Remember

Eu preciso lembrar


Acordei, ainda bastante sonolenta, com uma dor de cabeça horrível e que latejava demais. Fui abrindo os olhos aos poucos e me deparei com uma cena que me fez ficar completamente atônita e desesperada: Tom estava deitado do meu lado, sem camisa, ainda dormindo.

Eu gelei. NÃO POSSO ACREDITAR NISSO QUE ESTOU VENDO!

Rapidamente, olho debaixo das cobertas e percebo que eu estava APENAS de calcinha. PUTA QUE PARIU! Coloco a mão tapando minha boca. Eu estou num quarto de hotel, seminua com Tom Kaulitz do meu lado! E o pior, não me lembro de nada da noite passada. Mas não há sombra de dúvidas do que aconteceu aqui.

Levanto-me da cama devagar e sem fazer barulho, para que ele não acorde. Visto minhas roupas, pego meu celular e olho as horas. São quase seis e meia da manhã. Saio do quarto, entro no o elevador e vou direto para o estacionamento. Não queria que ninguém me visse saindo do hotel naquele estado. Saí pelos fundos.

Ao chegar na rua, acenei para um táxi que passava. Tento me acalmar e pensar no que fazer. Foi então que pedi ao motorista para seguir rumo à um destino específico. No caminho, eu só conseguia tentar imaginar no que aconteceu para que nós dois tenhamos chegado a esse ponto. Meu Deus do céu, eu não acredito nisso até agora! O meu desespero por não lembrar de nada foi só aumentando.

— É aqui. – informei o taxista, que parou o carro em frente ao local indicado. Tiro o dinheiro da minha carteira e o entrego. – Obrigada.

Desci do táxi e fui andando até a portaria do local, onde o porteiro liberou minha entrada. Andei com dificuldade, por causa do salto, naquela superfície irregular com um pouco de grama, até que alcanço o lugar onde queria chegar. Quando paro em frente a porta do local, soquei o dedo na campainha insistentemente.

Ninguém atendia. Mesmo assim continuei insistindo. Até que...

[Narrador Mode-On]

— ALICIA?! – Bill arregalou os olhos inchados de sono ao vê-la na porta de sua casa. – O que você está fazendo aqui essa hora? Cadê o Tom?

— E-ele está dormindo no hotel... – disse desesperada, passando por ele e entrando na casa.

— E o que aconteceu para você largá-lo lá assim? – ele a olha preocupado, notando sua total angústia.

— Eu não sei, Bill! – anda de um lado par o outro, sem rumo e sem saber o que fazer. - Pelo amor de Deus, eu preciso muito conversar com você, - olha pra ele e continua. - mas tem que ser em outro lugar! Se o Tom acordar e não me ver lá, ele vai me procurar aqui e inclusive na minha casa e...

— Calma, Alicia! – ele a interrompe e segura em seus ombros. – Vou trocar de roupa e a gente vai para algum lugar.

— Me arruma um blusão seu para que eu possa vestir e não chamar muita atenção.

— Tá bom, eu já volto. Senta aí e tenta se acalmar.

Não demorou muito para que Bill voltasse. Ele a trouxe uma camisa xadrez que tinha, em uma das cores de sua estampa, um vermelho da mesma tonalidade do vestido de Alicia, que o dobrou, a fim de encurtá-lo.

— Vamos. – a conduziu até o seu carro. – Eu conheço um café que é bem discreto, no topo de um prédio, que não é muito longe daqui. Podemos ir lá?

— Sim, qualquer lugar menos aqui ou na minha casa... – respondeu e seguiram até lá.

No caminho, que não foi muito longo, ele não trocou nenhuma palavra com ela. E isso foi bom porque Alicia pôde se acalmar pelo menos um pouco. Ele entrou com o carro no estacionamento do prédio e os dois subiram até o café, onde sentaram numa mesa discreta localizada num canto.

— Você está mais calma? – ele pergunta.

— Um pouco. – diz, trêmula.

— Vão pedir alguma coisa? – o garçom chega e pergunta.

— Dois cappuccinos, por favor. – Bill responde e ele anota o pedido e sai.

— Então me conta o que aconteceu... Vamos por partes, por que o Tom está num hotel?

— Eu não sei... Acordei com minha cabeça doendo muito, notei que estava seminua com ele do meu lado e entrei em desespero, Bill... – passa a mão pelos cabelos.

— Mas você não se lembra de nada que aconteceu ontem?

— Não... A última coisa que eu me lembro é... – faz uma pausa para pensar. - De nós dois sentados na mesa do restaurante, tomando vinho.

— Alicia você não podia ter bebido ontem! Essa amnésia sua na certa é efeito colateral dos remédios pesados que você estava tomando!

— Eu não sabia disso... Estou muito confusa! – balança a cabeça em gesto de reprovação. – Me sentindo culpada por ter deixado o Tom fazer comigo, como ele faz com todas as outras que ele sai!

— Opa, espera aí! Como você pode julgá-lo dessa forma, se não se lembra do que houve ontem?

— Não o defenda, Bill! Você melhor do que ninguém, sabe o quão galinha ele é e como ele gosta dessas aventuras de uma noite! E não é justo ele ter se aproveitado de mim dessa maneira...

— Aí que você se engana, Alicia! Você ainda está presa à imagem do Tom do passado! Ele ERA assim, hoje não mais. Com o passar dos anos eu vi meu irmão amadurecer de uma forma que jamais imaginei que aconteceria. – ele a olha, pega em sua mão e respira. – Eu não devia, mas já que você não se lembra de nada, eu vou te contar tudo o que está acontecendo há tempos.

