criar novas idéias enquanto apostavam em alguns retoques.

Após mais de meia hora bancando a boneca de pano delas fui liberada sendo avisada que iriam à minha casa para me arrumarem para irmos para tão aclamada festa.

Coloquei algumas peças de roupa numa bolsa preta e sai rumo ao estacionamento quando cheguei onde comumente minha moto fica estacionada vi Perséfone no maior chamego com Al que detinha uma expressão indecifrável no rosto.

Revirei os olhos.

Parece que ela percebeu que Isaac não era alguém com quem fosse pra frente e resolveu partir para outra, uma lastima que tenha sido o loiro que chamava atenção de todo o colégio.

Rodei a chave na ignição depois coloquei meus fones de ouvidos fazendo a batida de Impossible de Shontelle povoar minha mente.

Logo passei por eles vendo pelo retrovisor que Al ainda me olhou por um momento antes de entrar em seu Jeep Commander preto deixando Perséfone com uma cara nem um pouco boa. Acelerei para uma velocidade considerável e peguei a avenida que me levaria para casa.

Quando cheguei, deixei que minha bolsa deslizasse de meu ombro rumo ao assoalho do corredor que terminava na escada para o segundo andar.

-Saul? – indagou mamãe da cozinha ao que parecia

Fui até o cômodo pé ante pé sendo o mais silenciosa possível. Quando cheguei na cozinha ela estava atarefada cuidando de preparar uma massa.

-Um fantasma veio-lhe visitar – disse numa voz rouca meio fantasmagórica.

Ela deixou a tigela cair na pia assustada antes de se virar para mim.

-Scalat! – exclamou ela injuriada enquanto se aproximava de mim.

-Bom-dia mulher de meu coração – elogiei recuando

-Está quase encrencada mocinha – disse ela colocando as mãos na cintura

-Amiga mãe – disse tentando acalmá-la.

Ela me deu um tapa no alto da cabeça. Levei a mão ao lugar soltando um gemido de dor que ignorou retornando para a pia pegando a tigela.

-As novidades – pediu ela pegando uma travessa de vidro na secadora.

-Bipolar – resmunguei baixinho antes de ir me sentar-se à mesa.

Segundos depois comecei a contar sobre a semana atribulada que tive destacando o que era importante enquanto fazia isso ela preparava a torta de frango que papai adora e eu amo.

Em seguida subi para meu quarto que parecia o mesmo desde o ultimo fim de semana.

As paredes azul bebê com adesivos florais, a cama de casal no centro do quarto coberta por uma colcha verde. As estantes nas laterais repletas de livros, revistas e enfeites. O armário marrom na parede oeste, minha escrivaninha e a poltrona xadrez a lesta com alguns ursinhos de pelúcia.

Joguei minha bolsa na cama, retirando depois minha roupa para tomar banho. Peguei uma toalha creme usando-a para me enrolar, segundos depois para o banheiro ligado ao meu quarto.

A água fria fazia todo meu corpo tremer uma vez ou outra. Não gostava de banho quente era desconfortável.

Voltei depois para meu quarto colocando uma roupa surrada que geralmente usava em casa. Ouvi mamãe avisar que o almoço estava pronto, olhei a rua pela janela vendo papai sair do carro afrouxando a gravata que usava.

Prendi meu cabelo num coque japonês e desci quase correndo de encontro á ele que acabava de colocar sua maleta no sofá e se virava para mim.

Dei-lhe um abraço apertado recebendo de volta o sorriso que o marcava. Depois de brincar com ele sobre suas rugas estarem ficando mais visíveis, recebi sua reprimenda vindo sem seguida mamãe nos chamando novamente para almoçar dessa vez em seu tom autoritário.

Bem me sentei à mesa acompanhada dos dois que comentavam sobre um caso em andamento que papai ainda não tinha resolvido por resoluções duvidosas demais para seu gosto.

Já à tarde coloquei uma roupa leve pegando antes de sair meu celular. Meus pais já tinham voltado aos seus trabalhos. Amarrei meu cadarço direito e sai de casa para uma corrida até o parquinho á três blocos de casa.

Nemo de Nightwish povoou meus ouvidos enquanto cantarolava alguns trechos ao segundo que pensava na próxima musica para aula de Demetria que não podia ter um desleixo sequer.

Uma professa dessas não peço para ninguém.

Quando voltava para casa dessa vez caminhando não correndo, meu celular tocou, ao pegá-lo vi nome da pequena duende ruiva.

-Pra casa agora – disse ela quando atendi

-Oi pra você também – satirizei enquanto via a limusine de sua família estacionada em frente de casa.

Desliguei enquanto a via aparecer na varanda junto com Amanda que amarrava o longo cabelo.

-Deveria estar se arrumando – Nemesis me recriminou quando cheguei até elas – Sabe que demora o processo.

-Poderia vir no carro menos chamativo também – retorqui voltando meu olhar para Amanda – Oi, graveto geneticamente modificado.

-Quanto amor por mim – ironizou ela revirando os olhos – Vamos cuidar.

Balancei a cabeça afirmamente enquanto entrava em casa com Amanda em meu encalço.

-Onde é o seu quarto? – perguntou ela dando um olhar rápido por toda a casa – Bela decoração.

-Obrigada – agradeceu minha mãe por nossas costas.

Nos voltamos para ela que segurava uma pequena maleta cinza enquanto Nemesis passava por ela com vestidos cobertos por plásticos nos braços seguindo para meu quarto sem cerimônia.

