Essa é uma história que eu nunca vou esquecer e que ninguém vai acreditar. Parece impossível demais, louca demais, improvável de mais. Mas eu garanto caro leitor, realmente aconteceu comigo. Se você não acreditar, não ficarei chateada, ás vezes, até mesmo para mim, tudo não passou de um sonho.

Foi no final da tarde de uma sexta feira, esperei esse dia por muitos e muitos anos. Não parecia verdade, nem mesmo quando meus pés cansados tocaram o chão da Coreia do Sul. Eu não consigo explicar para vocês a sensação que explodiu dentro de mim, mas é basicamente parecido com TPM. Eu queria chorar, correr, tirar fotos e rir igual uma louca, tudo isso ao mesmo tempo. Apresei o passo igualmente aos outros passageiros que seguiam para dentro do aeroporto.

Eu não teria tempo de me arrumar para o show. Ah!, o show. O último show do Big Bang antes do hiatus e antes de tudo mudar. Ainda não havia entrado na minha cabeça que eu havia conseguido um ingresso. Naquele dia, ainda no Brasil, eu surtei. Pulei até meus pés doerem em frente do espelho enquanto cantava “Last dance” até meus pulmões explodirem. Não explodiram leitor, eu estou bem.

Minha mãe disse que ir para a Coreia do Sul sem ter um lugar para ficar era um ato de loucura. Eu digo que é um ato de coragem. Talvez loucura... Ás vezes concordo com ela... outras vezes não. Não teria tempo para me arrumar, estava cansada, faminta, mas o show era naquela noite.

Passar a madrugada acordada para comprar o ingresso tinha que valer à pena. Iria valer. Ah, se iria. Estamos falando de Big Bang.

Apenas ajeitei meu cabelo e passei uma make básica. O espelho me mostrava uma imagem agradável, apesar de ter ficado quase trinta horas dentro de um avião.

Andar por aquele salão estava me deixando nervosa, significava que cada passo que eu dava, era um passo a menos entre minha pessoa e o grupo da minha adolescência.

Uma senhora deixou suas chaves caírem perto do meu pé. Mesmo com a coluna doendo por ficar sentada, me abaixei na mesma hora e peguei suas chaves com um bonito e brilhante chaveiro de borboleta azul.

Não consegui deixar de notar que a mulher possuía um olho de cada cor. Um cinza e outro marrom. Ela sorriu para mim de um jeito estranho assim que entreguei as chaves em sua mão. Após um “obrigada” em inglês sussurrado, ele prendeu um pingente, igual ao do seu chaveiro, na minha calça. Eu tentei negar educadamente, mas ela insistiu. Para não fazer desfeita eu agradeci. A mulher continuou me encarando conforme eu andava. Aquele sorriso não sairia da minha memória por um bom tempo.

O aeroporto estava movimentado naquele dia. Havia gente correndo para todos os lados com cartazes e coisas escritas em coreano. Eu não falo muito bem coreano, quase nada. o inglês me salva nesse momentos.

Nada iria estragar aquela minha tarde, nem mesmo meninas agitadas esbarrando como se não estivessem me vendo ali. Respirei fundo, deixei meu cabelo balançando nos ventos e continuei andado em direção ao local que ficavam os táxis.

Elas gritavam, se aglomeravam e me espremiam. Mesmo isso não iria estragar minha tarde. Continuei, levei tanta pisada nos meus pés que naquele momento acho que eles haviam ficado para trás, junto com a minha audição. Isso porque eu já estava acostumada ir a shows.

Seja quem for o motivo dessa gritaria deveria ser muito famoso para trazer tantas estrangeiras para justamente esse lugar do mudo. Não sendo meus filhos do Big Bang, eu realmente não me importava. Foi muito tempo de viagem, eu precisava manter o foco.

Algo parecido com uma briga me fez ser empurrada ainda mais, como se isso fosse possível. A mala que eu puxava soltou da minha mão, apesar de lutar contra todas aquelas pessoas para voltar e segurar minha bagagem, não consegui. Vi ela se afastando pelas pequenas frestas que hora ou outra apareciam entre as pessoas. Pode até parecer engraçado, mas na hora não foi não. Dava até para colocar uma musiquinha triste enquanto a minha mala se afastava lentamente e eu não conseguia alcança-la. Eu fui arrastada por um longo caminho contra a minha vontade até esbarrar em alguém. Esbarrar de verdade, quase se esborrachar no chão, ficar com alguns hematomas.

Em meio à multidão, senti um puxão em meu braço, sem conseguir controlar minhas pernas corri como nunca havia corrido na minha vida. Não que eu quisesse correr, estava sendo obrigada, como se não pudesse controlar meus próprios pés. Era uma loucura completa, eu sei.

Eu vi a saída do aeroporto assim que as portas automáticas se abriram. Era para lá que a confusão me encaminhava. Minha mala! Tentei voltar para buscar, isso fez com que o puxão no meu braço voltasse e eu esbarrasse novamente com o ombro de alguém. A dor foi inexplicável. Enquanto esfregava meu ombro, que quase foi arrancado violentamente, percebi que outra pessoa fazia o mesmo movimento.

Foi um momento épico caro leitor, eu deveria ter gravado. A gente parou no mesmo segundo e nos encaramos. Ficamos sem reação. Nossos olhos desceram até nossos braços. E tinha uma algema lá.

Uma algema. Algema. AL-GE-MA. Pense em uma coisa bizarra.

Pausa para risos histéricos.

—O que é isso? - ele gritou em um sotaque inglês que reconheceria até do outro lado do mundo.

Literalmente.

— Eu ia te perguntar a mesma coisa! – respondi com meus olhos arregalados. Eles estavam bem arregalados mesmo, eu queria que ele sentisse meu desespero.

Acho que ele estava sentindo... mas era por prevenção, sabe.

Após fazer uma careta indescritível, meio com raiva, meio indignado, meio com medo, ele segurou a minha mão e me arrastou para longe da multidão. Esse negócio de ser arrastada por ai na Coreia pega, mesmo que ele não fosse coreano, muito menos eu. Eu detestava isso, puxei o braço na intensão de fazê-lo parar. Eu havia me esquecido que estávamos doloridos e a dor que esse movimento causou não foi nada legal.

— Venha comigo. – sua voz sobressaiu por cima da histeria das meninas.

— Está maluco? Eu nem te conheço. – respondi no mesmo nível.

Ele me olhou com cara de indignado. Sério, ele estava realmente indignado.

Tarado, quem deveria estar indignada sou eu. E eu estava, só para deixar claro.

— Está falando sério? – ele me parou somente para perguntar isso. Pela minha cara fechada ele percebeu que eu estava falando sério – Então porque se algemou em mim?

