Remember
Lance de alma
Levantei-me e sentei no sofá. Passo a mão nos cabelos e ainda não acredito que consegui me lembrar de tudo que aconteceu naquela noite em um sonho! Meu Deus! Agora toda a confusão que estava na minha cabeça se desfaz e consigo compreender o porquê de tudo que ocorreu... O que eu senti e o que eu sinto agora. E que não foi nada planejado e nem premeditado. Aconteceu.
Agora, eu já sei o que vou fazer. O que preciso fazer.
— Alicia! Que bom que você acordou! – dispara Gaby, ao entrar na sala e me ver. – Enquanto dormia que nem uma pedra, Bill ligou e...
— Você contou a ele que estou aqui? – a corto.
— Sim... Mas não se preocupe que ele prometeu manter segredo. Bill me contou que está preocupado, porque Tom está arrasado e não sabe mais o que fazer. – ela franze a testa.
— Eu vou resolver isso, Gaby. Agora me lembro de tudo.
Gabriella arregalou os olhos e colocou a mão tapando sua boca aberta, incrédula.
—Eu não acredito! – pulou no sofá em cima de mim, me abraçando de alegria. – Como foi que você conseguiu lembrar? Eu sabia que isso aconteceria! Eu sabia! – vibra.
— Foi em sonho, enquanto eu dormia... Flashes dos acontecimentos vieram à minha cabeça, como se eu estivesse revivendo cada momento novamente!
— E o que aconteceu realmente? A última coisa que você disse lembrar, foi de vocês dois estarem tomando vinho no restaurante...
— Depois de jantarmos, Tom sugeriu que como sobremesa, fôssemos tomar um chocolate quente numa cafeteria perto daquela praça central que eu gosto. E assim fomos. Estávamos um pouco alterados, por causa do vinho... Se não me engano, bebemos duas garrafas. Fomos até o estacionamento do restaurante buscar e o carro, e partimos. – sorrio. – Já com nossas bebidas em mãos, saímos do café, atravessamos a rua de braços dados e sentamos num banco da praça, que estava com uma iluminação maravilhosa e super aconchegante. – faço uma pausa e suspiro antes de continuar. – Lembro-me que eu estava tão feliz por estar lá junto dele... Tom foi sempre tão incrível e atencioso comigo, que eu amava sua companhia. Aquela noite estava com a lua linda e o céu todo estrelado, e eu sentia que naquele momento, o melhor lugar que eu poderia estar era ali, com ele. A capacidade que ele sempre teve de me fazer esquecer dos meus problemas é absurda, Gabriella. Tanto que eu nem sei explicar... – fico pensativa e logo continuo. - Assim que sentamos, por um momento eu o observei por inteiro. Ele estava todo de preto, com o cabelo preso em um coque no alto da cabeça e a barba mais aparada, mas ainda assim por fazer. Acho que de todas as aparências que ele já teve ao decorrer de sua vida, essa sem dúvida, era a que o deixava mais bonito...
— Tá explicado porque eu sinto cheiro de tinta daqui! – ela ri, debochando da minha cara. – Eu tô no chão com essas revelações.
— Palhaça! – jogo uma almofada nela e rimos juntas.
— Mas continua!
— Comentei com Tom do dia que Bruno apareceu de surpresa lá em casa, e nos encontramos naquela mesma praça de madrugada, lamentando que ele tenha me visto naquele estado... Ele disse para eu parar de pensar nisso, pois fiz o que achei melhor naquele momento. Tentando mudar de assunto, perguntei sobre ele e as suas garotas, se não estava saindo com nenhuma naquele momento. Não sei porque fiz essa pergunta. Se pudesse voltar atrás, jamais teria feito isso. Acho que o deixou um pouco constrangido e desconfortável, pois ele abaixou a cabeça e demorou um pouco a me responder. – reflito.
— Mas o que ele te respondeu?
— Ele disse que não, que com o tempo a necessidade que tinha foi se perdendo. Que ele era desacreditado do amor porque os romances dele nunca deram certo e nem iam para frente... De certa forma, eu senti que ele estava sendo sincero comigo. De verdade.
— Nossa... Tom tá mudado mesmo. Lembra das manchetes que víamos, com ele saindo cada final de semana com uma mulher diferente.
— Lembro sim. – faço uma pausa, pensando nisso. – Acho que desde que o conheci ele já estava mudado... Bom, mas aí no meio desse assunto, ele me disse que não queria mais ninguém, a menos que...
— A menos que o que? Ai meu coração! – ela coloca a mão no peito, na expectativa do que eu vou falar.
— A menos que esse alguém fosse eu.
— MEU DEUS! GOOOOOOOOOL DA ALEMANHA! – ela vibra e eu fico envergonhada.
— Para! – rio de nervosismo.
— E foi ai que ele te deu a chave de braço do amor?
— Não, palhaça! Ele continuou a fala, dizendo que tentou evitar, esconder, mas que não conseguiu. – suspiro. – Nessa hora eu fiquei meio que paralisada, porque jamais imaginava que ele falasse isso comigo. Achei que éramos amigos... Nunca senti nenhuma indireta e nem investida da parte dele, por isso aquelas palavras me pegaram de surpresa.
— Gente, esse Tom tá de parabéns! Ganhou o “selo surpresa do ano”, porque nem eu notei nada.
— Aí ele foi chegando mais perto, do meu rosto e... Me beijou. Um beijo calmo, tranquilo mais cheio de vontade. E tão bom... – faço uma pausa, olhando pro nada. - Como estávamos mais próximos um do outro, eu pude sentir melhor aquele perfume e fiquei extasiada. Ficamos ali por um bom tempo e depois... Você sabe.
— É Alicia... No fundo, no fundo eu sabia que esse sentimento seu da adolescência nunca tinha morrido. – ela me olha e sorri.
— Sempre tivemos uma ligação forte um com o outro, isso não posso negar... Não foi um lance de corpo, foi um lance de alma... Agora eu tenho certeza disso.
— Foi amor! É amor! Você sabe, acho que sempre soube bem aí no fundo. Só precisava de um empurrãozinho para perceber.
É a primeira vez que me apaixono e sinto paz ao mesmo tempo. E eu gostava de sentir essesentimento, de sentir o amor corroendo em minhas veias, de um modo tão doce e tão intenso. Agora é tudo claro para mim, sem dúvidas e nem incertezas.
— Agora, eu já sei o que fazer. Preciso de um favor seu. Mande mensagem para o Bill perguntando se ele pode conversar agora. Diga que preciso falar com ele.
— Ok. – e foi isso que ela fez.
Passado uns minutos, ele ligou no celular de Gaby.
— Pode falar agora? – atende.
— Sim! Tom está longe de mim. Ela acordou?
— Acordou, e precisa falar com você. – passa o telefone para mim.
— Bill!
— Alicia! Graças a Deus! Você não sabe como as coisas aqui estão difíceis! Eu estou custando a manter segredo! Tom está arrasado e eu não sei mais o que fazer! Estou muito preocupado e com medo dele fazer alguma loucura!— diz, desesperado. - Vocês precisam conversar! Por quanto tempo ainda ficará aí?
— Calma, Bill. Eu vou consertar tudo isso, prometo! Te liguei pois precisava muito dizer que agora sim me lembro de tudo...
— O que? Eu não acredito!— vibra. – Eu sabia que você ia conseguir! Estou até mais aliviado, nossa...
— Diante disso, já sei o que tenho que fazer. Eu vou voltar. E preciso muito da sua ajuda.
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