Edward

Sorri entrando com Isabella, tínhamos ido cavalgar com os cavalos e ela estava linda com sua roupa preta muito adequada para uma manhã fria. Ela nunca prendia os cabelos totalmente, mesmo para cavalgar, mas eu amava ver seus cabelos soltos e as ondas que eles tinham.

— Tenho que ver as orquídeas. – disse retirando as luvas grossas e Leah imediatamente se aproximando para ajudar.

— Conseguiu uma nova? – Harry me ajudava com o casaco e luvas.

— Eu não sei. – Ela deveria estar florescendo, mas ainda não conseguiu um resultado.

— Chegou cartas para a senhora. – Harry disse e Leah a olhou.

Eu conseguia ver seus dilemas com as cartas. As universidades estavam querendo as últimas pesquisas de Jacob, mas não havia mais Jacob. Ela tinha aquele olhar triste agora. Respirou fundo e olhou para Leah se recompondo.

— Faça o favor de colocar por favor em meu quarto. – disse com um certo pesar. – Vou ver a estufa.

E então saiu. Leah saiu com suas coisas nas mãos e Harry me encarou.

— Quantas?

— Três. Oxford, Edimburgo e uma da Alemanha.

— Segunda já de Oxford... – disse pensativo. – Tudo pronto para a viagem?

— Sim senhor, todos os baús preparados. Leah cuidou pessoalmente das da Duquesa.

— Perfeito.

E depois do almoço partimos para Londres, Isabella e eu tínhamos mais conversas. Eu estava lendo um livro sobre filosofia e passamos a maior parte do tempo debatendo ideias e rindo de alguns delírios filosóficos. Ela agora lia Odisseia e eu percebia sua concentração nos momentos silenciosos e gostoso da viagem, sua roupa mais pesada pelo frio intenso, mas linda.

Londres estava agitada quando chegamos, eu sabia que mamãe estava em nossa casa em Londres para os festejos natalinos. Por isso não foi uma surpresa ela estar na porta esperando Isabella e sorrindo quando eu a ajudei a sair da carruagem.

— Está frio querido, vamos tomar algo quente.

Sorri as vendo entrar. Na rua algumas pessoas comentavam olhando para dentro, sim, a chegada dela seria notada e comentada. Respirei fundo entrando e indo até onde mamãe tinha preparado um chá com bolos. Eu amava as ver juntas, era uma cumplicidade incrível e transmitia certa calma que há tempos não sentia.

— Mudou a sala. – disse entrando depois de Harry subir com meu casaco e luvas.

— Achei que iria ficar mais apropriado. – Isabella disse me servindo um chá. Sentamos em frente a mamãe e podia perceber seus olhares enquanto falávamos de como as coisas estavam indo e como Isabella relatava nossas caminhadas, cavalgadas e como amou um novo tinteiro que encomendei com seu nome.

— Que gracioso Edward. – falou bebendo o chá.

— Ele é lindo. – fiquei feliz com seu elogiado. – Meu título e brasão também estão neles. Fora a quantidade de tinta que chega toda semana. Muito atencioso.

— Você precisa para seus estudos.

— Oh... então finalmente descobriu. – minha mãe disse rindo.

— Você sabia mamãe?

Ela deu os ombros sorrindo.

— Mulheres sabem de muitas coisas Edward. Mas não era segredo. Jacob me escreveu quando soube que estava doente e pediu que eu cuidasse de Bella.

Isso nos deixou paralisados.

— Como? – ela perguntou.

— Eu recebi uma carta dele me pedindo para que eu cuidasse de você. – mamãe disse deixando a xícara na mesa e pondo suas mãos em seu colo – Ele disse que apesar de ser muito nova e inteligente achava que você precisaria de toda ajuda que pudesse para passar por tantas situações. E ele sabia que eu era amiga de sua mãe e estava muito bem instalada na Inglaterra, ele dizia que ares ingleses pudessem te dar certa paz depois que ele se fosse. Me deixou algumas instruções e logo imaginei como te ajudar querida.

— Mas... eu pensei...

— Ele deixou claro quem eu poderia procurar caso não fosse para Escócia.

— Oh Deus... – ela disse ficando pálida e eu logo peguei a xícara de sua mão.

— Mamãe por que tocar nesse assunto agora?

— Porque ela precisa saber que ele queria que ela seguisse com sua vida e que continuasse seu trabalho. Como ele estava cumprindo um pedido de sua mãe. Um pedido que ela mesma fez a ele no dia que se casaram.

— Ele prometeu que eu nunca estaria sozinha. – ela disse fraca.

— Vamos subir, você precisa descansar.

Fiquei surpreso como ela se deixou guiar por mim até seu quarto, Leah ainda estava arrumando suas coisas e correu quando me viu com Isabella fraca e pálida.

— Senhora...

— Um pouco de água seria bom Leah. – falei e ela saiu correndo do quarto. Sentei Isabella na cama e abri as janelas.

— Calma... – falei voltando a ela e a vendo ainda abalada.

— A vida inteira fui ensinada para muitas coisas, mas nunca para essas coisas.

— Quais? – perguntei e ela me olhou com seus olhos intensos.

— A sentir. – e vi pela primeira vez a menina que ela escondia dentro dela mesma. A menina que perdeu seus pais e irmão. Perdeu seu marido. A menina que chorava sozinha.

— Dói. Mas há alegrias. Sentir é como os seus chás. Alguns são amargos e outros doces. Mas todos eles fazem parte de nós.

— Nunca ouvi algo tão bonito. – disse um pouco tímida.

— Seus livros têm poemas lindos. – um certo constrangimento me tomou com seu elogio.

— Livros não são pessoas. Pessoas são o que nos fazem sentir Edward.

— Eu não estou mais com Tânia. – falei nem sabendo exatamente por que, mas senti de falar. – Eu queria muito continuar sentindo, mas de certa forma...

— Existem vários tipos de amores. Existem várias formas de amar. Uma delas é cuidando, outra com seu corpo, outra apenas deixando a pessoa que amamos ir porque chegou sua hora. – ela respirou fundo – Eu não queria que Jacob partisse, por anos ele foi o meu mundo e meu protetor. Por anos formamos uma dupla invencível contra tudo e todos, mas era injusto. Eu sabia que ele sentia dores, tinha dificuldade em fazer longas viagens e muitas vezes ficávamos semanas com ele na cama se recuperando de algum susto. Quando ele se foi... por pior que tenha sido, eu sei que ele descansou.

Toquei seus cabelos pela primeira vez sentindo quão macios eram. Sua cor escura, quase preto. O perfume brando de sua pele.

— Você é muito linda...

E quando ia me aproximar Leah entrou e ela se afastou com suas bochechas rosadas.

— Desculpe senhores... eu...

— Sede. – Isabella disse indo pegar o copo de água. E eu a vi ficando um pouco nervosa.

— Cuide dela Leah.

Disse saindo e não deixando de sorrir quando cheguei no corredor.

— Então ela está melhor? – perguntou mamãe com um ar arteiro.

— Você quase a fez desmaiar. – falei sério a vendo querer rir.

— Bom... você cuidou de tudo – falou gesticulando para mim – Isso é ótimo... Que bom que ela poderá ir a Missa mais tarde, seria muito ruim que ela estivesse indisposta. Imagina...

Disse saindo sem me deixar falar mais nada e sumindo pelo corredor.