Eu olhei dele para algema, da algema para ele. Ele provavelmente aproveitou o momento que eu estava desesperada atrás da minha mala e se algemou em mim. Foi o primeiro pensamento que passou pela minha cabeça. Eu sei não faz sentido, mas uma algema no meu braço também não faz.

Olhando em volta, haviam tantas meninas gritando por aquele inglês que ele realmente devia ser famoso. Mas por que a algema? Seria possível que alguém tentou se prender a ele e no meio da loucura o tiro saiu pela culatra? Ou será que ele era algum tipo de pervertido?

— Tarado.- eu disse encarando seus olhos verdes.

Ele pareceu ofendido. Sua única reação foi me puxar contra a minha vontade no meio daquela multidão para dentro de sua van preta.

— Para me colocar ai dentro só por cima do meu cadáver. – eu gritei, mas depois me arrependi. Eu não podia ser um cadáver, gastei muito dinheiro para chegar até ali.

Segurei na porta da van e gritei loucamente.

— Fica quieta! – ele gritou enquanto tentava me colocar dentro da van e me fazer ficar quieta. Parecia cada vez mais que era um sequestro. Eu estava ferrada.

Havia outras pessoas lá, todas de preto, elas estavam claramente assustadas, mas não falaram nada, não se mexeram e não ousaram se meter entre nos dois. Devia ser tudo cúmplice.

Ele finalmente tampou minha boca, mas não foi por eu tentar impedir. Antes disso dei uma canseira tremenda nele. Só porque ele virou meu braço eu fui jogada dentro da van.

Um homem grande entrou e fechou a porta.

— O que está acontecendo aqui? – perguntou outro homem de voz grossa.

— Preciso de uma chave, ou qualquer coisa que abra uma algema. – pediu ele ao homem grande.

Excelente ideia, tarado.

— Para que? – perguntou o homem um tanto intrigado.

Eu não estava usando blusa de manga comprida. Estava calor apesar de achar que lá seria frio. Claramente dava pra ver a algema ali.

Ele levantou o braço para dar ênfase a sua fala.

— Uma fã maluca me algemou. – ele disse bravo.

— Eu não sou sua fã. – eu disse brava também – Não tenho ideia de quem seja.

— Eu disse – ele falou indignado para o homem – Maluca total.

— Você me sequestra e eu que sou maluca? – disse rápido entre dentes.

Ele deu um sorriso irônico. Eu quis socar aqueles dentes brancos ao excesso dele. Mordi o lábio com força.

— Está de brincadeira comigo? – ele perguntou sem nenhum tom de humor em sua voz.

Franzi a sobrancelha. Ele era louco.

— Solta essa coisa! – eu disse sem mais saída. Ainda precisava encontra a minha mala e não tinha tempo para ser sequestrada.

Encaramos o homem grande que acompanha a conversa com a boca aberta. Ele parecia estar vendo dois malucos brigando.

Ele provavelmente estava certo.

— Me ajude a soltar isso? – ainda estávamos com os braços levantados.

O homem não expressou nenhuma reação, nem piscou. Ele apenas nos observava.

— Soltar o que? – ele perguntou bem devagar, como se fossemos surdos.

— Como assim o que?! – ele gritou para o homem, ele pareceu não se importar de ser mandando por alguém bem mais novo– Essa algema aqui. – ele até fez barulho com ela.

O homem permanecia sem piscar. Seus olhos passaram de mim para o garoto e para a algema.

— O que vocês usaram? – ele perguntou assustado.

Eu fiquei séria, deixei que nossas mãos caíssem no banco.

— Você também está brincando? – ele perguntou ao homem, já estava sem paciência – Isso é algum tipo de pegadinha?

— Pegadinha? – eu disse pensativa.

Era melhor do que ser sequestrada. Concordei com meus pensamentos.

A verdade era que eu estava apavorada, leitor. Levei um baita susto com aquela história toda.

— Foi algum tipo de bebida? – insistiu o homem ainda sério.

Eu estava com um pressentimento ruim. Não era um bom sinal.

— Do que está falando? – perguntei ao homem – Me deixe sair.

Ele abriu a porta como se zombasse de mim.

— Vai. – disse de forma enfática apontando lá para fora.

Eu ri. Só podia ser uma pegadinha mesmo.

— E a algema? – eu disse mostrando meu braço a ele.

— Que algema? – ele perguntou frustrado.

— ESSA! – gritou o garoto.

Ele coçou a cabeça intrigado.

— Não está vendo a algema? – perguntou o garoto.

Ele negou com a cabeça bem devagar.

— Que. Merda. É. Essa? – eu não devia usar esse linguajar em inglês, eu sei. Mas saiu. Eu estava ficando com medo.

A única coisa que fizemos foi nos encarar. O homem parecia muito assustado para estar mentindo.

— Ainda acha que estamos em uma pegadinha? – eu perguntei para ele.

— Tenho minhas dúvidas. – ele respondeu pensativo.

— Afinal, quem é você? – perguntou o homem para mim.

— Eu ia fazer a mesma pergunta. – havia vários fãs lá fora, ele devia ser bem famoso.

— Ou você ficou presa em algum buraco por anos, ou é realmente uma fã maluca. – ele disse.

Nem uma coisa nem outra, tarado.

— Acho que eu não saber quem você é está ferindo seu ego. – eu disse o observando de cima a baixo.

Ele suspirou.

— Harry. – ele falou mostrando seus dentes. Estava incomodado, dava para ver.

Eu pisquei algumas vezes enquanto o encarava.

— Harry Styles? – ele tentou mais uma vez. Dei de ombros – Ex-membro da banda One Direction. – continuei com o ombro levantado – Eu... ah!, deixa pra lá... Não está vendo uma algema mesmo? E não é pegadinha? – ele olhou para o homem.

— Não estou vendo algema alguma. Não podem fazer pegadinha sem a minha autorização. – ele disse como se não entendêssemos, ou como se falasse com crianças – Olha... está muito divertido, mas temos compromisso. Você precisa sair mocinha.

Ele segurou meu braço.

Harry segurou o outro.

— Não dá para ela sair. – a voz sussurrante foi comovente.

O homem soltou meu braço se rendendo.

— Façam o que quiserem, precisamos partir. – ele fez sinal para que van andasse.

O desespero começou a atacar meu coração.

— Eu não posso ir a lugar nenhum, tenho que ir para o show. – eu quase gritei. Quase. Ou gritei, eu não lembro direito.

Harry estava com a mão livre no queixo, pensava me encarando.

— Você é uma bruxa? – ele perguntou sério.

Eu ri. Talvez parecia histérica de mais.

— Com certeza. – ele arregalou os olhos – Vou aterrorizar seus sonhos se não me soltar agora.

