Release Me

Capítulo 4


Kamijo passou pela portaria e Yuki o seguiu a fim de cumprimentar o ex-companheiro de banda, mas Kamijo o impediu empurrando-o com as mãos. Este começou a vagar pelas ruas sem um rumo certo até parar em uma praça e esperar a noite cair para poder ir a algum bar e gastar o resto do dinheiro que ainda tinha. O rosto bravo e decepcionado de Teru não lhe largava a mente e por um instante, até pensou em voltar lá e consertar as coisas, mas não. Não sabia como fazer isso. Tinha de provar parar o menor que tinha mudado, mas não tinha. Tinha de encher os ouvidos e a cabeça do mesmo de mentiras para que este o perdoasse.

O rosto caiu sobre os joelhos logo que se sentou em um banco. Um dos fios do cabelo loiro encostou-lhe a face sentindo um arrepio. Eram tão sedosos na época do Versailles que mal conseguia acreditar que eram seus. “Como consegui ficar assim?” pensava quando uma mão tocou-lhe os ombros.

Virou-se mal acreditando em quem estava vendo diante de si. Aquele sorriso torto tomando os lábios, aqueles olhos maliciosos e o corpo esguio que fora a única coisa que mudou. Não estava naquelas vestes teatrais de sempre e muito menos nu como era habitual vê-lo quando estava na casa de Hizaki. Não conseguia entender como uma princesa conseguiu se apaixonar por um monstro como aquele, mas também não conseguia entender como tinha conseguido deixar que sua vida fosse destruída por causa de bebidas, drogas e falta de coragem.

-Gackt? –Perguntou o loiro levantando-se em um pulo do banco.

-Se incomoda?


-Não.

Voltou a sentar-se agora com o antigo conhecido ao lado. Não podia chamá-lo de amigo, já que nunca se dera bem com ele. Tentou alertar Hizaki enquanto era tempo, mas o outro não o deu ouvidos por estar perdidamente cego pelo amor. Desde então, Kamijo começou a ter medo de amar e cansou de se importar com os outros. Cansou até de amar Teru, ou achava isso.

A brisa que batia em seu rosto e no do outro fez com que um perfume masculino forte lhe inundasse as narinas. Gackt estava podre de rico e graças a quem? A o que? Ele nem cantava tão bem, mas hoje em dia qualquer um canta. Os efeitos são mágicos e fazem milagres.

-Por que está aqui? –Kamijo dirigiu a palavra.

-Eu realmente estava só caminhando, mas não pude deixar de vir falar com você.

-E por que não?

-Porque você não está muito bem, hm? Vejo isso... Pelo seu cheiro, por exemplo. Está quase insuportável ficar ao seu lado, sabia?

Kamijo não se deu ao trabalho de responder algo. Levantou-se e voltou a andar. Quando tinha pego uma distância considerável, olhou para trás e não viu mais nada. O celular vibrando no bolso o despertou. Atendeu e gritos eram ouvidos do outro lado da linha junto de alguém chamando por seu nome com dificuldade.

-Alô? Quem é? Onde está? –O desespero era percebido em seu tom de voz.

A ligação foi encerrada pela outra pessoa. Estava tomado pelo medo e não queria voltar para sua casa. Não queria olhar para toda aquela bagunça que o irritou ainda mais no dia de hoje quando tropeçou em um monte de sapatos largados fora do lugar. Algo lhe dizia que aquele encontro com Gackt não fora ao acaso. Sentiu que era um sinal, um aviso. Não gostava daquele cara e não estava em um momento bom para reconciliações. Será que o outro sabia de tudo o que estava acontecendo? Gackt sempre foi um cara com muitas cartas embaixo da manga.

Kaya estava jogado dentro da banheira que havia preparado com tanto empenho para si. Precisava relaxar e esquecer o rosto daquele menino. “Como era mesmo o nome? Teru?” pensava enquanto deixa as espumas cobrirem-lhe o corpo até o busto. O cabelo estava preso em um coque mal feito para que não molhasse. Os olhos cerraram-se por um instante a fim de se acalmar e aproveitar o banho antes de ver a cara de Mana novamente. Não entendia o porquê do outro não se incomodar tanto ao saber que tinha outra pessoa pensando nele além do namorado. “Não te irrita?”

