Redenção

Lágrimas que caem na dor


O coração de Melanie batia descompassado. Ela não precisava virar-se para saber que estava sendo seguida por Nikko. Os passos dele mantinham o mesmo ritmo que o dela. O vento da noite passava por seus corpos atribuindo reação diferente a ambos. No corpo de Melanie trazia todo o medo a tona, e no de Nikko a raiva. Ele se recordou da noite em que descobriu a morte de sua esposa e lembrou-se a primeira vez em que a viu. A primeira vez em que prometeu trazer o sofrimento a Melanie. Assim que Melanie passou pelo vão da porta de entrada as mãos dele a alcançaram. Ele a puxou para si, e sorriu diante da falta de expressão dela.

–Pode pedir clemência e colocar-se em primeiro lugar – Nikko falou cauteloso ao estudar a expressão em sua fase.

–E o que conseguiria com isso? Lhe darei o que desejo e depois ficarei livre.

–Liberdade? Acha mesmo que a terá antes de eu puni-la?

–Se isso não é punição, o que deveria ser? Não deves acreditar que sou tão ingênua assim – sorriu ao aproximar os seus rostos – é agora que deve me beijar. – disse séria encarando-o, a espera de sua próxima ação.

–Como quiser – falou ao tocar os seus lábios com os seus. Melanie fechou os olhos, permitindo-se entregar-se a aquele beijo. Um beijo que poderia ser a liberdade de seu irmão. A liberdade de um deles. Nikko sentia desespero vindos dos lábios dela, e sorvendo-se da angustia que estava em seus lábios, viu-se feliz. Por alguns momentos, Nikko, conseguiu sentir o desespero dela, e o isso o alimentava. O alimentava saber que ela sentia medo e que a raiva brotava em seu ser. Ele desejava ser odiado por ela. Ao afastar seus lábios dos dela, ele a encarou com um sorriso na face – Prefere terminar isso aqui ou em meu quarto? – perguntou levianamente segurando o sorriso ao vê-la surpresa, mesmo que por alguns instantes, ela expressou o que vinha em seu intimo, e ele soube que apenas o medo existia ali. Ou ao menos assim desejou.

Melanie prendeu a respiração ao sentir as mãos de Nikko em seu corpo. Mãos que ela odiava agora estavam acariciando o seu corpo de uma forma que a fazia sentir-se vulgar e barata.

–Pelo visto prefere aqui – Nikko disse calmo ao colocar uma das mãos na nuca dela, forçando-a a pender a cabeça para trás. Aproximou os seus lábios do ouvido dela, e sussurrou – A farei sofrer está noite. Nada será amoroso ou piedoso.

–Nunca esperei ou desejei piedade de você.

–Isso é bom, ainda se mantem forte. Continue assim ate depois – sorriu diabólico ao se afastar dela, e com força, segurar em seu braço e a empurrar fazendo com que suas costas batessem na parede. Sem dar chance para ela fugir, ele a imprensou, colocando suas pernas em torno das dela – Sabe o quanto eu desejei a minha esposa nessa sala? Muitas vezes – falou sério com a voz repleta de ódio – Tem ideia do quanto amei a minha esposa e do quanto desejei estar ao lado dela durante esse tempo? Mas não posso fazer nada porque a matou. Você matou a mulher que eu amava – ergueu a mão, acariciando o rosto dela – o que eu deveria fazer com você? Retribuir a mesma dor seria matar alguém que ama, mas não farei isso, e sabe porque? Não pretendo ser um verme como você, e por isso pretendo fazê-la sofrer de todas as formas que eu imaginar. Somente em pensar em tocar o seu corpo, sinto náuseas. Após levar isso adiante, irei para o banheiro e não sairei do banho ate sentir a minha alma limpa. O seu toque consegue me deixar enojado de mim mesmo, sabia? Você representa..apenas a imundice do ser humano, e eu devo acabar com ela. Alguém deve fazer isso, estou certo, não estou?

–És um verdadeiro herói – Melanie disse com escárnio ao sustentar o seu olhar – achas que algumas palavras irão me fazer temê-lo? Faça o que quiser – Melanie sabia que iria se arrepender em seguida, mas optou por ir ate o fim. Suas mãos, ligeiramente tremulas, seguiram em direção a sua própria blusa. Com firmeza, a puxou por cima da cabeça, exibindo a sua lingerie. Com o único objetivo de não demonstrar fraqueza, encarou Nikko apesar da vergonha que sentia naquele momento. Ela sentia o corpo dele próximo ao seu, e sem perceber olhou para si mesma.