— Não é como se eu tivesse te segurando. - ele se jogou no banco. A frustração era um sentimento reciproco.

Quando eu estava desesperada começava a fazer birra. Não era de proposito, era involuntário. Talvez fosse por isso que aos 23 anos estava solteira, ou por outros milhares de fatores, acho que nunca saberei. Chutei os bancos involuntariamente algumas vezes.

Por que eu? Eu só queria ir ao show.

Um bico fixou-se no meu rosto. Nenhum dos meus protestos fez aquele carro parar.

— Ainda estou apostando que foi você quem prendeu isso em mim. – ele disse sem nenhuma convicção.

— Por que eu faria isso? – perguntei jogada no banco do carro. O cabelo cobriu meu rosto, não era a melhor visão do mundo.

Ele deu de ombros.

— Eu tenho muitas fãs loucas para ficar mais próximas a mim. Não me surpreenderia se você não quisesse admitir...

— Cala boca. Nem te conheço. A única coisa que eu quero fazer é ir no último show do meu grupo preferido antes do hiatos, mas de repete eu fiquei presa a um inglesinho chato para caramba.

Harry fez careta. Ele fixou os olhos verdes em mim.

— Eu vou fazer um show e tinha um grupo.

— Estou nem ai.

Ele riu. Riu como se não tivesse ouvido uma única palavra do que eu havia falado.

— Vou resolver nosso problema. Não precisa admitir. -ele pegou algo pontudo para soltar aquele troço da gente.

— Você viu isso? – Harry perguntou sussurrando.

Tirei meu cabelo do rosto, o bico permanecia lá.

Ele posicionou uma chave qualquer do seu chaveiro, no lugar em que deveria haver uma fechadura, mas tudo o que a chave fez foi passar direto como se nada nos segurasse. Foi estranho, leitor. Meu coração deu alguns pulos e minha visão começou a ficar embaçada.

Aquele chaveiro me lembrou imediatamente da mulher estranha com o chaveiro em formato de borboleta. Ele também estava preso nas chaves de Harry.

Peguei o objeto na mão.

— Onde conseguiu isso? – perguntei com repentino interesse.

Ele pareceu ainda mais surpreso.

— Uma senhora simpática me deu no aeroporto. – ele disse parecendo não se importar com isso.

— Não me diga que ela tinha um olho de cada cor. – engoli a seco.

Ele confirmou com a cabeça.

— Porque está perguntando? – Harry quis saber.

Peguei o pingente de borboleta preso na minha calça. Era exatamente igual ao dele.

— Sabe quando você disse que não foi você que prendeu a algema? – ele concordou com cabeça – Acredito em você.

Mostrei o chaveiro para Harry.

Ele pareceu ficar tão surpreso quanto eu.

Leitor, achei que nada ia ficar mais estranho do que aquilo, mas ficou.

Por mais que insistíssemos que estávamos presos ninguém acreditava. Ninguém parecia ver o treco que nos conectava. Era assustador e frustrante. Harry estava tão convencido quanto eu que isso tinha algo haver com aquela mulher. O sorriso dela também ficou marcado em sua memória.

Estávamos em uma situação muito estranha. E eu só queria ir ao show.

— Que merda. – ele disse enquanto imitava a minha posição jogado no banco.

Eu concordava com ele. Acho que finalmente concordávamos em algo.

— Deveríamos jogar esses chaveiros fora? – eu quis saber observando aquilo.

— Eu que vou saber? ... - ele sentou no banco direito - E se piorar?

— Eu tenho que dar uma entrevista. – ele disse como se lamentasse, eu só não sabia sobre o que exatamente.

— Eu tenho que ir ao show. – também lamentei, mas eu sabia o que lamentava.

— Não dá para ir a um show algemados, eu nem tenho um ingresso. – ele disse bravo.

A essa altura não havia como comprar mais. Meu ingresso ficou na minha mala. Senti uma lágrima correndo do lado em que ele não conseguia ver.

— Isso é muito injusto. – eu disse limpando minhas lágrimas.

— Cancele a entrevista. – falou Harry ao homem que eu não me lembrava do nome e nem fazia questão de lembrar.

— Sabe que eu não posso fazer isso. – ele disse irritado.

Havia muitos sentimentos no ar, distingui-los nos deixa loucos. Dizer que eu estava com medo não era exagero. Não havia mais unhas para roer.

Tentaram nos separar assim que chegamos ao local da tal entrevista. Não conseguiram, eu esperava que conseguissem. Esperava mesmo.

A entrevista precisava acontecer agora, ao vivo. Não havia tempo de mais nada. Quando chegamos atrasados ao ser segurada por um dos diretores do programa Harry quase caiu no chão. A cara de quem não estava entendendo nada nos diretores foi a mesma que a nossa.

Sem alternativa entrei na entrevista com ele.

Uma apresentadora coreana conduzia a entrevista.

— Quem é essa? – ela perguntou a Harry com um sorriso indiscreto.

Ele sorriu com a elegância de um inglês e gaguejou, sem elegância mesmo, somente desesperado.

— Ela é uma... bem... – uma luz pareceu surgir na sua cabeça – ganhadora de um concurso, para passar alguns dias me acompanhando por todos os lados. Literalmente.– ele concluiu.

A apresentadora pareceu surpresa com a resposta. Ela continuou sorrindo.

— Isso é... bom... bem... inusitado. Qual seu nome? – quis saber. Ela não queria saber de verdade, só queria entrevistar Harry e eu... bem, vocês já sabem.

— Laura. – eu disse sem alternativa enquanto lágrimas formavam em meus olhos.

— Como ganhou esse concurso? – ela continuou, olhava para sua prancheta o tempo todo buscando informações que não iria encontrar.

— Foi uma grade surpresa. Eu realmente não esperava. – eu respondi tentando controlar as lágrimas.

— Está feliz por estar presa a este homem? -ela apontou o microfone para mim.

A essa altura o último show do meu grupo ultimate estava começando.

— Você não faz ideia. - minha voz saiu embargada. Não consegui parar minhas lágrimas dessa vez.

A entrevista seguiu com o meu nariz vermelho e meu rosto molhado por água salgada. Quando me lembro disso eu fico um pouco desesperada, antes eu não sabia, mas hoje eu tenho plena consciência de que o mundo inteiro assistia aquela entrevista. E eu estava chorando loucamente, não era uma visão nada bonita.

Quando chegou nas últimas perguntas ela e voltou para mim, quando não consegui responder ela completou a entrevista sozinha.

— Aqui podemos claramente ver o amor de fã, ela nem consegue se controlar ao lado do seu ídolo.

A câmera focou em mim, eu só consegui balançar a cabeça concordando.

— Porque está chorando? – ele quis saber quando chegamos ao camarim.

