Reino da Magia

Bem-vindos ao Castelo do Mago Merlin!


Victoria vai à frente, acompanhada pelas outras professoras e seguida pelas crianças. Ao passarem os portões eles encontram a praça das armas, uma área retangular ampla feita de pedras acinzentadas ao centro, cercada por grama e com alguns arbustos cortados em formato de cone espalhados pelo local. Aliás, toda a extensão é gramada, com trilhas feitas de pedras saindo do pátio das armas e que levam para três áreas distintas. A primeira, do lado esquerdo, vai até a entrada de um longo pátio coberto por um telhado triangular apoiado por vários pilares colocados um ao lado do outro, que seguem até uma abertura, sem portas, para a base da torre circular lateral esquerda. Parecia um longo corredor protegido da chuva, tendo a parede da muralha à esquerda com pequenos bancos de pedra e algumas mesas ao centro e os pilares à direita. Os pilares estão unidos por pequenas muretas, deixando apenas uma abertura como entrada para esse lugar. A segunda é bem à frente do portão que as crianças acabam de transpor e saí da praça das armas até a entrada de uma torre quadrangular. Ela possui quatro andares com diversas janelas de mesmo formato, separadas uma das outras. No topo há uma mureta com várias ameias, o que indica uma área aberta, um local para observação. A porta de entrada é grande e retangular, a entrada principal para o castelo. Apesar da imponência, não era a torre mais alta. Atrás dessa há outra torre maior quadrangular com três andares a mais que a anterior. E atrás dessa há uma torre circular, essa sim a mais alta de todas. E a terceira trilha, do lado direito, levava para uma área idêntica a primeira só que do lado direito, terminando na base da torre circular lateral direita. Nicolas se preocupa ao ver o tamanho do castelo. E ele percebe que havia mais duas torres circulares atrás de todo aquele conjunto à sua frente. “Droga! Achar comida nesse lugar vai levar um tempão. E essa professora... Acho que vai querer mostrar todos os aposentos do castelo pra gente. Essa mulher quer nos matar de fome? Não estou vendo guardas nem criados, que esquisito...”. Eles atravessam a praça das armas e entram no castelo pela entrada principal cuja as portas se abrem assim que eles se aproximam.

—Entrem crianças! Entrem e se acomodem no salão principal. - ordena a professora Victoria, sorridente.

Como estavam à frente, Nicolas e Lucius são uns dos primeiros a entrar naquele recinto. Admirados com a beleza do lugar, olham desde o chão até o teto examinando cada detalhe. Há um grande tapete azul com detalhes em cinza que cobria quase todo o centro. Aliás, as cores azul e cinza predominam na decoração: nos tapetes, nas toalhas sobre os móveis, nas armaduras reluzentes, estandartes e relevos pintados nas paredes. O lugar é bem iluminado pela luz do sol que transpassava as várias janelas vistas do lado de fora. Afinal havia se passado poucos minutos desde o meio-dia. O teto é bem alto, pois não há segundo andar. Nas laterais, duas escadarias que iniciavam separadas e se uniam no todo, seguindo para um corredor, o terceiro andar. Embaixo das escadas há uma grande abertura de formato oval que leva a outra sala. Lucius percebeu que existem muito mais móveis naquele lugar. Na parede acima da abertura oval há três escudos, de mesmo tamanho, mas com cores e detalhes diferentes. O primeiro, de cor azul, tem o desenho de um sol, com olhos. Estava desenhado até a metade, como se nascesse por sobre um muro e observa um pergaminho aberto, que toma quase toda a extensão central do escudo. Desenhado em seu interior, a figura de dois leões amarelos, erguidos, um de frente para o outro, como se lutassem, e no meio deles uma grande chave, de cor cinza. O escudo do meio é branco com um grande ‘xis’ pintado de vermelho. Em cada ponta dessa letra há pequenos círculos brancos e um ao centro. Os círculos das pontas têm figuras distintas: uma maçã, uma coroa (círculos superiores), uma pena negra e uma pegada de animal (círculos inferiores). No círculo central tem uma pena branca e ele é rodeado por outro círculo maior, de cor amarela, enquanto que uma fita esverdeada passa pelos círculos das extremidades, ligando-os. E finalmente o terceiro escudo. Novamente a cor azul predomina, mas há uma cruz no centro, de cor amarela. Há pequenos pontos negros que percorriam por dentro da cruz até se juntarem ao centro, formando a silhueta de um cálice. A impressão que dava é de que aquele objeto havia se espatifado e seus pedaços vagavam pelas linhas amareladas da cruz. Sob essa figura, uma coroa de cinco pontas em tons cinza e negro. Os escudos têm abaixo duas lanças cruzadas, com fitas presas nas cores que mais predominavam nos seus respectivos escudos. De repente o olhar de Nicolas encontra o de Lucius. E pela expressão no rosto do amigo ele deduz qual é a pergunta antes mesmo dela ser pronunciada.

