Edward

Meu secretário entrou como sempre no horário combinado, eu tinha chegado mais cedo para avaliar as notas. Não havia nada de anormal. Não tinha uma conta de mamãe que eu já não soubesse previamente por suas cartas. Respondi alguns convites que estava em dúvida se iria, mas nesta temporada poderia achar alguém para casar.

— Bom dia senhor. As senhoras tomaram café muito cedo e já estão visitando os jardins.

— Os jardins? – perdi a hora colocando tudo em dia.

— Quer que lhe sirvam algo aqui?

— Um pequeno café seria agradável. Os convidados chegam amanhã, vamos repassar a agenda enquanto toma seu café?

— Com certeza.

Eu reli as cartas de Tânia mais uma vez sentindo seu perfume e escrevendo uma carta para ser entregue a ela. Não imaginava como ela estaria sem mim, ela sempre era muito sensível a nossa distância.

A empregada serviu o café de forma organizada e muito bem. Meu secretário começou a repassar as nossas programações e disse que já havia feito cópias para serem distribuídas nos quartos para que todos estivessem cientes, seria um final de semana agradável tinha certeza.

— O que eu faço senhor com os cavalos?

O olhei estranhando a pergunta.

— Algum problema com nossos cavalos?

— O senhor ainda não viu?

— O que eu não vi? – perguntei deixando de lado a torrada que estava comendo.

— Devido a chuva os cavalos da senhorita precisaram parar aqui para uma pausa, eles estavam sendo levado para Berkshire, mas não puderam continuar a viagem sem serem prejudicados

— Coloque eles nos estábulos. Temos espaço não?

— Sim... – foi quando vi uma movimentação incomum na janela e levantei.

Olhei assustado um senhor mover os cavalos mais lindos que já tinha visto.

— Por favor, diga que esses não são os cavalos?

— Era sobre isso que gostaria de falar. Eles são puro sangue árabes, o cuidador deles precisa que façamos alguns ajustes...

— Puro sangue árabe? – olhei os cavalos e Isabella apareceu sorridente indo em direção a eles. Mamãe estava obviamente atrás a uma distância segura. Ela conversou com o senhor com um sorriso radiante e passava a mão em cada cavalo. Ela vestia um vestido preto discreto, aquele preto novamente.

— Somente a Rainha tem esses cavalos. Eles são exclusivos e tradicionais. – previa problemas e estava irritado com a forma como ela agia simpaticamente com o suposto cuidador. Havia pelo menos cinco cavalos. Cinco cavalos árabes – Chame minha mãe imediatamente, transfira nossos cavalos para os antigos estábulos e deixe eles na área mais reformada. Pelo amor Deus!

Meu secretário vendo meu nervoso saiu imediatamente, uma empregada entrou recolhendo todo desjejum e saindo rapidamente. Mamãe entrou com sua calma.

— Mamãe você disse que Isabella não herdou nada do marido.

— Ela não herdou. – disse estranhando.

— Como nesse mundo ela tem cinco cavalos árabes? Eu não posso criar problemas com a coroa por conta de cavalos. Você sabe que somente a Rainha tem cavalos árabes e que como ela se orgulha disso. Pelo amor de Deus se isso for do marido dela...

— Que coisa mais absurda querido. Os cavalos são dela.

— Dela?

— Sim, Charles deu para ela assim que ela começou a andar.

—Cavalos árabes?

— Querido não entendi o problema, ela tem autorização para tê-los. Ela é proprietária deles.

— O marido dela não quis administrar isso?

Minha mãe riu achando graça.

— Querido, o que Jacob teria haver com os cavalos dela? Eles ficaram esses anos na posse dela.

— Mas eles casaram, os bens dela foram confiscados.

— Mas Isabella possuía os cavalos. E Jacob deixou em seu testamento que nada da esposa deveria ser tocado pela família caso algo lhe acontecesse.

— Você disse que ele não se programou para essa morte. – falei irritado.

— Mas um testamente é obrigatório na França assim que se casa.

— Essas leis francesas! – disse voltando para a janela e vendo ela agora abaixar sem cuidado nenhum com o vestido vendo as patas do animal.

— Temos não um, mas cinco dos cavalos mais caro do mundo. Como isso pode ser algo que eu possa esconder em uma propriedade? Os empregados já devem estar falando disso. Pelo amor de Deus mamãe.