— Você não entenderia. – eu disse secando as lágrimas e me jogando na cadeira ao seu lado.

Coloquei o pé na cadeira e segurei meus joelhos. Eu não fui ao show, fui parar na Coreia, mas não fui ao show. Estava ficando deprimida. Não tinha um lugar para ficar, não tinha mais mala, minha passagem e documentos estão perdidos e eu estava presa a um garoto que eu não conhecia. Não parecia uma situação muito favorável.

— Eu não tenho para onde ir. – eu disse mais para mim mesma.

Eu iria ficar o aeroporto e esperar pelo meu voo que sairia de manhã. Estava tudo milimetricamente calculado.

— Como você veio para a Coreia sem ter um lugar para ficar? – ele me perguntou desinteressado.

— Eu tinha um plano. – eu disse enterrando minha cabeça entre meus joelhos.

— Ficar algemada em mim? – ele provocou.

— Cala boca.

Aquela entrevista causou uma bagunça no twitter, ninguém sabia do tal concurso. Os fãs estavam chateados. Eu também estaria se estivesse no lugar deles.

— Vamos dormir. – ele disse quando entramos no seu quarto de hotel.

Eu sei, eu sei. Não deveria estar no quarto de alguém que não conheço. E se ele fosse um tarado mesmo? Mas o que é que eu vou fazer? Eu não tinha muitas opções. Eu achei que eu não ia conseguir dormir, mas estava tão cansada que foi um alívio.

Sabe quando você acorda e não tem ideia de onde está? Aconteceu comigo. Eu não consegui me lembrar onde estava. O lugar não parecia com nada que eu já tivesse visto. Uma perna pesada estava em cima de mim. Assim que recobrei a consciência percebi que não deveria estar ali. Cai da cama com susto, isso fez com que Harry acordasse assustado também.

— O que foi? – ele perguntou assustado.

Eu estava sentada no chão com a minha mão ainda presa a sua.

— Temos que retirar isso. – eu disse. Levantei o braço para que ele olhasse.

Harry coçou o os olhos e se espreguiçou na cama, na medida do possível. Até porque ele ainda estava preso. Os movimentos dele estavam tão restritos quanto o meu.

— Alguma ideia? – ele perguntou com a voz rouca. Não havia muita esperança nela.

Não eu não tenho! Mas precisava ter.

— A gente não pode passar o resto da vida assim. – era loucura.

Ele se jogou do meu lado se arrastando pela cama igual uma lagartixa. Ficamos sentados lá, encarando aquela porta. Eu precisava muito ir ao banheiro. Essa foi uma das coisas difíceis, caro leitor, além de estar algemada com Harry Styles, claro.

— Ok, precisamos fazer isso. – ele disse decidido como se fosse algo que iria mudar a sua vida.

A julgar pela sua expressão ele também precisava ir.

O banheiro era muito grande para esperar do lado de fora. Eu queria chorar, ainda tinha esperança. Para algumas pessoas pode parecer uma oportunidade, mas para mim era constrangedor. Faz parte da minha personalidade tímida.

Suspirei e me deixei cair no chão igual casca de banana.

A brilhante ideia dele foi amarra uma coisa na cabeça de quem não iria olhar. Não ajudou muito, mas não tinha outro jeito. Depois disso eu iria apagar aquela cena da minha memória, mesmo ela estando escura.

Ele se ofereceu para ir primeiro. Eu dei todo o apoio sem protestar. Ele não pareceu muito satisfeito.

Eu nunca mais vou fazer xixi com um garoto estranho no banheiro, mesmo se ele estiver vendado, como foi o caso.

Após café da manhã precisávamos pensar no que fazer.

Segurei aquele pingente de borboleta. Ele não se parecia com nada com já tivesse visto até hoje. Era muito brilhante e bordado com fios dourados e prata.

— Aqui. – ele apontou para alguma coisa na borboleta – Tem um número aqui.

Quase invisível nas asas da borboleta haviam números, realmente.

O google nos contou que eram coordenadas. Ficavam bem longe do lugar onde estávamos e só metade do caminho dava para ir de carro.

— Ao menos é alguma coisa. – eu disse, Harry concordou comigo.

Era uma praça bem movimentada. Foi o lugar que as coordenadas nos levou.

— Vamos olhar em volta. – eu disse a ele – Pode ser uma loja, ou algo assim.

Mas não havia como ver alguma coisa além de pessoas, muitas, muitas pessoas. Não sei de onde surgiram tantos ocidentais.

— Vai ter um festival de músicas. – ele disse em meio a minha confusão, tinha gente do mundo inteiro lá, algo haver com as olimpíadas de inverno

Isso explicava a confusão no aeroporto. Mas não explicava aquilo estar acontecendo com a gente.

— Você lembra como ela era, Laura? – ele perguntou se referindo a senhora dos chaveiros.

— Cabelos brancos, um olho de cada cor, roupas coloridas e um sorriso assustador. É a única coisa que me lembro. – eu disse analisando a minha memória. Não era muito mais do que ele se lembrava também. - Eu não estou com uma boa sensação. – eu disse me lembrando que no dia anterior também não estava.

— Eu também não. Estou algemado. – ele disse tomando um milk-shake.

— Precisa mudar seu repertorio. – eu disse o provocando.

Com o lugar movimentado ele garrou a minha mão, estávamos andando assim a algum tempo e não nada certo quando alguém se enfiava no nosso meio. Quando isso acabar esperava que meu braço estivesse no lugar.

A muvuca nos espremia. Mesmo espremidos um contra o outro, pessoas que vieram na contra mão conseguiram se enfiar entre nós dois, até entenderam que queríamos que eles parassem, fomos jogados para todos os lados.

Finalmente conseguimos parar. Ai que a coisa ficou ainda mais estranha. Mas já não estava estranho, Laura? Vocês podem me perguntar? Eu digo, sim, mas as coisas ainda podem piorar.

Minha mão livre ficou imobilizada por algum tempo. Eu parei no meio do nada. E fixei meu olhar para frente.

— Qual o problema agora? – Harry perguntou passando sua mão livre na minha frente para que eu piscasse. Não funcionou.

Levantei a mão que deveria estar livre. Para minha surpresa havia outra algema ali. Para minha surpresa dupla quem estava na outra ponta da algema era ninguém mais ninguém menos do que Taeyang, meu utt do Big Bang. Simples assim, igual a todas aquelas fanfics dos fãs em que a personagem cai e quem levanta ela é o ídolo preferido dela.

Eu não sabia se ria ou se chorava. Para mim era uma aventura.

Para ele era um desastre, já que hoje era o seu casamento.

— Acredita em mim agora? - perguntei a Harry.

— Eu não disse que não acreditava. – ele falou levantando as sobrancelhas.