A música francesa que tocava no rádio perto de sua toalha o embalou em um sonho. Rosas, tantas rosas lindas e perfumadas em um jardim bem cuidado. Mana andava por ele descontraído observando tudo ao seu lado e pisando lentamente pela grama. Queria chamá-lo. “ManAmour” disse, ou melhor, tentou. Sua voz não saia em forma de palavras e somente em gritos que o amado não era capaz de ouvir. Tentou novamente e teve o mesmo resultado e pode observar o mesmo Mana fazendo o que já fazia até que este se sentou à sombra de uma árvore e mostrou aquele sorriso tão delicado e quase nunca visto. “Pra quem é?” o ciúme percorreu-lhe o corpo e começou a andar até o outro, mas algo o segurava. Olhou para trás e viu um ser negro puxando a saia de seu vestido. O ser era como um lençol jogado sobre o corpo. Não tinha forma concreta e ao virar-se novamente para pedir ajuda à Mana, viu que este estava em pé abraçado com alguém. A cabeça da pessoa estava deixada sobre o peitoral do amado e virada de forma que Kaya não podia ver. Mana sorrindo o deixava ainda mais descontrolado. Não podia sorrir parar outra pessoa que não fosse para ele. Gritava realmente e teve assim, os gritos transformados em palavras concretas, mas o outro ainda não podia ouvir. “Mana, o que está fazendo? Eu estou aqui. Não me deixe. Não me troque.”

Os olhos se abriram quando as lágrimas pesaram por dentro das pálpebras. Saiu da banheira cobrindo-se com um roupão rosa que chegava até os pés. Caminhava pela casa à procura do maior, mas sem chamá-lo para que visse o que este estava realmente fazendo. Aquele sonho tinha o deixado desconfiado demais para dar tempo que Mana formulasse alguma resposta a algo errado que estivesse fazendo. Sentia isso. Sentia que aquele sonho não fora sem um propósito.

Não havia sinais do companheiro no apartamento e resolveu sair deste. Abriu a porta reparando que ninguém estava no corredor e assim, não se sentiu envergonhado ao sair como estava. Olhou para o chão que estava cheio de cacos de vidro que compunham o vaso que um dia foi um vaso de decoração. Sabia quem o havia quebrado e agora se sentia culpado por isso. Não devia ser tão ciumento, possessivo e mimado. Sabia que todos precisavam de espaço para si, mas não agüentou ver outro alguém reparando em seu namorado. Reparando naquele que lhe dera tantas alegrias e tantas noites de prazer. Tantos jantares, tantos presentes e tantos beijos apaixonados que não o deixavam duvidar de que era realmente amado pelo guitarrista.

Voltou para o apartamento à procura de seu celular e logo discou o número de Mana. Pode ouvir o toque do celular do outro à pouca distância. Ficou confuso e seguiu o som até que Mana o atendeu.

-Sim? –A voz grossa de seu amado lhe assustou.

-Ma...Mana, onde está?

-Na casa de... Qual seu nome?

A raiva subiu pelo corpo do vocalista. Como estava na casa de alguém que nem sabia o nome? Mana-Sama era realmente louco ou fazia de propósito para irritar.

-Teru.

A resposta fez Kaya acordar e dar um grito. Era para irritar. Agora tinha certeza. Como pode fazer isso se tiveram uma briga por causa de Teru um pouco antes? Kaya havia lhe contado a história. Mana não lhe deu ouvidos? Não prestou atenção em nada do que lhe disse?

-Mana-Sama. O que está achando que sou? –Kaya gritou ao telefone.

Mana, dentro do apartamento de Teru, levantou-se e desligou o celular ao ouvir a voz do outro pelo corredor. Pediu licença para o dono da casa que estava com o rosto preocupado. Antes que Kaya pudesse esmurrar a porta do apartamento onde o namorado estava, Mana a abriu levando um soco no ombro. Kaya se assustou, mas aproveitou para socá-lo ainda mais. O pequeno não tinha tanta força sobre o outro e este também tentava segurar os pulsos do agressor.

-Chega! –Mana se exaltou.