-Ruivinha folgada – observou mamãe me estendendo a maleta – Andem logo garotas.

-Mãe, essa é Amanda – a apresentei enquanto as duas apertavam-se as mãos – Amanda, essa é minha mãe Letícia.

-Prazer – disseram elas em conjunto

-Tia Letícia – chamou Nemesis no alto da escada – Temos que arrumá-la.

Mamãe fez uma careta para ela antes de nos olhar.

-Deixo isso com vocês – disse ela – Não vou opinar em nada.

Sorri enquanto puxava Amanda para meu quarto que uma vez dentro começou a arrumação. Enquanto fui tomar banho no meu banheiro, Amanda foi para o que havia no fim do corredor.

Iriam se arrumar por aqui mesmo.

Quanto retornamos, Nemesis cuidou da minha maquilagem enquanto Amanda fazia a dela que era bem mais trabalhada que a minha.

-Seu cabelo e vestido já dão destaque – explicou Nemesis aplicando um gloss incolor em meus lábios – O resto precisa estar neutro com isso.

Assenti enquanto ela se voltava para Amanda que acabava sua produção.

-Cuide do resto – pediu ela – Tenho que cuidar agora.

A morena assentiu para ela que foi para meu banheiro em seguido se trancando lá.

-Aqui, Scalat – disse Amanda tirando de uma das capas meu vestido terminado.

Ela era um micro vestido que deveria dar no meio das minhas coxas, havia as dobraduras em relevo por todo seu cumprimento, frente única com a cor num vermelho escuro que não chamava muita atenção.

O peguei antes de vesti-lo coloquei um short curto por baixo no caso de um eventual acaso. Enquanto o vestia Amanda pegou o seu que era bem mais trabalhado.

Era um tomara-que-caia rosa creme com preto em pontos do tecido. Começava como se fosse um espartilho e terminava numa saia rodada com a barra composta de uma fina camada de véu preto por baixo.

Quando terminamos de nos vestir, Nemesis saiu do banheiro indo para a mesa onde seus produtos estavam espalhados. Olhou de relance para nós e começou a se maquiar contando com a ajuda da Amanda.

Depois pegou seu vestido na capa. Que achei tudo.

Era frente única, batia acho que no final de sua coxa, uma faixa trançada marcava sua cintura, era verde chamuscado e costas nuas até um pouco acima do final de sua coluna.

Como constatei todos eram curtos para talvez dar liberdade para dançar.

Nemesis se voltou para mim, franzindo o cenho em seguida.

-Não vejo nenhum penteado que sirva – concluiu ela enquanto Amanda entrava no quarto com três caixas de sapato – Pegue o seu.

-Qual? – perguntei me voltando para Amanda que colocava as caixas na minha cama.

Ela me entregou uma caixa marro que ao abrir me deparei com um sapato de camurça preto aberto salto fino que para meu alivio vi que não passava de 4 cm.

-Não de dança perfeitamente bem com um salto 8 cm – esclareceu Amanda pondo sua gladiadora vernizada nos pés.

-Penteado japonês, não é? – indagou Nemesis a olhando terminando de colocar sua sandália prata de tiras finas.

-O mais viável para meu cabelo – disse Amanda o soltando.

-Bracinho de gente irá reclamar depois – satirizei enquanto pegava minha escova.

-Deixara o cabelo solto? – indagou Nemesis pegando dois hashis transparentes.

Assenti ajeitando meus cachos em meus ombros enquanto ela acabava de fazer o penteado em Amanda. Depois cuidou de seu próprio cabelo colocando umas pequenas presilhas ao redor dele, mas as retirou deixando apenas uma libélula de strass como enfeite no meio de seu cabelo.

Olhei para o relógio enquanto passava perfume, passamos mais de quatro horas nos arrumando.

Entreguei meu celular para ela que colocou na sua carteira azul marinho enquanto descíamos a escada nos deparando cm meus pais que bateram palmas enquanto rodopiamos uma única vez.

-Boa festa – desejou eles enquanto saiamos

Mandei-lhes um beijo e sai rumo à limusine que chamava atenção na rua em meio aos carros.

O caminho para casa de Isaac foi ameno enquanto pensava em tudo que viesse acontecer.

Nemesis e Amanda conversavam sobre alguns assuntos da aula de modo que viria depois enquanto me puxavam para conversa também apesar da minha mente se preocupar com as provas da semana seguinte.

O carro parou me tirando dos meus devaneios e fazendo minha atenção voltar para a porta que se abria com uma mão enluvada querendo me ajudar a descer.

A peguei sentindo o vento bater de contra meu rosto enquanto saia me deparando com a casa que parecia uma mansão, exagero, era um pouco extensa, mas dava a impressão de ser uma mansão.

A entrada estava iluminada por lâmpadas florescentes enquanto que carros ainda estacionavam.

-Vamos, Scalat – disse Nemesis passando por mim.

Respirei fundo e logo a acompanhei junto com Amanda que ajeitou seu vestido novamente.

Quanto mais nos aproximávamos, mais a musica latina verberava em meus tímpanos.

-Um pouco de sangue quente – comentou Amanda quando alcançamos a porta de marfim

-Carmem é latina, não é? – indaguei curiosa

-Isso – disse Nemesis abrindo a porta – Até a ultima gota de seu sangue.

Sorri sem humor enquanto entrava também.

Wow.