Tarado.

— O que faremos? – perguntei meio desesperada. Eu não queria ser responsável por acabar com o casamento de um K-ídol.

— Se eu soubesse já teria feito. – ele disse novamente.

— É o casamento dele hoje. – eu disse entre dentes.

Harry o olhou de cima abaixo.

— Você o conhece? - ele quis saber de repente muito interessado.

— É o Taeyang do Big Bang, claro que eu conheço. – eu disse ofendida.

Assim que o puxaram para sair de perto da multidão, fui automaticamente puxada o que acabou puxando Harry junto. O puxão fez com que ele parasse e nos olhasse.

Taeyang disse alguma coisa. Eu não sei o que era, pois falava em coreano. Deve ter sido algo como “Mas... o que?” nesse sentido, meio surpreso, meio incomodado. Querendo arrancar cabeças, vocês sabem...

Ele nos olhou de cima a baixo.

— Harry Styles? – ele perguntou em inglês ao Harry.

— Está vendo, até o Taeyang me conhece e você não. – ele disse cochichando no meu ouvido. – Sim, sou eu. – falou ao Taeyang.

Ele sorriu com elegância. Eu não queria admitir, mas aquele sorriso ficava muito bem em seu rosto.

— Essa deve ser a Laura. – ele disse para mim. Taeyang sabia o meu nome? Ele realmente sabia o meu nome? Como? – Eu vi a sua entrevista ontem.

Soltei o ar todo de uma vez. Isso explicava tudo.

— E você é o Taeyang do Big Bang, estou certo? – ele sorriu e apertaram as mãos, ou tentaram.

— Sim, não sabia que conhecia o meu grupo. – ele estava visivelmente satisfeito com isso.

— Conheço claro.

Eu sorri sem nenhuma graça, ele só estava usando as informações que eu soltei. Ele nem sabia quem Taeyang era. Eu iria quebrar seus dentes Harry Styles.

— Eu também sou muito fã do One Direction. – ele disse sorridente ao Harry.

— Fico muito feliz que seja um fã. – Harry sorriu histérico. Ele estava preocupado.

— Mas pessoal, por que estamos algemados? – ele perguntou perfeitamente educado levantando a minha mão e a dele.

Eu só queria colocar ele em um potinho e alimentar de brigadeiro.

Foi a minha vez de rir histérica.

— Eu não faço a menor ideia. – me defendi com uma voz um tanto infantil, mas não foi minha culpa.

Espera!

— Você está vendo aquela algema ali também? – perguntei mostrando o meu braço e do Harry.

Ele concordou confuso.

— Acho melhor a gente conversar em um lugar privado. – Harry disse baixo para que os fãs não escutassem.

Ao entrar no seu carro, explicar para ele o motivo de estarmos algemados foi complicado:

1- não sabíamos porque ou como

2- não sabíamos mesmo

— Espera. Estão me dizendo que Laura não ganhou um concurso e na verdade e vocês estão algemados sem nenhum motivo? – ele estava mais se perguntando do que falando conosco.

— Deve ter algum motivo... eu acho. – Harry disse pensativo.

— Não foram vocês? – ele quis saber olhando os dois.

Negamos juntos com a cabeça.

— Tudo começou com ela. – Harry apontou para mim.

— Não é meu fetiche ficar presa a você. – apertei os olhos para ele.

Ele deu um sorriso com o canto da boca.

— Eu preferiria ficar presa a um membro do Big Bang. – cruzei meus braços, tentei ao menos.

— Está se comprometendo... – ele começou a levantar aquelas sobrancelhas.

— Eu... – tentei me defender, mas não tinha nada mais que eu pudesse fazer. Mordi meu lábio.

— Isso é uma pegadinha? – ele sorriu de forma desconfortável.

Tão bonitinho.

— Queria que fosse. – Harry apressou-se.

Ele se jogou no banco do carro, era uma cena lastimável. Os três sem saber o que fazer jogados no banco do carro ao relento. Não ao relento de verdade, ainda estávamos dentro do veículo, mas acho que dava para sentir o climão.

— Você também ganhou um pingente de borboleta? – perguntei por perguntar.

Ele mostrou um preso a sua chave.

Que loucura!

— Ninguém além de nós vê essa algema? – tentou Taeyang.

— Tenta a sorte. – sugeriu Harry.

— Vou me casar hoje. – Taeyang disse um tanto desesperado.

Eu tinha uma pequena ideia do que ele estava falando. Eu também estava nervosa.

— E se ficarmos assim para sempre? – disse frustrada. Não por estar entre os dois, mas eu estava pensando em como ir ao banheiro.

— Não vamos ficar assim apara sempre. – garantiu Harry.

Ele parecia ter certeza. Eu queria acreditar na sua certeza.

— Tudo o que achamos foi um número na asa de uma borboleta. Na sua não tem nada, na dela também não. - Harry disse frustrado.

— Então vamos a esse número em que vocês acharam. - Taeyang sugeriu.

— Já fomos. Chegamos até você- Harry falou.

Isso nos deixava na estaca zero.

— Precisamos fazer alguma coisa. – Taeyang saiu do carro, o que nos fez sair também.

O telefone de Harry tocou nesse exato momento.

— Seu toque é uma música da 1D? - disse Taeyang muito animado.

— Sim, é uma ótima música, concorda? – Harry disse.

— Com certeza, uma das minhas preferidas. – eles estavam muito animados conversando.

— Está vendo, ele gosta das minhas músicas. – ele se gabou ao falar comigo.

Bufei. Ele era metido de mais.

— Quem era? – perguntei para desviar a atenção.

— Niall. – ele disse de forma natural.

A forma como o encarei fez com que ele bufasse.

— Ele quer me encontrar.

— Niall está aqui também? – perguntou animadamente Taeyang.

Ele era alguém realmente animado, mesmo estando presa a dois estranhos no dia do seu casamento.

— Outro membro do One Direction? – perguntei a eles.

— De que planeta você veio? – perguntou Taeyang para mim.

Aquilo não estava acontecendo comigo, não é?

— Eu estava muito ocupada escutando você. – eu disse de forma atingida.

Ele se aproximou de Harry.

— Olha, quanto a isso não há o que argumentar. – ele se gabou.

Harry riu sem mostrar os dentes. Um ponto para BB, zero para 1D. Sorry... ops, Justin não faz parte da contagem.

Fomos ver Niall, seja lá quem for.

Era um garoto loiro. Estava bem estiloso. Harry o cumprimentou com a mão livre, Taeyang fez o mesmo. Eu tentei cruzar os braços, não deu.

—...uma algema invisível. – não foi uma pergunta.

Como sabíamos Niall também não viu as algemas.

— Não é uma pegadinha? – ele franziu a testa formando um vinco entre seus olhos.