–Com vergonha? Não imaginei que teria – Nikko tornou sério ao olhar para o rosto dela.

–Vergonha? Jamais a tive na vida – argumentou firme – por quanto tempo irá postergar isso?

–Por nenhum segundo mais – falou antes de tocar os seus seios – e não se esqueça, eu lhe desprezo – disse sem encará-la ao segurar seu seio esquerdo com firmeza. Melanie virou o rosto enquanto mantinha a imagem de seu irmão em sua mente. Ela desejava fugir daquele instante. Ela desejava sumir. Melanie estava imersa em seus pensamentos que apenas sentiu o chão frio e duro contra as suas costas depois que Nikko a levou para o chão, de alguma forma. Assustada e temerosa com o que ele poderia ver, ela cobriu a sua barriga com a mão. Um gesto que ele não teria percebido se ela não mantivesse a expressão de terror na face.

Nikko dirigiu o seu olhar para o local que ela estava esconder dele, e sem força, retirou a mão dela de sua barriga. A expressão na face dele era inquietante para ela, pois nada dizia. Ele apenas olhava para a cicatriz em silencio. Os dedos de Nikko começaram a contorná-la, sem pensar, ele apenas passou o indicador por toda a extensão da cicatriz e em seguida a beijou. Melanie sufocou um grito de surpresa ao sentir os lábios dele contra a cicatriz que possuía vergonha.

Flashback on

Melanie tremia ao olhar para as meninas com que compartilhava o quarto, ou cela, como ela costumava chamar. Sentada, em sua cama com os braços apertando as suas pernas, ela se manteve assim durante horas. Horas intermináveis ate perceber a realidade. Ela não poderia continuar daquela forma. Ao se levantar percebeu os olhares e risos das demais. Com naturalidade, se encaminhou para fora da cama e se pôs a andar pelo lugar.

–Vejam o que temos aqui – uma garota com cabelos curtos e com tatuagens pelo braço disse sorrindo para o grupo que a acompanhava – O que fez para vir aqui? Roubou uma maçã? – perguntou fazendo com que todas dessem risadas.

Melanie a olhou com um sorriso sombrio no rosto.

–Não, eu matei uma pessoa e você o que fez? Colocou o seu rosto para fora de casa e foi presa por feiura? – a provocou deliberadamente, mas antes que pudesse perceber o erro que cometera, era tarde demais. A jovem já exibia um sorriso na face ao retirar algo afiado debaixo de sua blusa e ir em direção a ela. Foram poucos segundos ate Melanie sentir um formigamento na barriga, e em seguida uma dormência letárgica.

–Nunca mais se atreva a olhar para mim- a garota falou antes de se afastar de Melanie, fazendo com que sangue caísse no chão. Melanie levou a mão ate a sua barriga e sorriu – Você está sangrando, isso é divertido?

–Sim, muito – Melanie tornou ao rir diante de sua dor – Isso é tão divertido que você não imagina – falou ao gargalhar, assustando algumas das garotas. Todas olhavam para ela estupefatas, ninguém ousou dizer mais nada a ela ou lhe provocar depois daquele dia.

Flashback off

A cicatriz que tinha adquirido no reformatório. Levou a mão aos lábios para não gritar e uma lagrima rolou pelo seu olho. Com naturalidade e precisão, ele retirou a calça dela juntamente com a sua peça intima, uma lingerie na cor preta, simples. Em nenhum momento ele direcionou o seu olhar para o rosto dela, apenas se manteve focado no que precisava fazer. Ele precisava fazê-la sofrer.

–Não haverá retorno depois – a assegurou antes de abrir o próprio zíper e encarar o corpo inerte dela.

–Eu não irei desejar isso se mantiver a sua promessa.

–De que?

–Não atormentar o meu irmão.

–Farei isso, mas terá que ser prestativa – malicioso, sorriu para ela ao abrir as suas pernas – Espero sentir alguma coisa, alem de nojo – exibiu um sorriso cruel ao aproximar o seu rosto do dela. – A partir de hoje será minha ate que eu me canse de você.

Melanie fechou as mãos, e o encarou sem remorsos, pois aquela era a chance que ela teria. Uma chance de deixar o seu irmão enfim livre.

Depois..serei eu. Após me vingar de Maria poderei ter a minha vida. Uma vida que nunca tive” pensou com firmeza ao fechar os olhos para não presenciar a cena que lhe fazia sentir vontade de abandonar tudo.