Remember

Frente a Frente com Bruno


– Que saudade de você, lindeza! – dizia ele, enquanto me beijava e abraçava.

Eu sorri, como resposta. Nós estamos sentados no sofá de seu apartamento.

– Estava tão ansioso com a sua vinda, que mal dormi essa noite... Você está proibida de passar tanto tempo assim longe de mim! – brinca ele.

– É tudo consequência do trabalho... Mas eu não reclamo, porque foi o que eu sempre quis ter para mim. Tem muita gente que daria tudo para estar no meu lugar...

Até agora ele não tocou no assunto do boato que surgiu e muito menos sobre aquela tal conversa que ele estava falando na minha cabeça há séculos.

E confesso: sinto que não estou preparada pra o que ele tem a dizer, mesmo sem ter a mínima idéia do que se trata.

– Você fez algumas mudanças aqui, não foi? – perguntei, olhando o ambiente em volta de onde estávamos.

Na verdade, eu estava completamente sem assunto. A minha vontade era de perguntar a ele o que tanto queria conversar, pra acabar logo com isso.

– Está diferente de quando eu vim pela última vez. – continuo.

– Eu fiz algumas modificações mesmo, pra ficar mais do meu jeito. – ele faz uma pausa, enquanto olha para uns quadros na parede, pensativo. – E o seu apartamento, já terminou de reformar? Lembro que você me falou que estava desfazendo de um quarto pra virar um closet e...

– Essa reforma já acabou... – o interrompo. – Mas ainda tem muito que arrumar... Estes últimos tempos eu nem parei em casa direito por causa da correria... – rio de nervosismo.

– Quero conhecer sua casa depois... Deve ser a sua cara! Além do mais, nunca fui a Los Angeles... E a propósito, você não me passou o seu endereço ainda...

“E nem vou passar.”Pensei.

– Depois a gente vê isso... – desconverso. – Estou com muita fome, vamos comer alguma coisa?

– Claro! – levanta do sofá. - Eu fui ao supermercado ontem e comprei várias coisas que você gosta, a começar por seu chocolate preferido! – ele sorri pra mim, com uma cara bonitinha.

– Não acredito! – também levanto-me. - É sério? Eu queeeeeeeeeero! Cadê? – vou adentrando a cozinha.

– Só se eu ganhar um milhão de beijos! – ergue a sobrancelha, me bloqueando para não abrir o emário.

– Vou pensar no seu caso... – dou as costas pra ele, que me puxa para um beijo demorado.

E sim, ele tem pegada. E que pegaaaaada! Tanto, que por um momento eu esqueci de onde estava (ok, vou parar com o momento safadeza).


***

Mais tarde, deitamos para ver alguns filmes de terror que Bruno havia alugado. Eu estava me corroendo por dentro de tanta vontade de perguntar a ele o que queria conversar, mas temia o assunto. Mil e quinhentas possibilidades diferentes corriam a minha mente ao mesmo tempo, todas super desagradáveis. O pior é que, como ele não tocou no assunto hora nenhuma, ficava parecendo que havia esquecido. Mas às vezes, pode ter sido isso!

Ou não. Ele não se esqueceria de uma coisa tão importante, caso contrário não teria reforçado o fato em quase todas as vezes que me ligou.

Meu celular toca. Olho no visor, temendo ser um dos Kaulitz mas é Gabriella quem está ligando.

– Oi amiga! – atendo.

– Alicia, tudo bem? Já estou com saudades... Você está em São Paulo?

– Também estou morrendo de saudade de você! Sim, estou aqui com o Bruno, na casa dele.

– Ah, sim... Depois quero saber de tudo, hein? – ela ri. – Mas aqui, estou te ligando pra dizer que na sexta, há passagens para Los Angeles em que o vôo sai às oito da noite. Antes disso, o horário disponível é à meia-noite e meia. Qual eu compro para nós?

– Nossa, é sério? Deixe me ver... – fico pensativa. – Compra o de meia-noite então...