Coloquei a cabeça na mesa gelada. Eu queria bater nela até acordar. Se bem que eu estava algemada com o Taeyang.

— Parem de beber. Eu não preciso que ninguém vá ao banheiro. – eu disse afastando qualquer líquido deles.

Uma vez já foi o suficiente para mim. Fiquei agarrada aqueles copos enormes de suco azul, não quero nem saber do que era.

— Niall, ela nunca ouviu falar na One Direction, ou na gente. – ele sussurrou suficientemente alto para que eu ouvisse.

— Não começa com isso de novo. – tentei.

— Sério? – ele ficou realmente surpreso – Onde você esteve esse tempo todo? – ele disse também.

Eu já não responderia esse tipo de provocação, era um absurdo.

— É que ela estava ocupada escutando as musicas do meu grupo. – disse Taeyang todo orgulhoso. Tão bonitinho, gente.

Apontei para ele com um grande sorriso.

— Verdade? Quem é você? – perguntou Niall para Taeyang.

O sorriso dele murchou na hora.

— Aie! – provocou Harry – Doi né?

Eles se solidarizaram naquele momento de não reconhecimento.

Aquele homem grande apareceu no restaurante do hotel em que estávamos.

— Finalmente achei você. Precisamos ir a um lugar. – ele disse no ouvido do Harry, estava perto o suficiente para escutar.

— Eu tenho companhia. – sussurrou no ouvido do homem apontando a mim e ao Taeyang.

— Ele também está algemado a você? – o homem perguntou formando um vinco no meio de sua testa.

Concordamos os três. Será que finalmente alguém estava vendo aquela coisa?

— Precisamos ir. – Harry disse a mim e ao Taeyang.

— Eu vou me casar hoje. – nos lembrou, Taeyang.

Harry olhou para o homem de forma enfática.

— Vai ser rápido. – o homem garantiu. – É de extrema necessidade vir comigo.

— Vai ser rápido. – Harry disse a Taeyang. Deu de ombros e fez uma careta engraçada.

Acontece que por algum motivo estranho, o homem nos levou a uma psiquiatra. Não um psicólogo, mas um psiquiatra.

Sentamos nós três atrás naquela mesa. Ela nos encarava andando de um lado para o outro. A doutora parecia meio verde.

— Uma algema? – ela perguntou de um jeito engraçado.

Suspiramos. Não era uma situação muito confortável para ninguém.

— Na verdade são duas. -disse Taeyang a ela.

— E como se sentem com isso? – ela perguntou colocando um saco de gelo na cabeça.

— Meio presa. – eu conclui pensando sobre isso.

Os meninos concordaram comigo.

— Simples. Não se sintam presos. – ela disse colocando a mão em sua cabeça. Seu equilíbrio não estava muito bom.

— Para você é muito fácil falar. – disse Harry cruzando os braços.

Ele tinha razão. Ela podia ir ao banheiro quando quisesse.

— Eu vou me casar hoje. – disse Taeyang.

— Meus parabéns. – disse a doutora antes de sumir no banheiro.

Fiquei com invejinha dela.

— Vamos embora. – sussurrei.

Na mesma hora saímos nós três.

— Eu preciso buscar minha mala. – eu disse a eles de forma desesperada. Sem ela eu não conseguiria sair do País, muito menos continuar nele. – Encontramos a mulher estranha lá a primeira vez. E se ela estiver lá fazendo mais vitimas?

— Boa ideia. – concordou Taeyang comigo.

— Ele concordou comigo. – disse a Harry com um sorriso vitorioso.

Ele deu de ombros.

O aeroporto estava cheio. Mais famosos chegavam para o tal evento musical. Era realmente gente do mundo todo.

Andar no meio daquela multidão com dois super famosos, sem serem reconhecidos foi um grande desafio.

Nós três estávamos de máscaras. De boné e óculos. Mesmo assim várias pessoas olhavam desconfiados para nós.

Parecia aquele filme missão impossível, andar no meio do fogo sem se queimar.

No meio do salão começou a tocar uma música em um ritmo bom de dançar.

— Está curtindo, né? – me perguntou Harry com um sorriso vitorioso brincando em seus lábios. – Era meu grupo.- O saudosismo estava presente em sua voz.

— Se gostava tanto do seu grupo porque saiu? – perguntei um pouco ríspida.

— Ai, não precisava ser malvada. – advertiu-me Taeyang.

— Deixa para lá Taeyang, ela nunca vai entender nossa posição. – disse Harry a ele.

Eu parei de andar, fazendo com que os dois parassem também.

— Estão contra mim agora? – perguntei sem nem mesmo piscar.

— Vamos recuperar sua mala logo. – me apressou Taeyang.

Eles me puxaram de um jeito que não consegui ficar parada.

Harry riu, ele sabia que eu não estava em posição de dizer nada.

Achar minha mala foi uma missão difícil, muita gente perdeu a mala naqueles dias. Achar meus documentos foi um grande alívio.

Assim que saíamos, arrastando aquela mala grande e branca, uma fã esbarrou no Taeyang e sua máscara saiu um pouquinho.

Sério gente, foi somente por milésimos de segundos. Isso foi o suficiente para criar um grande alvoroço. Eu não estava a fim de me algemar com mais ninguém.

Havia muitos fotógrafos alvoroçados por uma foto.

Sair de lá se tornou um objetivo muito mais difícil do que entrar.

— Acho que vocês terão que ir a um casamento. – disse Taeyang assim que sua respiração se regularizou.

Eu ia no casamento do Taeyang? Eu ia ao casamento do Taeyang! Que máaaaaximo. Que lindo. Que fabuloso.

Espera!

Eu ia entrar com o Taeyang?

Estranho.

No mínimo estranho.

Como eu temia eles precisavam ir ao banheiro.

Não foi legal.

Não foi legal.

Quero divórcio.

O difícil foi me explicar no banheiro masculino. Pior do que ir ao banheiro com um homem é ir ao banheiro com dois.

Taeyang seguiu para o hotel para se arrumar para o casamento. Ele estava muito, muito preocupado para dizer o mínimo, mas não tínhamos outra escolha. Não podíamos estragar o casamento do menino, seria muito injusto.

— Eu não posso fazer isso com ela. Vai estragar o casamento. – Taeyang se lamentou se jogando na cama, o que causou um movimento em cadeia e nos fez cair na macia espuma. – Eu tive uma ideia. Vocês vão se casar.

— Não.

— Não mesmo. – Harry respondeu também seco.

— Qual é gente. Ninguém vê essa algema. Se eu entrar lá com vocês dois grudados em mim não vai ser nada fácil de explicar. Eu tenho fãs.

Harry levantou. Tentou na verdade.

