Parte do Passado

[Narrador Mode-On]

Bruno afinava sua guitarra, sentado dentro do estúdio, enquanto dois dos integrantes da Neon ainda não haviam chegado. Ele estava parado neste lugar há um bom tempo. Sua expressão era triste, estava um pouco cabisbaixo e pensativo. Felipe, o vocalista da banda, vem andando na direção do amigo. Vendo-o daquele jeito senta ao seu lado.

– O que está acontecendo, cara? – pergunta, assim que se senta. – Você já afinou essa guitarra um milhão de vezes... Deixe-me adivinhar: é a saudade dela?

– Ontem eu vi uma foto que ela postou no Twitter e isso me deixou um pouco balançado... – responde, sem olhar para o amigo. – Mano, ela estava tão linda... E pensar que agora tudo isso faz parte do meu passado...

– E então por que você está parado aqui? Vai atrás dela, ué! Melhor do que ficar aí com essa cara de enterro. Você sabe que precisa dela mais do que nunca...

– Agora nem dá mais... Duvido que a Alicia queira voltar comigo, Felipe. Sua expressão quando a pedi em casamento foi muito estranha. Era como se eu a estivesse convidando pra pular de um abismo de mãos dadas comigo. – coloca a guitarra de lado.

– Alicia não é do tipo de pessoa que gosta de se prender às coisas e muito menos se pressionada. Você sabe disso como ninguém e ela já deixou bem claro. – Felipe olha para o lado e continua. - Eu adoraria estar lá no altar, todo engomado de terno vendo meu melhor amigo se casando. Mas na minha opinião, você se precipitou com esse pedido. Estava na cara que ela não ia aceitar, ainda mais agora que sua carreira está decolando.

– É, eu sei... Mas acontece que eu não aguentava mais ficar aqui na incerteza do que ela poderia estar fazendo lá em Los Angeles. Aqueles gringos não são idiotas e aposto que tinham vários dando em cima dela... – ele dá um longo suspiro. – E eu não podia perdê-la... Não podia... – coloca a mão na cabeça. – Essa era a única forma disso não acontecer.

– Mas aconteceu. Você vacilou nessa, Bruno... O que resta agora é agarrar uma oportunidade e tentar resolver tudo isso. – ele faz uma pausa. - Não sei se você viu, mas saíram algumas fotos recentes dela junto com os caras da banda que é fã.

– Eu vi. E você notou cara de felicidade com que ela estava? Isso foi o que mais me matou... Mal terminou um relacionamento e já estava lá andando com aqueles dois para cima e para baixo. Aposto que eles amaram vê-la solteira. – balança a cabeça, negativamente. - No VMA quando a vi entrando de braços dados com aquele babaca esquisito eu já senti que estava ficando para escanteio. Desde que ela se mudou do Brasil, eu estou ficando para segundo plano.

– Mas eu acho que ela ainda gosta de você, Bruno... E eu falo isso, porque vejo o jeito carinhoso que ela te trata quando estão juntos.

– Alicia pode até gostar de mim, mas não acho que seja o suficiente. Caso contrário, não seria tão seca comigo quando está longe. Você tinha que ver a maneira como ela falava comigo no telefone... Sempre com pressa, encurtando os assuntos. É isso que eu queria entender e poder reverter a situação... Saber qual é a dela. Porque é como você disse, quando estava junto comigo, seu jeito de me tratar era completamente diferente. – Bruno fica pensativo. - Quanto mais eu achava que sabia algo sobre ela, descobria que na verdade eu não sabia era nada. Ela sempre me privou de muita coisa. Pra você ter uma idéia Felipe, eu nunca fui à sua casa em L.A. e não sei nem o endereço!

– Sério? – pergunta, perplexo.

– Sério, não estou mentindo.

– É, cara... Então as coisas são mais tensas do que eu imaginava.

– Muito mais...

– Ainda assim, eu acho que você consegue tê-la de volta. Querendo ou não, Alicia ainda tem uma pendência com você... Ela não teria te enrolado dois anos atoa. E pensa comigo, se não houvesse nenhum tipo de sentimento, ela teria te chutado quando se mudou daqui. E com a famosa desculpa de que “namoro à distância não dá certo”.

– Pois é, concordo com o que você disse. – umedece os lábios. - Sinto muita falta dela. Apesar de tudo, ela é super divertida e consegue me alegrar bastante. – ele sorri de lado.

– Ela é uma pessoa ótima mesmo. E isso é uma das coisas que você deve se lembrar, antes de mais nada. Duvido que você consiga alguém com todos os atributos que ela tem a oferecer.

– Mas e se nesse tempo em que está solteira, ela arrume outro cara? Sei lá, um que julgue ser muito melhor do que eu... Com grana, fama... Essas coisas.

– E pra que ela vai querer um cara assim se ela já tem fama e dinheiro? No máximo, um mais bonito que você... Tipo eu. – brinca.

– Cala a boca, idiota! – ele ri. - Mas voltando a falar sério, eu não posso descartar essa possibilidade... Saiu uma nota em um site de fofocas americano, dizendo que ela foi vista muitas vezes com aqueles alemães lá... Como se chamam mesmo?

– É K alguma coisa... Kauliz?

– Kavitz? Ahh, sei lá! Enfim... Você sabe de quem estou falando! Ela sempre foi louca por eles e agora que os conheceu pessoalmente, não duvido nada que já tenha ficado com um dos dois.

– Vai saber... Mas a Alicia sempre teve muitos amigos homens. Pense bem caso vocês voltem, porque eu duvido que ela abra mão deles só por sua causa.

– Só de pensar nisso, chego a ficar arrepiado de raiva...

– Mas você vai ter que aprender a gostar Bruno... Lembre-se do que eu já te falei...

– Pois é, vou ver o que eu faço... Confesso que não vai ser nada fácil, mas não me importa. Não posso e nem quero ficar mais longe dela.

[Narrador Mode-Off]