—Está tudo bem, Lucius! A gente vai encontrar comida e roupas pro pessoal e vamos sair daqui sem que ninguém perceba.

—A gente vai acabar é se perdendo nesse castelo, isso sim!

Após todos entrarem, Victoria se dirige até as escadas do lado esquerdo. Ela sobe alguns degraus e depois se vira para eles. Aos poucos as crianças se calam enquanto a observam.

—Bem-vindos ao Castelo do Mago Merlin! Como vocês podem ver, esse é o salão principal. As escadas levam para o terceiro andar onde encontraremos a Sala de Aptidão e a Sala de Exposição. Embaixo das escadas está à entrada para o Salão Comunal ou Sala dos Comuns, como alguns gostam de chamar. Agora, olhem para aqueles escudos acima da entrada! - ela aponta para os objetos e as crianças acompanham com os olhos - Eles representam o que há de mais importante para nós, para a nossa sociedade. O primeiro é o símbolo da escola, é o que atesta este castelo como um centro de aprendizagem, uma entidade de ensino autorizada pelo Conselho Místico, cujo símbolo está representado no segundo escudo. E no terceiro escudo temos o símbolo do proprietário e dono deste castelo, O Mago Merlin.

As crianças notam que ela olha para uma grande tela na parede do corredor do terceiro andar. O retrato de um homem, de olhar sério, com bigode e uma grande barba branca. Trajava uma túnica azul com gola alta e tem um medalhão com a figura de um pentagrama. Na cabeça, um estranho chapéu pontiagudo, com extremidade que cobriam suas orelhas.

—Nossa! Será que ele ainda está vivo? - pergunta Lucius.

—Psiu! É bom ficar calado por enquanto para não chamar a atenção. - alerta Nicolas, percebendo os olhares de Victoria para eles. Ele retribui com um sorriso forçado.

—Professora! Os alunos terão quartos individuais? - pergunta Margot. Aproveitando a deixa, outros levantam o braço para perguntar.

—Podemos andar livremente pelo castelo? - Paula.

—A gente pode dormir a hora que quiser? - Sidney.

—Tem gente morta nas masmorras? - Allison.

—Acho que já está na hora do almoço, não? - Alice.

—Opa! Eu apoio essa ideia. - diz Nicolas, levantando a mão.

—Tenham calma, crianças! Todas as perguntas serão respondidas! Mas primeiro, sigam-me até a Sala de Aptidão onde será feito o teste para decidir quem fica - ela olha para Nicolas - e quem sai.

Victoria segue subindo as escadas, levando alguns alunos. Nicolas toca no braço de Lucius indicando para que subissem as escadas do lado direito, saindo cautelosamente para essa direção. Mas ao pé da escada eles encontram a professora Flora.

—O que foi, meninos? Não querem subir?

—Não é isso, é que... - Nicolas se surpreende, mas mantém a calma - Tem muita gente daquele lado, então decidimos subir por aqui. Afinal, vamos todos pro mesmo lugar, não é?

—Claro! Podem subir! Só não se afastem dos outros. Não quero que vocês se percam nos corredores e encontrem criaturas ou fantasmas perambulando por aí. - diz a professora, tocando no ombro de Nicolas e chamando outros para também subirem pela escada.

—Fan-fan-fan-fan-fan...- gagueja Nicolas enquanto sobe os degraus.