— Eu também tenho fãs. Já me meti em confusão em falar de um concurso que nunca existiu. Acredite em mim, elas saberiam se ele realmente existisse. Imagine se eu casar com ela, vão comer meu fígado. E também eu não conheço ela.

— Nem eu conheço ele.

Harry fixou os olhos em mim novamente, estava indignado, mas eu estava falando a verdade.

— Como vamos explicar isso então? – ele quis saber, quando ninguém deu uma resposta ele continuou – Sou seu fã Harry, não pode fazer isso como um presente para mim.

— Não está pedindo um presente, está pedindo para me casar.

Era uma ideia absurda. Imagina. Ir a Corei e acabar casada com um famoso, que coisa sem noção.

— Por favor. – ele estava quase implorando.

Se ele continuasse a me olhando com aquela cara, eu não sei se responderia por mim.

— Nem vai ser de verdade. – continuou.

Aquela cara não.

Não olha para a cara dele, Laura.

Olhei.

Aaainnnn.

— Tá bom.

— O QUE? – Harry disse – Sem chances.

— Não vamos estragar o casamento dele.- tentei argumentar.

— Claro. Vamos estragar a minha carreira. – Quase podia ver a fumaça saindo de seus olhos.

— A gente pensa em alguma coisa depois.

—Por favor. – ele virou-se para Harry.

Ele cruzou os braços e não nos encarou. Eu não podia culpa-lo, nem sabia o porque eu tinha aceitado.

Mas já que nada isso fazia sentido, não seria tão ruim colocar mais um item estranho.

— Você vai pensar em alguma coisa sozinha. – foi sua última palavra.

Ele tinha aceitado. Ninguém resiste aos olhinhos do Taeyang. Eu sei disso, eu vi. De perto.

Ele estava tão nervoso que acho que não estava se preocupando com a gente.

Para os meninos se arrumarem foi complicado, para mim me arrumar foi mais ainda.

Estávamos atrasados.

Havia muita gente no casamento. Imprensa também. Famosos, muitos famosos.

Quando entramos nós três, sem nenhuma escolha, tantos flashs explodiram na nossa cara que eu não consegui mais andar. Ficar esperando a noiva lá na frente foi assustador, tanto quanto estar presa ao maravilhoso do Taeyang, que agora estava casando. Eu também, quase me esqueci.

Coisa estranha.

Foi muito estranho quando anunciaram que seria um casamento duplo e principalmente a forma como entramos. Quase não conseguimos convencer a noiva de Taeyang.

A cara dela foi memorável, se não tivessem tirado fotos e filmado pareceria mentira.

— Eu explico depois. – Taeyang disse a sua noiva depositando um beijo carinhoso em sua testa. Eu estava lá, eu vi.

Isso não pareceu convencê-la, mas ela deixou passar, pois já estava envergonhada o suficiente. Já havia ibope demais em cima de nós três.

A cerimonia foi memorável, apesar de não entender quase nada. Tiraram fotos. Muitas, muitas fotos.

O beijo final dos noivos foi lindo. Teria sido mais se minha mão não tivesse feito parte da foto.

Nem foi estranho quando todos os convidados se viraram para mim e Harry. Podem esperar sentados. Eu já estava casada contra a minha vontade. Cruzei os braços. Na minha cabeça, claro.

Mais estranho ainda foi quando duas mãos grandes demais para meu rosto grudaram na minha cara e então um beijo me foi roubado.

Não foi ruim, de forma alguma, mas não custava nada avisar antes. Talvez eu tenha ficado meio zonza, só talvez.

Os noivos saiam para festejar quando uma música chamou a atenção de todos. Sem escolha fomos arrastados para o palco.

Harry disse que era o One Direction completo. Inclusive o tal do Zayn, do qual rolou muitas tretas, cantaram uma música chamada Little Thing, que fez meus olhos marejarem.

Eu presenciei os olhares apaixonados dos noivos e a alegria de um fã que ganhou uma apresentação exclusiva de um grupo extinto. Desculpa, gente, mas era a verdade.

— Obrigado. – pediu Taeyang junto com a noiva.

— Invadimos seu casamento. Você disse que é fã do One Direction, era o mínimo que eu podia fazer. – disse Harry.

— Como fez isso? - perguntei após a música terminar. Estávamos juntos aquele tempo todo, isso foi realmente uma surpresa.

— Existe uma tecnologia antiga chamada sms, silêncioso. – ele ironizou.

Harry havia contado tudo para os amigos. Lógico que acharam que ele estava bêbado, até mesmo Niall.

Eu queria socá-lo, mas ele fez Taeyang feliz. Então eu deixaria essa passar.

— Uma algema? - a noiva perguntou com a testa enrugada.

Ninguém acreditava em nós. Essa história não colava nem para mim mesma. A noiva ficava cada vez mais preocupada, eu imaginava o motivo. Eu também não ia querer pessoas estranhas algemadas no meu marido na minha lua de mel.

Nessa eu tinha que concordar com ela.

— Você está coçando o braço? – Harry me perguntou.

Eu parei para observá-lo.

— Quer controlar as minhas ações agora? Se eu quiser...

— Não é isso. – ele me interrompeu – Você fez isso sozinha.

Eu olhei para a minha mão. Eu estava livre. Nada de algemas para nós. Finalmente um fim. Terminou estranho da mesma forma que começou.

Os noivos se abraçaram direito e visivelmente aliviados dessa vez. Eu só queria sair correndo por ai sozinha. Foi o que eu fiz. Mas não fiquei sozinha por muito tempo.

— Eu sabia que você queria ficar presa a mim. – nele disse quando ficamos sozinhos, depois das milhões de fotos. Foi uma surpresa que todos os convidados aceitaram estranhamente bem.

Eu ri.

— Não planejei nada disso. – não mesmo, nem nos meus sonhos mais estranhos.

— Eu acredito em você. –ele apoiou as duas mãos em cima da grade que cercava um lago, muito bonito por sinal.

Mas agora não fazia diferença.

— Eu estou dormindo? – perguntei a ele – explicaria tudo isso.

— Então compartilhamos do mesmo sonho louco.

Os meninos nos encontraram sem esforço. Apesar de estarem longe, haviam fotógrafos por todas as partes.

— Está casado então. – Niall disse sem acreditar.

Ninguém acreditava. É a única coisa em que podíamos acreditar.

— Você sabe que não é de verdade. – ele se defendeu.

— Acho que você é a única garota capaz de levar nosso garoto para o palco. – brincou outro alto com o cabelo bem cortado.

Não entendi o tom de brincadeira na voz. Principalmente quando ele enfatizou o garota.

