Renzo Shima detesta insetos
Renzo Shima detesta insetos — capítulo único
Se não fosse pela ligação, pausando automaticamente a música que passava por seus fones de ouvido, Izumo poderia dizer a si mesma que nada havia acontecido e apenas deixar que o toque barulhento de seu celular continuasse até que a chamada caísse na caixa de mensagens mas o ritmo que fluía em sua leitura graças a melodia fora interrompido, então a pessoa do outro lado da linha merecia sua atenção.
"Izumo..."
Até ela descobrir de quem se tratava e querer desligar no ato.
"Não desliga! Não desliga, por favor, eu preciso que você me escute!"
Renzo.
— O que foi agora?
E ele parecia a beira de um colapso do outro lado da linha, ela jurava que conseguia ouvir os dentes dele batendo um no outro!
"Uma barata..." a não, de novo não, "tem uma barata na porta..."
— E o que eu tenho a ver com isso? Mate ela.
"Não! É uma barata! Izumo, as antenas dela 'tão se mexendo! Se mexendo!"
— Renzo, se você matar ela, ela vai deixar de ser um incômodo. Pise nela.
"Isso é nojento até 'pra você Izumo!"
— É só pisar que ela morre.
"Como você pode ter certeza disso? Mesmo sem a cabeça o corpo de uma barata consegue se mexer sozinho! Sozinho Izumo! Sem a cabeça!"
— Para alguém que detesta insetos você até que sabe muito sobre eles.
"É preciso conhecer bem o inimigo- mas sério Izumo, me ajuda... ela tá se mexendo! Se mexendo!"
— Então corre.
"Por que você não abre a porta e me ajuda?"
— Tô ocupada.
Pelo tom de voz dele, ela poderia imaginar a expressão totalmente descontente com o que ele dissera em seguida.
"Lendo"
— Exatamente, e vou continuar lendo mesmo que você comece a gritar feito um maricas.
"Izumo não seja cruel comigo..."
— Renzo, eu vou encerrar essa ligação, você vai abrir a porta e me deixar em paz.
"Não! Izumo ela 'tá chegando perto do meu pé!"
— Você não disse que a barata estava na porta?
"Na frente da porta, sua idiota! Na frente!"
Naquele momento ela já havia aguentado o suficiente daquele show e tinha certeza de que não teria ouvidos, muito menos cabeça para o que viria em seguida - Renzo desmaiando em frente á porta de entrada.
Normalmente ele lidava muito bem com a sua aversão a insetos, chorava e esperneava feito uma criança mas não deixava que isso o vencesse por completo só que, para ele estar com a voz daquele jeito provavelmente era uma barata mutante.
Sem nada que a auxiliasse no ataque, Izumo apenas abriu a porta e olhou em direção ao chão, observando a barata que além de grande, estava começando a subir pelo tênis dele, completamente alheia a pessoa que estava a beira do delírio acima, usando daquele calçado.
— Fique quieto.
No instante seguinte ela estava respirando fundo e pisando o mais forte que conseguia em cima do pé dele, usando de seus ombros como apoio e continuou pisando, praticamente esmagando as veias ali com seu peso leve, até que sentisse uma gosma nojenta em contanto com sua pele.
Estava feito.
A barata mutante estava morta e empapada em suas próprias vísceras - se é que baratas teriam vísceras.
E Renzo...
Bem, Renzo estava com lágrimas nos olhos tirando todo o ar que ela poderia ter em seus pulmões em um abraço apertado... e cheio de ranho.
— Izumo! Eu te amo! Eu te amo infinitamente! Obrigadaobrigadaobrigadaaaaaaa!!!
O único detalhe que fazia daquele momento o mais enfadonho possível era que ela ainda estava com pé sobre o tênis dele, com uma barata esmagada entre eles.
— Certo, certo, agora me solta. Meu pé já teve o suficiente por hoje.
E assim ele voltara ao estado anterior aquele, encarando o que a poucos minutos atrás havia sido uma barata gravada e autenticada, espalhada por cima do cadarço de seu tênis.
— Eu não quero mais esse tênis.
— Então deixe ele na porta.
Nisso, enquanto ele se livrava dos calçados com o nojo estampado em seu rosto, Izumo voltava para dentro saltando em um dos pés até sentir todo o seu corpo sendo levantado do chão, seguindo em direção ao banheiro.
— E você não vai deixar os restos dela pela casa.
— Ei, me coloca no chão seu idiota!
Fale com o autor