– Ok. Te encontro no aeroporto às onze horas de amanhã então! Beijos, até amanhã.

– Tudo bem, estarei lá! Até amanhã, amiga! – desligo o celular.

Não quero chegar no meio do sábado em LA, porque queria sair com o Bill e o Tom e é lógico que Gaby vai querer ver o Brad... Além do mais, não gosto de ficar mais de uma semana no Brasil, não me sinto em casa.

– O que a Gabriella queria? – Bruno pergunta, sempre muito curioso.

– Dizer que só haviam passagens para Los Angeles na sexta, no horário de meia-noite e meia... Depois disso era só no sábado.– minto.

– Não entendi porque você não quis que ela comprasse o de sábado... Queria que ficássemos mais tempo juntos.

– Eu também... Mas é que tenho uma campanha publicitária no sábado e não posso faltar, pois está marcado há meses. – faço uma pausa. – Estou me lembrando aqui agora, o que você tanto tinha pra conversar comigo? – nem sei de onde tirei a coragem pra fazer essa pergunta, mas enfim consegui.

– É uma coisa muito importante, mas prefiro deixar para falar no dia que você estiver indo embora, no caso, amanhã...

Para quê tanto suspense? Tem horas que o Bruno faz umas coisas que eu não entendo!

– Ok, se você prefere assim, então... – bufo.

– Não fique com essa cara para mim! Você é muito curiosa... – ele ri, debochado.


***

Mal consegui dormir. Além de ter ficado acordada até altas horas da madrugada com o Bruno, ele não falou nada da maldita conversa. Isso já estava me deixando completamente furiosa.

Abri os olhos, e lá estava ele deitado na cama do meu lado, me observando com um sorriso nos lábios. Cena bonita para mim que estava vendo-o, mas não acho que para ele foi o mesmo impacto. Na certa eu estava descabelada e com a cara super amassada.

– Você é linda até dormindo! – disse ele, ao me ver acordando.

– Duvido. Aposto que estou com uma péssima aparência. – cubro meu rosto com o cobertor.

– Deixe de bobagem! – ele tira a coberta. – O que você quer fazer hoje?

– Podemos começar com você falando o que tem pra me dizer! – insisto pela nonagésima vez.

– Ainda não é o momento. – abaixa a cabeça

– Então quando, será? – o encaro.

– Mais tarde... Prometo que de hoje não passa. – ele me olha.

Tentei e tentei, mas nada do que eu fizesse o faria falar naquele momento e então me cansei. Vou esperar, é o único jeito.

Como já estava quase na hora do almoço, me troquei e saímos para almoçar. Bruno conversou sobre todos os assuntos possíveis, menos sobre o boato e o conteúdo da conversa. Queria poder arrancar palavras da boca dele, assim acabaria com esse suspense de uma vez por todas. Tudo isso estava me angustiando e eu ficava com vontade de voltar para minha casa, minha vida de Los Angeles. O pior é que não podia demonstrar isso, caso contrário ele iria reclamar e também não era justo.

O tempo foi passando e nada. Por alguns momentos, dependendo do assunto eu esquecia do que me afligia, mas logo em seguida voltava a lembrar.

Assim que acabamos de comer, fomos dar um longo e demorado passeio e em seguida voltamos ao apartamento dele. Chegando lá, comecei a arrumar minhas malas e a me preparar para embarcar, já que estava quase anoitecendo.

Assim que termino, decido tomar um banho.

– Quando você terminar, venha aqui na sala... – diz ele, da porta do quarto.

– Tudo bem, só vou tomar banho e me trocar. – respondo.

Não demoro muito e termino de tomar banho. Assim que ando em direção à porta do quarto, respiro fundo e sigo em frente. É agora! Graaaaaaaças a Deus esse suspense maldito vai acabar! Já não aguentava mais essa espera, estava quase morrendo de tanta curiosidade!

Entro na sala trazendo minhas malas e lá estava ele, sentado no sofá me olhando.