— Edward, acho que está incomodado demais. Eles ficarão apenas um dia para descansarem e partirão. Amanhã de manhã nem os verá. Isso está se tornando um absurdo.

Respirei fundo querendo fumar um charuto.

— Ela vai usar esse preto até quando?

O vestido estava arruinado, mas ela e o tal cuidador apenas viam patas, avaliavam os olhos e olhavam para os cavalos com adoração.

— Edward, eu não sei se você sabe. Mas ela não pretende retirar o luto.

— Mãe, pelo amor de Deus, ela é nova demais para ficar andando de preto por esta casa como se o marido fosse morto apenas há alguns meses. – isso me incomodava demais. Ela deveria usar cores, usar flores no cabelo.

— Ela não vai superar a morte de Jacob. – ela disse triste – Jacob foi alguém que ela conheceu a vida inteira, foram criados juntos. O casamento deles foi algo muito... feliz.

Estranhei a forma como mamãe descreveu, parecia que ela apenas repetia. Ela não iria dizer isso.

— Ela ficará de luto até morrer. Sem filhos. Sem família.

— Jacob foi um homem que a entendeu Edward. – eu via a dor nos olhos de mamãe e resolvi mudar de assunto.

— Tudo bem. Vamos almoçar todos juntos, faço questão.

— Íamos almoçar no solar.

— Não me importo.

E ela saiu um pouco contrariada. Isso estava saindo do controle. Quando uma viúva pode alterar a vida dessa forma? E esse Jacob? Ele era um santo? Não existe isso. Meu secretário entrou e pedi que chamasse o cuidador dos cavalos. Isso precisava de alguma direção. Alguns minutos depois ele entrou, fez uma reverência desajustada e se aproximou, meu secretário ficou.

— Bom dia senhor...

— Laurent.

— Bom dia senhor Laurent. – ele era um homem já em seus quarentas, mas mesmo assim seus olhos azuis se destacavam. – É de onde?

— Escócia. – isso explicava o a pele e os olhos.

— Os cavalos precisam de algo?

Ele sorriu.

— Não, eles estão bem acomodados. Devido a uma chuva um ficou resfriado, mas já estamos cuidando disso.

— Resfriado?

— Sim, Aurora é muito sensível. Ela precisava repousar, mas temos tudo conosco.

— Eles não tem uma alimentação especial?

— Sim, estão se alimentando e repousando. A senhorita Isabella cuida muito bem deles e providencia tudo. As mantas também já foram aquecidas para Aurora, ela mesma deve estar fazendo isso. Ela ama Aurora.

— Ama?

— Sim, ela foi a primeira da linha. Depois veio Tufão. Ele veio para fazer companhia a Aurora, os dois se deram muito bem. Tiveram três potros perfeitos.

— E quais são os nomes?

— Estrela do Sul. Lua. Solar.

—Duas fêmeas e um macho?

— Sim. – disse orgulhoso. – Vamos ver se conseguimos cruzar Solar com uma fêmea que ainda vai chegar, mas isso depende do tempo.

— Vão cruzar puros árabes? E quem é o dono do outro?

— Um conhecido da senhorita, eles acertaram por cartas. Eles vão cruzar para Solar ter seus potros, vamos ainda ver se isso dará certo. Ele é muito seletivo e já estamos na segunda tentativa.

— Segunda? – disse surpreso.

— Sim, ele não gostou das fêmeas anteriores.

— E onde acham cavalos árabes como quem acha cachorros?

— Senhorita Isabella faz parte de uma comunidade de donos de Cavalos Árabes, eles se comunicam por cartas e trocam informações. Aurora já foi diversas vezes a alguns encontros, é bem conhecida.

Eu não sabia que existia tal coisa. Respirei fundo tentando controlar minha voz.

— Qualquer coisa que precisarem não hesite, só pedir. Colocarei um empregado para lhe dar toda ajuda.

— Agradeço. Mas a Condessa já fez isso.

—Claro, mas nos deixe saber se precisar de algo.

Ele fez uma revência e saiu apressado. Olhei meu secretário tão surpreso quanto eu.

— Me diga, mais alguma coisa que eu precise saber?

— Por enquanto não senhor.

Sentei na cadeira pensando na viúva e seus cavalos árabes. Cavalos árabes.

What do you want to do ?

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