Dançar ao som das minhas músicas preferidas foi realmente legal depois de tudo isso. Foi uma noite agradável em que ninguém estava pensando no depois. Seria uma loucura caro leitor, com encontros marcados as pressas, marqueteiros e empresários alvoroçados. Muita gente feliz e muita gente surtando. Principalmente a minha mãe.

— Obrigada pela carona. – agradeci a Harry assim que chegamos ao aeroporto.

— Ual, você consegue ser educada. – ele me provocou.

— Eu sou sempre educada, você que me irrita. – eu disse em minha defesa.

Harry colocou a mão nos bolsos da calça vinho. Ele já estava arrumado para o evento.

— Não esqueça de escutar meu cd. – ele falou sorrindo, mas no fundo eu sabia que ele estava falando sério.

— Eu sabia que isso estava mexendo com o seu ego. – eu disse vitoriosa apertando as sobrancelhas.

Ele passou a mão no cabelo com as pontinhas cacheadas.

— Já que ficamos esse tempo todo grudado, tem certeza que não quer ir ao Festival? – ele me perguntou de um jeito engraçado. Não pensem besteiras, somos apenas amigos, por enquanto.

— Eu adoraria, mas não posso. Preciso estar no Brasil para a minha colação de grau. – sorri com a imagem de um futuro inspirador.

— Jornalismo?

— Jornalismo. - concordei com a cabeça. - Prometa que quando for ao Brasil me dará uma exclusiva.

— Está se achando de mais. – ele ajeitou o topete novamente. Agora pense em um garoto vaidoso. – Tipo Superman e Lois Lane? Ele ficou com ela em.

Balancei a cabeça sem concordar com ele.

— Vai sim. – confirmei com a cabeça – Ou eu vou contar para todo mundo sobre as sua pinta. – o ameacei. Ao menos pareceu bem ameaçador para mim.

Ele colocou a língua entre os dentes e sorriu.

— Todo mundo sabe das minhas pintas que parecem mamilos. – ele se gabou apontando para o próprio peito.

— Não estava falando dessas. – arregalei os olhos o que deve ter me deixado em uma careta muito engraçada.

Ele franziu o nariz de uma forma engraçada.

— Mas você estava vendada. – ele disse apontando o dedo para mim.

Coloquei a língua entre os dentes.

Ele colocou a mão em minhas costas e me puxou para um beijo. Foi combinado dessa vez claro. Havia muita gente tirando fotos no aeroporto. Podia ser fingindo, mas o filha da mãe beijava bem.

Filho da mãe.

Puxei minha mala em direção ao avião ainda meio tonta.

— Tchau, tarado. – disse levantando a mão em despedida enquanto andava sem olhar para trás.

— Olha quem fala... – ele gritou – Escute as minhas músicas.

Escutarei, moço. Escutarei todas. Eu garanti em pensamento, pois se dissesse isso para ele nunca mais teria paz.

Enquanto estava na sala de embarque, após o último aviso para entrar no avião, um brilho estranho chamou minha atenção.

Eu sabia. Era aquela estranha senhora novamente. Sentada e um canto escondido como se fosse uma estátua.

Eu precisava esclarecer algumas coisas antes de ir.

— Por que fez isso comigo? – perguntei de forma hostil enquanto me aproximava dela.

A mulher, como esperado, sorriu.

— Era o seu destino. – ela disse como se explicasse tudo. Não para mim.

— Agora vai colocar a culpa no destino? Mesmo depois que eu a vimos fazer essa... essa coisa que você fez com as borboletas. – a questionei.

Ela colocou uma mão no queixo, o que a deixava assustadoramente pensativa.

— Vocês eram um caso difícil, precisei tomar medidas drásticas. – disse por fim.

Suspirei exasperada, não era uma boa hora para bater o pé no chão, mas eu já estava fazendo isso sem perceber.

— O que você é? Uma fada madrinha? Uma bruxa? – eu arregalei os olhos.

— Acredite no que quiser, não fará diferença para mim. – ela sorriu convencida.

— Tivemos diversos problemas por sua culpa. - eu disse suspirando bem fundo.

— Menina boba. O que importa são as consequências futuras, nãos as atuais. Não se preocupe com mais nada. O destino seguirá seu curso natural. – ela disse de forma estranha. Concluindo, ela era toda estranha.

Uma moça me chamou para embarcar. Por um segundo virei-me para avisar que já estava indo e quando me voltei para a senhora ela havia desaparecido. Do mesmo jeito que apareceu, sumiu. Simplesmente assim.

Não posso dizer que me arrepio todas as vezes que me lembro daquela cena.

Por fim, meu pingente de borboleta também sumiu.

Não faz muito tempo desde que a história aconteceu e esse texto foi publicado. Não sabia do que aquela mulher estava falando no dia, mas as consequências de tudo o que aconteceu começam a ser vistas.

Digamos que a parceria entre nós três gerou benefícios que ultrapassaram esse grupo. Mas ainda há muito que acontecer.

Difícil foi explicar a minha mãe o motivo de eu estar na televisão e casada. Ela encontrou mais argumentos para a sua tese de que aquilo era um ato de loucura, e eu arrumei ainda mais para afirmar que correr atrás dos seus sonhos é um ato de coragem.

Como disse no início, não espero que ninguém acredite em mim. Hoje não faz muita diferença. Espero que ao menos tenha se divertido com meu dia muito louco. Era muito bom para ficar guardado só para mim.

Um texto escrito e editado por Laura, repórter exclusiva do cantor Harry Styles

P.S.: Harry escutou Big Bang e agora virou V.I.P, ele também reconhece o talentos dos meus Utts

P.S.2: escutei todos os solos e músicas do One Direction, será que é muito tarde para entrar no fandom? Espero que não.

BÔNUS

Durante a festa de casamento Taeyang, após as apresentações.

— Esse é Liam, Zayn, Louis e Niall, que você já conheceu. Juntos formávamos a One Direction. – disse Harry para mim.

Eles sorriam fazendo careta de desaprovação.

— Por que está nos apresentando? - perguntou Liam, a forma como enrugou sua testa formou um vinco entre seus olhos.

— Ela não conhece o One Direction. – disse Niall visivelmente deprimido.

— O que? !

— Como?!

— Isso é possível?!

— Onde ela esteve?!

— Vamos começar de novo? – eu perguntei sem reação. O que era aquilo? Estavam todos contra mim?

— Você não os conhece? – perguntou a noiva de Taeyang para mim.

Balancei a cabeça negativamente.

— Isso faz de mim algum tipo de E.T por acaso? – cruzei os braços em protesto.

Ela balançou a cabeça em reprovação.

— Estranha. – disse ela antes de sair de perto de mim e ser seguida por todos os outros meninos com os braços cruzados. Inclusive Harry que estava com o queixo levantado.

Isso estava mesmo acontecendo? Era sério isso? Não é possível.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.