— Tudo o que? – ela arregala os olhos, apreensiva com o que o gêmeo vai falar.

— Ele está apaixonado por você e ontem, estava decidido a te dizer isso.

— O QUE? – ela pergunta, incrédula. – Eu não acredito nisso, Bill! Pare de tentar por panos quentes na situação, mentindo para mim!

— Não Alicia, eu não estou mentindo. Ele está sim apaixonado por você, desde o primeiro dia que te viu. Eu nunca vi o Tom olhar para alguém, da forma como ele te olha. Não é com o mesmo olhar que ele tinha quando passava uma mulher bonita e sim com uma ternura e um brilho nos olhos que eu nunca vi igual. Na primeira vez que você foi lá em casa, numa festa, ele ficou muito enciumado pelo Andreas ter se encantado com você e mais ainda pelo fato do Bruno ter ligado.

— Aquele dia o Bruno ficou conversando no telefone um tempão. – ela sorri lembrando.

— Um dia eu peguei os históricos do notebook dele e descobri que andou pesquisando na internet sobre você. – continua. - No outro ele ficava horas brisando, simplesmente olhando para o nada com um sorrisinho no canto da boca. – pega o cappuccino que o garçom trouxe. - Teve um dia que eu e você saímos para fazer compras e quando cheguei em casa, nós tivemos uma briga feia, porque ele achou que eu estava gostando de você e não queria contar.

— Ué... – ela o interrompe. – Será que foi no mesmo dia que ele apareceu lá em casa sozinho com meus sabores de pizza preferidos?

— Deve que sim, porque depois da briga ele pegou o carro sumiu por um tempo sem dar satisfações. – ri. - Georg foi o primeiro a descobrir. Eu já desconfiava e tive certeza depois que o questionei sobre o Tom estar estranho e o bobão desconversou. Aí sim minha ficha caiu na hora! Foi então que eu estampei para o meu irmão que já sabia de tudo e confirmou, já que não dei outra saída. Em vários momentos ele quis expor esse sentimento para você, mas ficou com medo e acabou recuando.

— Me Deus o céu, Bill... Ele sempre me tratou como amiga. As atitudes dele comigo eram de amigo... Sempre foram...

— Que tipo de amigo escreve uma canção completamente apaixonada? Eu não conheço!

— Como assim, que musica?

— Ele escreveu Attention inspirado em você, Alicia.

— Sério?

— Veja bem, se tudo isso não faz sentido... Nas partes em que a letra fala: “Eu estou tentando te dizer/ Eu estou tentando te conhecer/ Eu estou morrendo para te mostrar/ Lutando para ter você...”. Tem também a parte do refrão, que ele descreve o porquê de ter se apaixonado: “Não é o que você diz / É o jeito que você diz / Não é o que você faz / É o jeito que você faz...”

De todas as músicas novas que eles haviam mostrado a ela, essa sempre foi sua preferida. Alicia foi se lembrando da letra juntamente com Bill.

— E a parte que mais denuncia que foi pra você, é a seguinte: “Eu engoli o veneno / Para ser infectado / Devolva o meu coração que o / Seu corpo rejeitou...”

Ele usou o slogan da turnê da Sweet Poison! – ela exclama, perplexa. – Como eu não percebi isso? – se pergunta.

— Eu também não sei como! – ele ri.

— Mas... Essa parte de devolver o coração está contraditória, sendo que eu nem sabia de nada!

Você o rejeitou indiretamente, quando voltou com o Bruno. E para completar, teve o acontecimento mais recente. Esse, eu jamais pensei vê-lo fazendo por alguém que não fosse eu, sério mesmo. Ele fez questão de passar a semana passada inteira hospedado na sua casa, só para cuidar de você. Você não se deu conta, por causa do efeito dos medicamentos. Mas ele esteve lá o tempo todo.

Alicia não aguentou e começou a chorar. Todas aquelas revelações eram completamente inesperadas para ela. Por mais que faziam sentido, só causaram uma confusão maior na sua cabeça. Primeiro o término conturbado e completamente decepcionante com Bruno, agora tudo isso. Era demais para ela.

— E-eu não sei o que dizer e nem o que pensar, Bill... – lamenta. – Preciso de um tempo para raciocinar. Estou muito confusa...

— O que você pretende fazer? – ele indaga, com medo da resposta.

— Vou dar um tempo daqui. Preciso reorganizar minhas ideias e tentar lembrar tudo que aconteceu ontem.Eu preciso lembrar...

— Você não pode sumir sem dar satisfações e nem conversar antes com o Tom!

— Eu sei que não posso, mas preciso fazer isso. Não conseguirei encará-lo sem antes saber o que realmente aconteceu. Por favor, não conte nada a ele dessa minha decisão. – ela continuava chorando.

— Alicia, ele vai ficar arrasado! Não faz isso!

— Não tenho outra escolha. Prometa-me que não vai dizer nada a ele.

— Eu não devia, mas prometo. De certa forma eu te entendo... Só que você também vai prometer que mandará notícias! E por favor, não demore a voltar. - a abraça.

— Mando sim. - ela retribui o abraço. - Me leve até em casa, por favor.

Os dois saíram do café e Bill fez como ela pediu. Alicia já estava de malas prontas, então trocou de roupa rapidamente e pegou um táxi rumo ao aeroporto.

[Narrador Mode-Off]