—Puxa! Ainda bem que ela não desconfiou, Nick. Nick, você está bem?

—Ela, ela disse ‘fantasma’?

Assim que Nicolas e Lucius chegam ao corredor eles disfarçam, fingindo estarem admirados com a paisagem. Do corredor dava para ver melhor a imagem de Merlin na parede, ao centro. Enquanto Victoria segue pelo lado esquerdo, Nicolas puxa Lucius para seguirem pelo lado direito. Eles entram num outro corredor e, encostados na parede, observam os outros irem para o outro lado, seguindo a professora, até desaparecerem.

—O caminho tá livre! Parece que não perceberam que a gente veio por aqui.

—Mas e agora, Nicolas, vamos pra onde?

—Bem, vamos... Ela disse que esse andar tem duas salas e sabemos que nenhuma das duas é a cozinha, não é? Então vamos para o andar de cima.

Nicolas e Lucius seguem pelo corredor que dava para a Sala de Exposição. A sala é composta por vários corredores, todos eles com as paredes cheias de quadros, de vários tamanhos. Mas não se podia ver com exatidão o que estava pintado nos quadros. Há também alguns objetos, como escudos e armas nas paredes e armaduras, mas o que predomina mesmo são os quadros. Eles correm por um tapete azul com as bordas cinza. Todos os corredores tinham o mesmo tipo de tapete. Não se sabe se eram os corredores iguais ou a sala que se mostrava enorme, o certo é que eles já estavam confusos de ficar naquele lugar.

—Que lugar mais estranho. Uma Sala de Exposição que não se pode ver o que está sendo exposto. O que será que está pintado nesses quadros, hein? - pergunta Lucius, correndo um pouco afastado de Nicolas.

—Sei lá! Essa sala parece que não tem fim. Vamos para o fundo, esse lugar tem que ter uma saída.

Nicolas já estava enjoando de correr em zigue-zague pelos corredores da Sala de Exposição. Finalmente eles entram num corredor com três aberturas que levam para outro corredor maior, bem comprido e que liga as duas torres laterais. Ele caminha devagar por esse corredor, iluminado por algumas tochas, e nota que em uma das extremidades há uma escada em espiral. Olha de um lado para o outro e chama Lucius para subirem pela escada. Eles percebem que estão em uma das torres circulares; a torre da direita para ser mais exato, e sobem até o quarto andar, sendo orientados pela luz de pequenas janelas que iluminam o caminho. As escadas continuavam, mas Nicolas decide entrar no corredor que leva ao quarto andar sendo guiado por um cheiro familiar.

—Hum... Comida!

O corredor, assim como o do andar debaixo, era escuro e iluminado por tochas. Eles caminham cautelosos. Havia uma porta do lado esquerdo que Lucius tentou abrir, mas constatou que estava trancada. Eles seguem pelo corredor indo em direção à próxima entrada, mais ao centro e bem iluminada. Os garotos se animam, o cheiro de comida está mais forte.

—É Lucius, parece que acertamos em cheio! Ahá!

—Cara, já estou até com água na boca! Eh!

Animados, eles caminham lado a lado até a entrada iluminada. De repente Nicolas diminui os passos, olhando fixamente para as escadas do outro lado, no final do corredor.

—O que foi Nicolas?

—Parece que tem alguém ali. Olhe!

Os garotos ficam parados encarando aquele estranho par de olhos que saia da abertura nas escadas à sua frente e vinha na direção deles. Os olhos eram amarelados e balançavam de um lado para o outro, num movimento repetitivo. Um rosnar de fera faz os garotos arregalarem os olhos, deixando suas peles brancas como a neve. A criatura mostra os caninos brancos e a luz de uma das tochas revela aos garotos de que se trata de um lobo. Não um lobo comum. Devia ter aproximadamente um metro de altura ou mais, pelo marrom em tons claros e escuros. A fera para diante deles e solta um latido que ecoa por todo o corredor.

—CAAMMM... - brada a fera.

—AAAHHH... - gritam os garotos, correndo em disparada voltando pelo mesmo caminho que vieram. E a fera logo atrás deles...