– Venha, sente-se aqui... – faz sinal para o lugar ao seu lado.

– E então, o que você tanto tem pra me dizer? – pergunto, assim que me sento.

– Alicia, você sabe o quanto eu te amo, não é? - ele segura minha mão.

– S-sei... – maldita hora pra gaguejar!

– Pois então, é por isso que eu queria conversar com você... – ele faz uma pausa.

Ai meu Deus, o que será que vem por aí?

– A parte mais bonita de mim era você, - ele continua. – e é por isso que não quero jamais te perder... Eu nem sei o que seria de mim sem você ao meu lado.

– Não estou entendendo por que você está me dizendo isso, Bruno...

– É que eu quero tornar isso mais concreto...

– Como assim? – começo a me desesperar.

Não estou gostando nada do rumo com que essa conversa está seguindo...

Casa comigo?

CASAMENTO, NÃO!

– O que? – pergunto, perplexa.

– Você quer casar comigo? – ele sorri.

Eu fiquei sem palavras. Não, eu não quero casar com ele! EU NÃO QUERO CASAR!

Quero construir uma família com você, ter filhos, uma casa só nossa...

FILHOS? ELE DISSE FILHOS? Vou desmaiar!

– Bruno... – coloco a mão no rosto, respiro fundo e continuo. – Você não acha que está se precipitando demais? Casamento requer um super compromisso, sem contar que prende duas pessoas com obrigações e... Filhos? Sei lá, nunca passou pela minha cabeça ter filhos!

– Não acredito que você está me dizendo isso! – ele se levanta do sofá, com raiva. - Então quer dizer que...

Desculpa, mas eu não posso... –digo, sem o olhar.

– É por causa dele, não é?

– Dele quem? – arregalo os olhos.

Do seu novo namorado! Você acha que eu não vi todo esse escândalo envolvendo o nome de vocês dois? Não acredito que você teve a capacidade de me trair, Alicia... Eu confiava em você!

– Espera aí! – levanto-me do sofá, com raiva e começando a aumentar o tom de voz. – O Bill não tem nada a ver com isso! Eu não traí você com ele coisa nenhuma! Você não me conhece Bruno, porque se conhecesse jamais essa hipótese iria passar pela sua cabeça. – meus olhos enchem-se de água e começo a chorar.

– Tem razão... Eu não te conheço mesmo, não sei nada sobre a sua vida! Até mesmo porque, você nunca deixou que eu soubesse. Sempre ficou séculos no seu mundinho medíocre de Los Angeles sem se importar comigo! E era o trouxa aqui que sempre ligava, sempre corria atrás e tudo pra quê? Pra no final ser tratado com frieza e nem receber um “eu te amo” de consolo. – as lágrimas escorrem pelo seu rosto.

Eu sabia que ele tinha razão em tudo o que ele acabou de dizer, porque de fato ele estava certo. Eu não o deixava saber de nada sobre mim, nunca sobrava tempo para isso.

Mas agora já era tarde demais para consertar, ainda mais que nós dois estamos de cabeça quente.

E uma certeza eu tinha: não queria casar, nem com ele e nem com ninguém. O fato dele ter jogado a culpa em cima de outra pessoa que não tinha nada a ver, para me deixar com remorso, também não foi nem um pouco legal e só serviu pra me deixar com raiva.

– Se você não quer casar comigo, não vejo o porquê de continuarmos juntos... – ele continua. – Uma só pessoa dando amor, sem receber não consegue sustentar nenhuma relação.

– Então ok. – pego minhas malas e ando em direção à porta, sem olhar para trás.

Ao chegar lá em baixo, chamo um táxi e ando direto para o aeroporto.

Por incrível que pareça, eu não estava sentindo nada a não ser alívio. Não sei se fiz a coisa certa em ter recusado o pedido, ou nem ter retrucado na hora em que ele falou em terminar mas de uma coisa eu estava convicta: não queria voltar.